Bete
fica ansiosa para saber a quem conseguiu acertar com seu tiro, esperando que
tenha sido Gabriela. Mas a moça levanta-se rapidamente do chão, assustada ao
ver seu irmão ferido.
-Eduardo!
Eduardo, fala comigo!- a moça toca no ombro do rapaz, atingido pelo projétil.
-O
que é que foi isso?- Ariane abre a porta para saber o que causou o barulho e
encontra o filho quase desmaiado- Eduardo? Meu filho, o que foi? Eduardo, fala
comigo, meu filho! Eduardo!
-Ela
vai fugir... – Eduardo fala em voz baixa- Queria te matar, Gabriela... – mesmo
sem escutá-lo, Bete foge da rua.
-Quem
queria me matar, Eduardo?
-A
Bete. Ela atirou pra matar você.
-Gabriela,
chama uma ambulância. A gente tem que tirar o seu irmão daqui, rápido.
-Eu
vou ligar do telefone lá dentro...
-Liga
do teu celular, Gabriela! Não perde tempo! Você vai ficar bem, meu filho! Fica
tranquilo, que ela vai pedir ajuda!
Fábio
desperta e encontra os pais, cansados sobre o sofá.
-Pai...
-Fala,
Fábio- Caio chega perto do adolescente.
-Quanto
tempo eu tô aqui?
-Já
tem alguns dias, meu filho.
-Contaram
pra vocês por que eu tô aqui?
-A
Gabriela e o Eduardo te acharam na rua, Fábio. Você passou mal e te trouxeram
pra cá- revela Alice.
-Passei
mal? De que jeito, Mãe? Eu não me lembro de nada.
-Você
teve uma overdose. Por isso que está internado.
-Então,
tudo que o senhor me contou... Não era coisa da minha cabeça?
-Não.
Mas você precisava saber. Eu contei pra nunca mais você se atrever a nos causar
esse desgosto de novo.
-Quem
sabe que eu tô aqui? Vocês contaram pra alguém?
-Todo
mundo já sabe, meu filho. A Ariane ficou sabendo através dos filhos e passou parte
do tempo aqui, querendo saber notícias suas. Só que ela teve que ir embora
porque estava preocupada com a Gabriela.
-Gabriela?
O que foi que houve com ela?
-Fica
tranquilo, ela está bem. Só ficou muito desnorteada com algumas coisas que você
andou dizendo pra ela.
-Ficou
incomodada com a verdade, é isso?
-Eu
não sou ninguém pra duvidar do imenso carinho que essa moça sente por você,
Fábio. Isso nós temos que reconhecer.
-Outra,
no lugar da Gabriela, teria desistido de você.
-Já
jogou a toalha faz muito tempo, Pai. Só eu que não vi, ou não quis ver.
-Nós
somos testemunhas do quanto essa moça te ama. Eu mesmo sou capaz de botar a mão
no fogo por ela.
-Mas
eu não defendo.
-Fábio,
você já pensou que talvez essa ideia que você tenha a respeito da Gabriela seja
coisa da sua cabeça?
-Pensando
o quê, Mãe? Que é efeito de droga? Não é, não. Eu sei dos motivos fortes que eu
tenho pra nunca mais confiar nela. Não tenho que pedir perdão a ninguém, a não
ser a vocês.
-A
nós dois?
-É,
Mãe. Eu sei que vocês, mesmo longe um do outro, não querem ver o meu mal. Por
isso que eu peço desculpa por tudo que eu fiz. Vocês conseguem me perdoar?
-Filho,
a gente não tem nada pra perdoar você- Alice compadece-se do filho.
-Lógico
que tem, Mãe. Tudo que eu fiz, que eu jurei que ia fazer, que eu disse...
-Todo
amor de pai é incondicional, Fábio. Não importa quanto tempo um filho fique
longe da gente. O que a gente pode fazer é esperar, o tempo que for, que ele
volte pros nossos braços. Agora você tem que focar na sua recuperação. Na nossa
recuperação.
-O
senhor vai me internar?
-Você
precisa. Não é pra entender isso como uma punição.
-Queremos
te ver com saúde, meu filho, longe de todo esse problema que você arranjou. É
pedir demais?
Fábio
fica em silêncio, deixando uma lágrima cair, e resignado com o seu próprio futuro.
Bete
volta para o sobrado no qual mora e liga para Sal mais uma vez. O rapaz e seu
irmão estão escondidos em um terreno baldio desde o assassinato de Victória.
-Sou
eu, Bete.
-Ligou
pra quê? Pra dar parabéns pelo serviço que a gente fez com a moça noutro dia?
-Eu
não tô pra brincadeira!
