APRESENTADOR:
Muito bem. Agora você poderia contar tudo sobre o seu último personagem?
THIAGO: Claro
que posso. Foi assim...
APRESENTADOR:
Só um minutinho. Vamos para um novo intervalo comercial e já, já voltamos com
mais...
THIAGO: O
filme tá quase no fim. Não estraga o roteiro.
APRESENTADOR:
Tudo bem. Você voltou à figuração?
THIAGO: Sim,
e dessa vez foi num filme universitário.
APRESENTADOR:
Como você entrou no elenco?
THIAGO: De
uma maneira bem doida, pra falar a verdade.
APRESENTADOR:
Por que não estou surpreso?
THIAGO: Um
amigo meu, que era estudante de Arqueologia, participava de um grupo que
mostrava vagas para atuações em produções cinematográficas bancadas por alunos
da universidade.
APRESENTADOR:
O que leva um estudante desse curso a procurar oportunidades no cinema?
THIAGO: Não
querendo ser ríspido, mas isso você tem que perguntar pra ele.
APRESENTADOR:
Certo... Continue.
THIAGO: Eu
entrei na página e vi que tavam procurando atores entre dezessete e vinte anos
pra protagonizar um filme.
APRESENTADOR:
Quantos anos você tinha na época?
THIAGO: Vinte
e dois.
APRESENTADOR:
E foi pro teste mesmo assim?
THIAGO: Sim,
porque meu professor de Teoria da Literatura disse que a gente tem que
aproveitar enquanto é jovem e feliz. A minha cara na época era de jovem.
APRESENTADOR:
Vamos fingir que acreditamos nisso.
THIAGO: Pois
então... Eu fui ao local do teste e meti a mão na porta, sem saber que tava
rolando com outra pessoa. A minha saga de micos começou aí.
APRESENTADOR:
“A saga de micos deste filme”, vamos deixar bem claro.
THIAGO: E eu
imaginei que seria uma experiência marcante. Tava certo. Claro que existe um
nível maior de comprometimento, já que se trata de uma faculdade. E a gente
tava bem equilibrado entre iniciantes e atores de verdade. Meu caso claramente
não era o segundo.
APRESENTADOR:
O resultado demorou pra sair?
THIAGO: Levou
uns treze dias. Na tarde de dez de dezembro de 2014, o meu celular tocou de uma
maneira bem discreta.
(fundo
musical: “Telefone toca”- “telefone toca/ toca nem que seja pra dizer ‘alô’/
‘alô?’”)
APRESENTADOR:
E quem foi que te chamou ao telefone?
THIAGO: Olha...
(dubla os primeiros versos de “Brincar de viver”) Quem me chamou foi a pessoa
responsável pela direção do curta-metragem.
DIRETOR: Nós
analisamos o seu teste e decidimos que o papel do protagonista quem vai fazer é
outra pessoa. Mas nós estamos precisando de integrantes pra figuração. Você se
interessa?
APRESENTADOR:
Até consigo imaginar sua reação quando soube quem estava ligando pra te
informar do resultado...
(fundo
musical: “Mil vezes mil”- “vai/ vai que o futuro agora é teu/ vem”)
Num rápido
momento de divagação do apresentador, Thiago corre em direção ao Troféu
Imprensa, mas tropeça em uma pedra e vai ao chão.
THIAGO: Você
sabe que Troféu Imprensa não premia envolvidos em filmes, né?
APRESENTADOR:
Verdade, eu esqueci. Mas me conta o que te levou a topar ser parte da
figuração.
THIAGO: Uma
palavra mágica que ouvi quando fui fazer o teste.
APRESENTADOR:
“Cachê”?
THIAGO: Pensei
nisso também, mas foi “TCC”. Tinha acabado de passar por isso e sei o quanto é
difícil arrumar gente que tope te ajudar. Porque TCC é tipo o Mestre dos Magos
da “Caverna do Dragão”: quando você precisa de alguém, esse alguém some.
APRESENTADOR:
As gravações foram boas?
THIAGO: Ótimas.
Minha primeira cena foi a primeira do cenário principal, o Colégio Farofa.
APRESENTADOR:
Não quer realmente me convencer de que este era o nome do colégio?
THIAGO: Quero,
sim. E foi nessa cena em que eu me deparei com o desgraçado do improviso. Tinha
que inventar uma coisa pra falar com o menino que tava na minha frente. Como
sou viciado em ver “Sai de baixo”, falei uma frase da Magda pra ter assunto.
APRESENTADOR:
Não restam duvidas de que você foi o alívio cômico dos bastidores.
THIAGO: Acreditava
nisso antes do primeiro dia de gravação, quando conheci uma atriz que dançava
loucamente em frente ao banheiro do Farofa.
(fundo
musical: ”A roda”- “vamos abrir a roda/ enlarguecer/ vamos abrir a roda/
enlarguecer”)
Estupefato, Thiago vê a mencionada atriz fazendo uma coreografia incomum
enquanto cantava a canção de Sarajane.
APRESENTADOR:
Qual foi a principal dificuldade na construção do personagem?
THIAGO: Acostumado
ao modus operandi do personagem
anterior, que era apresentador de web
show, eu olhava pra câmera sempre que tinha oportunidade. E travei quando
tive que olhar pra ela de propósito.
APRESENTADOR:
Propositalmente?
THIAGO: Houve
uma cena em que eu tinha que lançar um olhar de estranhamento e repulsa pro
protagonista. Mas nós tínhamos que fingir que estávamos vendo o ator que havia
sido escalado, quando estávamos olhando pro diretor com a câmera na mão.
APRESENTADOR:
No que você pensou pra fazer esse olhar?
THIAGO: Então...
Thiago passa a lembrar-se das vinhetas do “Plantão da Globo”.
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