Caroline está
amarrada a uma camisa de força. A jovem está sentada numa poltrona vermelha,
situada dentro de um consultório branco. A psiquiatra encara a moça com um
semblante sério, enquanto ela tem o olhar perdido. Inicia-se a conversa entre
ambas.
MARY: Sabe a razão
pela qual está aqui, não sabe?
CAROLINE: Eu sou
inocente. Disse isso quando me trouxeram até aqui. Ninguém quis me ouvir.
MARY: Eu estou aqui
para isso. Mas eu preciso que você me ajude. Só depende de você deixar este
lugar.
CAROLINE: Está bem.
O que eu preciso fazer, Doutora?
MARY: Vai ter que
se abrir comigo. Não quero que me esconda nada. O meu papel aqui não é te
julgar, nem te condenar. Mas eu preciso entender as razões que te fizeram parar
aqui.
CAROLINE: Não sei
se eu tô preparada pra contar.
MARY: Se esforce.
CAROLINE: O que a
senhora quer saber de mim?
MARY: Pra começar,
o seu nome.
CAROLINE: A senhora
deve saber como eu me chamo...
MARY: Mas eu quero
ouvir de você. Seu nome é...
CAROLINE: Caroline.
MARY: Muito bem. Eu
tenho que te submeter a algumas perguntas pra avaliar a sua sanidade mental.
Data de nascimento?
CAROLINE: Dezoito
de fevereiro.
MARY: De que ano?
CAROLINE: Não
importa. Já diz o ditado: “quem sabe ser feliz a idade nunca diz”. A única
coisa que precisa saber é a data. É o meu dado mais importante.
MARY: Por quê?
CAROLINE: Como “por
quê”? Porque atesta que eu sou do melhor signo de todos, aquário.
MARY: Já entendi.
Você é aquilo que o Conselho Federal de Psiquiatria chama de “a louca dos
signos”?
CAROLINE: “Dos
signos” eu não sei. Mas “louca”... Há uma forte possibilidade.
MARY: Sei... Você
se considera uma pessoa emotiva?
CAROLINE: Eu?
Imagina...
MARY: Consegue se
lembrar da última vez que chorou?
CAROLINE: Bom, acho
que foi há uns dias... É que eu gosto de preparar uns pratos, experimentar uns
temperos novos. A última vez que eu derramei uma lágrima eu devia estar
descascando cebola.
Três dias antes...
CAROLINE: (chora
ouvindo o rádio e canta a música executada) “As loucuras que eu fiz pra te
satisfazer, só pra te ver feliz, pra te dar mais prazer”...
MARY: Você se
considera uma mulher passional?
CAROLINE: Na medida
do possível. Não vou demonstrar sentimento pra quem não quer sentir. Sou
prática, Doutora.
MARY: Mas o crime
que te acusaram de ter cometido... Foi por alguma razão passional, não foi?
CAROLINE: Eu não
cometi crime nenhum. Já falei.
MARY: Caroline,
você... Já amou alguém?
CAROLINE: Continuo
amando, Doutora.
MARY: Pode me dizer
quem?
CAROLINE: Está
olhando pra ela.
MARY: Quero dizer
“além de você”.
CAROLINE: Bom,
teve... Ah, tinha aquele... O tal de... Não, não é minha praia.
MARY: Nenhuma
paixão mesmo?
CAROLINE: Minha
vocação não é pra me apaixonar, Doutora.
MARY: Qual é,
então?
CAROLINE: Fazer as
pessoas se apaixonarem por mim.
MARY: Como faz pra
conseguir?
CAROLINE: Não é tão
fácil de explicar como é de praticar.
MARY: Então, vamos
facilitar a nossa conversa. Me descreva a última pessoa que se apaixonou por
você. Pode fazer isso?
CAROLINE: Só isso?
Então, tá.
Caroline estava no
metrô lotado. Atrás dela, estava Luiz Carlos, que não repara na presença da
moça. O veículo corre normalmente, mas freia de maneira brusca e a jovem cai
nos braços do olheiro, que fica encantado com a beleza da futura modelo.
(Fundo musical:
“Sonhos”- “e de repente eu me vi assim, completamente seu”)
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