-Nem
eu, Bete! Ninguém aguenta mais ficar se escondendo! A garota era modelo, ia
fazer carreira internacional. A polícia tá toda na minha cola e na cola do
Lipe!
-Presta
atenção: eu vou conseguir tirar vocês do rastro da polícia.
-Como?
-Tudo
que vocês têm que fazer é dar fim num cara pra mim!
-Olha
aqui, Bete, a gente não é assassino de aluguel, não! Ainda mais fazendo serviço
de graça!
-Agora
são! Já mataram a Victória a sangue frio, não vai ser nada eliminar outra
pessoa! Eu não quero que vocês pensem na minha proposta, eu quero que aceitem e
topem ainda hoje, OK?
-Mas
que droga! Por que toda confusão que você se mete agora a gente tem que limpar
a tua lambança?
-Cala
a boca e me ouve! O nome do cara é Eduardo Acioly e vocês vão até a casa dele
saber como ele tá, se tá tudo bem, o estado de saúde dele. Sonda os vizinhos e
eles devem dizer alguma coisa.
-Tá,
e daí?
-Descobre
em que hospital ele tá e apaga o cara.
-No
hospital? Nem pensar!
-Sal,
é a tua chance de sair do país com o Lipe! Eu não posso me expor nem deixar que
aquele imbecil conte o que eu aprontei. Vocês dois têm um carro, né?
-O
Lipe que dirige.
-Ótimo.
Então, ele te leva pro hospital e um dos dois risca o Eduardo do mapa.
-Mas
como é que a gente vai entrar no hospital e matar um cara, Bete?
-Que
é isso, ela pirou?- Lipe escuta a ligação.
-Rende
um médico, obriga a dizer em que quarto o Eduardo tá, rouba a roupa dele e
tranca no armário, não sei. Mas não deixa o Eduardo sair vivo de onde ele
estiver! Vocês só têm essa chance de fugir. A fuga eu garanto com um traficante
amigo meu, ele resolve isso pra mim.
-Tá.
Me dá o endereço da casa do cara.
-Sal,
não topa! Não topa essa loucura, a polícia vai pegar a gente!
-Fora
daqui, a gente tá mais seguro, Lipe! Faz o que a Bete tá dizendo! Ninguém vai
atrás da gente por causa de roubo, de droga, da morte da modelo, de crime
nenhum! Faz o que ela tá mandando, cara!
-Se
pegam a gente, Sal?
-A
gente se garante. Se garantiu da outra vez, se garante nessa. Me escuta, Lipe-
Sal corre para anotar o endereço da casa dos Acioly Silveira.
Ariane
e Gabriela esperam por notícias do médico que atende Eduardo naquela tarde.
-E
então, Doutor? Como é que está o meu filho?
-Eduardo
está fora de perigo. A bala não atingiu nenhum órgão vital e conseguimos conter
o sangramento.
-Ai,
graças a Deus o meu irmão tá bem!- suspira Gabriela.
-Eu
posso vê-lo, Doutor?
-Ainda
não, Dona Ariane. A senhora tem que prestar queixa aqui no posto policial do
hospital.
-Queixa?
-O
ferimento do Eduardo foi causado por arma de fogo, não foi acidente. A senhora
tem que dar depoimento pra polícia investigar.
-Meu
filho disse que foi uma tal de Bete. Mas eu não sei quem pode ser, não conheço
ninguém que tenha esse apelido.
-Eu
sei quem é.
-Sabe
como, Gabriela?
-A
Bete é uma garota que estuda na minha sala. O tiro não era pro Eduardo, e sim
pra mim. Ele viu que foi ela quem atirou, e era pra me matar.
-Filha,
que história é essa?
-Calma,
Mãe. Eu vou contar tudo o que eu descobri sobre essa menina.
Sal
está dentro do carro do irmão, esperando o rapaz concluir o serviço encomendado
pela traficante. Lipe segue à risca as instruções dadas por Bete e, na
madrugada daquele dia, o jovem viciado veste um jaleco e toma a prancheta do
médico que atendeu Eduardo, trancando-lhe na sala de reanimação, vazia naquele
momento, mas não sem antes confiscar-lhe o celular para que não pedisse ajuda. Lendo
a prancheta, descobre que o número do quarto é 28 e caminha pelo corredor que
dá acesso ao dormitório.
Ao
avistar Eduardo dormindo pela janela, Lipe não perde tempo e entra no quarto.
-Perfeito.
Todo mundo vai achar que ele morreu dormindo- Lipe tira um travesseiro que está
sob a cabeça do estudante, que desperta.
-Quem
é você?
-Eu
sou o médico. Vim trazer a medicação pra você dormir- Lipe sufoca Eduardo com o
travesseiro.
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