Transição de cenas
da praia para o apartamento das modelos, também à noite.
(Fundo musical:
“Natureza humana”- “e se eles dizem ‘why? Why?”, é a natureza humana. ‘Why?
Why?’. É assim que ela me faz”)
Caroline tirou do
micro-ondas uma lasanha que havia acabado de preparar, quando o celular tocou.
Era Luiz Carlos.
CAROLINE: Fala.
LUIZ CARLOS:
Caroline, tá ocupada?
CAROLINE: Tô, o que
foi?
LUIZ CARLOS: Tem
como você dar uma passadinha aqui? Eu preciso conversar com você.
CAROLINE: Não dá
pra dizer o assunto por telefone ou uma mensagem de áudio no “Zap”?
LUIZ CARLOS: Não,
tem que ser pessoalmente.
CAROLINE: Tudo bem,
eu vou colocar a lasanha que eu fiz pra esfriar. Mas se não for importante,
pode encomendar uma vala, porque hoje eu mato um! E esse “um” é você!
LUIZ CARLOS: Garanto
que não vai se arrepender. (ouve a campainha tocando novamente) A essa hora,
quem será? Eu só tô esperando por Caroline mesmo... (abre a porta) Como é que
você...
CAROLINE: Antes que
me pergunte que mágica eu fiz pra chegar tão rápido, só fiz trocar de cenário.
LUIZ CARLOS: Que
bom que você veio.
CAROLINE: Espero
que seja. O que de tão importante você tinha pra me falar?
LUIZ CARLOS: Uma
publicação francesa te convidou pra estrelar um ensaio.
CAROLINE: Revista
de beleza?
LUIZ CARLOS: Nudez.
CAROLINE: Ah, sei.
Qual é a proposta?
LUIZ CARLOS: Um
ensaio sensual em vários pontos de Paris. E o ápice, com direito a pôster, é
você em frente à Torre Eiffel. Totalmente sem censura.
CAROLINE: O que te
faz acreditar que eu vou posar pra uma revista erótica? Não tem dinheiro no
mundo que me faça expor a intimidade.
LUIZ CARLOS: O
cachê é de quinhentos mil.
CAROLINE: Dólares?
LUIZ CARLOS: Euros.
CAROLINE: Mostro!
Mostro tudo, até a hipoderme!
Thais volta para o apartamento
e chama pela amiga, pensando que ela está em casa.
THAIS: “Miga”? Você
tá em casa? (senta-se no sofá) Tô morta de cansada! E o pior é que eu vou ter
que cozinhar, já que não tem nada pronto aqui!
(Thaís olha para a
lasanha que está sobre a mesa da cozinha/ fundo musical: “Perigo”- “perigo é
ter você perto dos olhos”)
LUIZ CARLOS: Ao
futuro, Caroline.
CAROLINE: Ao
futuro. Embora eu tenha medo do futuro que me aguarda, já que o presente me faz
brindar com água mineral.
LUIZ CARLOS: Confesso
que essa temporada em Paris vai me fazer sentir saudade.
CAROLINE: Imagina...
É só um trabalho artístico, não vou fixar residência lá. A não ser que você
esteja me traficando, como na novela da Glória Perez.
LUIZ CARLOS: Duvido
muito que os franceses queiram te deixar ir embora. Eu, no lugar deles, não
deixaria.
CAROLINE: E por que
tá deixando? É sinal de que não me quer por aqui.
LUIZ CARLOS: Acho
que você merece uma oportunidade melhor do que a Bacurinha’s Vintage. Você mal
começou a carreira e empresários do exterior já estão de olho em você.
CAROLINE: Você vai
sentir minha falta mesmo?
LUIZ CARLOS: Vou. E
você? Vai sentir saudades de mim quando estiver na França?
(Fundo musical: “Ne
me quitte pas”- “ne me quitte pas/ il faut oublier/ tout peut s’oublier/ qui s’enfuit
dejà/ oublier le temps/ des malentendus et le temps perdu”/ personagens em
silêncio)
CAROLINE: Não, só
perguntei mesmo porque sempre é bom ouvir um elogio.
LUIZ CARLOS: Mas
não deixa de ser verdade. Dói muito cogitar a hipótese de te ter longe de mim.
CAROLINE: Vê se não
viaja, Luiz Carlos. Nós nunca tivemos nada.
LUIZ CARLOS: Porque
você não quis.
CAROLINE: Porque
sou inteligente mesmo. Você não faz o meu tipo.
LUIZ CARLOS: Alguém
faz, Caroline? Parece que você gosta de ser uma incógnita pra todo mundo. Por
que você não se permite comigo?
CAROLINE: Deve ter
coisa melhor no mercado externo.
LUIZ CARLOS: Duvido
muito que você consiga encontrar alguém que tenha a mesma devoção que eu tenho
por você. O que eu tô te pedindo não é nada do outro mundo. Já deu pra perceber
o que você mais gosta de fazer.
CAROLINE: Comer e
dormir, só pode.
LUIZ CARLOS: Não.
Querer que todo mundo se apaixone por você.
CAROLINE: Não, não
é que eu queira. É natural. Se todos os heterossexuais dessa galáxia me querem,
eu vou fazer vista grossa pra isso?
LUIZ CARLOS: Beleza,
mas não é de paixão que eu tô falando. É da vontade de proteger, de ter você
por perto, de achar que ninguém pode te fazer mais feliz do que eu. Pensa que
eu não tô pedindo uma chance pra mim, mas pra nós dois.
CAROLINE: Luiz
Carlos...
LUIZ CARLOS: Diz...
CAROLINE: Minha
lasanha vai esfriar. Fui! (sai da agencia) Ah, gente, desculpa se eu pareci
delicada como um coice de mula, mas falei isso porque sei que ele vai
sobreviver ao que eu disse.
Dentro da agência,
Luiz Carlos segura a taça de água mineral e começa a verter lágrimas.
(Fundo musical: “É
tarde demais”- “você jogou fora o amor que eu te dei, o sonho que sonhei/ isso
não se faz”)
CAROLINE: Ah,
finalmente em casa, doida pra devorar sozinha a minha obra de arte enquanto
Thaís não volta do desfile... (Caroline olha para a travessa vazia sobre a mesa
e fica possessa com a amiga) Parece que alguém vai se arrepender de ter
nascido...
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