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10/08/2016
DIÁRIO DE LUTA/ CAPÍTULO 8: HERMÍNIA
-Envenenar a Luiza, César? Não, eu nunca fiz isso. As suas atitudes são mais eficientes do que eu, pode ter certeza.
-Hermínia, eu sei que alguma coisa você disse pra ela.
-Se sua preocupação é que eu tenha inventado algo a seu respeito, pode ficar tranquilo. Eu contei somente a verdade sobre a adoção dela.
-Do seu jeito, obviamente?
-César, eu não vou discutir com você. Quer fazer o favor de sair daqui?
-Para de me enrolar e fala logo de uma vez o que você disse pra ela!
-Tem certeza de que quer saber?
-Não me provoque, Hermínia.
-Medo é algo que você não me causa mais, César. Todo dano que eu poderia sofrer de você eu já sofri. Através da minha filha.
-Quantas vezes eu tenho que dizer que não tenho nada a ver com a morte da Soraia? Ela definhou, velha decrépita!
-Diretamente, não. Mas a sua mentira empurrou a minha filha pra morte...
-Você fala, fala, fala e não chega aonde eu quero! O que a Luiza ouviu de você pra ter tanto ódio de mim?
-Se faz tanta questão de saber, por que não pergunta à filha que você comprou?
-Porque eu estou perguntando pra você! Diz!- a postura agressiva de César não intimida Hermínia.
-Tenho mesmo que te lembrar de tudo que você fez? Pois muito bem. Você sabia que na época de adoção da Luiza, a Soraia não conseguia engravidar. Vocês foram pro orfanato e se apaixonaram por ela. Minha filha reconheceu naquela menina uma filha, e desejou mais do que a própria vida. Vocês dois ficaram na fila de espera pela Luiza...
-Até aí, tudo que eu já sei.
-Quando ela chegou à sua casa, foi a maior alegria da vida da Soraia. Ela pensou que estava realizando o sonho de ser mãe, mas também concretizava o seu.
-Quanto a isso, você não pode contestar. Eu amo a Luiza, e pra mim não há diferença de ela ser minha filha biológica ou não.
-Isso era algo que você poderia alegar até ela destruir seu casamento. Se bem que ele nunca teve tanta importância pra você.
-Hermínia, sem meias palavras. Eu não vim aqui pra ouvir suas indiretas.
-Quando a Luiza estava se adaptando a vocês, Soraia recebeu a notícia de que finalmente conseguiu engravidar. Só que...
-Fala!
-No dia que ela teve a Talita, estava sozinha em casa com a Luiza quando recebeu uma visita.
-Visita de quem?
-De uma tal de Raquel. Esse nome te diz alguma coisa?
-Por que deveria?- César finge.
-Porque ela é a assistente social que cuidou da adoção da Luiza. Naquele dia, a desgraçada foi procurar a minha filha e revelou que facilitou o processo porque você era amante dela.
-Mentira.
-Foi o que a Soraia também disse. Se recusou a acreditar. Mas ela disse que acelerou a adoção da Luiza somente porque você teve um caso com ela. Contou também que vocês tinham se encontrado algumas vezes, mas você resolveu colocar um ponto final no que tinham, e que por isso ela resolveu se vingar contando a verdade pra minha filha. Ainda falou que ela deveria investigar se era possível uma adoção se concretizar tão rápido, como foi o caso da Luiza, caso ela continuasse desconfiando da verdade que sua amante contou.
-Não acredito numa só palavra do que você diz.
-Precisa mesmo é acreditar no que você fez, calhorda! Pensa o quê? Que eu estou jogando verde, pra ver se você admite alguma coisa? Sua cara já diz tudo, César. E apesar de você não valer o chão que pisa, não vou me rebaixar ao seu nível.
-Aquela desgraçada não pode provar o que está dizendo.
-A sua amante é apenas a cereja do bolo, no que diz respeito à sua falta total de caráter. Abalada, Soraia pegou Luiza e levou pro hospital, pois não conseguia te encontrar na clínica. Na certa, devia estar debaixo do lençol de um hotel vagabundo, com alguma mulher tão vagabunda quanto.
-Seu discurso consegue até me comover, sabia? Parece até que a traída foi você!
