08/02/2018

GATA FATAL/ CENA 5

Thaís está enrolada sob as cobertas da sua cama e acaba se assustando com a presença de Caroline, vestida com um macacão preto e com os cabelos amarrados por uma “presilha” vermelha e prata.
THAÍS: Que susto! Quanto tempo faz que você tá aí?
CAROLINE: O suficiente, meu bem.
THAÍS: Menina, mas que roupa é essa, hein? Vestida pra matar!
CAROLINE: Acertou em cheio.
THAÍS: Algum encontro em especial?
CAROLINE: Pra mim, não. É o seu com a morte.
THAÍS: Como assim? O que você quer dizer?
CAROLINE: Você não sente nenhum remorso de ter traído minha amizade dessa forma, não, Thaís?
THAÍS: Mas o que foi que eu fiz?
CAROLINE: Aproveita que eu tô de ótimo humor e para de me testar. Quem sabe assim eu não te deixe viva por mais tempo?
THAÍS: Caroline, o que é que te deu? Por que é que você acha que eu...
CAROLINE: Cala a boca!
O cenário se alterna com Luiz Carlos na varanda da agência, chorando ao pensar em Caroline.
(Fundo musical: “Deus me livre”- “te amo, mas vivo a fugir desse amor/ não dá pra ficar cara a cara”)
THAÍS: Por que você resolveu ficar agressiva comigo desse jeito?
CAROLINE: E ainda pergunta?
THAÍS: Mas o que foi que eu te fiz?
CAROLINE: Naquele dia, na praia, eu te falei que eu cobro quem tentar tirar o que me pertence. E você me ignorou mais do que áudio do WhatsApp!
THAÍS: Caroline, você bebeu?
CAROLINE: Uísque, e um pouco de sorvete pra me dar coragem de acabar com você, traíra!
THAÍS: Isso tudo por quê? Porque eu comi a lasanha que você fez?
CAROLINE: Isso! Admite, Thaís! Pelo menos vai pro além com um restinho de dignidade!
THAÍS: Você sabe que eu sou louca por lasanha!
CAROLINE: Você é louca por qualquer coisa que seja comestível! Mas daí a tocar na travessa que eu recheei é demais!
THAÍS: Realmente, você quer que eu acredite que você ia comer tudo sozinha?
CAROLINE: Ia! Mas a questão não é essa, é que eu não posso confiar mais em você! E o que você fez contra mim não vai ficar impune...
THAÍS: Ah, para de palhaçada, Caroline! (levanta da cama) Na certa, você deixou aquela lasanha pronta e não comeu imediatamente porque deve ter tido mais um encontro com Luiz Carlos. Quem sabe o que foi que...
CAROLINE: Pode parar! Pra você não interessa o que possivelmente aconteceu entre mim e ele. Isso não é justificativa pro que você fez.
THAÍS: Do jeito que você fala, parece até que eu cometi um crime.
CAROLINE: Trair a minha confiança é inafiançável!
THAÍS: Vai me punir por isso, amiga? Por causa de uma lasanha?
CAROLINE: Pode apostar que vou!
THAÍS: Então, me fala: como é que você vai se vingar de mim? Por acaso vai pegar uma faca pra me matar?
CAROLINE: Lógico que não. (Caroline desamarra os cabelos e revela a “presilha” que segurava seus fios, apontando-a para Thaís) Prefiro adagas.
THAÍS: Abaixa isso, Caroline.
CAROLINE: Me dá um bom motivo.
THAÍS: Nós somos praticamente amigas de infância, esqueceu?
CAROLINE: Eu te pedi um bom motivo.
THAÍS: Pensa na tua carreira, que tá só começando. Você não vai querer jogar tua trajetória no lixo por minha causa!
CAROLINE: Será que não vou?
THAÍS: Já te pedi; abaixa essa adaga, Caroline!
CAROLINE: Se eu não usar a adaga, você vai acabar voando pela janela desse andar, que é o último. Qual é o menos doloroso pra você?
THAÍS: Quer parar de se comportar feito uma psicopata?
CAROLINE: Não, eu não vou rasgar sua cara com frieza. É com requintes de crueldade mesmo. Me chama de sociopata, que é mais apropriado pra ocasião.
THAÍS: Tá ficando doida?
CAROLINE: Bom, aí já entramos em outra patologia, minha querida.
THAÍS: Socorro! Alguém me ajuda, tem uma doida no meu quarto tentando me matar!
CAROLINE: Gritando pra quê? Pra aumentar mais o meu ódio e eu te mandar pro inferno sem escalas? Sabe que teve uma vez que eu quase matei uma amiga minha chamada Fernanda porque ela tava gritando do meu lado? Odiar de graça é bom, mas quando alguém dá motivo é fascinante.
THAÍS: Típico comportamento de uma pessoa de aquário...
CAROLINE: Fala do meu signo de novo que você vai fazer meu mapa astral do além!
THAÍS: Ah, vá! Quem me garante que você ficou doida de vez e que vai me matar? Quem tem a raiva que você supostamente tá sentindo não fica alardeando que vai matar. Mata e ponto! Você não mata nem a barata da vizinha que tá na minha cama!
CAROLINE: Boa ideia. Chega de perder tempo! (avança contra Thaís)
THAÍS: Socorro! (Thaís joga o abajur do quarto contra Caroline antes de fugir do apartamento, mas a modelo novata desvia e corre atrás da veterana. Thaís aperta várias vezes o botão do elevador até que a nova rival chegue para atacá-la com a adaga, sendo segurada pela antiga funcionária da Bacurinha’s Vintage)
CAROLINE: Aonde é que você pensa que vai?
THAÍS: Me solta, Caroline! Eu vou chamar a polícia! (Thaís se aproxima da escada de emergência)
CAROLINE: Esse filme não tem nem figurante, quanto mais policial!
THAÍS: Comi! Comi sua lasanha, sim, e daí? Vai me jogar daqui de cima, sua louca?
CAROLINE: E não é isso que você merece?
THAÍS: Caroline, me larga! (Thaís empurra Caroline para o chão, mas ela acaba se desequilibrando e rolando a escadaria do prédio aos gritos)
(Fundo musical: “Skyline pigeon”- “fly away! Skyline pigeon, fly! Toward the dreams you’ve left so very far behind”)
Neste momento, aparece Luiz Carlos jogado ao chão da agência enquanto aparece a legenda dos versos, em paralelo com a queda de Thaís.
(legenda: “voe longe! Pombo do horizonte, voe! Em direção aos sonhos que há muito tempo deixou pra trás”)
A cena volta para o prédio no qual as modelos moram. Caroline inclina a cabeça longe de onde está Thaís para ver se a moça está desacordada.

CAROLINE: Que frustração... Caiu feito uma jaca podre sozinha, sem a minha ajuda. Fazer o quê? Cada um saboreia o que pode. Você, a minha lasanha. E eu, a minha doce vingança. (começa a rir ao lado de uma das janelas do corredor quando, repentinamente, luzes de carros policiais indicam que cercaram) Por que eles sempre aparecem quando ninguém chama, hein?

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