-Fiz
bem, não foi? Bem que eu desconfiei de que ia descobrir o que vocês dois tavam
tramando.
-Peraí,
baixa a bola pra falar comigo! Tá pensando que tá falando com quem?
-Com
uma vagabunda! Só isso pra explicar você querendo acabar com o meu namoro com o
Fábio!
-O
Fábio não me interessa como homem. E pelo estado que ele tá, não deve servir
nem pra resto de lixo.
-Desgraçada!
O que é que você quer? Acabar com a gente?
-E
pelo que tô vendo, consegui, né? Já dá pra ver que você perdeu o controle. Mas
nada que se compare ao teu namorado. Esse tá definhando em cima de uma cama de
hospital.
-Por
sua culpa, cachorra!
-Não.
Por culpa dele. Quem procurou se entupir de droga foi ele!
-Tá
pensando que eu não ouvi nada do que vocês dois falaram aqui? Eu sei que a
overdose do Fábio é obra sua! O que é que você tem contra mim pra inventar essa
mentira toda? Você tá afim dele?
-Gabriela,
não viaja, tá bom? Aquele dali só me serve se for estirado dentro de um caixão.
-Cala
a boca!
-Se
você já sabe da verdade, pra quê tá me confrontando?
-Como
é que você teve a capacidade de se filmar com esse cara pra ele te ajudar a
melar o namoro da gente?
-Eu
juro que não tive culpa de nada, a Bete me botou contra a parede...
-Fica
quieto você também!- Gabriela grita com Nonato.
-Gabriela,
deixa de ser hostil, menina. No fundo, eu acabei te fazendo um favor. Livre do
Fábio, você não vai ter que enfrentar o vício dele. E, de quebra, não vê a
derrocada daquele infeliz.
-Você
é doente, psicopata! Gosta de ver o sofrimento dos outros! Por isso que você
armou isso tudo!
-Dos
outros não. Só da família nojenta daquele cretino, e eu não vou descansar até
acabar com um por um!
-Qual
é o teu problema com eles, hein, Bete?
-Descobre
sozinha!
-Você
vai me falar agora, senão eu...
-Senão
o quê?- Bete ameaça a moça com um canivete- Fala, Gabriela! Não tava tão
afoita? O que foi? Perdeu a coragem de repente?
-O
que é que você pretende com isso tudo?
-Não
se preocupe. Marcar sua linda carinha de top
model não tá nos meus planos. Agora se você se meter contra mim, eu acabo
com a tua vida!
-Mas
acaba com a do Fábio também? O que você tem contra ele, Bete?
-Tudo!
Mas é melhor você ficar quietinha, na sua. Enquanto eu, meu bem, vou assistir
de camarote à queda do teu grande amor.
-Não
chega perto do Fábio! Senão eu acabo com você! Eu não tô brincando, Bete! Eu
juro que te caço, nem que seja no inferno, e acabo com você!
-Vai
fazer nada, mosca morta! Porque se fizer, antes do Fábio ir pro túmulo eu vou
dar a notícia em primeira mão: a de que a namorada dele foi eliminada.
-O
que é que você vai fazer comigo? Abaixa isso, Bete! Eu tô pedindo...
-Tá
falando manso agora, depois de botar moral pra cima de mim? Agora você vai ter
o que merece, Gabriela...
-Não,
Bete!- Nonato tenta impedir o assassinato de Gabriela segurando Bete por trás.
-Me
solta, estúpido! Deixa eu acabar com a cara dessa cretina! Me larga, Nonato!
-Você
tá maluca? Vai acabar se sujando por causa dessa imbecil? Para com isso!
-Eu
já disse pra você me largar, seu desgraçado!
-Ai!-
Nonato sente o ferimento acidental causado pela traficante, que cortou sua mão-
Olha o que você fez, sua demente!
-Foi
pra você aprender a não se meter comigo! Eu te avisei pra deixar eu acabar com
essa vagabunda!- Bete avança contra Gabriela, e as duas se engalfinham enquanto
Nonato foge do sobrado, sangrando um pouco.