-Tudo bem. Vamos esquecer a traição; ou melhor: fingir que sua infidelidade nunca aconteceu. Como é que você explica não dar atenção pra depressão da Soraia? Como é que você explica dar tudo pra suas filhas, menos carinho? Eu é que tive que convencer a Soraia a te largar, e quando ela te comunicou que iria viver sozinha com as meninas, o que foi que você disse a ela? "Não vai me fazer falta esse casamento fracassado, essa rotina, essa porcaria de vida que eu vivo com uma mulher doente"! Soraia ficou até o último segundo da vida esperando que você reconsiderasse. Em vão.
-Eu quero saber o que foi que você disse pra minha filha, sua cobra!- César agarra Hermínia com violência, sendo impedido de agredi-la por conta da intromissão do assistente.
-Larga a Dona Hermínia agora ou eu chamo a polícia.
-Pode deixar, meu filho. Deixa que eu me entendo com esse verme! A Luiza ouviu quando a sua amante contou do caso pra Soraia. E depois, a própria Soraia me contou. Eu nunca precisei fazer a sua caveira pra ela, isso você conseguiu sozinho porque ela sempre soube da verdade. E se a Talita ainda te respeita é porque não faz ideia do sujeitinho baixo que você é.
César larga a ex-sogra, com ódio, e deixa o local.
-A senhora está bem?
-Lavei minha alma, rapaz. Melhor do que isso, eu não poderia estar.
////
No dia seguinte, Nuno se levanta da cama e, ao passar pela cozinha, repara que a mesa do café da manhã não está posta. Algo bastante incomum, já que Júlia costuma se levantar cedo para ir à faculdade. O rapaz bate à porta do quarto da irmã, sem obter resposta. Gira a maçaneta da porta, até notar que ela está trancada por dentro.
-Júlia? Júlia, você tá aí dentro? Júlia?
Fátima sobe às escadas após um problema com o elevador do prédio e ouve os gritos e batidas provocados por Nuno, que os intensifica ao ouvir Júlia chorando. Preocupada, a dona de casa toca a campainha do apartamento. Nuno corre para atendê-la.
-Nuno, aconteceu alguma coisa?
-A minha irmã. Eu tô escutando ela chorar dentro do quarto.
-O que houve com ela?
-Não sei, Dona Fátima. Quando a Júlia sai pra faculdade, ela não costuma trancar a porta do quarto.
-Espera, deixa eu falar com ela.
-Por favor, pode entrar.
Fátima passa e deixa a porta aberta, algo que não é corrigido por Nuno.
-Júlia? Júlia, minha filha, sou eu, Fátima. Seu irmão está preocupado com você. O que foi que houve? Júlia, você está me escutando?
-Não adianta, ela não abre. Só escuto ela chorando.
-Você não tem a chave do quarto dela?
-Não, só ela tem, Dona Fátima.
-Já sei o que eu faço- Fátima abre a gaveta dos talheres e tira uma faca, onde força a fechadura do quarto da estudante. Ela consegue abrir, mas Nuno é quem entra no quarto. Desesperado, vê a jovem com o cabelo desgrenhado, a blusa ainda rasgada e a maquiagem desfeita: Júlia havia entrado da mesma forma que saiu da faculdade.
-Júlia, o que houve?- Nuno se abaixa e levanta a irmã do chão- O que foi que fizeram contigo?
Após soluçar bastante, Júlia pede ao rapaz:
-Não toca em mim, Nuno, por favor...
-Por favor, Júlia, fala o que é que tá acontecendo!
-Beto... O Beto...
-O Beto o quê? O Beto sabe quem fez isso com você?
-Não... Ele fez.
-Não pode ser- Fátima se recusa a crer na declaração.
-Como assim, Júlia? Por que foi que ele te bateu?
-Se fosse só isso... Aquele canalha... – volta a chorar.
-Ele tentou alguma coisa com você, foi isso?
-O desgraçado abusou de mim, Nuno! Aquele desgraçado me forçou no banheiro da faculdade...
-Beto fez isso? Eu vou matar aquele filho da mãe!- Nuno solta Júlia, para ir atrás do agressor.
