09/07/2016

ROMANCES DE ESTAÇÃO/ CAPÍTULO 9: PRA TENTAR ME CONVENCER QUE EU CONSIGO SEM VOCÊ



-Tem certeza disso, Marina?
-Acabei de confirmar.
-E... Quem é o pai dessa criança?
-Que pergunta é essa, Max? Você sabe muito bem que o único que eu tive foi você.
-Será mesmo? Eu não ando com você vinte e quatro horas por dia pra saber. O que a gente tem é muito claro: cada um fica com quem bem entender.
-Para de falar besteira, de tentar tirar o corpo fora. Você sabe que ninguém passou pela minha vida antes de você.
-Eu só fui o primeiro, Marina, não quer dizer que você tenha transado só comigo. Ou você acha que eu fui fiel a você só porque a gente foi pra cama?
-Olha aqui, Max, eu não vou deixar que...
-Marina, para! O seu showzinho já deu! Arruma outro otário pra cair nessa conversinha. Pensa que eu não sei que isso é um plano pra ver se eu te assumo como minha namorada?
-Quê?
-Pensa que eu não sei que o que você quer é que eu te peça em namoro na frente de meio mundo? Acorda, garota! Eu não me prendo a ninguém, e eu deixei bem claro todas as vezes em que a gente foi pra cama. Aliás, na hora eu até achei que você tinha entendido, mas pelo que eu tô vendo, foi só uma conversa fiada pra perder a virgindade comigo.
-Max, eu não vou mentir. No fundo, eu queria que você olhasse pra mim como se eu fosse a única da sua vida, que não quisesse ficar com mais nenhuma menina. Agora, chamar essa gravidez de plano pra te segurar?
-Não duvido nada que você tenha feito isso mesmo.
-Você é muito mais canalha do que eu pensava... Vai ter coragem de me deixar sabendo que eu tô esperando um filho seu?
-Filho esse que pode muito bem desaparecer. Basta abortar!
-Como é que você tem coragem de me dizer pra fazer isso?
-Olha aqui, Marina, presta muita atenção no que eu vou te dizer, porque eu só vou falar uma vez: eu não vou assumir filho nenhum, entendeu? E tem outra coisa: se isso te incomoda tanto, se livra dele. Mas nas minhas costas, isso não vai ficar!
-Max, não faz isso comigo, não acaba com a nossa história desse jeito...
-A nossa história não existe, Marina. Eu não sou seu e nem faço questão de ser. Muito menos pai desse moleque.
Sem perceber a tensão entre Marina e Max, Breno chama o filho.
-Rápido, Max. A gente vai acabar perdendo o voo.
-Já vou, Pai.
-Pensa bem no que você tá fazendo, Max. Eu nunca vou te perdoar por isso, por me deixar na hora que eu mais preciso de você!
-Ninguém tem que me desculpar de nada. Você engravidou porque quis. Resolva sozinha- Max toma a sua mala e se junta a Breno, deixando Marina ajoelhada no saguão do aeroporto soluçando de tanto prantear.