-Você
não vai me vencer, Bete! Eu vou te entregar pra polícia, cretina!
-Antes,
eu te jogo daqui de cima!- Bete está prestes a empurrar Gabriela da escada do
sobrado- Diz que vai me denunciar! Fala!
-Tá
pensando que vai acabar comigo, é?
-Eu
não tô pensando! Eu vou!
-Só
que eu te arrasto junto comigo, vagabunda!- Gabriela agarra a blusa de Bete ao
sentir que está prestes a cair.
As
jovens acabam despencando da escadaria do imóvel e o canivete escapa da mão da
traficante. As garotas não desmaiam, e a filha de Ariane levanta para pegar o
objeto cortante e colocá-lo sobre o rosto de Bete, caída de bruços.
-Não
é isso que você quer? Aproveita a chance. Me mata se você tem coragem mesmo!
-Fala
por que você armou esse circo todo. Fala e eu poupo a tua vida.
-O
motivo você nunca vai saber, Gabriela- Bete levanta-se aos poucos, ainda
imponente- Cadê a sua coragem? Acabou?
-Não
me provoca, que eu não sei o que sou capaz de fazer!
-Corta,
imbecil. Rasga o meu rosto. Quero ver se você tem peito pra... – Bete é
interrompida com um corte no nariz- Olha o que você fez comigo, desgraçada!
-Isso...
- guarda o canivete no bolso, após lembrar-se do sofrimento de Fábio durante a
overdose- É pelo que o Fábio sofreu por sua causa. Agora isso daqui,
cachorra... – Gabriela esbofeteia Bete- É por mim!
-Não
vai ficar assim, não! Eu vou chamar a polícia e dizer o que você fez comigo,
que tentou me matar!
-Te
matar com o quê? Com o canivete que é seu? Fala pra polícia e eu vou contar que
foi você que drogou o Fábio. Conta se você é mulher! Nunca mais você aparece na
minha frente, senão eu faço um estrago maior do que esse!- Gabriela volta para
o táxi, um pouco machucada pela queda, e Bete fica desesperada com o
enfrentamento que teve. A bandida sobe para o interior do sobrado e quebra
diversos objetos, num claro ataque de fúria.
-Cavou
a cova, Gabriela! Agora é você que tá me devendo! E eu vou cobrar o que você
fez comigo, cadela!
Luciano
chega ao hospital em que Fábio está internado e encontra Ariane e Eduardo, que
levanta do sofá, surpreso com a presença do policial.
-O
senhor aqui?
-Eu
vim saber notícias do Fábio. Como é que ele está?
-Bem
melhor- Alice aparece na recepção- Meu filho vai se salvar, ao contrário do que
alguns querem e tramam pra isso- responde, ríspida.
-Alice,
eu vou pra minha casa. Estou desesperada sem saber notícias da minha filha.
-Peraí,
Mãe. Eu vou com você.
-Tudo
bem, Ariane. Obrigada por ter ficado conosco até agora.
-Se
você tiver alguma notícia do Fábio, alguma novidade, não deixa de ligar pra
minha casa. O Eduardo te deu o nosso número.
-Tenho
anotado na agenda. Pode deixar que, se precisar, eu ligo, sim.
-Então,
boa noite.
-Boa
noite- Eduardo cumprimenta Luciano e Alice e vai embora com Ariane. O policial
aproxima-se da mãe de Fábio.
-Como
é que você está?
-Destruída,
Luciano. Mas isso você pode imaginar. E imagina como ninguém.
-O
Vinícius ficou sabendo no colégio que o seu filho teve uma overdose e me
contou.
-“O
Vinícius ficou sabendo”? Pois eu poderia jurar que ele estava presente no
momento em que meu filho tomou aquelas drogas de novo. Se existe algum culpado
nessa história toda, é o Vinícius. O teu filho.
-E
você quer me condenar por isso? Pelo erro do meu filho?
-Olha,
Luciano... Eu não vou entrar em detalhes sobre o que aconteceu com o Fábio,
mesmo que já estejam comentando a respeito, mas eu vou te pedir só uma coisa.
