Passam-se dois dias após a entrada de
Fábio no centro de apoio psicossocial. No jardim do local, o rapaz caminha sem
parar de pensar em todas as descobertas que fez através da visita de Vinícius.
A enfermeira avisa ao rapaz.
-Chegou a hora de voltar pro quarto.
-Me deixa aqui mais um pouquinho. Tá
tão bom aqui.
-Hum... Tenho uma boa razão pra te
convencer a entrar.
-Que razão é essa?
-Uma visita. Contou pra diretora do
centro que negociou até com seus pais pra conseguir te ver.
-É o Vinícius? O rapaz que veio aqui
no outro dia?
-Melhor você mesmo conferir. Não vai
se decepcionar.
Fábio volta, então, para o quarto e
entra deixando a porta aberta. Fica confuso por não encontrar ninguém, como
indicou a enfermeira.
-Ué? Cadê a pessoa que tava me
esperando?
-Te esperando hoje e sempre- Gabriela
vem do outro lado do corredor, deixando o rapaz incrédulo.
-Parecia que esse dia do nosso novo
encontro nunca fosse chegar.
-Te confesso que eu tentei adiar esse
momento, o máximo que pude.
-Por medo de mim?
-De você, não. Do que você acha de
mim.
-A enfermeira disse que você até
negociou com meus pais pra vir me ver.
-O Seu Caio e a Dona Alice acharam
melhor esperar até você ficar bem.
-Bem sem você?- Fábio constrange a
moça.
-Melhor você não se aborrecer. Eu só
vim te ver porque... Saber como você tá não é suficiente. Tinha que te ver.
-O Vinícius esteve aqui logo que
cheguei.
-Aquele cara veio até o centro? Muita
cara de pau daquele...
-Veio pra contar a verdade.
-Que verdade, Fábio?
-Toda. Inclusive sobre nós dois.
-Não era pra ele ter falado. Os teus
pais que iam contar.
-Não importa de onde saiu a
informação, só que eu já sei de tudo.
-E o que você quer fazer com isso?
-Me diz você, Gabriela. Porque eu não
sei como me desculpar de tudo que eu falei, do que eu fiz. Ninguém saiu mais
machucado dessa história do que você...
-Fábio...
-Me deixa terminar. Me deixa pedir
perdão a você. Eu nunca vou conseguir apagar tudo de ruim que eu fiz, mas eu
preciso... – Fábio ajoelha-se diante da adolescente- Me desculpa por tudo. Eu
não mereço ter você do meu lado, mas eu tenho que ouvir se você me perdoa ou
não.
-Tem sido muito difícil pra mim
conviver com esse Fábio que você colocou na minha vida. O Fábio violento,
agressivo, distante...
-Eu sei...
-Com tudo isso que aconteceu com a
gente, eu descobri uma coisa muito importante: eu não amava você. O que eu
sentia, até agora, era como se... Se a gente se gostasse, sabe? Como se a gente
se entendesse bem, quisesse bem um ao outro, que tivesse atração um pelo outro.
Só que...
-Você sacou que não sentia nada
disso...
-É- Gabriela levanta Fábio do chão- Entendi
quando eu quase te perdi duas vezes: quando você quis se jogar daquela ponte e
quando eu te vi à beira da morte no hospital.
-Foi quando você finalmente entendeu
que não gosta de mim.
-Mais ou menos. A verdade é que eu não
queria que você morresse, mas não porque eu gostasse de você. É porque se você
fosse embora, me levaria junto.
-O que é que você tá me dizendo?
-Não existe a Gabriela que você vê sem
você. Eu não condicionei minha existência à tua, mas eu não parei de te amar
nem um só dia, Fábio. Você quer mesmo que eu te perdoe, de verdade?
-Claro que eu quero. Me pede o que
você quiser.
-Deixa eu te amar, então.
Gabriela toma a iniciativa de abraçar
calorosamente Fábio, que não esconde a satisfação da sua reconciliação.
-Deixo, sim. Tudo que eu mais quero
nessa vida, que eu sempre quis, foi ter você comigo. Eu vou lutar pra nunca
mais te perder. Te amo muito.
O filho de Alice e Caio beija
Gabriela, depois de meses sem uma única troca de carinho. A moça surpreende ao
segurar a camisa que o rapaz está usando, tirando-a e colocando o seu corpo
junto ao de Fábio, que retribui beijando lentamente o pescoço da namorada. O
casal acaba por deitar-se sobre a cama, sempre com a mão esquerda do dependente
em tratamento atada à direita da irmã de Eduardo, confiante na beleza do
momento que vivem.
Vinícius não se dá por vencido e
continua o seu plano de vingança contra Bete. Desta vez, cabe ao modelo
telefonar de seu quarto para a traficante, enclausurada em seu sobrado desde a
briga com Alice. A fora da lei atende com irritação.
-Já é a sétima vez que você liga pro
meu celular só hoje. O que é que você quer?
-Nossa, você andou contando, foi? Eu
te chamei pelo bate-papo do Orkut e você também não respondeu. Ou não quis
responder?
-A segunda opção. Não tô afim de falar
com ninguém, muito menos com você.
-Vamos lá, eu quero falar sobre o
assunto que mais te interessa.
-Já sei que você tá me procurando pra te
vender a “fuga”, só que não vai rolar. Pelo menos, não hoje.
-Tô falando do Fábio.
-O que é que tem ele?- Bete
subitamente se interessa pela conversa.
-Eu sei como acabar com o Fábio.
-Sabe? Sabe como?
-Agora você quer conversar, né?
-Como você sabe que eu tenho interesse
em destruir aquele cara?
-Todo mundo já sabe, é a fofoca do
colégio. O assunto tomou conta. Dizem, inclusive, que você tá sumida porque
levou uma surra da mãe dele.
-Isso é mentira. Eu... Tive outros
problemas.
-Mas diz aí: tá interessada em saber?
-Por que esse empenho todo? O que você
tem contra ele?
-Ah, isso é coisa minha. Mas eu quero
propor uma parceria.
-Que história é essa, Vinícius?
-A gente se junta e tira o Fábio de
circulação. Topa?
-Claro que eu topo. O que a gente precisa
fazer?
-Calminha, Bete. Eu vou te ligar de
novo.
-Por que não pode falar agora? Me diz
logo, Vinícius.
-Deixa da tua pressa. Isso não é coisa
pra conversar por telefone. Quando eu puder falar, eu marco um lugar.
-Vem pro sobrado.
-Não, dá muito na vista. Deixa que eu
escolho o lugar e a data- encerra a ligação.
-Alô, Vinícius? Vinícius?- Bete se
desespera.
-Agora, sim. Ela vai pagar com a vida,
e eu faço questão de cobrar- Vinícius olha para uma faca grande que carrega
consigo.
-Bete?- Luciano assusta o filho- Você
tá armando pra matar essa menina, é isso mesmo que eu ouvi?
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