23/01/2020

CATCH BACK/ EPISÓDIO 4


CENA 1

VLAVIANO: Por que é que o Vlad roubou a minha carteira? O que é que esse garoto quer de mim? Eu não me lembro dele ter entrado no meu quarto e pego essa carteira... Alguém tá tentando me prejudicar e mandou esse moleque pra me tirar do eixo. Mas o que eu devo ter feito pra que...
O desempregado tem uma recordação acerca do que viu na TV.
APRESENTADOR: Depois do intervalo: supostas vítimas de intoxicação na sede da empresa farmacêutica Pharmanveres prestam queixa à polícia civil.
VLAVIANO: Maria Clara Anveres? Será que essa mulher é a resposta pra esse mistério envolvendo o tal de Vlad? Eu vou tirar essa história a limpo com a dona da Pharmanveres. Alguma explicação ela vai ter que me dar.
Encerrada a lembrança, o personagem ainda é vsito na rua com a carteira.
VLAVIANO: Se as vítimas têm alucinações como disse a reportagem, então esse garoto é fruto da minha imaginação. E essa carteira só pode ter sido eu quem pegou, ninguém mais tem acesso ao meu apartamento. Vou falar com essa Maria Clara agora mesmo.
Nick deixa o prédio para almoçar.
NICK: Nem pense que vai encontrar a Srta. Anveres por aqui.
VLAVIANO: Aqui é o trabalho dela, não é?
NICK: Trabalho? Só se for meu, porque da Maria Clara isso aqui é um playground. Mas ela foi a uma reunião de negócios e não tem previsão que ela volte hoje. Você é fornecedor?
VLAVIANO: Volto depois.
(fundo musical: “À francesa (Extended club mix)”- “se eu te peço pra ficar ou não/ meu amor, eu lhe juro”)
NICK: Tomara que seja. Pelo menos vai ser mais um prejuízo pra conta da indestrutível de Taubaté.

(ABERTURA)

CENA 2

(fundo musical: “Adrenalizou (Gabe Pereira remix)”- “montanha-russa, paraquedas/ salto na atmosfera/ só assim pra te sentir chegar”)
O celular de Maria Clara toca enquanto ela está trabalhando na empresa.
MARIA CLARA: Alô?
IVAN: Tá podendo falar?
MARIA CLARA: Tô sempre ocupada, quem é?
IVAN: Como “quem é?”? Sou eu, Clara.
MARIA CLARA: Ivan... Me surpreende muito que você tenha me ligado. O que aconteceu?
IVAN: Eu não seria Ivan Lemgruber se desistisse tão fácil de você. Liguei pra te fazer um convite.
MARIA CLARA: Já estivemos juntos no Amazing, meu querido. Sair não é uma boa ideia. Ainda mais pros seus planos.
IVAN: E quais seriam os meus planos?
MARIA CLARA: Me convencer a te namorar.
IVAN: Não, namorar é uma palavra muito forte. Digamos que nós temos uma espécie de catch back há uma década.
NARRADOR: “CATCH BACK”: escrito erroneamente na web como “ketchback”, é um relacionamento sem rótulo.
MARIA CLARA: Aham. E a próxima fase é transformar esse rolo em namoro...
IVAN: Não, é te fazer a mulher da minha vida. Quer dizer, colocar isso na sua cabeça, porque esse posto você já assumiu há muito tempo.
MARIA CLARA: Foi bom você ter ligado, Ivan. Eu quero que você me desculpe pela forma como eu me portei no restaurante.
IVAN: Digamos que o meu perdão é condicional. Vai ser concedido se você topar ir ao karaokê comigo.
MARIA CLARA: Nossa! Sabe há quanto tempo eu não escuto essa palavra?
IVAN: Lembra como a gente se divertia, no começo da faculdade, indo pra aquele point que fica duas quadras atrás da universidade?
MARIA CLARA: Quer que eu esqueça?
IVAN: De jeito nenhum.
MARIA CLARA: Ivan, o que foi que te deu pra ter essa ideia assim, tão repentinamente?
IVAN: Confesso que não foi minha. Mas acho importante executá-la.
MARIA CLARA: Às nove, está bom pra você?
IVAN: Perfeito.
MARIA CLARA: A gente se vê lá, então.
IVAN: Um beijo.
MARIA CLARA: Outro pra você. E obrigada pelo convite.
Nick entra na sala de sua patroa com uma prancheta.
NICK: Que carinha é essa, Maria Clara?
MARIA CLARA: De felicidade, eu sei que não é, porque estou mais tensa que a Praça dos Três Poderes, em Brasília. Mas é de alívio.
NICK: Alguma novidade a respeito do escândalo?
MARIA CLARA: Não. Ivan me convidou pra ir hoje ao karaokê que a gente frequentava no início da graduação.
NICK: Dá pra entender agora. Olha, você sabe que eu não sou de me meter na sua vida pessoal, mas...
MARIA CLARA: Que é isso, Nick? Nós somos amigas desde sempre. Não é porque você é minha subordinada que eu deixo de levar em consideração o que você me diz.
NICK: No meio desse caos que tá a sua vida, essa volta do Ivan é benéfica.
MARIA CLARA: Tá querendo dizer o quê com isso?
NICK: Dá uma oportunidade. Vive essa paixão da maneira mais intensa que você puder.
MARIA CLARA: Pena que esse sentimento não resolva as turbulências da minha vida profissional, não é?
NICK: Não se pode ter tudo, Maria Clara.
MARIA CLARA: O problema está aí. Eu quero tudo.