-Nuno, calma! Não faz isso!- Fátima aconselha.
-Isso não vai ficar assim, não, Dona Fátima! Eu vou acabar com a raça daquele verme!
-Agora, a prioridade é a sua irmã, Beto. Não faz as coisas de cabeça quente, é ele quem tem de ser punido. Eu vou chamar a polícia... – Fátima tira o telefone do bolso, mas Júlia corre.
-Não, não chama a polícia!- Júlia impede Fátima de realizar o telefonema.
-Júlia, a gente tem que colocar esse imbecil na cadeia!
-Será que você não entendeu ainda, Nuno? Ele me estuprou, sou eu quem vai se expor! Não ele! Eu não posso acusar o Beto porque não tenho prova nenhuma de que ele me violentou.
-Pensa bem, Júlia! Você calada é tudo que ele precisa pra agir de novo, e até com outra pessoa! Vamos pra delegacia agora!
-Já te disse que eu não vou procurar a polícia, Nuno! Não insiste! Eu não quero e não vou passar por essa humilhação!
-Você foi vítima de abuso sexual, Júlia! Se você se calar, ele pode te atacar de novo! É isso que você quer?
-Ele disse que gostava de mim em segredo, que se aproximou de Talita pra me fazer ciúme, Fátima... Faz tempo que ele tava planejando isso. E eu fui muito tonta de não ter percebido a jogada dele.
-Pode até ser que você não denuncie esse cara, mas eu vou fazer isso, sim, Júlia- adverte Nuno- Eu vou jogar aquele criminoso desgraçado na cadeia!
Talita, que desce às escadas do prédio, escuta tudo após ver a porta do apartamento de Júlia e Nuno aberta.
////
À noite, no apartamento da Família Telles, Beto abre a porta e encontra Talita na varanda do local. Frio ao extremo, vai abraçar a namorada.
-Que saudade que eu tava de você, meu anjo...
-Por que você não me ligou?
-Pra quê, Talita?
-Bom, além de ser meu namorado, você também tinha que me ligar pra dizer o que aconteceu com o projeto, se ele foi aprovado ou não.
-Desculpa, amor, é que eu fiquei com a cabeça tão cheia que... Preferi ficar um pouco sozinho.
-Por quê?
-Porque eu passei mais de meses tentando fazer a apresentação perfeita, pesquisando tudo que eu podia sobre o tema, e no dia, o que é que acontece? Eu não passo de um capacho da Júlia.
-Mas bem que você comemorou com ela. Encheu a cara e tudo, não foi?
-Que foi, Talita? Sinceramente, eu não tô entendendo sua postura. Até parece um interrogatório tudo isso. Na boa, eu não sou obrigado a responder tanta pergunta!
-Melhor eu fazendo perguntas do que a polícia, né?
-Tá querendo dizer o quê com isso?
Talita vai até o centro da sala e confronta o namorado.
-Que eu sei muito bem o que você fez com a Júlia. Você estuprou a minha amiga.
-Aquela dali não é amiga de ninguém. Sabia que ela só faz o papel de sua amiguinha porque você e seu pai têm tanto dinheiro quanto ela?
-Como é que você teve coragem de descer tão baixo, Beto? Escuta só o que você tá falando! Tá jogando nas costas da Júlia a culpa do abuso que você cometeu contra ela.
-Pelo visto, ela fez direitinho a tua cabeça...
-Júlia não sabe que eu escutei ela confessando tudo pra minha tia e pro Nuno, vê se cala essa boca!
-Tá com medo de quê, meu amor? De que a sua melhor amiga me acuse de alguma coisa?
-É assim que você chama o que você fez com ela? "Alguma coisa"?
-Ninguém viu. Ninguém sabe do que aconteceu; por isso, não existe crime nenhum. E depois ninguém pode me condenar. Me sentia tentado por ela. Só de imaginar que aquele corpo um dia ia ser de outro cara, e que ela nunca ia me dar chance, eu me irritava.
-A Júlia nunca te deu esperança de nada...
-Nem precisava. Eu gostava dela mesmo assim. Desde que eu conheci a Júlia, eu quis ir pra cama com ela. O que você queria, Talita? Eu sou homem, não sou de ferro! E depois que...