-Fala,
Alice. Se estiver ao meu alcance...
-Com
certeza está. Eu quero que você saia das nossas vidas, e de preferência, leve o
seu filho com você.
-Por
mais que seja difícil de dizer isso, e de você acreditar, eu não quero que o
que houve com os nossos filhos interfira de alguma maneira com o que nós
sentimos um pelo outro.
-Mas
interfere. Sinto muito, mas interfere, sim. Só de olhar pra você, eu volto pro
inferno que estou vivendo. E que o seu filho me colocou quando levou o meu
filho pro mau caminho. Você foi conivente com isso, Luciano. Não tente dizer
que não.
-Esse
é o seu plano de vida no momento? Procurar culpados pela tragédia que
aconteceu?
-Se
não fosse a educação que certamente você deu pro seu filho, nada teria
acontecido com o meu.
-Alto
lá! Eu não vou tolerar que ninguém venha criticar o amor que eu dei pro meu filho.
Nem o Vinícius, nem você. E não se trata só da criação que eles receberam,
Alice. Eu sei muito bem, ou devo imaginar, a mãe maravilhosa que você deve ter
sido. Mas se alguém quis tomar a decisão de se envolver com isso foi o seu
filho. Cabe a você fechar os olhos pra essa atitude do Fábio ou não- Luciano
resolve deixar a clínica, mas volta para dizer mais uma coisa- Diga ao Fábio
que, no que depender de mim, o meu filho não chega mais perto dele. E que eu,
do fundo do meu coração, sinto muito pelo que aconteceu- declara deixando, por
fim, o centro médico. Alice senta no sofá e chora em silêncio pelo fim de uma
relação que não chegou a começar.
-Você
fez o quê?- Eduardo, no quarto da sua irmã, conversa às escuras com a moça.
-Fala
baixo! Quer que a Mamãe acorde?- a adolescente coloca uma compressa de gelo
sobre o joelho, ferido em decorrência da queda que sofreu.
-Você
ficou maluca? Cortou a cara da Bete? Que loucura é essa? Pirou de vez, foi?
-Minha
vontade era de esganar aquela menina, devia estar fazendo isso até agora!
Quando eu vi essa infeliz quase me atacando, eu fiquei fora de mim, Eduardo!
Parti pra cima mesmo. O que é que eu ganhei sendo compreensiva, sendo a passiva
da história? Montaram em cima de mim. Agora o meu namorado não acredita que eu
seja fiel, e tudo por culpa daquela vaca!
-Me
diz o que foi que você fez com o canivete que tirou dela. Deu fim nele, não
foi?
-Pensei
nisso no meio do caminho. Pedi ao taxista pra me deixar em outra rua e joguei
aquilo na lata do lixo. Mas eu sei que ela não vai me denunciar. Ela vai querer
tirar o corpo fora da responsabilidade do que houve com o Fábio.
-Cada
vez eu tô gostando menos dessa história. Não bastasse a internação do Fábio,
você pirou de vez.
-No
meu lugar, você ia fazer do mesmo jeito.
-Agora
me explica: por que essa menina resolveu inventar a história de que você tinha
perdido um bebê?
-Não
sei, isso ela não disse. Mas tava na cara que ela quer acabar com o Fábio.
-Se
ela conseguiu a droga que fez ele entrar em overdose...
-Você
acha o quê? Que ela é a traficante?
-Depois
dessa, não duvido nada. E teve uma situação bem estranha.
-O
que foi, Eduardo?
-No
dia que a Dona Alice levou a gente pra casa e teve aquele rolo com a Mãe... Eu
fui até a sala e vi a galera que anda com a Bete fumando.
-Vai
ver ela só experimenta, sei lá. Tem gente que curte essas paradas.
-Mas
você não acha muita coincidência o namorado dela morrer porque fumou um “baseado”?
Depois, o Fábio teve uma overdose. E ela assumiu que foi a responsável por dar
a droga que levou o Fábio pro hospital.
-Você
não tá pensando que... O Diego morreu por culpa dela, né?
-Se
o Fábio quase morreu por causa dela, quem dirá o Diego? Pode ser.
