15/07/2016

ROMANCES DE ESTAÇÃO/ CAPÍTULO 15: CHEGAR AO FUNDO

-Desde quando você me impõe condições?
-Desde que eu decidi não fazer a vida das minhas filhas um inferno.
-Você se esqueceu mesmo do papel que eu assumo nessa família, não é? Quem você pensa que é pra me dizer o que eu posso fazer ou não?
-A dona dessa casa! O que é muito, caso você não saiba!
-Essa intriga que você causou entre mim e a sua mãe vai te custar muito caro, Marina.
-É o que você pensa, Jorge. Independente do que ela fizer daqui por diante, nós vamos apoiá-la. A ditadura acabou lá fora, e aqui dentro também vai terminar.
-Cogitou a possibilidade de que eu posso recusar essa sua ordem, meu amor?
-Nem um pouco .Porque eu sei que um homem que recebe um diagnóstico desses com relação à sua amante, não vai ficar parado, sem saber do que está acontecendo com ele.
-Eu não tenho nada! Eu sei que eu não tenho nada!
-Quem tem que saber sou eu, Jorge. E não adianta me dizer que tem certeza, intuição, ou mesmo que tem algum exame comprovando isso. Para um homem que escondeu um caso por dez anos, o que é mentir sobre o estado de saúde, não é mesmo?
-Laura, você está passando dos limites!
-Dos seus limites, você quer dizer! Mas você só vai colocar uma pedra sobre esse assunto quando eu souber do resultado. Está no seu direito de recusar, Jorge, mas eu vou fazer esse exame de qualquer maneira. E se você não fizer junto comigo, eu mesma faço as suas malas e você sai da minha casa!- Laura vai para o quarto, onde chora copiosamente, e Marina e Marília deixam Jorge sozinho na sala.

Marília conversa com Marcello e Thales se aproxima de Marina.
-Tua irmã tá com algum problema, Marina?
-Por que você tá perguntando isso?
-A cara dela. Quando ela conversa com Marcello, fica mais animada.
-É. Eles se completam. Tomara que ele entenda o que tá acontecendo.
-Tem como eu ajudar?
-Olha... Se tivesse, eu bem que ia pedir ajuda. Mas não tem como. É a vida.
Max passa por todos da turma, com uma expressão séria, e olha para Marina com repulsa.
-Que coisa estranha...
-O quê?
-Teve um tempo que o Max não desgrudava de você. Agora até parece que vocês nunca se viram.
-Ele sabe o que fez pra ter minha indiferença.
-O que é que tá acontecendo? Você não quer se abrir comigo?
-Que é isso, Thales? Eu nunca fui de me abrir com você.
-Primeira vez tem pra tudo. A gente não é amigo? Pois então...
-É que a Marília e eu... A gente tá numa fase complicada lá em casa.
-Problema de família?
-Também. Tem hora que eu penso que eu podia ter evitado tanto problema, mas se eu ficasse calada, na minha, como eu sempre faço, não ia resolver nada.
-Isso tem a ver com o Max, né?
-Por que você tá dizendo isso?
-Porque desde que você resolveu chamar a atenção dele, virou outra pessoa. Outra Marina. Juro que tem hora que eu nem te reconheço.
-O que isso importa? Ninguém nunca me notou. O único que um dia olhou pra mim...
-Nunca foi notado por você.
-Como assim?
-Você queria um príncipe encantado, certo? E transferiu pro Max essa função. Só que a vida tá bem distante de ser uma fábula, Marina. Quem te ama pode estar bem perto. Muito mais perto do que você sonha. Ou quer- Thales bufa- Acho que eu já falei demais...
-Peraí, Thales! Tem alguém afim de mim?
-Já te disse que eu falei demais, não foi?- o garoto enxuga o suor da testa e corre para a sala de aula.
-Thales... O príncipe encantado... Tá certo. Tudo que a minha vida não é agora é uma fábula. Principalmente agora- percebe em silêncio.

E na mesma manhã, Jorge sai do laboratório com a esposa, sendo que ambos vão em direção à sala do médico.
-Por favor, podem se sentar.
-Obrigada, Doutor.
-Precisa, não, Doutor, eu estou muito bem de pé.
-Fique à vontade, Jorge.
-Só vou me sentir bem mesmo quando eu souber do que deu os exames que nós dois fizemos.
-E então, Doutor? Um de dois tem o vírus HIV?

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