23/06/2017

VIDA LOUCA/ CAPÍTULO 20: É PESADO, NÃO HÁ PAZ

-Toquei três vezes, achei que não tivesse ninguém em casa.
-Eu não atendi porque pensei que meus pais tavam aqui. Entra.
-Tá tudo bem com você, amor?
-Lógico. Por quê que não ia estar? Pode entrar, amor.
Gabriela entra desconfiada, e Fábio fecha a porta da frente, já com segundas intenções, mal conseguindo esconder seu sorriso.

-Drogas? O Fábio envolvido com drogas?
-Também fiquei assim como você, Ariane. Sem conseguir acreditar.
-Caio, isso não pode ser verdade. O Fábio não é do tipo de rapaz que seria capaz de usar essas coisas.
-Eu também achei, mas todos nós estávamos enganados. A realidade é que o Fábio começou a ficar dependente de um vício. E não sabemos o que fazer.
-Por isso que viemos aqui. Achamos que a Gabriela tinha o direito de saber o que estava acontecendo, por ser a namorada dele. E também se ela sabe alguma forma de ajudá-lo- esclarece Alice, sobre a visita noturna.
-Bem que eu desconfiava que tinha uma coisa muito errada nessa amizade do Fábio com o Vinícius, que começou assim, de repente- revolta-se Eduardo.
-O que você sabe sobre esse rapaz, meu filho?
-Vinícius trabalha como modelo, ficou conhecido por estampar um monte de propaganda quando era mais novo. Dentro da agência, ele conheceu a Victória, que é outra moça que estuda na sala da gente e começaram a namorar.
-E essa tal de Victória, também é envolvida com drogas?
-Não, Dona Alice. Ela reparou que o cara tava mesmo na pior, fumando mais, faltando à aula, os próprios trabalhos que a agência marcava... Fiquei sabendo que os dois terminaram. Vai ver ela não aguentou segurar essa barra. Eu só fico pensando no pai dele, deve cortar um dobrado por causa do filho- a declaração de Eduardo constrange Alice e Caio.
-Será que a Gabriela sabia de alguma coisa, Eduardo?
-Duvido muito, Mãe. O Fábio andava estranho, mas era por causa da separação dos pais. Nunca a gente ia achar que ele ia se juntar com o Vinícius pra se drogar.
-Pois é. Ele jogou na nossa cara que a culpa de tudo era nossa- Alice relembra.
-E depois dessa briga que vocês tiveram com ele? O que foi que rolou?
-Mais nada, Eduardo. Nós deixamos o Fábio sozinho em casa.
-Sabe qual o medo que eu tenho? Que ele ligue pro Vinícius e dê mais dinheiro pra comprar ao traficante!
-Não, Caio. Você foi muito incisivo quando disse que poderia interná-lo, e que iria cancelar a conta do banco.
-Ainda assim, eu fico com medo do que está acontecendo. E do que pode acontecer também.
-Por enquanto, podem ficar tranquilos. Se a Gabriela encontrou o Fábio em casa, está tudo bem. Ela não vai deixar o Fábio fazer nenhuma besteira, e ele pode até se abrir com ela, admitir pelo que está passando.
-Mesmo assim, eu quero ver o Fábio, Mãe.
-O que é que você vai fazer lá, Eduardo?
-Ele tem que saber que eu tô do lado dele. Poxa, Mãe, ele é meu melhor amigo, não dá pra ignorar um problema desses! Eu quero ir agora.
-Talvez o momento não seja indicado, Eduardo- aconselha Alice- Ele está com a sua irmã.
-Não, Alice, deixa o Eduardo vir conosco. Melhor que o Fábio saiba que pode contar com o apoio de todos nós.
-Então, eu te levo e te espero na porta, filho.
-Você não vai falar com o meu filho?
-Caio, não acho que neste momento ele queira me ver. Aliás, eu sou a pessoa menos indicada pra falar com o Fábio. Na cabeça dele, eu sou a culpada por tudo de ruim que tem acontecido.
-O problema não é com você, Ariane- surpreende Alice- É comigo e com o Caio, pelo menos na cabeça dele. Mas o Fábio tem que entender que não tomamos nenhuma decisão pra prejudicá-lo. Se você quiser falar com nosso filho, pode ir. Afinal, você é mãe da namorada dele, não é?
-Tudo bem, Alice. Acho melhor nós darmos uma trégua nas nossas diferenças, pelo bem dos nossos filhos. Especialmente do Fábio.
-Então, vambora?- pergunta Eduardo, sendo seguido pelos presentes. O adolescente vai com Ariane até a mansão, enquanto Caio e Alice seguem em outro veículo.

Fábio e Gabriela estão, mais uma vez, no quarto do adolescente, que está sentado sobre a cama.
-Senta aqui- e Gabriela opta por escutá-lo.
-Amor, tá tudo bem mesmo?
-Tá desconfiada por quê?
-Pelos teus olhos. Eu sei quando tem alguma coisa de errado contigo.
-Você me conhece mesmo, né?
-Fala, amor. O que foi que houve?
-Teve uma treta com meus pais hoje mais cedo.
-Sei... Por causa da separação?
-É... – mente- É, foi por causa disso mesmo.
-Procura pensar mais nisso, não. Não te faz bem. O melhor agora é aproveitar esse tempo que a gente tem juntinho.
-Sério?
-Eu falei pra minha mãe que vinha te ver. Daí, eu pensei que eu podia passar na locadora e alugar um DVD pra gente. Ou então, a gente podia passar lá amanhã, que é sábado e aluga uns dois ou três, pra devolver só lá pra segunda. Que tal?
-Vira minha mulher?
-O que você falou?

