08/02/2019

COMO NASCEM OS ATOR(DOADOS)/ CENA 6


APRESENTADOR: Muito bem. Agora você poderia contar tudo sobre o seu último personagem?
THIAGO: Claro que posso. Foi assim...
APRESENTADOR: Só um minutinho. Vamos para um novo intervalo comercial e já, já voltamos com mais...
THIAGO: O filme tá quase no fim. Não estraga o roteiro.
APRESENTADOR: Tudo bem. Você voltou à figuração?
THIAGO: Sim, e dessa vez foi num filme universitário.
APRESENTADOR: Como você entrou no elenco?
THIAGO: De uma maneira bem doida, pra falar a verdade.
APRESENTADOR: Por que não estou surpreso?
THIAGO: Um amigo meu, que era estudante de Arqueologia, participava de um grupo que mostrava vagas para atuações em produções cinematográficas bancadas por alunos da universidade.
APRESENTADOR: O que leva um estudante desse curso a procurar oportunidades no cinema?
THIAGO: Não querendo ser ríspido, mas isso você tem que perguntar pra ele.
APRESENTADOR: Certo... Continue.
THIAGO: Eu entrei na página e vi que tavam procurando atores entre dezessete e vinte anos pra protagonizar um filme.
APRESENTADOR: Quantos anos você tinha na época?
THIAGO: Vinte e dois.
APRESENTADOR: E foi pro teste mesmo assim?
THIAGO: Sim, porque meu professor de Teoria da Literatura disse que a gente tem que aproveitar enquanto é jovem e feliz. A minha cara na época era de jovem.
APRESENTADOR: Vamos fingir que acreditamos nisso.
THIAGO: Pois então... Eu fui ao local do teste e meti a mão na porta, sem saber que tava rolando com outra pessoa. A minha saga de micos começou aí.
APRESENTADOR: “A saga de micos deste filme”, vamos deixar bem claro.
THIAGO: E eu imaginei que seria uma experiência marcante. Tava certo. Claro que existe um nível maior de comprometimento, já que se trata de uma faculdade. E a gente tava bem equilibrado entre iniciantes e atores de verdade. Meu caso claramente não era o segundo.
APRESENTADOR: O resultado demorou pra sair?
THIAGO: Levou uns treze dias. Na tarde de dez de dezembro de 2014, o meu celular tocou de uma maneira bem discreta.
(fundo musical: “Telefone toca”- “telefone toca/ toca nem que seja pra dizer ‘alô’/ ‘alô?’”)
APRESENTADOR: E quem foi que te chamou ao telefone?
THIAGO: Olha... (dubla os primeiros versos de “Brincar de viver”) Quem me chamou foi a pessoa responsável pela direção do curta-metragem.
DIRETOR: Nós analisamos o seu teste e decidimos que o papel do protagonista quem vai fazer é outra pessoa. Mas nós estamos precisando de integrantes pra figuração. Você se interessa?
APRESENTADOR: Até consigo imaginar sua reação quando soube quem estava ligando pra te informar do resultado...
(fundo musical: “Mil vezes mil”- “vai/ vai que o futuro agora é teu/ vem”)
Num rápido momento de divagação do apresentador, Thiago corre em direção ao Troféu Imprensa, mas tropeça em uma pedra e vai ao chão.
THIAGO: Você sabe que Troféu Imprensa não premia envolvidos em filmes, né?
APRESENTADOR: Verdade, eu esqueci. Mas me conta o que te levou a topar ser parte da figuração.
THIAGO: Uma palavra mágica que ouvi quando fui fazer o teste.
APRESENTADOR: “Cachê”?
THIAGO: Pensei nisso também, mas foi “TCC”. Tinha acabado de passar por isso e sei o quanto é difícil arrumar gente que tope te ajudar. Porque TCC é tipo o Mestre dos Magos da “Caverna do Dragão”: quando você precisa de alguém, esse alguém some.
APRESENTADOR: As gravações foram boas?
THIAGO: Ótimas. Minha primeira cena foi a primeira do cenário principal, o Colégio Farofa.
APRESENTADOR: Não quer realmente me convencer de que este era o nome do colégio?
THIAGO: Quero, sim. E foi nessa cena em que eu me deparei com o desgraçado do improviso. Tinha que inventar uma coisa pra falar com o menino que tava na minha frente. Como sou viciado em ver “Sai de baixo”, falei uma frase da Magda pra ter assunto.
APRESENTADOR: Não restam duvidas de que você foi o alívio cômico dos bastidores.
THIAGO: Acreditava nisso antes do primeiro dia de gravação, quando conheci uma atriz que dançava loucamente em frente ao banheiro do Farofa.
(fundo musical: ”A roda”- “vamos abrir a roda/ enlarguecer/ vamos abrir a roda/ enlarguecer”)
Estupefato, Thiago vê a mencionada atriz fazendo uma coreografia incomum enquanto cantava a canção de Sarajane.
APRESENTADOR: Qual foi a principal dificuldade na construção do personagem?
THIAGO: Acostumado ao modus operandi do personagem anterior, que era apresentador de web show, eu olhava pra câmera sempre que tinha oportunidade. E travei quando tive que olhar pra ela de propósito.
APRESENTADOR: Propositalmente?
THIAGO: Houve uma cena em que eu tinha que lançar um olhar de estranhamento e repulsa pro protagonista. Mas nós tínhamos que fingir que estávamos vendo o ator que havia sido escalado, quando estávamos olhando pro diretor com a câmera na mão.
APRESENTADOR: No que você pensou pra fazer esse olhar?
THIAGO: Então...
Thiago passa a lembrar-se das vinhetas do “Plantão da Globo”.

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