16/10/2016

WERNECK CAKE/ CAPÍTULO 29: SÓ QUE NÃO!



-Como foi que você soube, Santiago? Quando foi que você descobriu que ela... Isso é um pesadelo...
-Eu descobri tudo pela internet porque desconfiei da Carolina. E ela me confirmou depois.
-Juliane, eu não contei nada pra ele. O Santiago descobriu depois que entrou no site do “Bolero do Brega”.
-Da Bodega, queridinha- corrige Nieta.
-Ah, tanto faz! Por favor, era pra ser um segredo. Como é que você tira uma foto da funcionária que se esconde atrás de uma máscara e bota numa home page? Tá com o juízo aonde?
-Nieta, a minha foto está na internet, irresponsável?
-Eu precisava divulgar, ora! Eu te disse que a casa de shows tava com pouca frequência.
-Peter, você precisa me escutar. Você precisa entender por que eu...
-Juliane, cala essa boca. Cala sua boca porque você não precisa explicar nada. Tá muito na cara. Sempre vai ter alguém perto de mim que vai elogiar, que vai comentar como você é bonita. Eu sempre vou passar pela rua e ser apontado como o cara que anda com a mulher que chama atenção.
-Peter, para...
-Pode ser bom, fazer bem pro seu ego. Pra mim é péssimo. Mas eu não tô no seu lugar, e eu acho que por isso, eu posso entender que hoje você só tá aqui pra resolver um problema...
-Você entendeu... - esboça um sorriso.
-Ele entendeu?- estranha Santiago.
-Tudo, Juliane. Você precisa se exibir. Você precisa fazer de conta que eu não existo pra que todos eles possam te ver, te notar, sentir desejo por você. Porque pensar em te levar pra cama não é errado. O errado é você lembrar que tem um namorado. Mas tem uma coisa que não te deixava ser feliz desse jeito. Sabe qual era o nome dela? Peter Werneck. Era. Não existe mais.
-Quantas vezes eu vou te dizer...
-Nenhuma. Eu não peço mais nada. Eu não pedia antes, agora menos ainda.
-Peter, eu vou dizer de novo: você é o homem da minha vida!- diz pausadamente.
-Vida uma ova! Dessa vida sua eu nunca vou fazer parte. E eu não sou o homem que vai mudar a vida de mulher nenhuma. Muito menos a sua! Eu não sou um homem. Eu sou um idiota. Um imbecil de quem você ri toda noite. Sozinha ou acompanhada. Mas essa é a sua diversão. Talvez você sorria mais rindo de mim do que dançando.
-Peter, você tá nervoso. Põe a cabeça no lugar. A Nuelle... Quer dizer... A Juliane errou, mas ela quer voltar com você, quer se desculpar pelo que...
Essa foi a última fala de Lívio antes de um soco ser desferido. Nieta e Santiago seguram Peter.
-É bom a Juliane corrigir tudo de errado que fez comigo, né, Lívio? Assim ela pode dormir tranquila, ou ir pra sua cama mais cedo!
-Que insinuação é essa agora?
-Insinuando contra quem, vagabunda? Contra a mulher que foi vista no apartamento do meu amigo tarde da noite? Burra! Quantos dias faltavam pra vocês dois aprontarem isso comigo? Você ia fazer o quê? Deixar uma carta na minha casa pra contar que fugiu com ele porque os dois tavam de caso?
-Peter, você não tá dizendo coisa com coisa! Eu nunca tive caso nenhum com ele. Eu te contei que ele tentou me levar pra cama...
-E você não foi naquele dia porque ele tentou te dopar. Mas antes disso? E depois que eu saí de lá?
-Eu entrei pra falar com o porteiro.
-Mas você não contou ainda se ele também te dopou e te levou pro quarto.
-Agora já chega! Já chega! Eu vou acabar com você! Ninguém nunca falou assim comigo!- Juliane avança com fúria pra cima do Peter, mas a Carolina procura contê-la.
-Quanta integridade! Pensei que tinha perdido quando queimou o diploma.
-Eu nunca devia ter feito isso. Era mais fácil eu pegar um isqueiro e jogar álcool na sua cara!
-Agora sim, Juliane. Mostra que você só mora comigo porque não tem opção. Até porque é de graça, mas quanto será que você cobra pros clientes alugarem um quarto?
-Eu já perdi a paciência com você- e os dois começam a se engalfinhar. Santiago e Lívio intervêm para acabar com a briga.
-Tá faltando gente pra dizer a verdade na tua cara? É esse o seu problema!
-Isso tudo foi pra botar dinheiro dentro de casa!
-Vá pro inferno com o seu dinheiro!
-Vá você, idiota! Acreditar nesse cretino pensando que vai mudar de vida? Queria cair no golpe e eu sou acusada de cúmplice? Por que você não assina o contrato? Não rasga, não, meu amor! Assina e lê tudo, linha por linha! Aí sabe o que dá pra fazer com o papel? Dobra ele três vezes e enf...
-Repete se tu tiver coragem, cadela! Abre essa boca pra falar de mim!
-Eu repito! Enfia na boca! Porque quando ele roubar teu talento, é só isso que vai sobrar!
