(fundo
musical: “Coisas do Brasil (DJ Ippocratis (Grego) Bournellis e Julinho Mazzei
remix)”)
A ação é
transferida para o Colégio Escolha, no qual o personagem principal estudou
durante a sua adolescência.
THIAGO: Eu elaborei
um roteiro de um curta-metragem chamado “Diário de um dependente” e mostrei a
algumas meninas. Uma delas, em especial, me deu uma ideia inusitada.
ARIADNE: Você
vai chamar Téo, da turma B, pra participar do filme?
THIAGO: Olha,
eu não pensei nele, não. Pra ser sincero, eu ainda nem sei quem vai fazer o
papel principal, se o filme rolar.
ARIADNE: Eu
tô interessada em participar, mas com uma condição.
THIAGO: Sério?
Qual?
ARIADNE: Que
você escale esse menino pra fazer qualquer papel no filme, e que eu seja a
namorada dele.
APRESENTADOR:
Ela deu essa condição?
THIAGO: Deu.
APRESENTADOR:
É claro que o cara não topou fazer...
THIAGO: Muito
pelo contrário: aceitou na hora, e eu perguntei se tinha problema de ele fazer
um coadjuvante que apareceria em uma cena só beijando a menina da minha turma.
Ele quis saber quem era e soltou um:
TÉO: Tá de
boa.
APRESENTADOR:
Quando vamos chegar à parte em que você atuou no seu próprio filme?
THIAGO: Deixa
da tua agonia!
APRESENTADOR:
Desculpe.
THIAGO: Vendo
a empolgação dela em fazer o curta, escrevi uma cena de festa onde o
protagonista conhece um menino que lhe oferece um cigarro suspeito. Ela estaria
nessa festa com o cara, que seria o namorado dela.
APRESENTADOR:
“Estaria”?
THIAGO: Teve
um detalhe que quase a fez desistir de contracenar com ele: o nome que eu
inventei.
ARIADNE: Vitório?
O que te faz achar que eu vou beijar um cara chamado Vitório?
THIAGO: Desculpa,
foi o primeiro nome que eu pensei.
ARIADNE: Pois
eu me recuso a beijar um homem que tenha esse nome! Se ainda fosse Lucas,
Rafael, William, tudo bem... Mas Vitório? Nem que me pague!
THIAGO: O
pagamento era um ponto na média, mas tudo bem.
APRESENTADOR:
E você mudou o nome do personagem?
THIAGO: Nem
precisei. Como não havia aquela fila enorme de atores, a diretora do filme
escalou Téo pra fazer o protagonista. Isso não impediu que meu roteiro fosse
visto pelo próprio elenco como algo que precisava ser popularizado. Uma vez,
Ariadne e Tavinho, outro menino da turma que participaria do curta, começaram a
achar que meu roteiro era culto demais.
APRESENTADOR:
Por que essa impressão?
THIAGO: Bem,
é que... Eu escrevi uma cena em que os dois descobrem que o mocinho tá usando
coisas ilícitas.
APRESENTADOR:
E o que tem de culto nisso?
Thiago lembra
quando estava entre Tavinho e Ariadne em plena sala de aula, com os dois lendo
o roteiro.
ARIADNE: Olha
só essa cena, Tavinho, pra gente ensaiar.
TAVINHO: Cadê?
ARIADNE: “Eduardo,
você já percebeu que o Fábio está diferente comigo?”.
TAVINHO: “Diferente,
Gabriela? Diferente como?”.
ARIADNE: “Diferente,
não; indiferente. O comportamento dele está muito estranho. Ele não quer mais
conversar comigo e agora deu para andar com aquela turma esquisita da outra
sala”.
TAVINHO: Ӄ
verdade, eu também percebi isso. Eu já procurei o Fábio na casa dele e ele
nunca está, já liguei várias vezes pro celular dele e ele não atende... Eu não
sei o que está acontecendo com ele. E quando ele soube daquele cara que morreu,
então?”.
ARIADNE: “Mas
por quê isso?”.
TAVINHO: “Sei
lá, mas nós temos que arrumar uma maneira de ajudar o Fábio”.
