-A
senhora é o quê? Maluca?
-Devia
ser mesmo, pra fechar os meus olhos diante do que estava acontecendo com o
Fábio.
-Fábio?
Mas quem é Fábio? Tá falando do quê, sua...
-Cuidado!
Muito cuidado com o que vai falar!
-Quem
tem que tomar cuidado aqui é você, que partiu pra cima de mim!
-Finalmente
está mostrando as garras. Não precisa fingir que não sabe quem é o meu filho.
Tudo foi de caso pensado. A matrícula na mesma turma, a mentira depois do
acidente, o Fábio empurrado pro vício, os atentados contra a Gabriela e o
Eduardo... Precisou de muita frieza pra arquitetar tudo, Elizabete. Lamento
muito que tenha sido descoberta.
-Dá
o fora da minha casa agora! Você não sabe do que tá falando, sua imbecil!
-Isso
eu era antes, quando deixei que você se aproximasse da minha família. Se você
tivesse feito tudo por dinheiro, mas não. Dá pra perceber o prazer que você tem
de destruir o meu filho pra me atingir. Só que agora acabou, cretina! Nunca
mais você vai chegar perto do Fábio.
-O
Fábio é meu amigo. E seja lá o que a doida da Gabriela tenha falado pra você,
eu não tenho culpa se ele se droga! Eu sou tão vítima quanto ele!
-Cala
essa boca! Acha que vai enganar mais alguém, Elizabete? Não vai mesmo! Todo
mundo já sabe quem é você, menos a polícia. Sobre isso, eu posso negociar com
você, e te dar o que você quer.
-A
senhora não tá dizendo nada que tenha sentido! De onde a senhora tirou que eu
tenho alguma coisa a ver com...
Alice
dá outra bofetada em Bete, que pensa em se defender, mas desiste ao ver a mãe
de Fábio abrir a bolsa e jogar o diário de Hilda no chão.
-Fica
com isso. Pertence à sua mãe. Mas antes que você pense que eu não li, fique
sabendo que eu já tirei cópias autenticadas desse diário e guardei num lugar
seguro. Eu sei de toda a sua história.
-Se
você sabe, então pra quê foi que veio aqui? Pedir para que eu deixe seu filho
em paz? Fique sabendo que nunca, entendeu?
-Você
realmente acredita que é a única que pode guardar segredos, garota?
-Ah,
Alice, não banca a esperta pra cima de mim, porque é a última coisa que você é.
Só mesmo invadindo a minha casa que você ia saber de toda a história da minha
mãe.
-Como
você é idiota. Coloca todo mundo abaixo de você, enquanto fica num falso
pedestal. Se até hoje você teve uma vida miserável, foi por pura conveniência.
-Conveniência?
Seu pai foi um desgraçado que acabou com a vida da minha mãe, que me deixou
junto com ela na miséria, mesmo sabendo que eu era tão filha dele quanto você,
e o que eu vivi até hoje você chama de “conveniência”?
-O
diário só revelou aquilo que a Hilda queria que você fizesse, que se vingasse
da minha família.
-Que,
pra todos os efeitos, é minha também.
-Mas
a tua existência já foi letal bem antes de você cruzar o caminho do Fábio.
-E
vou ser mais, com toda a certeza. Não me interessa se você pensa que sabe tudo
sobre mim, mas eu jurei que ia acabar com você.
-Mesmo?
Pois agora eu vou te dar outro motivo.
-Não
existe motivo pior do que o desprezo do meu pai, e o amor que ele deu pra você
e pro desgraçado do Fábio.
-Já
mandei você calar a boca! Não vai obedecer à sua irmã mais velha, Elizabete?
-Nem
você, nem ninguém manda em mim! Vê se te
enxerga, ridícula!
-Não,
é? Pois existe um detalhe da sua história que nem você sabe. A minha mãe
descobriu o caso que o meu pai tinha com a Hilda. Ela o colocou contra a parede
quando soube que você havia nascido.