-Peter, não acredita nessa menina. Ela tá querendo acabar com a amizade da gente. A Nuelle nunca gostou da banda, implicou comigo e agora a gente sabe por quê.
-Cala tua boca! Se eu ouvir tua voz de novo, eu te mato! Eu te jogo da ponte do quartel do Derby e soco tua cara até você implorar pra parar. Espera... O contrato...
-Que tem ele?
-Ele tá contigo. Pelo menos uma cópia.
-Peter, eu tô esperando o empresário da gravadora, eu não tenho contrato nenhum, me solta... – Peter começa a mexer nos bolsos de Lívio e o encontra.
-É isso aqui que o carinha ainda vem trazer?
-Assina, Peter. Você não pode fazer isso comigo. Essa mulher tá te enrolando.
-Como você.
-É o sonho da minha vida. Da nossa vida.
-Eu não tô preocupado com a minha vida, com a sua... Eu quero que se exploda.
Lívio desce do palco e vai até o balcão, onde pega duas garrafas de uísque, enquanto Peter segura o contrato.
-Vai fugir, Lívio?
-Não. Eu quero fazer uma coisa. Eu quero pedir pro seu irmão, pra namorada dele e pra Nieta descerem do palco.
-O que você vai fazer?
-Daqui a pouco vocês vão saber.
Os três descem. Lívio abre uma das garrafas e derrama o líquido no chão. Ninguém entende nada.
-Juliane... Nuelle... Seja lá quem você for, eu tenho que dizer uma coisa.
-O quê?
-Obrigado pela ideia do isqueiro. Muito bacana.
E joga um sobre o uísque derramado. Todos entram em pânico e saem correndo. Peter tenta escapar.
-Você endoidou, Lívio? Que é isso, cara? Eu tenho que sair daqui!
-Não vai, não- quebra a garrafa e segura o gargalo, apontando para Peter- Eu já conheço a casa há muito tempo. Eu sei da saída de emergência. E eu deixo você e Nuelle saírem, mas antes... Assina o contrato.
-O quê?
-Você venceu. Eu assumo que eu queria roubar as suas músicas. Mas já que a Nuelle contou tudo, assina.
-Solta isso, Lívio.
-Tá com medo de eu te machucar? É pra ficar! Enquanto você se dava bem, eu corria atrás de gravadora pra me sustentar.
-Isso tudo é inveja?
-É inveja, só que não. Mas eu sabia que você podia me ajudar. E tudo ia dar certo, se essa vaca não tivesse falado.
-Quer que eu reproduza a gravação?
-Lívio, solta essa garrafa.
-Assina, Peter.
-Solta.
-Assina essa... – aproxima-se de Juliane. Para tentar defendê-la, Peter atraca-se com o novo rival e os dois embolam pelo palco. A dançarina pede para eles pararem, sem sucesso. Então, tem uma ideia de jerico (ou dela mesmo): pega a outra garrafa pra bater na cabeça do vocalista, mas acerta o namorado, ficando com o gargalo na mão.
-Desgraçada. Pensa que você vai acabar comigo?
-Não chega perto de mim. Se afasta de uma... Me solta! Socorro! Alguém me ajuda!- Lívio a agarra e a ameaça com o gargalo.
-Você nunca mais vai atrapalhar a minha vida. Por sua culpa, eu perdi a chance de ficar rico, de me dar bem.
-Deixa de ser idiota! Você acha que o Peter nunca ia saber?
-Saber ele até podia, só que depois que eu ficasse famoso. Eu acabava com a banda e ele era esquecido. Eu cantei a música que ele compôs na adolescência e o produtor gostou. Pediu pra eu fazer mais e eu lembrei dele. Mas e agora? Tudo acabou porque você gravou minha conversa. Me enrolou. Mas agora você me paga. Nem que pra isso eu tenha que te matar.
-Mata!- grita- Acaba comigo se você quiser. Sua mão deve estar coçando pra terminar com a minha cara, né? Eu sou culpada, e não vou me arrepender nunca.
-Nunca é tempo demais.
-O suficiente pra quem vai morrer. Corta, Lívio. Vai, covarde!
Ele começa a tremer, e ela se desvencilha dele para correr até Peter.
-Peter, meu amor, acorda!
-Eu vou te matar!
-Me larga!
-Eu acabo com você, Nuelle.
-Solta!
E num ímpeto de raiva, Juliane é jogada no chão, onde bate a cabeça e desmaia ao lado do Peter.

*****

Peter acorda, com um ferimento na cabeça por causa da garrafada. Vê que o incêndio continua. Com dificuldade, levanta-se, quando encontra Juliane junto dele.
-Juliane. Juliane, fala comigo. Acorda. Juliane, fala com...
Repara em cacos de vidro com sangue.
Segue, ainda um pouco tonto, para perto de um corpo desmaiado. Pela roupa do Suicide Silence, reconhece o Lívio. Deitado de bruços, está com o rosto virado para o cano de pole dance. Peter toca no rosto, quando sua mão fica toda ensanguentada por causa do amigo, Ao virá-lo para si, o vilão tem vários hematomas e diversos ferimentos faciais.
-Lívio? Lívio?
Toca em seu coração, e entra em desespero.
-Lívio!- grita desesperadamente.
Peter congela em preto-e-branco, com faróis atrás dele e da sua palma melada.

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