01/07/2017

VIDA LOUCA/ CAPÍTULO 28: NO FINAL DE MAIS UMA ESTRADA PERDIDA (ÚLTIMOS CAPÍTULOS)

Eduardo fica debatendo-se sobre a cama, tentando respirar, mas Lipe faz o possível para impedi-lo. Do banheiro do quarto, sai um policial, que rende inesperadamente o irmão de Sal.
-Parado aí!- o policial aponta uma arma para Lipe, que reage largando o travesseiro e tentando tirar o revólver da mão do homem que estava cuidando de Eduardo. Os dois travam uma batalha e Eduardo, com falta de ar, grita:
-Alguém me ajuda aqui! Socorro! Alguém me ajuda, por favor!
-Larga essa arma, imbecil! Solta!- o policial deixa o revólver cair sobre a cama de Eduardo, mas ainda segura Lipe, que o empurra contra uma estante. O bandido, então, volta-se para o irmão de Gabriela, que reage segurando revólver e disparando contra o ventre de Lipe, que fica incrédulo com a atitude de legítima defesa.
-O que foi que eu fiz, meu Deus?
-Você me paga, filho da mãe!- com dificuldade, Lipe caminha em direção ao paciente, que atira novamente, desta vez contra a parede, assustando-lhe.
-Sai daqui, senão eu atiro de novo pra matar! Dá o fora daqui! Foi a Bete que te mandou, não foi?
O policial, um pouco exausto do confronto, levanta-se do chão e vê Lipe fugindo do hospital. Chama reforço dos colegas da corporação.
-Atenção, tem um suspeito vestido de médico fugindo pela entrada principal do hospital. Tentativa de homicídio contra Eduardo Acioly Siqueira. Não deixem esse cara fugir- desliga o celular- Você está bem?
-Não acredito que eu fiz isso? Eu atirei no cara! E se ele morrer por minha culpa?
-Ainda bem que a sua irmã contou tudo pra polícia e nos deixou de sobreaviso. Fica tranquilo, que nós vamos pegar esse rapaz.
Lipe corre até o carro em que Sal o espera.
-Sai da direção, que eu vou arrancar!
-O que foi?
-Deu tudo errado- liga a ignição- A casa caiu, Sal!
-Então, vamos sair daqui! “Bora”! “Bora”!
À toda velocidade pela madrugada, o carro em que Sal e Lipe estão percorre as ruas do centro da cidade. Duas viaturas seguem o automóvel.
-Eu não tô aguentando, Sal! Tá doendo pra caramba!
-Você tem que aguentar! Os caras estão no encalço da gente!
-O miserável pegou a arma do tira e me acertou!
-Acelera logo, Lipe! Não perde tempo, não, meu irmão!
Uma das viaturas consegue aproximar-se do carro dos irmãos dependentes. O oficial do banco do carona avisa pelo rádio.
-A avenida é de mão única, manda a equipe fechar a avenida agora!
-Aguenta firme, Lipe!
-Não tá dando, Sal!
-Para o carro agora! Encosta esse carro!- o oficial avisa, mas Sal aciona o acelerador, vendo já que seu irmão está enfraquecendo.
Em dois minutos, sete viaturas conseguem fechar a avenida. Alguns deles saem de seus carros e apontam suas armas para a rendição dos irmãos.
-Continua dirigindo, Lipe!
-Sal, eu não posso mais! Não consigo mais... Sal, eu...
-Lipe? Lipe, o que foi?
Lipe desmaia sobre o volante.
-O carro deles está vindo! Fiquem em posição- alerta um dos policiais que pretendem efetuar a prisão. Sal tenta conduzir o carro, afastando a cabeça de Lipe do volante, mas não consegue dirigir e perde o controle do automóvel.
-Não, Lipe! Você não pode me deixar sozinho nessa! Acorda!
-Ele vai bater! Se afastem!- vários policiais correm.
-Não!- Sal grita, em desespero, para colidir com uma das viaturas e ter o carro lançado para o alto, capotando diversas vezes em seguida.
-Chamem os paramédicos, agora!
Sal tenta sair do carro, que virou um monte de ferro retorcido, mas vê alguém inesperado naquele momento.
-Victória?
Começa a vazar gasolina do veículo, posto de ponta-cabeça em decorrência do acidente.
-A última coisa que eu vi foram os seus olhos. Chegou a sua vez de ver os meus.
Dez policiais, enquanto esperam os paramédicos chegarem, aproximam-se do veículo para conferir se há algum sobrevivente do desastre, mas são impedidos quando o carro explode, matando instantaneamente os assaltantes contratados por Bete.

