-Desde quando você me impõe condições?
-Desde que eu decidi não fazer a vida das minhas filhas
um inferno.
-Você se esqueceu mesmo do papel que eu assumo nessa
família, não é? Quem você pensa que é pra me dizer o que eu posso fazer ou não?
-A dona dessa casa! O que é muito, caso você não saiba!
-Essa intriga que você causou entre mim e a sua mãe vai
te custar muito caro, Marina.
-É o que você pensa, Jorge. Independente do que ela fizer
daqui por diante, nós vamos apoiá-la. A ditadura acabou lá fora, e aqui dentro
também vai terminar.
-Cogitou a possibilidade de que eu posso recusar essa sua
ordem, meu amor?
-Nem um pouco .Porque eu sei que um homem que recebe um
diagnóstico desses com relação à sua amante, não vai ficar parado, sem saber do
que está acontecendo com ele.
-Eu não tenho nada! Eu sei que eu não tenho nada!
-Quem tem que saber sou eu, Jorge. E não adianta me dizer
que tem certeza, intuição, ou mesmo que tem algum exame comprovando isso. Para
um homem que escondeu um caso por dez anos, o que é mentir sobre o estado de
saúde, não é mesmo?
-Laura, você está passando dos limites!
-Dos seus limites, você quer dizer! Mas você só vai
colocar uma pedra sobre esse assunto quando eu souber do resultado. Está no seu
direito de recusar, Jorge, mas eu vou fazer esse exame de qualquer maneira. E
se você não fizer junto comigo, eu mesma faço as suas malas e você sai da minha
casa!- Laura vai para o quarto, onde chora copiosamente, e Marina e Marília
deixam Jorge sozinho na sala.
Marília conversa com Marcello e Thales se aproxima de
Marina.
-Tua irmã tá com algum problema, Marina?
-Por que você tá perguntando isso?
-A cara dela. Quando ela conversa com Marcello, fica mais
animada.
-É. Eles se completam. Tomara que ele entenda o que tá
acontecendo.
-Tem como eu ajudar?
-Olha... Se tivesse, eu bem que ia pedir ajuda. Mas não
tem como. É a vida.
Max passa por todos da turma, com uma expressão séria, e
olha para Marina com repulsa.
-Que coisa estranha...
-O quê?
-Teve um tempo que o Max não desgrudava de você. Agora até
parece que vocês nunca se viram.
-Ele sabe o que fez pra ter minha indiferença.
-O que é que tá acontecendo? Você não quer se abrir
comigo?
-Que é isso, Thales? Eu nunca fui de me abrir com você.
-Primeira vez tem pra tudo. A gente não é amigo? Pois
então...
-É que a Marília e eu... A gente tá numa fase complicada
lá em casa.
-Problema de família?
-Também. Tem hora que eu penso que eu podia ter evitado
tanto problema, mas se eu ficasse calada, na minha, como eu sempre faço, não ia
resolver nada.
-Isso tem a ver com o Max, né?
-Por que você tá dizendo isso?
-Porque desde que você resolveu chamar a atenção dele,
virou outra pessoa. Outra Marina. Juro que tem hora que eu nem te reconheço.
-O que isso importa? Ninguém nunca me notou. O único que
um dia olhou pra mim...
-Nunca foi notado por você.
-Como assim?
-Você queria um príncipe encantado, certo? E transferiu
pro Max essa função. Só que a vida tá bem distante de ser uma fábula, Marina.
Quem te ama pode estar bem perto. Muito mais perto do que você sonha. Ou quer-
Thales bufa- Acho que eu já falei demais...
-Peraí, Thales! Tem alguém afim de mim?
-Já te disse que eu falei demais, não foi?- o garoto
enxuga o suor da testa e corre para a sala de aula.
-Thales... O príncipe encantado... Tá certo. Tudo que a
minha vida não é agora é uma fábula. Principalmente agora- percebe em silêncio.
E na mesma manhã, Jorge sai do laboratório com a esposa,
sendo que ambos vão em direção à sala do médico.
-Por favor, podem se sentar.
-Obrigada, Doutor.
-Precisa, não, Doutor, eu estou muito bem de pé.
-Fique à vontade, Jorge.
-Só vou me sentir bem mesmo quando eu souber do que deu
os exames que nós dois fizemos.
-E então, Doutor? Um de dois tem o vírus HIV?
Nenhum comentário:
Postar um comentário