04/07/2017

VIDA LOUCA/ CAPÍTULO 31: ESSA DOR NOS CORAÇÕES (ÚLTIMA SEMANA)

-A senhora é o quê? Maluca?
-Devia ser mesmo, pra fechar os meus olhos diante do que estava acontecendo com o Fábio.
-Fábio? Mas quem é Fábio? Tá falando do quê, sua...
-Cuidado! Muito cuidado com o que vai falar!
-Quem tem que tomar cuidado aqui é você, que partiu pra cima de mim!
-Finalmente está mostrando as garras. Não precisa fingir que não sabe quem é o meu filho. Tudo foi de caso pensado. A matrícula na mesma turma, a mentira depois do acidente, o Fábio empurrado pro vício, os atentados contra a Gabriela e o Eduardo... Precisou de muita frieza pra arquitetar tudo, Elizabete. Lamento muito que tenha sido descoberta.
-Dá o fora da minha casa agora! Você não sabe do que tá falando, sua imbecil!
-Isso eu era antes, quando deixei que você se aproximasse da minha família. Se você tivesse feito tudo por dinheiro, mas não. Dá pra perceber o prazer que você tem de destruir o meu filho pra me atingir. Só que agora acabou, cretina! Nunca mais você vai chegar perto do Fábio.
-O Fábio é meu amigo. E seja lá o que a doida da Gabriela tenha falado pra você, eu não tenho culpa se ele se droga! Eu sou tão vítima quanto ele!
-Cala essa boca! Acha que vai enganar mais alguém, Elizabete? Não vai mesmo! Todo mundo já sabe quem é você, menos a polícia. Sobre isso, eu posso negociar com você, e te dar o que você quer.
-A senhora não tá dizendo nada que tenha sentido! De onde a senhora tirou que eu tenho alguma coisa a ver com...
Alice dá outra bofetada em Bete, que pensa em se defender, mas desiste ao ver a mãe de Fábio abrir a bolsa e jogar o diário de Hilda no chão.
-Fica com isso. Pertence à sua mãe. Mas antes que você pense que eu não li, fique sabendo que eu já tirei cópias autenticadas desse diário e guardei num lugar seguro. Eu sei de toda a sua história.
-Se você sabe, então pra quê foi que veio aqui? Pedir para que eu deixe seu filho em paz? Fique sabendo que nunca, entendeu?
-Você realmente acredita que é a única que pode guardar segredos, garota?
-Ah, Alice, não banca a esperta pra cima de mim, porque é a última coisa que você é. Só mesmo invadindo a minha casa que você ia saber de toda a história da minha mãe.
-Como você é idiota. Coloca todo mundo abaixo de você, enquanto fica num falso pedestal. Se até hoje você teve uma vida miserável, foi por pura conveniência.
-Conveniência? Seu pai foi um desgraçado que acabou com a vida da minha mãe, que me deixou junto com ela na miséria, mesmo sabendo que eu era tão filha dele quanto você, e o que eu vivi até hoje você chama de “conveniência”?
-O diário só revelou aquilo que a Hilda queria que você fizesse, que se vingasse da minha família.
-Que, pra todos os efeitos, é minha também.
-Mas a tua existência já foi letal bem antes de você cruzar o caminho do Fábio.
-E vou ser mais, com toda a certeza. Não me interessa se você pensa que sabe tudo sobre mim, mas eu jurei que ia acabar com você.
-Mesmo? Pois agora eu vou te dar outro motivo.
-Não existe motivo pior do que o desprezo do meu pai, e o amor que ele deu pra você e pro desgraçado do Fábio.
-Já mandei você calar a boca! Não vai obedecer à sua irmã mais velha, Elizabete?
-Nem você, nem ninguém manda em mim!  Vê se te enxerga, ridícula!
-Não, é? Pois existe um detalhe da sua história que nem você sabe. A minha mãe descobriu o caso que o meu pai tinha com a Hilda. Ela o colocou contra a parede quando soube que você havia nascido.
-Quer dizer que... Você sempre soube que eu existia?
-Naquela época, eu era adolescente ainda. A minha mãe exigiu que ele abandonasse vocês se quisesse continuar com o casamento. Adivinha quem ele escolheu?
-E depois disso, ele me jogou no lixo, junto com a minha mãe- Bete fica arrasada com a revelação.
-O meu pai contou que a Hilda e você faziam parte de uma vida paralela que ele tinha. O trato era que ela o aceitaria de volta se vocês fossem riscadas definitivamente da vida dele.
-Sabe qual foi o resultado disso, não sabe?
-Nunca soube, nem me interessava saber.
-Mas eu vou dizer, filha da... – Bete grita com Alice, mas se contém- Quando o Fernando nos abandonou, ela morreu.
-E, ao invés de lutar pra sobreviver por você, preferiu morrer e deixar o ódio pela minha família como herança. Ao contrário de você, que sempre pareceu determinada no propósito de nos destruir, ela foi fraca!
-Você... – a traficante limpa o rosto- Veio aqui só pra despejar essa verdade? Pra aumentar o ódio que eu sinto de vocês?
-O que eu vim fazer aqui foi uma proposta.
-Ah, é? E o quê, vindo de você, pode me interessar?
-Todo o meu dinheiro.

