-Gente,
por que vocês dois ficaram mudos de repente?- Gabriela pergunta.
-Nada,
meu amor- Fábio a beija, tentando encerrar o assunto. Victória entra na sala de
aula e olha para Vinícius, que prefere deixar o local.
-Dá
licença- diz para Gabriela e Eduardo.
O
celular da namorada de Fábio toca, e ela atende rapidamente.
-Oi,
Mãe. O que é? Não tá dando pra te ouvir, o sinal tá muito ruim aqui. Deixa eu
sair da sala- abaixa o celular- Peraí um minutinho, amor. Daqui a pouco eu
volto.
-Tudo
bem, vai lá- após a frase, Gabriela continua a conversa com Ariane no corredor
do colégio- Será que é mesmo a mãe dela ligando?
-Por
quê, Fábio? Quem mais ia ser?
-Não,
esquece o que eu falei. Besteira minha.
-Sabe
que eu ainda não entendi?
-O
quê, Edu?
-Desde
quando você é amigo do Vinícius.
-A
gente não é amigo, é colega de turma. Como você é dele também.
-Mas
esse abraço quer dizer o quê? Você não é tão próximo do Vinícius assim...
-Cara,
não reparasse no clima, não, quando a Victória entrou aqui? Os dois terminaram,
o cara ficou mal pra caramba.
-E
ficou sabendo como?
-Os
dois trabalham no mesmo lugar, são modelos, ele teve uma briga com ela e isso
saiu num site- mente- Lógico que eu fui dar uma força quando eu vi ele aqui.
-E
ele conversou tudo isso que houve entre ele e a Victória com você assim, do
nada?
-Já
te disse, eu li num site. Achei que o cara tava precisando de uma força.
-Não
é por nada, não, mas acho que você não devia se envolver tanto nessa história.
-O
que é que você tem contra o Vinícius?
-Tenho
contra a galera com quem ele anda- Eduardo começa a falar em voz baixa- Uma vez
eu peguei a Bete e os amigos dela a qui
dentro e...
-Diz.
Continua, Edu.
-Eles
tavam fumando.
-Tá,
e o que é que Vinícius tem a ver com isso?
-Deixa
de se fazer de besta, Fábio. Vinícius tá cada dia pior, falta à aula, não fala
coisa com coisa, tá ficando mais magro a cada dia que passa... Você acha que é
o quê? Só pode ser droga.
-E
se for, o que é que tem? Qualquer um pode experimentar, fumar...
-Qualquer
um não. Você mesmo não é desse tipo, nem nunca foi.
-É,
tem razão.
-Me
ouve, Fábio. O Vinícius não é boa companhia pra ninguém. Toma cuidado com esse
amigo novo que você inventou de fazer.
-Pode
deixar, que eu sei me virar.
-Tomara
que saiba mesmo.
Gabriela
volta para a sala, onde conversa com o namorado e o irmão.
-Era
tua mãe mesmo?
-Era,
sim. Queria confirmar se Edu e eu trouxemos o dinheiro do pagamento da trilha.
-Trilha?
Que história é essa?
-Fábio,
tua cabeça tá no mundo da lua, só pode. O professor de Geografia pediu pra que
a gente trouxesse o dinheiro pra alugar o ônibus da trilha que ele quer fazer
lá na zona da mata, saindo daqui do colégio na sexta e voltando no domingo à
noite.
-Ih,
caramba, eu esqueci que era pra trazer o dinheiro hoje. Vou falar com ele pra
ver se eu posso trazer na aula de amanhã.
-Depois
da aula, eu posso passar lá na tua casa?
-Hoje?
Pode, pode, sim.
-Tô
te achando tão esquisito... O que é que foi, Fábio?
Fábio
olha para Eduardo, lembrando-se da conversa que acaba de ter com o cunhado,
cada vez mais desconfiado.
-Nada.
Tava mesmo com muita saudade sua.
-Saudade
essa que você não mata, né?
-Eduardo!-
Gabriela repreende o irmão.
-Falei
nenhuma mentira, não, gente. Faz tempo que Fábio não aparece lá em casa.