-Depois que o quê, seu cretino? Fala!
-Depois de ontem, quando eu soube que fui o primeiro homem na vida dela... Eu tive certeza de que ela não ia me tirar da cabeça nunca mais.
-Você é doente... Eu tenho nojo de você.
-Já que é pra falar a verdade, eu só comecei esse namoro contigo pra causar ciúme nela. Nunca quis você. Ainda mais sendo desse jeito: romântica, sonhadora, idealista... O que eu ia ver de interessante numa menininha, quando podia muito bem realizar meu desejo com ela?- Beto começa a rir- Até nos beijos que eu te dava eu tinha que me controlar, sabe por quê? Porque era nela que eu pensava. Era a Júlia, uma mulher de verdade, que pulsa sexo, que eu queria ter o tempo todo. Não uma menina cheia de frescura, que com certeza nunca transou com ninguém pra nenhum macho perceber o quanto você é frígida!
Irritada, Talita esbofeteia o rapaz, que não reage.
-Eu tenho nojo de você!
-Eu também não morro de amores por você, minha querida.
-Mais cedo do que você acha, Beto, você vai ser preso. O que você fez com a Júlia não vai sair de graça.
-Se é que ela vai contar isso pra polícia, né? Presta atenção, sua idiota: a Júlia liga, sim, pras aparências. Não interessa se ela sofre preconceito por ser mulher, ou por ser negra, mas de condição favorável! A Júlia criou uma imagem que nem ela é capaz de destruir! Ela consegue passar por cima de qualquer coisa, na frente de todo mundo, como se nada pudesse abalar. Então, você acha mesmo, sua idiota, que a Júlia vai ter coragem de me denunciar pra polícia?
-A Júlia não precisa mais de coragem, Beto. Eu já tive e liguei pra polícia.
////
César estaciona o carro após mais um dia de trabalho e encontra Fátima, bastante aflita, lhe esperando na garagem.
-César, eu tenho que falar com você.
-Alguma coisa com as meninas? A Luiza aprontou de novo?
-Não, não tem nada a ver com a Luiza. Eu vim te esperar aqui justamente pra que você entre em casa, e não atenda nenhuma chamada de emergência que te faça voltar pra clínica.
-As minhas filhas estão bem? Estão em casa?
-A Talita está com o Beto lá em cima.
-E a Luiza?
-Ela acabou de subir. Tinha ficado até mais tarde na escola por conta dos preparativos pra Feira de Ciências da próxima sexta.
-Fátima, o que é que está acontecendo? Me fala!
-Lá em cima eu te explico tudo, César. Vem comigo.
-Tudo bem. Vamos pegar o elevador.
-Desde hoje que está com defeito, a gente tem que ir de escada.
-Se não tem outro jeito...
////
-Não, você não fez isso comigo.
-Parece que o idiota agora é você, Beto.
-Eu não acredito nisso.
-Por que você acha que eu marquei um encontro com você, Beto? Pra te dar os parabéns pelo que fez com a Júlia? Nem ela quis te denunciar nem deixou o Nuno fazer isso porque sentiu vergonha. Mas eu não sinto mais nada, a não ser nojo de você. A polícia sabe que você veio pro prédio hoje de noite porque eu tinha te chamado. Você vai pagar pelo que fez com a Júlia, Beto.
-É, mas não vai ser só eu, não- aproxima-se de Talita- Você também vai pagar, mais cedo do que imagina, inclusive.
-Minha tia sabe que você tá aqui no apartamento...
-E daí? Ela não vai impedir nada. Sabe qual foi o meu erro, Talita? De não ter dado pra você o que a Júlia conseguiu ter de mim.
-Não chega perto de mim!
-"Chegar perto", Talita? Vou é te ensinar o que é ser mulher- beija a moça, que morde seus lábios com fúria.
-Nunca mais você coloca suas mãos em mim!
-Só quando eu quiser- Beto revida a agressão empurrando a garota ao chão. Abaixa para segurá-la, mas ela o chuta e sai correndo para o quarto. Rápido, ele a alcança antes que ela consiga fechar a porta.
-Me solta, desgraçado! Some daqui!
-Você vai saber quem sou eu, Talita!