-Quer
dizer que... Você sempre soube que eu existia?
-Naquela
época, eu era adolescente ainda. A minha mãe exigiu que ele abandonasse vocês
se quisesse continuar com o casamento. Adivinha quem ele escolheu?
-E
depois disso, ele me jogou no lixo, junto com a minha mãe- Bete fica arrasada
com a revelação.
-O
meu pai contou que a Hilda e você faziam parte de uma vida paralela que ele
tinha. O trato era que ela o aceitaria de volta se vocês fossem riscadas
definitivamente da vida dele.
-Sabe
qual foi o resultado disso, não sabe?
-Nunca
soube, nem me interessava saber.
-Mas
eu vou dizer, filha da... – Bete grita com Alice, mas se contém- Quando o
Fernando nos abandonou, ela morreu.
-E,
ao invés de lutar pra sobreviver por você, preferiu morrer e deixar o ódio pela
minha família como herança. Ao contrário de você, que sempre pareceu
determinada no propósito de nos destruir, ela foi fraca!
-Você...
– a traficante limpa o rosto- Veio aqui só pra despejar essa verdade? Pra
aumentar o ódio que eu sinto de vocês?
-O
que eu vim fazer aqui foi uma proposta.
-Ah,
é? E o quê, vindo de você, pode me interessar?
-Todo
o meu dinheiro.
Luciano
volta para casa e encontra Vinícius olhando para a janela, bastante pensativo.
-Lembrando
da Victória?
-Não.
-Você
está diferente demais.
-É.
Vai ver foi a dor.
-Dor?
Eu não entendi.
-Dor
de não ter mais a Victória do meu lado.
-Mas
a ausência dela fez você não ser mais o mesmo.
-Como
sabe disso?
-Você
não tem ido mais à agência.
-Ah,
tá. Como se a Lúcia me chamasse pra alguma coisa. A Victória era quem me fazia
ter costas quentes lá dentro...
-Não
tô falando só disso. As suas saídas também diminuíram muito.
-Que
foi, Pai? Preferia que eu tivesse usando uma pedra de crack?
-Até
isso parou. O que te fez mudar tanto, meu filho?
-Não
tenho vontade. Aliás, eu não tenho mais saco pra nada nessa vida.
-Você
não está pensando em desistir de você, está?
-Não.
O mundo não me merece nem mesmo como suicida.
-Que
ironia do destino... A Victória lutou tanto pra conseguir te recuperar, te
transformar num cara melhor... E você virou o homem ideal pra ela só agora.
-Pois
é. Eu tenho pensado muito e... Preciso corrigir alguns dos meus erros. Pelo
menos os que eu posso recuperar.
-Verdade,
filho?
-Juro
que sim. Tem muita injustiça que eu preciso resolver.
-Sabe
que pode contar comigo sempre, não é?
-Claro
que sei. Mas não sei por onde começar.
-Vinícius,
intencionalmente ou não, você deixou um rastro de destruição em uma família.
-Tá
falando do Fábio?
-Sim.
Vai ver chegou a hora de você se redimir disso.
-Tenho
pensado nele direto.
-Pois
então? Procura esse rapaz e fala isso que você tem engasgado na sua garganta.
-Depois
de tudo o que aconteceu, ele vai entender?
-Não
posso te garantir um resultado positivo, mas... Acho que vale a pena se você
tentar.
-Seu
dinheiro?
-Você
sabe muito bem que o meu pai... Quer dizer, que o nosso pai dividiu a herança
entre mim e o Fábio. Eu vou ter que cuidar da parte do Fábio até ele completar
vinte e um anos. Então, o que eu te proponho é o seguinte: eu passo todo o
dinheiro que me cabe pro seu nome. Absolutamente tudo.
-Não
me tome como uma imbecil. Você e o Caio estão em processo de divórcio. A metade
do que você tem iria pro bolso dele.
-O
Caio e eu estamos nos entendendo.
