-Você
não fez isso com ela.
-Fiz
com você. Mandei fazer. Ontem você se sentiu culpado, achando que se separou
definitivamente da Victória porque ela ia se afastar de você. Agora você sabe
que a culpa é sua mesmo. Só que eu pedi pra acelerarem o processo.
-Bete,
isso é um blefe seu, né? Você não teria coragem pra tanto.
-Teria,
sim. Se tem um passatempo que eu adoro praticar é mostrar que eu sou pior do
que as pessoas pensam que eu sou. Você vai carregar pra sempre a culpa pela
morte da Victória. E vai pensar duas vezes antes de pensar em me entregar pra
polícia.
-Eu
vou te matar, cretina... Eu vou acabar com a tua raça, maldita!- Vinícius
aperta as costas de Bete em seu doloroso abraço.
-Não
vai, não. Eu já tirei o que mais você tinha de importante, Vinny. Se você abrir
a boca, eu não vou pagar pra ninguém riscar você do mapa, não... Eu descarrego
uma munição inteira em cima de você. E aí, meu querido, vão ser três alunos da
mesma turma se enterrando ao mesmo tempo. Tô pensando até em cancelar minha
matrícula, o colégio já tá ganhando fama de mal- assombrado.
-Desaparece
daqui... Some daqui, desgraçada... Some daqui...
-Tudo
bem, eu vou. Mas eu vim só pra te dar a certeza de que a culpa pela morte do
seu amor foi e vai ser pra sempre sua.
Luciano
traz a dona da Casual Models de volta ao velório e vê Bete deixando o
cemitério. O policial reconhece a traficante.
-Aquela
moça era a namorada do Diego?
-Do
que o senhor tá falando?
-Sabe
bem. Do garoto que morreu num acidente de carro, e que era da sua sala.
-É,
era ela mesma.
-A
Elizabete era amiga da Victória? Eu não sabia. Pelo menos, eu não me lembro da
Victória falando dela.
-Foram
colegas de turma. Normal que a Bete queira vir.
-Não
demorou nada essa moça, hein?
-Porque
tá abalada! Não aguentou ficar...
-Depois
que essa moça passou, você... Ficou diferente, o que foi?
-A
Victória tá dentro de um caixão e você ainda acha que eu não tô me sentindo
bem? Me deixa em paz.
-Eu
só quero te ajudar, Vinícius.
-Ajuda
ficando calado. Como fez até agora.
-Você
nunca sonhou com um pai calado. Pra você, seria muito mais conveniente se eu
fosse omisso. Ou mesmo se eu não existisse.
-Dá
pra parar com o bate-boca?- Vinícius fica alterado.
-Abaixa
a voz! Eu não te dei autoridade pra falar comigo como bem quiser. É melhor
que... – pigarreia- Você fique um pouco sozinho.
-Ótimo,
me deixa.
-Só
não esquece, Vinícius, que enquanto eu tiver um sopro de vida, eu vou te proteger.
Até daquilo que você não sabe que te bota em risco- Luciano circula pelo
cemitério, enquanto Vinícius abraça o caixão.
-Isso
não vai ficar assim, Victória. Eu vou fazer justiça. Aquela vagabunda vai pagar
caro, eu te juro- chora sobre a tampa do caixão.
No
hospital em que Fábio está internado, Gabriela anda de um lado para o outro.
Eduardo fica preocupado com a irmã.
-Desse
jeito você vai acabar fazendo um buraco no chão.
-Tem
muita coisa mal explicada nessa história. Pensa que eu me esqueci, Edu? Não tem
um minuto que eu não pense naquilo que o F abio me falou!
-Você
não ouviu a médica? O Fábio teve uma overdose! Tenta botar na tua cabeça de uma
vez que o Fábio tá usando droga! Gabi, eu sei que é difícil, mas quanto mais a
gente aceitar a realidade, mais rápido a gente consegue ajudar ele.
-Só
que você disse que quando eu fui ver o Fábio, ele não tava chapado.
-Isso
quer dizer o quê? A gente já sabe que ele tá aqui porque passou do limite. Se o
Fábio não conseguiu droga com o Vinícius, deve ter sido com o traficante. O que
é que te garante que, naquela hora, ele...
-Ele
não tava drogado! Não tava! Para de justificar o comportamento dele, de julgar
o Fábio!
-Gabriela,
não é isso que eu quero. Mas a gente sabe o segredo do Fábio agora.
-O
Fábio tinha muita certeza do que tava dizendo ao meu respeito. Eu conheço o meu
namorado, Eduardo. Ele nunca ia dizer isso se não soubesse do que tava falando.
-“Meu
namorado”? Quer dizer que você quer enfrentar o problema junto com ele?
-Você
acha que não é pra eu fazer isso?
-É
que... Tudo tomou um rumo muito diferente. Agora não existe mais uma suspeita
do motivo pra essa mudança de comportamento. Gabriela, presta atenção: eu sei
que você deve uma resposta pra você mesma, mas a explicação tá na cara: tudo
foi um delírio do Fábio.