-Socorro! Alguém me ajuda! Tia Fátima, socorro!
Talita ainda corre para a janela aberta do prédio, sendo agarrada por Beto e jogada na cama.
-Não vai fugir de mim, não!
-Desgraçado!- Talita volta a bater no rapaz, que não se intimida e segura o pescoço da garota com força usando uma das mãos, enquanto a outra desliza pelo corpo da jovem. Por um momento, ele chega a rir- Não toca mais em mim, nojento!
-Fica quieta!- irritado, Beto responde à agressividade da moça com uma bofetada, fazendo-a chorar de desespero- Tá pensando que vai fugir de mim, vagabunda?
-Por favor, me deixa sair daqui! Beto, me deixa sair...
Em pânico, Talita se cala abruptamente ao reparar que Beto conseguiu abrir seu sutiã, além de beijá-la no pescoço, com respiração ofegante.
-Tia Fátima?- Luiza chega ao apartamento e Talita ouve a sua voz.
-Luiza, socorro!
-Cala a boca, vagabunda!- Beto tapa a boca da namorada, sobrepondo-se a ela na cama.
-Talita?- Luiza corre pra ajudar a irmã e abre aporta do quarto, onde encontra Beto tentando abusar da menor. Ela parte para cima dele, tentando dar socos no rapaz- Deixa a minha irmã em paz! Solta a minha irmã, desgraçado!- Luiza parte para o confronto corporal com Beto, mas ele a segura- Nojento! Não toca mais na minha irmã! Não toca nela, senão você se arrepender!
-Quem vai se arrepender é você, vadia!- Beto empurra violentamente Luiza contra o closet das garotas, fazendo-a bater com a cabeça e cair no chão.
-Não toca na Luiza, desgraçado!- Talita tenta agredir o rapaz.
-Ela não mete medo em ninguém agora!- afirma, consciente de tê-la feito desfalecer. Só que, em seguida, Luiza, com a testa ensanguentada, corre até o quarto de Fátima.
-Me deixa sair daqui, Beto! Me larga, você tá me machucando- grita Talita, tentando se erguer, ainda de joelhos na cama.
-Mas agora que a brincadeira tá ficando boa, amor? Daqui você só sai morta, só que antes, eu vou fazer a festa contigo- Beto empurra Talita para que ela caia deitada na cama, beijando o busto da garota.
Um pouco atordoada, Luiza vem pelo corredor, bastante nervosa, e aponta a arma de Fátima para Beto, que está sobre sua irmã e beijando-lhe a boca. Entretanto, mesmo diante do porte do rapaz, Talita tenta se livrar das carícias íntimas e do beijo afastando-o um pouco, fazendo com que ambos fiquem deitados lado a lado, como de frente um para o outro.
Dois barulhos são ouvidos. O primeiro é o do disparo da arma, seguido do grito que Luiza dá ao ver Beto afastado de Talita, com ela agora na mesma posição da cama em que ele estava, um pouco deslocada, em decorrência do empurrão que tentou dar no agressor. As bocas de Beto e Talita ainda estão unidas pelo beijo que ele forçou, sendo que agora os dois estão parados, demonstrando pânico. Um deles foi atingido pelo tiro de Luiza.
DEPOIMENTO
"Foi com apenas quatro meses de vida que meu filho perdeu o pai. Pouco tempo se passou, ele ainda está longe de crescer e, todos os dias, eu me pergunto o que vou explicar quando ele me perguntar sobre o que aconteceu. Vou ter coragem de mentir, de dizer que ele foi embora, que morreu num acidente? Uma hora ele vai saber que o pai foi assassinado. Se não for por mim, vai ser por outro, pelo jornal, pela televisão. Não sei. Não sei se ele vai me perdoar porque apanhei durante minha gestação, que aguentava calada por pensar que meu companheiro ia mudar quando ele nascesse, que o matei porque ele queria tirar meu filho de mim. O que eu queria era dar um futuro tranquilo pra ele, mas quem perdeu a tranquilidade fui eu. Pra todos, eu só me defendi. Morro de medo só de imaginar que ele pode não pensar a mesma coisa. Meu nome é Karina e procurar uma forma de viver a verdade é a minha luta diária."
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