-Olha,
quer dizer que o casamento dos filmes de Hollywood continua de pé?
-O
que eu quero dizer é que o problema que você causou acabou nos unindo.
-Ah,
vê se não enche a minha paciência! O Fábio virou um viciado porque quis!
-E
você empurrou meu filho pra isso, cretina, com a ajuda do Vinícius!
-Tá
bom, isso não vai levar a nada. Continua.
-Bem,
eu posso pedir ao Caio que adie o divórcio. Eu falo com o meu advogado e
transfiro tudo para o seu nome.
-Tudo
isso pra se livrar de uma traficante? Quanto esforço, Alice! Se o Fábio não me
procurar, procura outro bandido qualquer!
-O
Fábio não vai voltar a se drogar, isso eu garanto.
-Não
é à toa que o seu nome é Alice mesmo.
-Claro
que eu não daria todo o meu dinheiro se você fosse uma bandidinha qualquer.
Acontece que um exame de DNA poderia provar que você é minha irmã. E, com isso,
ninguém poderia tirar o dinheiro das suas mãos. O preço é óbvio demais,
Elizabete: some da vida do meu filho e você vai pôr as mãos no dinheiro.
-Tão
simples? Eu desapareço e fico milionária?
-Com
o divórcio do Caio, eu vou ficar numa situação confortável. Nós dois casamos em
comunhão parcial de bens. Você não tem nada a perder, Elizabete. Muito pelo
contrário.
-É
um preço justo. A metade da fortuna que o meu pai deixou. São cinquenta por
cento muito bem-vindos. Mas eu tenho uma nova oferta.
-Você
não está em condições de fazer ofertas, não passa de uma bandida.
-Tô,
sim, queridinha. Quem sabe se diminuirmos a porcentagem da herança que eu
quero?
-Diminuir
o preço? Como assim?
-Que
tal se eu recebesse... Nada?
-Nada?
Como assim, garota? Fala de uma vez qual é o teu preço!
-Vem
cá, você é burra? É burra ou se faz? Não me interessa nada que venha de você, a
não ser tuas lágrimas na hora que o caixão daquele intrometido descer de uma
vez pro túmulo!
-Não
se atreva a falar assim do meu filho!
-Intrometido,
sim! Roubou o amor e o dinheiro do meu pai, junto com a mãezinha querida dele.
Não interessa se eu vou acabar morta, num manicômio ou na cadeia! Se eu cair,
eu arrasto o Fábio pro abismo que eu for!
-Vai
convencer o Fábio a quê? A seguir a mesma carreira da tua mãe? A que quase
destruiu o casamento do meu pai? Porque nem pra isso aquela piranha serviu!
-Fala!-
Bete revida as bofetadas que Alice havia lhe dado- Fala que minha mãe é piranha
pra você ver o que faço! Fala!
-O
que é agora?- Alice limpa a boca, ferida pelo tapa que Bete deu- Falar a
verdade virou crime inafiançável?
-Se
eu fosse você, não duvidaria de que eu sou mesmo capaz de acabar com o seu
filho!
-Sei
bem! Como deve ter acabado com o Diego, não é? Porque nada me tira da cabeça
que, de acidental, a morte daquele rapaz não teve nada!
-Eu
não matei o Diego!
-Chega
de fugir do assunto e responde à proposta que eu te fiz de uma vez! Vai se
afastar do Fábio ou não?
-Ah,
você tá esperando a minha resposta? Pois tá aqui a minha resposta!- Bete agride
novamente a irmã, que reage segurando a meliante- Eu vou acabar com você pra
nunca mais falar da minha mãe!
-Acaba
se você é mulher!
-Não
vai sobrar nada do Fábio depois que eu tirar aquele cretino de você!
-Piranha!-
Alice joga Bete no chão e se coloca sobre a moça, repetidamente esbofeteando a
bandida- Isso é pelo Fábio! Pela Gabriela! Pelo Eduardo, miserável!
