Eduardo
fica debatendo-se sobre a cama, tentando respirar, mas Lipe faz o possível para
impedi-lo. Do banheiro do quarto, sai um policial, que rende inesperadamente o
irmão de Sal.
-Parado
aí!- o policial aponta uma arma para Lipe, que reage largando o travesseiro e tentando
tirar o revólver da mão do homem que estava cuidando de Eduardo. Os dois travam
uma batalha e Eduardo, com falta de ar, grita:
-Alguém
me ajuda aqui! Socorro! Alguém me ajuda, por favor!
-Larga
essa arma, imbecil! Solta!- o policial deixa o revólver cair sobre a cama de
Eduardo, mas ainda segura Lipe, que o empurra contra uma estante. O bandido,
então, volta-se para o irmão de Gabriela, que reage segurando revólver e
disparando contra o ventre de Lipe, que fica incrédulo com a atitude de
legítima defesa.
-O
que foi que eu fiz, meu Deus?
-Você
me paga, filho da mãe!- com dificuldade, Lipe caminha em direção ao paciente,
que atira novamente, desta vez contra a parede, assustando-lhe.
-Sai
daqui, senão eu atiro de novo pra matar! Dá o fora daqui! Foi a Bete que te
mandou, não foi?
O
policial, um pouco exausto do confronto, levanta-se do chão e vê Lipe fugindo do
hospital. Chama reforço dos colegas da corporação.
-Atenção,
tem um suspeito vestido de médico fugindo pela entrada principal do hospital.
Tentativa de homicídio contra Eduardo Acioly Siqueira. Não deixem esse cara
fugir- desliga o celular- Você está bem?
-Não
acredito que eu fiz isso? Eu atirei no cara! E se ele morrer por minha culpa?
-Ainda
bem que a sua irmã contou tudo pra polícia e nos deixou de sobreaviso. Fica
tranquilo, que nós vamos pegar esse rapaz.
Lipe
corre até o carro em que Sal o espera.
-Sai
da direção, que eu vou arrancar!
-O
que foi?
-Deu
tudo errado- liga a ignição- A casa caiu, Sal!
-Então,
vamos sair daqui! “Bora”! “Bora”!
À
toda velocidade pela madrugada, o carro em que Sal e Lipe estão percorre as
ruas do centro da cidade. Duas viaturas seguem o automóvel.
-Eu
não tô aguentando, Sal! Tá doendo pra caramba!
-Você
tem que aguentar! Os caras estão no encalço da gente!
-O
miserável pegou a arma do tira e me acertou!
-Acelera
logo, Lipe! Não perde tempo, não, meu irmão!
Uma
das viaturas consegue aproximar-se do carro dos irmãos dependentes. O oficial
do banco do carona avisa pelo rádio.
-A
avenida é de mão única, manda a equipe fechar a avenida agora!
-Aguenta
firme, Lipe!
-Não
tá dando, Sal!
-Para
o carro agora! Encosta esse carro!- o oficial avisa, mas Sal aciona o acelerador,
vendo já que seu irmão está enfraquecendo.
Em
dois minutos, sete viaturas conseguem fechar a avenida. Alguns deles saem de
seus carros e apontam suas armas para a rendição dos irmãos.
-Continua
dirigindo, Lipe!
-Sal,
eu não posso mais! Não consigo mais... Sal, eu...
-Lipe?
Lipe, o que foi?
Lipe
desmaia sobre o volante.
-O
carro deles está vindo! Fiquem em posição- alerta um dos policiais que
pretendem efetuar a prisão. Sal tenta conduzir o carro, afastando a cabeça de
Lipe do volante, mas não consegue dirigir e perde o controle do automóvel.
-Não,
Lipe! Você não pode me deixar sozinho nessa! Acorda!
-Ele
vai bater! Se afastem!- vários policiais correm.