Luciano volta para casa e encontra Vinícius olhando para a janela, bastante pensativo.
-Lembrando da Victória?
-Não.
-Você está diferente demais.
-É. Vai ver foi a dor.
-Dor? Eu não entendi.
-Dor de não ter mais a Victória do meu lado.
-Mas a ausência dela fez você não ser mais o mesmo.
-Como sabe disso?
-Você não tem ido mais à agência.
-Ah, tá. Como se a Lúcia me chamasse pra alguma coisa. A Victória era quem me fazia ter costas quentes lá dentro...
-Não tô falando só disso. As suas saídas também diminuíram muito.
-Que foi, Pai? Preferia que eu tivesse usando uma pedra de crack?
-Até isso parou. O que te fez mudar tanto, meu filho?
-Não tenho vontade. Aliás, eu não tenho mais saco pra nada nessa vida.
-Você não está pensando em desistir de você, está?
-Não. O mundo não me merece nem mesmo como suicida.
-Que ironia do destino... A Victória lutou tanto pra conseguir te recuperar, te transformar num cara melhor... E você virou o homem ideal pra ela só agora.
-Pois é. Eu tenho pensado muito e... Preciso corrigir alguns dos meus erros. Pelo menos os que eu posso recuperar.
-Verdade, filho?
-Juro que sim. Tem muita injustiça que eu preciso resolver.
-Sabe que pode contar comigo sempre, não é?
-Claro que sei. Mas não sei por onde começar.
-Vinícius, intencionalmente ou não, você deixou um rastro de destruição em uma família.
-Tá falando do Fábio?
-Sim. Vai ver chegou a hora de você se redimir disso.
-Tenho pensado nele direto.
-Pois então? Procura esse rapaz e fala isso que você tem engasgado na sua garganta.
-Depois de tudo o que aconteceu, ele vai entender?
-Não posso te garantir um resultado positivo, mas... Acho que vale a pena se você tentar.