-O que é que você tá fazendo aqui, desgraçado?- Bete pergunta, diante da visão que tem de Diego.
-Tá pensando o quê, meu amor? Que eu ia mesmo embora sem você?
-Não chega perto de mim! Você não existe mais, Diego! Tá morto!- corre para a porta do sobrado.
-Eu sei. Sei bem. Foi você quem me matou. Mas sabe o que é, Bete? Eu preferi não ir de vez, entende?- a alucinação parece aproximar-se.
-O que você quer de mim, infeliz? Me deixar louca?
-Piorar o seu estado, porque louca você já é.
-Desaparece! Some daqui, Diego! Vai embora daqui, senão eu vou gritar... –sente o seu pescoço ser apertado pelo namorado.
-Vai fazer o quê, Bete? Me matar de novo? Me jogar de novo naquela ribanceira, dentro daquele carro? Fala!
Vinícius chega ao sobrado para comprar mais drogas à Bete. Subindo às escadas, ouve o escândalo causado pela traficante, cada vez mais fora de si.
-Eu não queria, Diego... Eu não queria te matar te jogando daquela escada... –admite, às lágrimas, chocando Vinícius- Eu não queria te colocar dentro daquele carro, mas eu não podia correr o risco de me descobrirem. Por isso eu te joguei naquele carro. Você não era ninguém, era só mais um drogado sem eira nem beira!
-Aposto que você pensou que quando eu morresse ninguém ia sentir a minha falta, não é?
-Você não podia me entregar, e disse na minha cara que ia contar tudo pra polícia, denunciar o Nonato. Você quis me ferrar, Diego. Mereceu que eu te matasse!
-Pena que você não tem noção do estrago que eu vou fazer na tua vida.
-Você não pode fazer pior do que antes, quando tentou acabar comigo.
-Posso, sim. E escreve o que eu tô dizendo- Diego larga o pescoço da bandida- Eu não vou descansar até te ver pior do que eu terminei. Só uma questão de tempo, Bete, mas o teu fim vai ser pior do que o meu. Assassina!
-Sai daqui! Some daqui- Bete segura o braço de Diego, que caminha rindo pelo sobrado- Desaparece de uma vez!- abre a porta- Some!- grita, até deparar-se com Vinícius, parado e sem acreditar no que ouviu- Vinny?
-Me diz que você não fez isso, Bete.
-Deixa eu te explicar... O que foi que você ouviu?
-Tudo. Já sei que não teve acidente nenhum. O Diego morreu por sua culpa!

-Te pedi pra ser minha mulher. Hoje.
-Por que, de um tempo pra cá, você tem insistido tanto? Já te disse que eu não tô preparada.
-Eu não tô te pedindo nada demais. A gente é namorado, eu tô me sentindo sozinho, a casa tá liberada. Qual é o problema?
-Fábio, eu não quero. Não assim e não agora.
Fábio levanta-se da cama e, agressivo, começa a falar as “verdades” que sabe.
-Não quer comigo... Só comigo.
-O problema não é com você, Fábio. Custa esperar que eu me sinta pronta?
-Será que você fez essa mesma pergunta pro outro?
-Que outro?
-Não me faz de idiota. Você sabe bem do que eu tô falando.
-Não, não sei. Me explica que eu não tô entendendo.
-Tá entendendo muito bem!- Fábio altera o tom de voz.
-Dá pra você falar baixo comigo?
-Por quê? Foi falando baixo que ele conseguiu transar com você?
-Ele quem, Fábio?
-O cara com quem você me traiu!
-De onde você tirou essa estupidez que eu traí você? Que absurdo é esse?
-Do laudo que o médico deu! Ele me contou que, por causa do acidente, você perdeu o bebê que esperava.
-O que você tá dizendo não faz sentido, Fábio! Por que o médico ia inventar uma mentira dessas de mim?
-Porque não é mentira porcaria nenhuma! Deixa de ser hipócrita!
-Fábio, eu não sei o que tá acontecendo, nem porque você se voltou contra mim, mas me escuta- segura o rosto do namorado- Eu nunca traí você, eu nunca tive nada com outro cara!
-Quer que eu acredite? Então dorme comigo.
-Fábio, não é possível que você acredite numa mentira dessas...
-Eu esqueço, finjo que nada aconteceu. Mas eu preciso de você, Gabriela. Fica comigo, por favor- Fábio beija a namorada à força, que tenta se desvencilhar do rapaz.
-Me larga, Fábio! Me solta!
-Deixa eu tocar em você, sentir teu corpo! Deixa eu tentar te fazer feliz, Gabriela; deixa!
-Fábio, você não tá me ouvindo? Eu disse pra você me largar! Para!- Gabriela é surpreendida quando Fábio rasga a blusa cinza que ela está usando e a joga na cama.
-O que é, hein? Frescura com outro cara você não tinha, vai ter comigo por quê? Tá achando que eu sou menos homem que ele?- Fábio passa a morder o pescoço de Gabriela enquanto acaricia um dos seios da moça.
-Para, Fábio! Para! Me solta! Socorro!
-Cala a boca! Para de se fazer de difícil, que eu sei que você gosta!
Gabriela chuta as partes íntimas do namorado e tenta correr ao sair da cama, mas ele a alcança. Desesperada, ela segura o abajur do quarto e o golpeia na cabeça.

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