Sabe por qual motivo não apresentamos até aqui o
nome do adolescente? Porque não nos interessava; relatar as relações físicas de
Juliane era para nós muito mais útil (não somos bestas). Mas vamos mudar de polo:
partamos para o drama rasgado de novela das oito dos anos sessenta. Sabe qual o
motivo que impede Peter de pegar a fisioterapeuta? A crença de que era muita
areia pro caminhãozinho dele? Certo, isso também. Mas ele namorava Leilah, uma
jovem bonita. Muito não, pois estaríamos enaltecendo nossa amada profissional
da saúde. Isso não impedia, entretanto, que o rapaz pudesse sentir atração,
como mostramos no capítulo anterior. Já confidenciava o quanto era difícil
controlar-se perto dela, ao seu amigo Santiago. Como em uma festa de
aniversário que muitos colegas de sua sala foram.
-Sem querer,
você derramou Coca-Cola nela? ʺSem quererʺ? Veio em boa hora, isso sim.
-Tá bem
difícil, hein, Santiago? Toda tarde ter que ir na fisioterapia e fazer aquela
cara de leso, de quem não quer nada, com aquele "tipão" do lado...
É aí que Leilah chega,
mas os meninos não a veem. Sinto um cheiro de "ele se lascou" no
ar...
-Putz,
cara... Vai me dizer que com uma mulher daquelas, todo dia na tua frente, você
ainda não pegou?
-Não, besta.
Esqueceu que tenho namorada? É lógico que Juliane não está interessada, senão
eu já tinha percebido atenção. Lembra que eu te falei que ela pediu pra eu
mudar de conversa quando eu olhei por dentro do jaleco?
-Por dentro
do jaleco... Eu já tinha dado um jeito daquele jaleco não me aparecer nunca
mais na vida. A mulher dando sopa e você preocupado com besteira. Sabe de que
mais? Pra mim, você não quer entregar o jogo: já pegou Juliane, sim, e não quer
falar.
-Eu não sou
doido de dizer que estou interessado nela, que acho ela gostosa e que quero
pegar. Aí eu estaria mentindo- escutando o "suficiente", Leilah dá o
fora, irritada- Mas eu não quero terminar com Leilah por isso. É fogo de palha,
meu irmão. Passa.
-Vamos ver
até quando essa calma toda.
Alguns
minutos depois, Leilah é vista tomando uma taça de cerveja, coisa que ela não
faz com frequência. Já é o máximo pra ela entornar a garrafa de Skol inteira
(não façam isso!). Peter se aproxima e dá-lhe um beijo no pescoço. Ao virá-la,
nota que ela está diferente.
-Você tá
bem?
-Tenho
motivo pra não estar?
-É que você
não é de beber.
-Deu
vontade, só isso. O que você falou com o Santiago?
-Assunto de
homem.
-Mulher, pra
traduzir.
-Relaxa,
amor- tenta beijá-la na boca, quando toca uma música eletrônica.
-Vamos
dançar?- desvia do beijo.
-Agora!
Todos
se divertem. Leilah dança de maneira ousada, talvez por conta do efeito da
bebida (acha que acreditamos nisso?) e logicamente, Peter se surpreende.
Santiago também se diverte, mas olha uma cena incomum: a moça agarra um garoto
desconhecido da festa, e reproduz os passos da mesma maneira, deixando o
namorado enciumado. Tasca um beijo daqueles em que o corno procura um buraco
pra enfiar a cara. Mas a única coisa enfiada mesmo foi a mão de Peter no meio
dos "cornos" do moço. Leilah desaba no chão, aos risos, e Santiago
tira Peter de cima, enquanto outros separam o menino que foi agredido. O
adolescente não quer conversa: trata de se mandar da festa. No jardim, Leilah
corre atrás e provoca.
-Coitadinho
de você. Não aguentou saber que podia ser trocado por outro.
-Você não
podia ter feito isso. Na frente de todo mundo, me fazendo passar vergonha. Não
era nele que eu devia ter socado. Era você!- grita.
-Não é na
frente do povo que tá te deixando com raiva. É descobrir que eu posso te trocar
por esse, como por qualquer outro. Ou vai dizer que você nunca me traiu? Acha
que eu não escutei tua conversa?
-Dane-se!
Dane-se você e o que você acha que escutou! Eu quero que você se exploda!- sai
da casa.
Enquanto isso, Leilah chora no jardim pela vergonha que passou. E na rua, Peter
anda totalmente desconcertado, o bichinho... Foi andando pelas ruas da cidade,
ruas tão distantes da sua casa que reproduziam o caminho da clínica (pra quê
pegar ônibus. não é?). Não tem ninguém na avenida, um misero mosquito pra
contar história. Do nada, surgem alguns carros que participavam de pegas. O
segundo veículo, porém, andava passando por calçadas, o motorista estava
aparentemente bêbado... Ao notar que ele perderia o controle, o cara trata de
correr, mas é atropelado em frente à clínica.
Uma
moça olha do edifício empresarial onde funciona o estabelecimento e entra em
pânico. Na hora, Juliane sai de sua sala e pergunta o que houve. A moça relata
tudo e ambas descem para socorrer a vítima. A fisioterapeuta se surpreende
quando percebe que é Peter, que não está desacordado. Pede ajuda à Carolina- a
recepcionista da clínica que testemunhou o acidente- para levá-lo à clínica. Ao
que demonstra, sua torção havia piorado, e sofria leves escoriações.
Quando entra na clínica, é levado por Juliane à
sala da ortopedista, que largou mais cedo, e tira um raio-X. Felizmente, o
tornozelo não foi prejudicado, mas Peter sentia muitas dores. Ela o massageava,
garantindo que estaria tudo bem a tempo, mesmo vendo o cara se debulhar em
lágrimas. Após muitos minutos, as dores aliviam mais, e a moça pede que ele
tome um anti-inflamatório. Mas o rosto do cara ainda estava molhado.
-O que aconteceu, rapaz?
-Eu tinha vindo de uma festa, e de repente vieram uns carros... O resto você já
viu.
-Não. Falo do seu rosto. Não é só dor que sente. Tem mais alguma coisa.
Peter se acaba de chorar novamente.
-Vai começar tudo de novo, essa não... Esse capítulo 4 não termina?
-Eu posso confiar em você pra contar?
Com ar sedutor, sem ser vulgar, Juliane responde.
-Você pode contar comigo pra qualquer coisa, Peter.
-Tem certeza?
-Até pras coisas que você é incapaz de imaginar- chega perto do rosto dele.
*****
São asteriscos pra mudar de cena, relaxe. O capítulo está rolando. Como o pai
de Peter deu pela falta do filho, e Leilah morava no mesmo prédio, ambos
ficaram apreensivos. O garoto chega com um gesso no pé e uma faixa enrolada no
antebraço. Às seis da manhã.
-Filho, ainda bem que você chegou- dá-lhe um abraço, mas o cara só olha pro
rosto de Leilah, sua ex-namorada. Nesse instante, ela pergunta:
-O que houve com você? Por que está desse jeito?- ao perceber que ele não
colaborava com o diálogo, disparou- Com quem você estava?
Ui, agora a coisa ficou séria!
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