-Seu dinheiro?
-Você sabe muito bem que o meu pai... Quer dizer, que o nosso pai dividiu a herança entre mim e o Fábio. Eu vou ter que cuidar da parte do Fábio até ele completar vinte e um anos. Então, o que eu te proponho é o seguinte: eu passo todo o dinheiro que me cabe pro seu nome. Absolutamente tudo.
-Não me tome como uma imbecil. Você e o Caio estão em processo de divórcio. A metade do que você tem iria pro bolso dele.
-O Caio e eu estamos nos entendendo.
-Olha, quer dizer que o casamento dos filmes de Hollywood continua de pé?
-O que eu quero dizer é que o problema que você causou acabou nos unindo.
-Ah, vê se não enche a minha paciência! O Fábio virou um viciado porque quis!
-E você empurrou meu filho pra isso, cretina, com a ajuda do Vinícius!
-Tá bom, isso não vai levar a nada. Continua.
-Bem, eu posso pedir ao Caio que adie o divórcio. Eu falo com o meu advogado e transfiro tudo para o seu nome.
-Tudo isso pra se livrar de uma traficante? Quanto esforço, Alice! Se o Fábio não me procurar, procura outro bandido qualquer!
-O Fábio não vai voltar a se drogar, isso eu garanto.
-Não é à toa que o seu nome é Alice mesmo.
-Claro que eu não daria todo o meu dinheiro se você fosse uma bandidinha qualquer. Acontece que um exame de DNA poderia provar que você é minha irmã. E, com isso, ninguém poderia tirar o dinheiro das suas mãos. O preço é óbvio demais, Elizabete: some da vida do meu filho e você vai pôr as mãos no dinheiro.
-Tão simples? Eu desapareço e fico milionária?
-Com o divórcio do Caio, eu vou ficar numa situação confortável. Nós dois casamos em comunhão parcial de bens. Você não tem nada a perder, Elizabete. Muito pelo contrário.
-É um preço justo. A metade da fortuna que o meu pai deixou. São cinquenta por cento muito bem-vindos. Mas eu tenho uma nova oferta.
-Você não está em condições de fazer ofertas, não passa de uma bandida.
-Tô, sim, queridinha. Quem sabe se diminuirmos a porcentagem da herança que eu quero?
-Diminuir o preço? Como assim?
-Que tal se eu recebesse... Nada?
-Nada? Como assim, garota? Fala de uma vez qual é o teu preço!
-Vem cá, você é burra? É burra ou se faz? Não me interessa nada que venha de você, a não ser tuas lágrimas na hora que o caixão daquele intrometido descer de uma vez pro túmulo!
-Não se atreva a falar assim do meu filho!
-Intrometido, sim! Roubou o amor e o dinheiro do meu pai, junto com a mãezinha querida dele. Não interessa se eu vou acabar morta, num manicômio ou na cadeia! Se eu cair, eu arrasto o Fábio pro abismo que eu for!
-Vai convencer o Fábio a quê? A seguir a mesma carreira da tua mãe? A que quase destruiu o casamento do meu pai? Porque nem pra isso aquela piranha serviu!
-Fala!- Bete revida as bofetadas que Alice havia lhe dado- Fala que minha mãe é piranha pra você ver o que faço! Fala!
-O que é agora?- Alice limpa a boca, ferida pelo tapa que Bete deu- Falar a verdade virou crime inafiançável?
-Se eu fosse você, não duvidaria de que eu sou mesmo capaz de acabar com o seu filho!
-Sei bem! Como deve ter acabado com o Diego, não é? Porque nada me tira da cabeça que, de acidental, a morte daquele rapaz não teve nada!
-Eu não matei o Diego!
-Chega de fugir do assunto e responde à proposta que eu te fiz de uma vez! Vai se afastar do Fábio ou não?
-Ah, você tá esperando a minha resposta? Pois tá aqui a minha resposta!- Bete agride novamente a irmã, que reage segurando a meliante- Eu vou acabar com você pra nunca mais falar da minha mãe!
-Acaba se você é mulher!
-Não vai sobrar nada do Fábio depois que eu tirar aquele cretino de você!
-Piranha!- Alice joga Bete no chão e se coloca sobre a moça, repetidamente esbofeteando a bandida- Isso é pelo Fábio! Pela Gabriela! Pelo Eduardo, miserável!
-Me solta, que você vai se arrepender!
-Isso eu devia ter feito quando eu soube que você existia, vagabunda!
-Você me paga, Alice! O Fábio vai pagar por você!
-Nunca mais pronuncia o nome do meu filho na sua boca imunda!- Alice continua agredindo a jovem.
-Não toca em mim, sua ladra desgraçada!
-Repete na minha cara que vai matar o meu filho! Repete! Nunca mais você vai se aproximar de nenhum de nós, porque eu te mato, vagabunda! Eu te mato! Chega perto de alguém pra você ver o que eu te faço! A cadeia vai ser pouco pra você! Piranha! Cretina! Miserável! Toma, pra ver se você aprende! Chega perto dele! Chega! Chega, Bete! Vai quer saber quem sou eu, sua bandida desgraçada? Hein, sua bandida? Vai? Toca no meu filho e eu arranco a tua última gota de sangue! Pensa que eu vou fazer que nem você e contrata bandido pra fazer serviço, é? O meu pai te deixou na sarjeta viva, e eu te mando de volta pra lá morta! Fala o nome do Fábio, bandida! Fala o nome dele! Fala!- Alice se cansa e levanta, apanhando a bolsa, enquanto Bete fica caída no chão da sala do sobrado- Eu não posso provar que você usou aquele médico pra fazer a chantagem, nem que você drogou o meu filho pra matá-lo, nem que você armou os atentados contra a Gabriela e o Eduardo, e muito menos que o Diego morreu por obra sua. Mas eu posso mandar a polícia pesquisar como você fez pra morar sozinha aqui dentro, e como você alterou a tua certidão de nascimento pra conseguir se matricular, porque eu sei que o colégio nunca ia aceitar uma maior de idade lá dentro. Quer que eu ponha atrás de você, quer? Acho que não. Mas experimenta me desafiar. A Alice de quem você quis se vingar é uma imbecil, só que essa que te enfrentou pelo filho... Dessa você pode tremer de medo!- coloca a bolsa no ombro esquerdo- Antes de ir, deixa eu te contar uma coisa: a Gabriela me contou da briga de vocês e ficou com medo do corte que fez no teu nariz. Mal sabe ela que o estrago no teu rosto agora é maior. Fica com essa cara, é a tua herança- deixa o sobrado.
Fraca após o confronto com sua irmã, Bete levantou-se do chão e fechou a porta. Vagarosamente, foi ao espelho do banheiro e viu seu rosto repleto de hematomas e ferimentos. A tia de Fábio volta a chorar e bate insistentemente no espelho.
-Ai, que ódio! Que ódio! Eu odeio você, Alice! Odeio você e seu filho! Odeio, odeio, odeio, odeio!- a moça para quando o espelho quebra e fere seus braços, prosseguindo com o pranto mais agonizante de sua vida.

Dias depois...

Fábio chegou à clínica, onde fica em um quarto verde, que conta com duas janelas, uma de cada lado. A enfermeira chega e anuncia.
-Chegou uma visita pra você.
-Quem é, moça?
Vinícius entra no quarto.
-Eu vou deixar vocês dois a sós.
-Obrigado- Fábio abraça o modelo- Ainda bem que você chegou.
-Fábio, a gente precisa conversar.
-Por que nesses dias você não foi me ver no hospital? Já sei: você foi e meus pais te botaram pra fora, não foi?
-É, o nosso último encontro não foi muito agradável, não.
-Faz horas que eu tô aqui dentro. Mas parece que fiquei uma vida toda preso.
-Olha, me deixa falar...
-Não, eu tenho uma coisa muito importante pra te pedir. Só você pode fazer.
-O que é que você quer de mim?
-Me ajuda a fugir desse lugar. Eu não posso ficar aqui, Vinícius. Por favor, me tira daqui.

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