Devastada pela discussão que teve com Max, a jovem abre a porta de casa, onde encontra Laura, Marília e Júlia sentadas no sofá. Logo percebe que algo está incomum no ambiente.
-Que cara é essa, gente? O que é que aconteceu aqui?
-Acho que essa explicação é você quem tem pra nos dar, Marina. À sua mãe e, principalmente, a mim!- Jorge sai da cozinha, com as mãos para trás.
-Explicar o quê, Pai?- a pergunta desperta a ira do patriarca da família, que assusta a todas quando joga a caixa do teste de gravidez na cara de Marina.
-O que essa porcaria tá fazendo dentro da minha casa, sua cretina?
-Filha, conta pra gente o que tá acontecendo com você- Laura tenta conciliar a situação- Talvez a gente possa te ajudar.
-Diz pra sua mãe, Marina. Diz! Esse teste é de quem? Da sua irmã ou seu?
-Eu já disse que quem fez foi ela...
-Cala a boca, Marília! Quem vai falar agora é sua irmã. Eu te fiz uma pergunta, menina, responde a teu pai!
-É meu, sim. Pelo visto, o senhor sabe que deu positivo. E daí?
-E daí? E daí que eu exijo saber quem é o desgraçado que te engravidou!
-Pra que o senhor quer saber?
-Quem faz as perguntas sou eu, sua atrevida! Eu quero o nome do sujeitinho que te levou pra cama!
-Não vai adiantar nada. Se você acha que ele vai ser responsável pelo que aconteceu, tá totalmente errado. Já se mudou pra outra cidade.
-Por que você fez isso, sua inconsequente? Por que você deixou que ele te manipulasse, a ponto de...
-Olha aqui, para! Para de me tratar feito uma menina! Eu não fui iludida por ele, nem ele forçou situação nenhuma comigo. A gente foi pra cama porque a gente quis ir e pronto! Já que o senhor faz tanta questão de abrir o jogo, será que o senhor é tão cego que não me viu querendo ser melhor? Mais atraente? Parar de ser a esquisita da escola, o patinho feio da casa? Será que o senhor não sacou que eu não quero mais ser essa coitada, que não consegue um olhar que seja? Pois eu tô cansada de ser rejeitada, de ser obediente, de viver debaixo da sua ditadura!
-Vagabunda!- Jorge dá uma bofetada no rosto da filha!
-Jorge, o que é isso? Você enlouqueceu?- enquanto Laura constata o descontrole do marido, ele tira o cinto que traja no momento.
-Antes fosse isso, Laura! Preferia ser taxado como um desvairado, a perceber que dentro da minha casa vive uma rameira como essa- atinge as costas de Marina com o cinto diversas vezes- Uma vadia, uma prostituta, que se deita com o primeiro macho que aparece! Vadia!
-Para com isso, ela tá grávida, Seu Jorge!
-Você vai acabar matando a Marina, Pai!
-Que morra! Pelo menos eu não vou passar a vergonha de criar um neto, filho de um desconhecido. Não passou pela sua cabeça que você tem dezesseis anos, que não tem um namorado, que vai ser mãe solteira? Você vai sair dessa casa agora.
-Não! Daqui a minha filha não sai!
-Não a defenda, Laura!
-Minha filha não vai colocar o pé pra fora desse apartamento! Eu sei que ela deu um mau passo, mas isso não vai resolver o problema da Marina, só vai criar outro! Jorge, não pode jogar nossa filha grávida na rua!
-Pois, então, ela vai ter que escolher.
-O que o senhor quer dizer com isso?
-Que você vai se livrar desse bebê.
-Não me pede isso, Pai. Por favor...
-Essa é a condição que eu te dou pra você continuar nessa casa e as coisas voltarem a ser como devem ser. Ou você tira esse bebê ou você só leva a roupa do corpo. E aí? O que é que você diz?
-O senhor é um monstro!
-E você uma vagabunda!
-Chega, Jorge!
-Cala essa boca você! Uma mãe que não vê a filha se refestelando na cama de qualquer vagabundo! Sabe lá com quantos ela dormiu?
-Eu só tive um cara só, Pai. Não fala isso de mim, eu não sou uma vagabunda!
-Transar com um homem sem compromisso com ele é a mesma coisa que transar com todos! Gente da sua laia não merece um pingo de respeito, de consideração! Quer saber de uma coisa? Eu mesmo vou dar um jeito nessa situação.
-Jorge, onde você vai?
-Tomar a providência que você, sua incompetente, não é capaz de tomar! Eu vou dar uma colher de chá pra você, Marina, e você vai viver aqui, desfrutando das mordomias que o meu trabalho paga! Só que pode se despedir do sonho de ser mãe solteira- abre a porta e sai do apartamento.
-Jorge, me espera! Jorge!- Laura grita pelo marido, inutilmente. Júlia abraça a amiga, tentando consolá-la.
-Fica calma, Marina. A raiva dele vai passar.
-Eu conheço meu pai, Júlia. Nunca que ele vai aceitar essa situação.
-É, maninha... Quis tanto conquistar o Max, e agora tá bebendo do próprio veneno- Marília se diverte tripudiando de sua irmã, sob o olhar reprovador de Júlia.

Olga lê alguns prontuários que estão sobre sua mesa quando Jorge chega.
-Preciso falar com você!
-Mas aqui?
-Não ia esperar você chegar em casa. Tem que ser agora.
-Fecha a porta, então. O que houve?
-Eu preciso que você faça um serviço pra mim.
-Do que se trata, Jorge?
-Da minha filha mais nova. Ela engravidou de um vagabundo qualquer.
-Quanto tempo ela tem de gestação?
-Ah, eu não sei, Olga! Mas não deve ter muito tempo, não tem barriga ainda. Só sei que ela tem que se livrar dessa criança. Eu pago bem pelo seu trabalho.
-Dinheiro não é o que eu quero de você, Jorge. Traz ela aqui amanhã.
-Mas eu exijo sigilo absoluto, hein?
-Por favor, Jorge, quem exige esse tipo de coisa sou eu. Bom, ela precisa fazer uns exames. Espero que não tenha três meses de gestação...
-Não importa! Marina tem que sair daqui sem esse bebê, entendeu?
-Que situação esdrúxula... Você trai sua mulher há anos comigo e condena sua filha por ela engravidar aos dezesseis anos...
-Curioso que por mais hipócrita que eu possa parecer, você jamais se importou com isso...
-Tudo bem, já vi que não adianta argumentar. Traz a Marina amanhã e eu me responsabilizo pelo procedimento.