CENA 3

(fundo musical: “Perigo (Dallass remix)”- “E ela me bota em perigo, eu amo adrenalina/ o bonde, ela mal sabia que eu era da vida”)
Enquanto a canção toca, Paloma ouve o que lhe contam ao celular, aparentando incredulidade.
PALOMA: Que mentira é essa que tu tás me contando? Repete! Você me ligou pra contar que... A Maria Clara recebeu um convite do Ivan pra ir ao karaokê? O homem não me quer, mas usa a minha ideia com outra? Deixe estar. O encontro deles, se depender de mim, vai durar menos do que o cruzeiro real! Que é que eu vou fazer? Uma intervenção, é claro. Só que os detalhes eu não vou te contar. Não, nem adianta reclamar. De qualquer jeito, você vai acabar sabendo mesmo. A cara de insatisfação da manauara dos infernos vai ficar estampada cada vez que ela andar pelos corredores da empresa.

Estamos apresentando “Catch back”.
(fundo musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance mania”)

NARRADOR: Misteriosa, perigosa, criminosa, gostosa... Não existe adjetivo que possa definir essa mulher.
CAROLINE: Psicopata, sociopata, doida, escalafobética... A ciência não conseguiu me definir ainda. E o pior é que eu gosto. Agora, sai do volante e deixa que eu dirijo.
LUIZ CARLOS: E eu posso saber aonde você vai me levar?
CAROLINE: À loucura!
(fundo musical: “Riscos do amor”- “a gata agora alisa, arranha o sofá, afia as unhas pra atacar”)
CAROLINE: Quer ir?
NARRADOR: Mas basta que ela se sinta traída para conhecermos a sua verdadeira face.
THAÍS: Abaixa isso, Caroline.
CAROLINE: Me dá um bom motivo.
THAÍS: Nós somos praticamente amigas de infância, esqueceu?
CAROLINE: Eu te pedi um bom motivo.
NARRADOR: “Gata fatal”. Neste sábado, depois de “A madrugada é uma criança de colo”, no “Cine bane o privé”.
MARY: Aguarde por notícias minhas, Caroline! Porque eu não vou ter piedade!
CAROLINE: Quem tem Piedade é Jaboatão! Tirem essa louca daqui!

Voltamos a apresentar “Catch back”.
(fundo musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance mania”)

CENA 4

(fundo musical: “Tempo perdido (Anicio, Danne, Vipp Code remix)”- “e o que foi escondido ninguém escondeu/ e o que foi prometido ninguém prometeu”)
Ivan e Maria Clara já estão na mesa que fica próxima ao palco onde cantarão os participantes do karaokê.
IVAN: Fiquei com receio de que você não viesse.
MARIA CLARA: Mas você tem de concordar comigo, é um convite inusitado.
IVAN: Uma volta ao passado.
MARIA CLARA: Tem razão. Já decidiu o que vai cantar?
IVAN: A mesma pessoa que eu canto há dez anos: você.
(fundo musical: “Se a gente pode sonhar (Zerky remix)”- parte instrumental)
MARIA CLARA: Ainda bem que o jogo de luzes impede que você veja o quanto eu fiquei vermelha.
IVAN: Esquece. Eu ainda tô em dúvida sobre a minha música. Escolheu a sua?
MARIA CLARA: Obviamente, uma com a minha cara: “Fama”, da Beth Lamas. Não vejo a hora de cantar “money no bolso é tudo o que eu quero; money no bolso, saúde e sucesso”.
IVAN: Eu te trouxe aqui pra ver se você distraía a cabeça, esquecia um pouco os negócios... E tu vais cantar isso?
MARIA CLARA: Mais uma reprimenda contra mim e eu decido capar o gato, Ivan.
NARRADOR: “CAPAR O GATO”: ir embora;
IVAN: Não tá mais aqui quem falou.
O apresentador do local sobe ao palco, recebendo aplausos da plateia.
APRESENTADOR DO KARAOKÊ: Sejam muito bem-vindos ao nosso Kara-Karamba-Kara-Karaokê. E essa noite promete: vinte competidores em busca do nosso prêmio de trinta mil reais. Quem será que vai levar essa bolada pra casa?
MARIA CLARA: (pensa) Espero que seja eu, pra pagar os honorários dos meus advogados.
APRESENTADOR DO KARAOKÊ: E a nossa primeira participante é uma convidada ilustre, famosa no meio das celebridades e odiada na mesma intensidade. Com vocês, a apresentadora do “Chicoteando”, Paloma Oliveira.
Paloma recebe as palmas do público enquanto Maria Clara e Ivan ficam espantados com a presença da jornalista.
IVAN: O que é que a Paloma veio fazer aqui?
MARIA CLARA: Me instigar a ir pra casa mais cedo.
O instrumental da canção “Deixa viver” começa a ser executado. Paloma interpreta a canção diante de todos.
PALOMA: “Além desse deserto em frente à praia/ O fogo na floresta em frente a mim/ O sol ficou vermelho, amor; não saia/ Não saia; meu amor/ (ao perceber a afinidade entre o geógrafo e a empresária, aponta uma navalha para ambos enquanto sua voz adota um tom agressivo) No céu apareceu UMA NAVALHA”!