-Me
solta, que você vai se arrepender!
-Isso
eu devia ter feito quando eu soube que você existia, vagabunda!
-Você
me paga, Alice! O Fábio vai pagar por você!
-Nunca
mais pronuncia o nome do meu filho na sua boca imunda!- Alice continua agredindo
a jovem.
-Não
toca em mim, sua ladra desgraçada!
-Repete
na minha cara que vai matar o meu filho! Repete! Nunca mais você vai se
aproximar de nenhum de nós, porque eu te mato, vagabunda! Eu te mato! Chega
perto de alguém pra você ver o que eu te faço! A cadeia vai ser pouco pra você!
Piranha! Cretina! Miserável! Toma, pra ver se você aprende! Chega perto dele!
Chega! Chega, Bete! Vai quer saber quem sou eu, sua bandida desgraçada? Hein,
sua bandida? Vai? Toca no meu filho e eu arranco a tua última gota de sangue! Pensa
que eu vou fazer que nem você e contrata bandido pra fazer serviço, é? O meu
pai te deixou na sarjeta viva, e eu te mando de volta pra lá morta! Fala o nome
do Fábio, bandida! Fala o nome dele! Fala!- Alice se cansa e levanta, apanhando
a bolsa, enquanto Bete fica caída no chão da sala do sobrado- Eu não posso provar
que você usou aquele médico pra fazer a chantagem, nem que você drogou o meu
filho pra matá-lo, nem que você armou os atentados contra a Gabriela e o
Eduardo, e muito menos que o Diego morreu por obra sua. Mas eu posso mandar a
polícia pesquisar como você fez pra morar sozinha aqui dentro, e como você
alterou a tua certidão de nascimento pra conseguir se matricular, porque eu sei
que o colégio nunca ia aceitar uma maior de idade lá dentro. Quer que eu ponha
atrás de você, quer? Acho que não. Mas experimenta me desafiar. A Alice de quem
você quis se vingar é uma imbecil, só que essa que te enfrentou pelo filho...
Dessa você pode tremer de medo!- coloca a bolsa no ombro esquerdo- Antes de ir,
deixa eu te contar uma coisa: a Gabriela me contou da briga de vocês e ficou
com medo do corte que fez no teu nariz. Mal sabe ela que o estrago no teu rosto
agora é maior. Fica com essa cara, é a tua herança- deixa o sobrado.
Fraca
após o confronto com sua irmã, Bete levantou-se do chão e fechou a porta.
Vagarosamente, foi ao espelho do banheiro e viu seu rosto repleto de hematomas
e ferimentos. A tia de Fábio volta a chorar e bate insistentemente no espelho.
-Ai,
que ódio! Que ódio! Eu odeio você, Alice! Odeio você e seu filho! Odeio, odeio,
odeio, odeio!- a moça para quando o espelho quebra e fere seus braços,
prosseguindo com o pranto mais agonizante de sua vida.
Dias depois...
Fábio
chegou à clínica, onde fica em um quarto verde, que conta com duas janelas, uma
de cada lado. A enfermeira chega e anuncia.
-Chegou
uma visita pra você.
-Quem
é, moça?
Vinícius
entra no quarto.
-Eu
vou deixar vocês dois a sós.
-Obrigado-
Fábio abraça o modelo- Ainda bem que você chegou.
-Fábio,
a gente precisa conversar.
-Por
que nesses dias você não foi me ver no hospital? Já sei: você foi e meus pais
te botaram pra fora, não foi?
-É,
o nosso último encontro não foi muito agradável, não.
-Faz
horas que eu tô aqui dentro. Mas parece que fiquei uma vida toda preso.
-Olha,
me deixa falar...
-Não,
eu tenho uma coisa muito importante pra te pedir. Só você pode fazer.
-O
que é que você quer de mim?
-Me
ajuda a fugir desse lugar. Eu não posso ficar aqui, Vinícius. Por favor, me
tira daqui.
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