Na manhã seguinte, Marina chega com o pai à clínica clandestina de Olga. Bastante nervosa, pergunta:
-Pra onde você me trouxe?
-Aqui, você vai conseguir resolver o problema desse bebê que está esperando. Não se preocupe. Falei com um amigo meu da polícia e expliquei sua situação. Disse que você é incapaz de cuidar de uma criança.
-Mas isso daqui é autorizado?
-Que preocupação é essa? Devia ter atentado quando se envolveu com o rapaz que te deixou grávida.
-Ainda tá em tempo do senhor mudar de ideia, Pai. Não faz isso comigo, por favor.
-Fui bem claro quanto as minhas condições, Marina. Quer ter esse filho, que tenha. Mas longe da minha casa, e sem a minha ajuda financeira. Pense o que bem entender de mim, mas uma gestação como essa eu não vou aceitar nunca. Tudo o que eu faço é pelo bem da minha família.
-Marina Lemos Andrade?- Olga anuncia o nome da jovem.
-Sou eu.
-Pode entrar.
-Levanta, Marina- ordena Jorge, não deixando alternativa para a moça.
-Por favor, pode se deitar ali- aponta para uma maca.
-O procedimento demora muito, Doutora?- Jorge finge não conhecer a médica, que usa um jaleco com o nome de Gilda Sandoval.
-Leva, em média, uns dez minutos, senhor. Marina, quanto tempo você tem de gestação?
-Pelas minhas contas, umas... Cinco semanas.
-Ótimo. Isso facilita muito, por ser uma gestação de pouco tempo.
-Como a senhora vai fazer, Doutora?
-Muito simples, Jorge: sua filha será submetida a uma aspiração uterina a vácuo. É uma sonda que, ligada a um dispositivo que tenho nessa sala, vai sugar o feto. Mas não precisa se preocupar. Não vai doer nada.
-Então... Pode começar- declara Jorge, que em seguida vê o vestido de Marina sendo levantado e a roupa íntima sendo abaixada para o procedimento. A adolescente finge ser forte o tempo inteiro, enquanto Olga age com a maior naturalidade possível.

UMA SEMANA DEPOIS...

Deitada na cama dos pais, Marina é surpreendida com uma bandeja de café da manhã, trazida por Laura.
-Come, meu amor. Você precisa se alimentar.
-Tô sem fome, Mãe.
-Eu sei, meu amor. Mas você não pode ficar assim. Vai acabar doente.
-Mas doente ela já tá, né, Mãe?- interrompe Marília, se arrumando para ir à escola- Você não ligou pra diretora, dizendo que Marina tá faltando às provas porque anda indisposta?
-E você confirmou. Aliás, pra todos, não foi, Marília? Nada de dizer o que aconteceu aqui. O mesmo vale pra Júlia.
-Júlia é discreta, Mãe. Não vai falar do que aconteceu nem pro Fabrício. Mas se o Max entrou em contato com ele e com o Marcello, deve ter comentado alguma coisa.
-Se dependesse de mim, nunca ninguém aqui dentro de casa cogitaria essa história de interrupção de gravidez... Mas se o Jorge quis assim, que fique então no anonimato. E não acho que esse tal de Max vá se pronunciar sobre isso. Sua irmã disse que ele foi embora e não deu mais notícia, mesmo sabendo da gravidez.
-Vai saber, né? Bom, me deixa ir que eu já tô atrasada! A aula de Joana é a primeira...
-Espera, Marília, eu vou com você!
-Vai me fazer pagar esse mico, Mãe?
-O caminho da escola é o mesmo da casa lotérica, eu tenho que pagar a conta da água e da luz.
-Credo... Então, vamos logo.
-Marina, come só um pouquinho, minha filha. Se você precisar de alguma coisa, pode chamar seu pai. Eu não demoro. Vamos, Marília?
-Se não tem outro jeito, né?
-Já volto, Marina- Laura beija a cabeça da filha e sai junto com Marília.
Um minuto depois, o telefone toca insistentemente na sala. Marina estranha que o pai demore para atender. Ele sai do banheiro, mas ela não sabe. A garota acaba atendendo por uma extensão, ao mesmo tempo que o pai.
-Alô?- diz Jorge.
-Preciso falar com você agora. Você tem que me ver.
-Eu já não te proibi de ligar pra minha casa, Olga?
-Parece a voz da doutora... – reflete Marina.
-Não ligaria se o assunto não fosse sério, Jorge.
-Hoje é minha folga, a Marina tá aqui, e a Laura foi pagar umas contas, daqui a pouco ela volta pra casa...
-Jorge, eu preciso te dizer uma coisa. O assunto é grave, e envolve você.
-Tá bom. Eu vou até a clínica.
-Não, eu não quero que vejam a gente. Que tal naquele restaurante que fica na mesma rua da clínica?
-Perfeito. Chego lá daqui a pouco.
-Jorge, por favor, não me deixa esperando- Olga desliga o telefone.
-Clínica?- Marina lembra que Olga sabia o nome de Jorge quando os dois foram á clínica realizar o procedimento abortivo.

-Como a senhora vai fazer, Doutora?
-Muito simples, Jorge: sua filha será submetida a uma aspiração uterina a vácuo. É uma sonda que, ligada a um dispositivo que tenho nessa sala, vai sugar o feto. Mas não precisa se preocupar. Não vai doer nada.

-Aquela mulher conhece o meu pai. Mas de onde?

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