CENA 5

Sozinha no escritório de Maria Clara, Nick anota alguns recados para a patroa numa agenda.
NICK: Amanhã: coletiva de imprensa para esclarecimentos a respeito do Semancol, no saguão do Hotel... (ouve alguns zumbidos) Ah, que saco! Quando é que a Maria Clara vai chamar a dedetização, hein? Se bem que, do jeito que a empresa anda, ela vai ser largada às traças (tira da gaveta uma raquete elétrica).
Vlaviano entra na sede da Pharmaveres, um tanto abalado.
VLAVIANO: Cadê a Maria Clara Anveres?
NICK: Opa, calma aí, meu amigo! Cadê os seguranças que não te barraram?
VLAVIANO: Disse que eles seriam demitidos amanhã e foram procurar emprego. O desespero deste país já está lhes deixando de prontidão.
NICK: O que você quer?
VLAVIANO: Já falei: quero ver a Maria Clara agora.
NICK: Ela não está, foi ao karaokê com o pretendente.
VLAVIANO: Que maravilha... O mundo acabando e ela gastando a goela com homem!
NICK: Eu não me apresentei mais cedo, mas talvez eu possa te ajudar. Sou a secretária dela.
VLAVIANO: Então, me diz onde é que fica esse karaokê, porque eu vou até lá pra falar com essa mulher.
NICK: Posso saber quem é você, afinal?
VLAVIANO: Vlaviano Barroso, uma das cobaias do experimento que a Pharmanveres fez. E vim pra dizer na cara dessa fulana que minha vida virou um inferno depois que eu vim aqui.
NICK: Olha só, eu não tenho que dar satisfações da vida pessoal da minha chefe. E depois...
Vlaviano toma a raquete das mãos de Nick e lhe ameaça.
VLAVIANO: E depois, se não quiser que eu ataque você em vez desse bando de carapanã, você vai ligar pra Maria Clara agora e obrigar essa mulher a vir pra cá, se não quiser que eu chame a polícia!
NARRADOR: “CARAPANÔ: mosquito ou pernilongo.
NICK: Quem vai chamar a polícia sou eu, se você não capar o gato daqui!
VLAVIANO: Vocês fazem da minha vida um inferno e quem vai preso sou eu? A minha vida começou a desandar desde que eu coloquei meus pés aqui pra receber as doses do remédio que ela fez. Imagina se eu tivesse tomado as duas doses!
(fundo musical: “Meu bem (Gabe Pereira remix)”- parte instrumental)
NICK: Quer dizer que...
VLAVIANO: Uou! Não tá lembrando quem sou eu, não? A Maria Clara obrigou você a receber as cobaias no laboratório pra pagar o cachê e aplicar as doses de Semancol. Só que você disse que todo mundo tinha que tomar duas injeções.
NICK: E você tomou, não tomou?
VLAVIANO: Não. Eu fugi. Só tomei a primeira dose que você aplicou. Agora me explica: se eu fui embora antes dos outros, logo que você me deu o cachê pelo experimento, não era pra que eu tivesse nenhuma alucinação. Por que eu tenho, então? Me fala!
(fundo musical: “Puro êxtase (Sax in the house version)”)
A cena congela com Nick apavorada diante de Vlaviano.

(CRÉDITOS FINAIS)

(fundo musical: “Dias melhores (KVSH & Flow remix)- “melhores na dor/ melhores em tudo”)

(VINHETA DA JOGA FORA NO LIXO PRODUÇÕES)

CHAMADA

(fundo musical: “Dias e noites”- “viver algo novo/ tocar no seu rosto/ viver”)
NARRADOR: Próxima quinta- Paloma está disposta a acabar com a noite de Maria Clara e Ivan.
IVAN: Chibata essa bebida, hein? É feita de quê?
PALOMA: A única coisa que eu sei é o que dá pra fazer depois que a gente a bebe. Talvez a dança do acasalamento ao som de “Fêmea”, do Fábio Jr.
NARRADOR: Agora o geógrafo pode ficar mais próximo da jornalista do que ele realmente gostaria.
IVAN: OK... Eu bebi, perdi o controle, vim pra cá e apaguei. Já entendi isso. E essas roupas jogadas pelo chão, nós dois vestindo só esses lençóis? O que é que significa isso?
PALOMA: Como diria Ronnie Von: “significa”.
NARRADOR: Próxima quinta- “Catch back”.

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