Alice está na cantina do hospital e Caio está ao celular, resolvendo alguns detalhes da nova internação de Fábio.
-Obrigado, eu volto a ligar. Até logo.
-O que você resolveu?
-Disseram que só precisam saber quando o Fábio terá alta daqui. Depois, ele vai direto para o centro de apoio.
-Como assim? Ele não vai ficar alguns dias em casa, de repouso?
-Melhor não, Alice. Talvez ele tenha esperanças de que nós desistamos de interná-lo. O ideal é que ele vá para o centro o quanto antes.
-Só que antes eu quero conhecer esse lugar.
-Claro. Eu posso te levar lá.
-Não, não precisa, Caio. É só você me dar o endereço. Você é tão ocupado, não precisa perder seu tempo comigo.
-Tempo esse que envolve o Fábio. Desde que aconteceu toda essa tragédia, eu venho pesquisando pra colocar o Fábio no melhor lugar possível.
-Você tem sido o melhor pai pra ele. Mesmo nessas circunstâncias.
-Você também tem sido uma mãe maravilhosa. Aliás, sempre foi.
-Acho que não fui o suficiente pra evitar do meu filho ter vindo parar nesse lugar.
-Para de se culpar. O Fábio vai se recuperar, é isso que realmente importa.
-Caio- Ariane chega com a filha na cantina.
-Gabriela, você apareceu! Tudo bem?- Caio pergunta para a moça.
-Mais ou menos. A gente precisa conversar com vocês.
-Ué, o Eduardo não veio? Cadê ele?- Alice pergunta para Ariane e Gabriela.
-O Eduardo tá internado. Tomou um tiro.
-O quê? Mas como é que foi isso?
-Ele está bem, Ariane?- Caio fica preocupado.
-Tá fora de perigo, sim; não precisa vocês se preocuparem.
-Precisam, sim. Caio, Alice, nós queremos conversar sobre o Fábio.
-Sobre o Fábio? O que foi desta vez?
-Eu descobri quem deu a droga que fez ele ter a overdose naquele dia.
-Foi o Vinícius, não foi?
-Não, Dona Alice. Foi a Bete.
-Bete? Quem é Bete?
-A senhora conhece. Bete é aquela menina que conversou com a senhora no dia que a senhora foi pro colégio. Aquela que tava chorando porque o namorado morreu.
-O que é que essa menina quer com meu filho, Gabriela?
-Não sei, Seu Caio. Mas ela é mais perigosa do que a gente pensa. E eu vim com a minha mãe pra pedir ajuda pra vocês afastarem a Bete de todo mundo.
-Filha, é melhor a gente contar tudo que sabe desde o começo. Podemos sentar?
-Claro, por favor. Conta tudo, Gabriela- Alice puxa uma cadeira para a namorada do filho e Caio repete o mesmo gesto para Ariane.

Vinícius está em sua casa, perto da hora de acordar e, quando desperta, assusta-se com a presença de Luciano sentado numa poltrona de seu quarto.
-Parece uma assombração, que é isso?
-Larguei do plantão agora há pouco. Estava esperando você acordar.
-Pra quê, Pai?
-Pra contar um caso muito interessante que eu vi na delegacia.
-Ah, para! Para de encher o meu saco, olha que horas são pra você me contar drama de delegacia!
-A morte da Victória não foi acidental, não é, Vinícius?
-Victória? Por que você tá dizendo isso? O que a Victória tem a ver com o caso?
-Agora ficou interessado?
-Desembucha logo.
-Primeiro, o Diogo morre em circunstâncias parecidas com um acidente. Depois, a tua namorada morre por reagir a um assalto. Em seguida, o Fábio sofre uma overdose... Agora temos um mistério novo.
-Mistério novo? Tá falando do quê?
-O Eduardo, irmão da namorada do Fábio, levou um tiro e foi parar no hospital.
-O Eduardo? Mas ele tá bem?
-Na medida do possível. Ele sobreviveu, mas um cara invadiu o quarto e tentou matá-lo no hospital. O suspeito não conseguiu, fugiu do local com um comparsa e os dois acabaram morrendo numa perseguição.
-E o que isso tem a ver com a Victória?
-Todos esses acontecimentos aconteceram com alunos da sua sala. Não é estranho pra você?
-Tá achando o quê? Que todo mundo é drogado, como o senhor diz que eu sou?
-Não. O Diego e o Fábio eu sei que são, mas os outros... São os outros que me intrigam.
-Aonde você quer chegar?
-O que é que você sabe sobre isso, Vinícius?
-Por que eu deveria saber? O Fábio teve uma overdose e o outro se drogou antes de morrer. Simples assim.
-Alguma coisa me diz que você sabe, sim.
-A Victória morreu por fatalidade, por uma estupidez.
-E tudo isso aconteceu quase que ao mesmo tempo? Eu não acredito em coincidências, Vinícius. Fala o que você sabe, ou do que você desconfia, pelo menos.
-Se o Eduardo também toma uns ácidos, eu não faço a menor ideia, mas quem sabe, né? Acontece nas melhores famílias- ironiza, para fugir do questionamento.
-Vinícius, me responde só uma coisa.
-Já que eu não tenho como escapar do interrogatório, já que você transformou meu quarto na sala de acareação, diz...
-Se você amava a Victória, como eu bem sei que amava, vai deixar a morte dela sem punição?
-O que você quer com esse circo todo?
-Te deixar de sobreaviso: melhor que você me conte o que realmente sabe, e o que existe por trás desses fatos. Eu não quero descobrir, por conta própria, que você me esconde alguma coisa grave. Fala, Vinícius.
-Eu não sei. Eu não sei de nada, Pai.
-Está bem, então. Vou te dar esse voto de confiança, não me custa nada. Mas, por favor, embora isso não signifique nada pra você, não me decepciona- Luciano abandona o quarto e deixa Vinícius pensativo.

Bete está aflita à espera de notícias de Sal e Lipe, que apareceriam em sua casa para combinar a fuga.
-Cadê esses moleques? Por que eles não chegaram até agora?
Batem à porta do sobrado. A bandida corre para atendê-los, mas fica espantada ao ver um policial em sua frente.
-Você é Elizabete Corrêa Feitosa?
-Sou eu, sim. O que é que o senhor quer?
-Eu trouxe pra você uma intimação. Tem como algum responsável por você assinar isso? Seu pai? Sua mãe?
-Peraí, vai com calma, tá? Que palhaçada é essa de intimação?
-Elizabete, você tem que comparecer amanhã, às nove horas, na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, sem falta.
-Mas por quê?

-Pela tentativa de assassinato cometida contra Eduardo Acioly Silveira. Conhece esse rapaz?

Nenhum comentário:

Postar um comentário