Junho do ano de 1988.
Marina está na sala de aula, posicionada na primeira
carteira da fila, enquanto que sua irmã mais velha, Marília, conversa com uma
das amigas em pé, junto à porta. Já o rapaz Thales também fica na primeira
carteira de uma fila, mas em direção oposta à futura mãe de Lucas. Joana, a
professora, chega ao recinto.
-Bom dia, turma, bom dia- passa apressada- Desculpem meu
atraso de cinco minutos, é que houve uma reunião na diretoria.
-E então, Professora? Saiu o resultado da seleção dos
curtas?
-Saiu, sim, Thales, e eu vou anunciar agora. Marília?
-Oi?
-Será que você poderia fazer o favor de se sentar?
-Mas a aula nem começou, professora, a senhora tá aí
conversando com o nerd.
-A aula começa a partir do momento que eu entro na sala,
caso você não tenha percebido.
-Ui- Marcello, o namorado da aluna, inicia um coro que
deixa a namorada constrangida.
-Dá pra você e Júlia irem pro lugar?
As meninas sentam caladas. Marina presta atenção nas
palavras da professora.
-Fala, Professora, quem ganhou?
-Calma, Thales, que vou dizer agora. Bom, eu e os outros
professores criamos uma comissão julgadora pra ler os roteiros dos curtas que
vocês elaboraram e decidimos qual deles vai ser produzido pelos alunos dessa
turma.
-Todo mundo vai participar ou só a equipe que criou o
projeto?
-Todos os alunos dessa turma, Marina. Até porque a
atividade vai ser a avaliação do terceiro bimestre. Quem não se envolver de
alguma forma com a produção do curta, vai ter que fazer a segunda chamada... Bom,
mas chega de enrolação. O roteiro escolhido foi o do filme que foi elaborado
por Marina, Thales e Marília.
-Uhu!- Marília grita na sala e os demais alunos aplaudem.
Thales não esconde a satisfação da aceitação do seu projeto.
-Quando é que a gente começa a filmar, professora?
-Eu vou falar com a produtora independente, que o diretor
tem o número do telefone. Eu passo o contato pro grupo e vocês acertam o
orçamento. A melhor época pra filmarem o curta vai ser em julho, quando vocês
estarão de férias.
-Nem se preocupa. Eu já tenho na minha cabeça quem pode
fazer o papel principal da história.
-Quem, Marília?- questiona a irmã mais nova da jovem.
Caminhando pela calçada da praia, em seu percurso de
volta pra casa, as duas moças conversam sobre a ideia tida em sala de aula.
-O Max? Você só pode estar brincando, Marília?
-Não mesmo. Ele é o ator perfeito pro papel principal.
-Você só pode ser louca...
-Presta atenção, Marina. Raciocina: o personagem tem que
dar um jeito de seduzir a mocinha da história, vir com toda a lábia dele. Eles
transam sem proteção e descobrem que pegaram uma doença sexualmente
transmissível. Quem melhor do que Max pra fazer esse papel?
-Mas por que logo ele?
-Porque ele é o mais gato da sala. Só por isso.
-Duvido que ele vai aceitar.
-Tem que aceitar. Todo mundo tá no mesmo barco, boba.
Duvido que ele não vá topar. Max precisa de nota como todo mundo. Além disso, é
lindo demais, né, meu bem?
-Para de falar isso, você é namorada do Marcello.
-O que não me deixa cega, porque Max é muito gostoso!
-Por que a gente não convence outra pessoa pra fazer esse
papel? O Thales, por exemplo?
-Porque além de ele não ser bonito, também não tem a
menor experiência como ator.
-Vai dizer que esse Max tem alguma?
-Acorda! Joana é tão retardada que passou o mesmo
trabalho do ano passado. Max repetiu de ano comigo.
-Você se orgulha disso?
-O fato é que ele já atuou num filme da minha turma. Pra
fazer o papel do machão, não vai ser tanto sacrifício.
-Então, tá bom. Amanhã a gente fala com ele, já que, pra variar,
ele faltou de novo.
-Max sempre pinta por esse pedaço. Não duvido nada que
esteja aqui agora.
-Ai, caramba!
-O que foi?
-Me esqueci da mochila lá no colégio, vou buscar.
-Cuidado, Marina!- Marília avisa que a irmã está
desatenta em vão: a caçula acaba batendo em Max, que tinha acabado de
mergulhar. A adolescente não reage diante do rapaz.
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