ARIADNE: Gabriela
e Eduardo encontram Fábio tentando se jogar de uma ponte e correm para
impedi-lo. “Não, Fábio! Não faz isso”... Faz a voz do Fábio também, Tavinho.
TAVINHO: “Me
deixem em paz, eu quero me atirar!”.
ARIADNE: “Não,
Fábio! Não faz isso, por favor! Fábio, me explica o que está acontecendo com
você!”.
TAVINHO: “Eu
estou usando drogas!”.
ARIADNE: “O
que foi que você disse?”.
TAVINHO: “Que
eu estou usando drogas, me larga”. E Fábio saiu correndo.
ARIADNE: “Eu
não acredito que nós o deixamos escapar!”.
TAVINHO: “E
agora, Gabriela? O que nós vamos fazer?”.
ARIADNE: “Droga”...
TAVINHO: Tem
que mudar isso aí, velho...
ARIADNE: Vamos
mudar o texto?
TAVINHO: Agora!
ARIADNE: “Edu,
você sacou que o Fábio tá diferente comigo?”.
TAVINHO: (dá
um safanão no braço de Ariadne e grita) “Diferente como, (CENSURADO!)?”.
ARIADNE: “Diferente,
não; indiferente (muda o tom de voz). Ele tá muito esquisito”.
TAVINHO: “Verdade,
ele tá um (CENSURADO!) mesmo!”.
ARIADNE: Gabriela
e Eduardo encontram Fábio tentando se jogar de uma ponte e correm para
impedi-lo.
TAVINHO: “Tu
tá doido, é, miséria? Faz isso, não”! Agora você faz a voz do Fábio.
ARIADNE: “Me
deixa, cara, eu quero morrer...”.
TAVINHO: “Então,
se mata logo, desgraça!”.
ARIADNE: “Fábio,
o que é que tá rolando com você, doido?”. “Eu tô me drogando, velho!”. “É o
quê?”. “Eu tô me drogando, me solta!”. “Volta aqui, filho da (CENSURADO!)”!
TAVINHO: “E
agora, Gabi? O que a gente vai fazer?”.
ARIADNE: “Nessas
horas, eu só consigo dizer uma frase: ‘que (CENSURADO!)’!”.
THIAGO: Fui
acusado, inclusive, de ter escrito uma cena de assalto tão cult que o ladrão praticamente implorava pra que a vítima lhe
concedesse o fruto do roubo.
APRESENTADOR:
Pare de enrolar e me conte como você se tornou figurante.
THIAGO: A
diretora do filme resolveu chamar todo mundo que tava do lado de fora da sala
04 pra gravar uma cena em que o Fábio tava tão aéreo que pediu pra sair. Eu tava
do lado de fora.
APRESENTADOR:
Alguém te notou?
THIAGO: Fiquei
tão concentrado em abaixar a cabeça e fingir que tava estudando que não vi nada
da gravação dessa sequência.
APRESENTADOR:
Que salto maravilhoso esse de sua carreira, hein? Certamente sua terceira
passagem como alguém que não fala é o momento mais lembrado por todos os
profissionais envolvidos na produção.
THIAGO: Na
verdade, o que eu queria mesmo era ver o beijo.
APRESENTADOR:
De quem?
THIAGO: Dos
protagonistas. Foi a cena final do curta, e eu vi esse momento sendo gravado.
Na Praia do
Paiva, é mostrado Thiago segurando um rojão enquanto observa a cena do beijo.
ARIADNE: "Agora
você tá pronto pra começar uma nova história".
TÉO: "E sabe o
melhor de tudo? É que você vai estar comigo pra sempre".
(fundo
musical: “O beijo”- “um beijo/ teus beijos/ me fazem voar para o céu”)
Thiago solta
fogos assim que o beijo técnico se concretiza.
APRESENTADOR:
Deixa eu ver se eu entendi: você encerrou um curta-metragem sobre drogas com
essa música?
THIAGO: Não.
Terminei com essa:
(fundo
musical: “Evidências”- “e nessa loucura/ de dizer que não te quero/ vou negando
as aparências/ disfarçando as evidências”)
Thiago solta
fogos novamente.
THIAGO: Mas
minha eterna vocação pro flop fez com
que essa cena do beijo simplesmente se perdesse na ilha de edição.
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