-Não!-
Sal grita, em desespero, para colidir com uma das viaturas e ter o carro
lançado para o alto, capotando diversas vezes em seguida.
-Chamem
os paramédicos, agora!
Sal
tenta sair do carro, que virou um monte de ferro retorcido, mas vê alguém
inesperado naquele momento.
-Victória?
Começa
a vazar gasolina do veículo, posto de ponta-cabeça em decorrência do acidente.
-A
última coisa que eu vi foram os seus olhos. Chegou a sua vez de ver os meus.
Dez
policiais, enquanto esperam os paramédicos chegarem, aproximam-se do veículo
para conferir se há algum sobrevivente do desastre, mas são impedidos quando o
carro explode, matando instantaneamente os assaltantes contratados por Bete.
Alice
está na cantina do hospital e Caio está ao celular, resolvendo alguns detalhes
da nova internação de Fábio.
-Obrigado,
eu volto a ligar. Até logo.
-O
que você resolveu?
-Disseram
que só precisam saber quando o Fábio terá alta daqui. Depois, ele vai direto
para o centro de apoio.
-Como
assim? Ele não vai ficar alguns dias em casa, de repouso?
-Melhor
não, Alice. Talvez ele tenha esperanças de que nós desistamos de interná-lo. O
ideal é que ele vá para o centro o quanto antes.
-Só
que antes eu quero conhecer esse lugar.
-Claro.
Eu posso te levar lá.
-Não,
não precisa, Caio. É só você me dar o endereço. Você é tão ocupado, não precisa
perder seu tempo comigo.
-Tempo
esse que envolve o Fábio. Desde que aconteceu toda essa tragédia, eu venho
pesquisando pra colocar o Fábio no melhor lugar possível.
-Você
tem sido o melhor pai pra ele. Mesmo nessas circunstâncias.
-Você
também tem sido uma mãe maravilhosa. Aliás, sempre foi.
-Acho
que não fui o suficiente pra evitar do meu filho ter vindo parar nesse lugar.
-Para
de se culpar. O Fábio vai se recuperar, é isso que realmente importa.
-Caio-
Ariane chega com a filha na cantina.
-Gabriela,
você apareceu! Tudo bem?- Caio pergunta para a moça.
-Mais
ou menos. A gente precisa conversar com vocês.
-Ué,
o Eduardo não veio? Cadê ele?- Alice pergunta para Ariane e Gabriela.
-O
Eduardo tá internado. Tomou um tiro.
-O
quê? Mas como é que foi isso?
-Ele
está bem, Ariane?- Caio fica preocupado.
-Tá
fora de perigo, sim; não precisa vocês se preocuparem.
-Precisam,
sim. Caio, Alice, nós queremos conversar sobre o Fábio.
-Sobre
o Fábio? O que foi desta vez?
-Eu
descobri quem deu a droga que fez ele ter a overdose naquele dia.
-Foi
o Vinícius, não foi?
-Não,
Dona Alice. Foi a Bete.
-Bete?
Quem é Bete?
-A
senhora conhece. Bete é aquela menina que conversou com a senhora no dia que a
senhora foi pro colégio. Aquela que tava chorando porque o namorado morreu.
-O
que é que essa menina quer com meu filho, Gabriela?
-Não
sei, Seu Caio. Mas ela é mais perigosa do que a gente pensa. E eu vim com a
minha mãe pra pedir ajuda pra vocês afastarem a Bete de todo mundo.
-Filha,
é melhor a gente contar tudo que sabe desde o começo. Podemos sentar?
-Claro,
por favor. Conta tudo, Gabriela- Alice puxa uma cadeira para a namorada do
filho e Caio repete o mesmo gesto para Ariane.
Vinícius
está em sua casa, perto da hora de acordar e, quando desperta, assusta-se com a
presença de Luciano sentado numa poltrona de seu quarto.
-Parece
uma assombração, que é isso?
-Larguei
do plantão agora há pouco. Estava esperando você acordar.
