APRESENTADOR:
Ainda no Colégio Escolha, você atuou em outra obra sua. Seria uma estratégia se
colocar no elenco dos próprios filmes?
THIAGO: Pagar
mico não é e nunca vai ser estratégia, é acidente de percurso mesmo.
APRESENTADOR:
Soube que seu personagem se chamava Caíque.
THIAGO: Tá
certo. Ele se chamava. Porque o resto do elenco nunca citou o nome dele.
APRESENTADOR:
O que ele fazia na história?
THIAGO: No
roteiro, o Caíque aparecia numa das festas e tentava conquistar a protagonista,
e depois levava um toco. Mas não tínhamos verba pra providenciar duas festas.
Inclusive, a que fizemos foi regada a muito pagode dos anos 2000, sendo que a
trama se passava em 1988. E ele não estava.
APRESENTADOR:
Então, como é que ele entrou no curta?
THIAGO: A
história era sobre uma garota tímida que mudava o visual pra tentar fisgar o
maior pegador da escola.
APRESENTADOR:
Já vi isso em algum lugar...
THIAGO: Em
todos. Mas ela fica grávida e não recebe o apoio de ninguém. Quando questionava
o que deveria fazer, as pessoas aconselhavam que ela deveria abortar.
APRESENTADOR:
Você é a favor dessa questão?
THIAGO: Só se
for do mau humor. Gente eu gosto de deixar viva. Mas enfim... A melhor amiga da
protagonista deveria, numa cena séria, argumentar que tirar o bebê era o melhor
a se fazer. Mas aí...
KARINE: “Amiga,
eu fiquei sabendo do que aconteceu. Tu ‘tá’ grávida, né? Tu ‘vai’ abortar, não
vai?”.
TICIANE: “Eu
não sei, eu tenho que pensar bem no que é que eu vou fazer ainda”...
KARINE: (com
um tom de animação) “Aborta, mulher! Tu ‘vai’ perder as festas, ‘vai’ perder os
gatinhos?”.
TICIANE: “É...
É mesmo, né?”.
KARINE: “É!”.
JÚLIA: Gente,
o que é que foi isso?
THIAGO: Assim...
Eu acho que a cena não era pra ser desse jeito, não. Eu vou explicar como é. “Marina,
eu fiquei sabendo do que aconteceu. É verdade que você tá grávida?”.
TICIANE: “É”.
THIAGO: “E
agora? O que é que você vai fazer?”.
TICIANE: “Não
sei. Meu pai disse que vai me tirar de casa se eu não abortar. E o canalha do
meu ex disse que não quer esse bebê”.
THIAGO: “Você
quer que eu diga o que eu penso?”.
TICIANE: “Fala”.
THIAGO: “Sinceramente,
eu acho que não vale a pena seguir com essa gravidez. Pensa comigo: como é que
você vai cuidar de uma criança que você não quer, ainda mais sem a ajuda de
ninguém?”.
TICIANE: “Eu
não sei. Juro pra você que eu não sei”.
THIAGO: “Seu
pai não quer esse bebê, o Max também não... Será que vale a pena lutar contra o
mundo todo pra ter uma criança que você nunca quis? Pensa no que eu tô te
falando. Tenho certeza de que você vai tomar a melhor decisão”.
APRESENTADOR:
O Caíque, então, apareceu por improviso?
THIAGO: Eu
disse que meus textos da adolescência eram cultos demais, todo mundo lia o
roteiro e inventava alguma cena baseada nele. Mas o “pai” do Caíque foi o Téo,
que filmou meu ensaio sem que eu visse.
APRESENTADOR:
Téo não era o protagonista do filme anterior?
THIAGO: Sim,
e eu tentei repetir o par romântico colocando pitadas de sensualidade dessa
vez. Mas Ariadne tava comprometida com o vestibular da Covest e com outro
projeto de maior relevância, que explicarei logo mais.
APRESENTADOR:
Bom, pelo menos sabemos que você não deu um vexame cênico, uma vez que você
escreveu o roteiro.
THIAGO: Como
a cena do conselho se passava na casa da mocinha e nós gravamos no Colégio
Escolha por falta de verba, eu não poderia aparecer de farda. Isso explica o
fato de eu ter exibido meus músculos braçais em cena, sem o menor
constrangimento.
(fundo
musical: “O homem ideal”- “não precisa ser o Alain Delon/ não, não precisa ser
tão lindo assim”)
Thiago
relembra a gravação da cena, em que estava de regata, revelando parte de seu
corpo raquítico.
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