-Mas
por que essa desgraçada quer tanto acabar com o Fábio?
-Tá
na cara, Gabriela! Todo mundo sabe que o Fábio dava dinheiro pro Vinícius procurar
um traficante. Se o Fábio resolve abrir a boca e conta que a traficante é ela,
como eu acho que é, ela vai pra cadeia!
-Não
é só isso. A Bete não ia inventar toda essa história da minha gravidez,
chantageando um médico com um vídeo de sexo só pra manter o Fábio calado. Se
fosse só por ser uma traficante, ela ia ameaçar o Fábio e pronto.
-Se
bem que a gente não sabe quando exatamente o Fábio e o Vinícius começaram com
essa história toda de drogas.
-Mesmo
assim. Se fosse só por esse motivo, ela ia chantagear o Fábio. Mas como é que
eu entrei na jogada?
-Pra
detonar com o Fábio. Mas a troco de quê? Assim, do nada?
-É
isso que eu vou descobrir.
-Como,
Gabriela? O médico já foi pego por você, conversando com a Bete. Você acha
mesmo que ele vai contar mais alguma coisa? Com essa filmagem que a Bete fez,
ele vai ficar calado!
-Tive
uma ideia: pedir ajuda pra Dona Alice. Quem sabe ela não consegue investigar
alguma coisa? Ela não enfrentou a Bete como eu enfrentei; então, ela não vai
despertar suspeita em ninguém se investigar essa menina por conta própria.
-Por
que você não conta tudo que aconteceu pra Mamãe?
-E
depois dessa sujeira toda, ela me proibir de namorar o Fábio? Nem pensar!
-Com
tudo o que tá rolando, você quer mesmo ficar com ele ainda, Gabriela?
-Sinceramente,
eu não sei mais. Mas eu vou tirar essa história a limpo, Eduardo.
-Tá
bom. Eu fico de boca fechada. Mas vê se toma cuidado, a Bete já mostrou que não
tá de brincadeira.
-Já
sei até o que vou fazer. Amanhã, a gente vai pro colégio, volta pra almoçar em
casa e depois vou até a clínica falar com a Dona Alice.
-Do
jeito que ela tá interessada em ajudar o filho, não vai se negar a investigar
essa garota. Eu também vou contigo. Aproveito pra saber notícias do meu amigo.
-Tomara
que ele não tenha nenhuma recaída, Eduardo. Que ele largue mesmo. Será que o Seu
Caio vai internar ele mesmo?
-Se
dependesse do Fábio, nada ia acontecer. Mas já que a decisão tá na mão do pai
dele, com certeza ele vai parar numa reabilitação. Vai ser o melhor, pra ele e
pra todo mundo.
Durante
a madrugada, Vinícius olha o perfil de Bete em uma rede social, prometendo executar
uma vingança contra a meliante.
-Pode
demorar o tempo que for. Eu vou achar um jeito de tirar você do meu caminho.
Vou vingar a Vicky, Bete. Nunca mais você vai chegar perto de nenhum de nós.
Nem do Fábio, nem de mim, nem de ninguém.
Eduardo
e Gabriela voltam do colégio e ficam à porta da casa onde moram. Não veem que,
atrás de uma árvore, está Bete, esperando para eliminar a nova inimiga com um
disparo.
-Gabriela,
você saiu com a chave? Acho que deixei a minha lá dentro...
-Como
sempre, né, Edu?- Gabriela tira um molho do bolso e tenta abrir a porta de
casa.
-Queria
tanto acabar com você, Fábio? Mas é melhor você desaparecer depois que soube
que seu grande amor virou lenda. Até nunca mais, idiota!
-Parece
que a porta tá emperrada...
-Toca
a campainha, a Mamãe deve estar lá dentro... – neste instante, Eduardo vê a
colega de sala apontando uma arma de fogo para a sua irmã, e corre para
abraçar-lhe, a fim de proteger Gabriela- Não, Gabriela!
Bete
dispara uma única vez e os Irmãos Acioly Silveira caem ao chão de olhos
fechados.
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