04/02/2018

GATA FATAL/ CENA 1

Caroline está amarrada a uma camisa de força. A jovem está sentada numa poltrona vermelha, situada dentro de um consultório branco. A psiquiatra encara a moça com um semblante sério, enquanto ela tem o olhar perdido. Inicia-se a conversa entre ambas.
MARY: Sabe a razão pela qual está aqui, não sabe?
CAROLINE: Eu sou inocente. Disse isso quando me trouxeram até aqui. Ninguém quis me ouvir.
MARY: Eu estou aqui para isso. Mas eu preciso que você me ajude. Só depende de você deixar este lugar.
CAROLINE: Está bem. O que eu preciso fazer, Doutora?
MARY: Vai ter que se abrir comigo. Não quero que me esconda nada. O meu papel aqui não é te julgar, nem te condenar. Mas eu preciso entender as razões que te fizeram parar aqui.
CAROLINE: Não sei se eu tô preparada pra contar.
MARY: Se esforce.
CAROLINE: O que a senhora quer saber de mim?
MARY: Pra começar, o seu nome.
CAROLINE: A senhora deve saber como eu me chamo...
MARY: Mas eu quero ouvir de você. Seu nome é...
CAROLINE: Caroline.
MARY: Muito bem. Eu tenho que te submeter a algumas perguntas pra avaliar a sua sanidade mental. Data de nascimento?
CAROLINE: Dezoito de fevereiro.
MARY: De que ano?
CAROLINE: Não importa. Já diz o ditado: “quem sabe ser feliz a idade nunca diz”. A única coisa que precisa saber é a data. É o meu dado mais importante.
MARY: Por quê?
CAROLINE: Como “por quê”? Porque atesta que eu sou do melhor signo de todos, aquário.
MARY: Já entendi. Você é aquilo que o Conselho Federal de Psiquiatria chama de “a louca dos signos”?
CAROLINE: “Dos signos” eu não sei. Mas “louca”... Há uma forte possibilidade.
MARY: Sei... Você se considera uma pessoa emotiva?
CAROLINE: Eu? Imagina...
MARY: Consegue se lembrar da última vez que chorou?
CAROLINE: Bom, acho que foi há uns dias... É que eu gosto de preparar uns pratos, experimentar uns temperos novos. A última vez que eu derramei uma lágrima eu devia estar descascando cebola.
Três dias antes...
CAROLINE: (chora ouvindo o rádio e canta a música executada) “As loucuras que eu fiz pra te satisfazer, só pra te ver feliz, pra te dar mais prazer”...
MARY: Você se considera uma mulher passional?
CAROLINE: Na medida do possível. Não vou demonstrar sentimento pra quem não quer sentir. Sou prática, Doutora.
MARY: Mas o crime que te acusaram de ter cometido... Foi por alguma razão passional, não foi?
CAROLINE: Eu não cometi crime nenhum. Já falei.
MARY: Caroline, você... Já amou alguém?
CAROLINE: Continuo amando, Doutora.
MARY: Pode me dizer quem?
CAROLINE: Está olhando pra ela.
MARY: Quero dizer “além de você”.
CAROLINE: Bom, teve... Ah, tinha aquele... O tal de... Não, não é minha praia.
MARY: Nenhuma paixão mesmo?
CAROLINE: Minha vocação não é pra me apaixonar, Doutora.
MARY: Qual é, então?
CAROLINE: Fazer as pessoas se apaixonarem por mim.
MARY: Como faz pra conseguir?
CAROLINE: Não é tão fácil de explicar como é de praticar.
MARY: Então, vamos facilitar a nossa conversa. Me descreva a última pessoa que se apaixonou por você. Pode fazer isso?
CAROLINE: Só isso? Então, tá.
Caroline estava no metrô lotado. Atrás dela, estava Luiz Carlos, que não repara na presença da moça. O veículo corre normalmente, mas freia de maneira brusca e a jovem cai nos braços do olheiro, que fica encantado com a beleza da futura modelo.

(Fundo musical: “Sonhos”- “e de repente eu me vi assim, completamente seu”)
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