-Pra
quê, Pai?
-Pra
contar um caso muito interessante que eu vi na delegacia.
-Ah,
para! Para de encher o meu saco, olha que horas são pra você me contar drama de
delegacia!
-A
morte da Victória não foi acidental, não é, Vinícius?
-Victória?
Por que você tá dizendo isso? O que a Victória tem a ver com o caso?
-Agora
ficou interessado?
-Desembucha
logo.
-Primeiro,
o Diogo morre em circunstâncias parecidas com um acidente. Depois, a tua
namorada morre por reagir a um assalto. Em seguida, o Fábio sofre uma
overdose... Agora temos um mistério novo.
-Mistério
novo? Tá falando do quê?
-O
Eduardo, irmão da namorada do Fábio, levou um tiro e foi parar no hospital.
-O
Eduardo? Mas ele tá bem?
-Na
medida do possível. Ele sobreviveu, mas um cara invadiu o quarto e tentou
matá-lo no hospital. O suspeito não conseguiu, fugiu do local com um comparsa e
os dois acabaram morrendo numa perseguição.
-E
o que isso tem a ver com a Victória?
-Todos
esses acontecimentos aconteceram com alunos da sua sala. Não é estranho pra
você?
-Tá
achando o quê? Que todo mundo é drogado, como o senhor diz que eu sou?
-Não.
O Diego e o Fábio eu sei que são, mas os outros... São os outros que me
intrigam.
-Aonde
você quer chegar?
-O
que é que você sabe sobre isso, Vinícius?
-Por
que eu deveria saber? O Fábio teve uma overdose e o outro se drogou antes de
morrer. Simples assim.
-Alguma
coisa me diz que você sabe, sim.
-A
Victória morreu por fatalidade, por uma estupidez.
-E
tudo isso aconteceu quase que ao mesmo tempo? Eu não acredito em coincidências,
Vinícius. Fala o que você sabe, ou do que você desconfia, pelo menos.
-Se
o Eduardo também toma uns ácidos, eu não faço a menor ideia, mas quem sabe, né?
Acontece nas melhores famílias- ironiza, para fugir do questionamento.
-Vinícius,
me responde só uma coisa.
-Já
que eu não tenho como escapar do interrogatório, já que você transformou meu
quarto na sala de acareação, diz...
-Se
você amava a Victória, como eu bem sei que amava, vai deixar a morte dela sem
punição?
-O
que você quer com esse circo todo?
-Te
deixar de sobreaviso: melhor que você me conte o que realmente sabe, e o que
existe por trás desses fatos. Eu não quero descobrir, por conta própria, que
você me esconde alguma coisa grave. Fala, Vinícius.
-Eu
não sei. Eu não sei de nada, Pai.
-Está
bem, então. Vou te dar esse voto de confiança, não me custa nada. Mas, por
favor, embora isso não signifique nada pra você, não me decepciona- Luciano
abandona o quarto e deixa Vinícius pensativo.
Bete
está aflita à espera de notícias de Sal e Lipe, que apareceriam em sua casa
para combinar a fuga.
-Cadê
esses moleques? Por que eles não chegaram até agora?
Batem
à porta do sobrado. A bandida corre para atendê-los, mas fica espantada ao ver
um policial em sua frente.
-Você
é Elizabete Corrêa Feitosa?
-Sou
eu, sim. O que é que o senhor quer?
-Eu
trouxe pra você uma intimação. Tem como algum responsável por você assinar
isso? Seu pai? Sua mãe?
-Peraí,
vai com calma, tá? Que palhaçada é essa de intimação?
-Elizabete,
você tem que comparecer amanhã, às nove horas, na Delegacia de Homicídios e
Proteção à Pessoa, sem falta.
-Mas
por quê?
-Pela
tentativa de assassinato cometida contra Eduardo Acioly Silveira. Conhece esse
rapaz?
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