-Nem
vou aparecer. Quer mesmo que eu diga o motivo de não ir lá?- Fábio senta em sua
carteira, causando uma troca de olhares entre Eduardo e Gabriela, que estranham
o jeito agressivo de falar do rapaz.
Como
combinado, o casal vai até a casa de Fábio no início da tarde, entrando no
quarto dele.
-Ainda
bem que você conseguiu falar com o professor e ele te deixou entregar o
dinheiro amanhã.
-Tô
louco pra fazer essa trilha. Ainda mais sabendo que você vai também- Fábio joga
a mochila numa cadeira e tira a farda do colégio.
-Ah,
é? E o que isso tem de tão especial?
-Pensa
bem- abraça o corpo de Gabriela- São três dias longe de casa, longe de tudo. A
gente bem que podia aproveitar, né?
-Pra
quê, amor?
-Tenho
que dizer?- Fábio beija o pescoço da namorada.
-Peraí,
Fábio. Espera- Gabriela coloca uma distância entre os dois- O que é que tá
rolando contigo?
Bete
volta para o sobrado no início da tarde e não desconfia da entrada de Diego.
Joga a mochila sobre o sofá e comemora sozinha.
-Que
maravilha! Com aquele idiota comprando a mim, vai ser muito mais fácil acabar
com ele- dirige-se ao quarto, onde encontra as suas roupas jogadas ao chão- O
que é que houve aqui?- a moça encontra Diego sentado ao lado de sua cama, com o
seu diário na mão, atemorizando-lhe- Como foi que você entrou?
-Pela
porta, meu amor...
-Deixa
de ser cínico. Não sou doida de sair sem trancar tudo, ainda mais sendo quem eu
sou.
-Claro.
Teu medo sempre foi da polícia. Mas sabe de quem você devia ter medo, Bete? De
mim.
-Fala
logo como foi que você veio parar aqui dentro.
-Forcei
a fechadura. Pronto, respondi sua pergunta. Mas eu acho que você quer saber pra
quê eu fiz isso, e eu acho que você merece uma explicação. Eu descobri tudo.
-Tudo
o quê, Diego?
-Que
você transou com outro cara pra ele dar um diagnóstico falso da Gabriela e
atazanar o Fábio.
-Olha
só, se você acreditou em qualquer patacoada que o Nonato te contou...
-Nonato?
È esse o nome do idiota, é? Você podia ter ficado calada, negado o que eu tô te
dizendo, mas acabou se entregando. Fazer o quê, né? Eu fui mais esperto que
você, Bete.
-No
que foi que você mexeu aqui?
-Quis
acabar contigo, arranjar a prova de que você e aquele... Bom, você sabe o que
ele é... A prova da tua traição comigo. Só que eu acabei achando coisa mais
interessante: o teu diário. Cada revelação, hein, Bete? Se eu fosse falar aqui
cada linha que eu li, ia terminar amanhã.
-Quem
te deu o direito de entrar aqui e fuçar a minha vida? Você não podia fazer isso
comigo, imbecil!- Bete se aproxima e acaba dando uma bofetada no rosto de
Diego, que não se intimida e dá um soco na moça, derrubando-lhe no chão.
-Tá
pensando que é quem pra tocar em mim, sua cachorra? Não encosta em mim nunca
mais, tá me ouvindo? Eu tenho nojo de você, da tua vida, da tua história. Pra
mim, você não passa de lixo puro.
-Do
que você tem nojo, Diego?- Bete levanta do chão- Hein? De saber quem eu sou de
verdade ou de saber que eu enganei aquele trouxa pra ele comer na minha mão?
-Quer
que eu comece falando do quê? Da prostituta da tua mãe?
-Cala
a boca!- grita.
-Prostituta,
sim! Que teve um caso com o avô do Fábio há anos! E quando o velho tava pra
morrer, ele deixou tudo pra filha e pro neto, mesmo sabendo que você era filha
dele. Te deixou na miséria! Na miséria,
sabe o que é isso? Quer dizer que você ia montar na grana do Fábio e da mãe
dele sem me contar nada?
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