-Eu
devo isso mesmo. Por isso que eu não vou esperar nem mais um dia pra tirar essa
história a limpo.
-O
que você vai fazer?
-Se
a Mamãe chegar e perguntar por mim, diz que eu não vou demorar. Mas que eu tô
bem.
-Onde
é que você vai, Gabriela?
-Me
espera. Espera, que você vai acabar sabendo. Mas se alguém inventou que eu traí
o Fábio, eu vou descobrir e essa pessoa vai confessar na frente dele. Devo
muito isso pra mim, mas pra ele eu faço questão de que a verdade venha à tona
de uma vez.
Internado
em um dos quartos, o filho de Alice e Caio abre os olhos após horas de espera.
Sua mãe chora ao ver o despertar do adolescente. O pai está na janela, de
costas para ambos.
-Onde
é que eu tô?
-Fica
calmo. Vai ficar tudo bem, querido.
-Como
é que... Como é que eu vim parar aqui, Mãe?
-Fábio...
Nós precisamos conversar com você. Esclarecer o que foi que te aconteceu.
-Posso
resumir tudo numa frase: “você foi fraco”.
-Caio!
-Deixa
eu terminar, Alice.
-O
senhor não tem nada pra falar de mim. A culpa é sua.
-A
culpa é nossa, Fábio. Mais minha do que sua. Eu fui omisso. Desde o seu
nascimento. Preferi ser negligente e agora estou pagando o preço.
-Caio,
ao que você se refere?
-Vocês
sempre quiseram saber por que eu não segui a minha vida ao lado da Ariane...
-Não
é hora de discutir esse assunto, Caio...
-O
momento é oportuno. O que você está vivendo, Fábio, eu vivi. Eu já estive nessa
cama por causa de um vício.
-O
senhor?
-Por
que você nunca contou nada pra gente, Caio?
-Porque
eu quase matei uma pessoa.
-Matou?
Como assim, Pai?
-Quando
eu tinha a sua idade, meu filho... Ou melhor, quando eu tinha menos idade que
você, eu experimentei bebida alcoólica. Muitas vezes. Ninguém nunca via nada
demais, beber era uma coisa social. Mesmo sendo adolescente, era bom. Os
meninos achavam que a gente era mais maduro, dava um pouco mais de confiança.
Cheguei àquela fase da vida que me achava autossuficiente.
-Deve
ser mentira sua... Eu te conheço, Pai... Você nunca ia fazer isso. Nunca te vi
bebendo.
-Ninguém
mais, Fábio. Só eu sei o quanto eu fiz as pessoas sofrerem.
-Você
se refere a quem, Caio? À Ariane?
-Sempre
vi meu pai dirigindo, ele me dava umas dicas também pra quando eu fosse tirar a
carteira de motorista. E teve um dia que a Ariane foi à minha casa. Tinha bebido,
e ela não via isso com bons olhos. Nós dois estávamos conversando e ela se
acidentou na escada. Tinha torcido o pé.
-E
depois? O que foi que rolou?
-Não
tinha ninguém em casa além de nós dois. Meus pais tinham saído com um casal de
amigos pra uma festa. Foi quando eu peguei a chave do carro dele e quis levar a
Ariane pro hospital. Mas ela disse que não, que preferia esperar que ele
chegasse, mas eu insisti, dizendo que dava conta. Foi só uma taça, Fábio. Uma
taça que me fez perder o controle do carro.
-Pai,
você... Você bateu com o carro do meu avô?
-Foi
por isso que você e ela se separaram?
-Eu
não sofri quase nada fisicamente, Alice. Mas ela ficou entre a vida e a morte
durante um mês, desacordada. No dia em que ela despertou, eu corri pra pedir
perdão. Eu não consegui. Ariane optou por me tirar da vida dela. Desde então,
eu jurei que nunca mais colocaria em risco a vida de quem eu amo. Mas eu errei
quando escondi isso da minha família- Caio chora- Me perdoa por não entender
você, Fábio. Eu te julguei tanto, meu filho...
-Para,
Pai. Não fala mais nada.
-Diz
que me perdoa, meu filho. Eu preciso que você me desculpe por não ter sido o
pai que você queria ter.
-E
vocês, me vendo em cima dessa cama, acham mesmo que eu sou o filho que queriam
ter? Um drogado?
Em
uma das consultas, Nonato está conferindo uma caixa de medicamentos na sua
sala, até que Gabriela surpreende o médico ao passar na frente dos pacientes,
que reclamam com a garota.
-Eu
trabalho aqui, dá licença?- Gabriela mente e fecha a porta.
-Mas
o que é isso? Quem é você?
-Não
tá lembrado de mim, não, Dr. Nonato?
-Você
é paciente minha?
-Funcionária
do hospital é que eu não sou.
-Deu
pra perceber, passou na frente de todo mundo. O que você quer, menina?
-A
verdade. Por que o senhor mentiu pro meu namorado?
-Você
ficou maluca? Eu não sei quem você é, nem o seu namorado...
-O
Fábio! Por que você inventou pro Fábio que eu tinha perdido uma criança?-
Nonato fica nervoso com o confronto iniciado pela jovem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário