05/03/2020

CATCH BACK/ EPISÓDIO 10


CENA 1

MARIA CLARA: Joga a escada!
IVAN: Não dá pra te ouvir direito!
MARIA CLARA: Joga a escada pro Vlaviano, eu vou aproximar o helicóptero da lancha!
VLAVIANO: (conversa com Vlad) Você vai me tirar daqui. Me desamarra antes que a bomba exploda.
PALOMA: Nunca! Eu não vou ficar viva pra mofar na cadeia, nem vou deixar a única testemunha da Maria Clara escapar!
VLAVIANO: Telesé? Tô falando contigo, não!
NARRADOR: “TELESÉ”: o mesmo que “tu és lesa, é?”.
PALOMA: (ouve o barulho do helicóptero) Será que é a polícia? (olha para o alto) Menos mal, é só a manauara dos infernos!
Entretanto, duas lanchas da polícia marítima aparecem ao lado do veículo comandado pela jornalista.
VLAD: Como é que eu vim parar aqui?
VLAVIANO: Só desata os nós da minha corda, e de boca fechada!
PALOMA: Ah, sim, porque eu tô muito disposta a te soltar. Vô mermo me entregar de bandeja pra justiça!
NARRADOR: “VÔ MERMO”: resposta irônica sobre algo que não se pretende fazer.
VLAD: Eu vou tentar!
VLAVIANO: Rápido, só falta um minuto pra bomba ser detonada!
PALOMA: O minuto mais longo da minha vida, mas vai valer a pena. Nunca que essa desgraçada vai conseguir provar a inocência dela. Nem que isso custe a minha própria vida!
VLAVIANO: Que não vale grande coisa, pode ter certeza. Agora, sim, eu tô falando com você.
MARIA CLARA: O que o Vlaviano tá fazendo?
IVAN: Parece que ele tá conseguindo se desamarrar!
VLAD: Pronto, te soltei! Agora como é que a gente foge daqui? Eu não sei nadar!
VLAVIANO: A escada! Vamos subir, e você me segue!
Vlaviano sobe à escada de cordas que Ivan arremessou, e Vlad vem atrás do escritor.
VLAD: Vai logo, só falta meio minuto!
Paloma agarra a perna de Vlaviano, mas este pensa que a vilã está impedindo o resgate do adolescente.
PALOMA: Não!
VLAD: Me solta!
PALOMA: Acabou pra você, Vlaviano!
MARIA CLARA: Puxa a escada pra cima, Ivan!
IVAN: Não dá, Clara! A Paloma tá segurando o Vlaviano!
VLAVIANO: (grita) Rápido com isso, a lesa quer manter o Vlad de refém!
MARIA CLARA E IVAN: (trocam olhares) Vlad?
PALOMA: Ela não vai me vencer, entendeu? Ninguém vai!
IVAN: Larga o Vlaviano agora, Paloma!
PALOMA: Você que me pede isso, Ivan? Logo você, que fez o meu amor virar brinquedo pra ti?
MARIA CLARA: A mulher tá tão desequilibrada que tá citando até música paraense pra justificar a loucura!
VLAD: Parece o Diego possuído pelo ritmo Ragatanga! Me larga!
Vlad chuta o ombro da jornalista, que bate a cabeça no piso da lancha e cai praticamente desacordada.
VLAVIANO: Faz de conta que eu fui submetido à harmonização facial e me puxa logo!
(fundo musical: “À francesa (Extended club mix)”- “passeando pelo mundo afora/ na cidade que não tem mais fim”)
Maria Clara afasta o helicóptero da lancha alugada por Paloma. A bomba-relógio mostra os seus últimos três segundos, detonando-se e destruindo a máquina marítima. A empresária, junto a Ivan, Vlaviano e Vlad, assiste à apavorante cena.

(ABERTURA)

CENA 2

Maria Clara está em terra firme, conversando com Ivan sob o céu que mostra que o dia já amanheceu.
MARIA CLARA: Já começaram as buscas.
IVAN: Você acha que ela sobreviveu?
MARIA CLARA: Tomara. Tô torcendo pra isso, pra que essa maldita seja encontrada e presa o mais rápido possível.
IVAN: Parece que o Vlaviano não tá nada bem depois desse sequestro. Não para de falar, e ainda por cima não diz coisa com coisa.
MARIA CLARA: Ele não tá falando sozinho. Tá com o Vlad.
IVAN: Mas ele não tá sob o efeito do Semancol... Ou será que tá?
MARIA CLARA: Deixa, Ivan. Essa situação toda, o Vlaviano quase morto, a polícia marítima caçando a Paloma... Isso mexe com todos nós.
VLAD: Nossa! Isso tudo aconteceu só porque eu apareci na tua vida? Tô besta!
VLAVIANO: Agora você entende a agonia que foi quando eu não sabia quem era o Vlad que me perseguia tanto.
VLAD: Você falou, falou e não tirou a minha dúvida maior.
VLAVIANO: Qual que é?
VLAD: Quando eu crescer eu vou ficar... Assim?
VLAVIANO: Assim como?
VLAD: Como você, ué!
VLAVIANO: Ah, já entendi: um adulto chato, né?
VLAD: Transmissão de pensamento. Tirou as palavras da minha boca. Mas esse é meu medo mesmo.
VLAVIANO: Olha só, você não precisa ter medo. Eu te entendo porque também queria ser bem diferente do que sou hoje. Sabe quais eram os meus sonhos? Casar cedo, ter uma casa em meu nome, fazer faculdade de medicina, atender como cardiologista...
VLAD: E não é mais?
VLAVIANO: Bem, é... Algumas vezes, a gente começar a mudar de sonhos; outras, a realidade nos obriga a parar de sonhar. É difícil ficar o resto da vida com a mentalidade que você tem hoje, Vlad.
VLAD: De que tudo é possível? Mas é. Se nada do que você esperava aconteceu, é porque o ruim era possível de acontecer. Como o bom também é, e vai ser pra sempre.
VLAVIANO: Concordo com você. Melhor dizendo: voltei a concordar comigo mesmo. Por isso eu vou te pedir pra ter um pouquinho de paciência comigo. Eu preciso e quero voltar a ser quem eu era. Obrigado por aparecer na minha vida e me dar o significado que eu precisava.
VLAD: O que é que você aprendeu comigo, Vlaviano? Tu estás na idade é de me ensinar.
VLAVIANO: Tá enganado, cara. Eu descobri que preciso ser mais você e me desprender de mim.
VLAD: Que lindo isso que você falou. Mas eu vou ficar contente mesmo quando eu voltar pro meu mundo. Será que a gente se encontra de novo?
VLAVIANO: Tomara que não. Mas acho que sei como fazer você retornar.
VLAD: De que jeito? A pancada que eu levei me fez vir parar aqui sem que você tivesse tomado o Semancol. Agora eu volto como?
VLAVIANO: Eu lembro que quando aquele menino abaixou o banco do balanço, eu desmaiei e fiquei com um galo enorme na cabeça.
VLAD: E quando é que eu acordo?
VLAVIANO: Assim que o ortopedista de plantão diz: “o raio-X não deu nada”.
O corpo de Vlad passa a sofrer o efeito do “scanner”, que lhe trouxe ao cenário marítimo.
VLAD: Vlaviano!
VLAVIANO: Vai ser feliz, garoto! Deve ter muita coisa boa te esperando!
Vlad abre os olhos na máquina de radiografias. O médico nota o despertar do adolescente.
MÉDICO: O raio-X não deu nada. O curumim está a salvo.

CENA 3

(fundo musical: “Jack Soul Brasileiro (Jørd and Mojjo remix)”- “já que sou brasileiro/ e o som do pandeiro/ é certeiro e tem direção/ já que subi nesse ringue/ o país do suingue/ é o país da contradição”)
LETREIRO: algum tempo depois...
Nick está com as mãos apoiadas nas grades de sua cela, lamentando a prisão.
NICK: Mais um dia nesse inferno. Parece até que eu tô cumprindo pena há dez anos.
PALOMA: (sob a penumbra) Já disse pra ficar de bubuia, Nick. Logo, logo o meu plano pra deixarmos esse lugar será colocado em prática.
NICK: A tua última ideia foi sequestrar o Vlaviano pra se vingar do Ivan e da Maria Clara. Qual foi o resultado? Tu toda arrebentada e presa.
PALOMA: Por enquanto. Dei um jeito de seduzir um dos carcereiros. Ele vai me levar pra conhecer a sala do diretor do presídio. Fiquei sabendo que ele é um homem mais velho.
NICK: Mais velho quanto?
PALOMA: Noventa e cinco. Viúvo, sem filhos... Vai ser fácil passar a perna. Tanto literal quanto figurativamente.
NICK: Desiste, Paloma. Esse presídio é de segurança máxima. Você não vai sair nem fugida nem absolvida.
PALOMA: Isso é o que você pensa. Já arrumei, inclusive, uma forma de deixar a cadeia caso não dê resultado minha sedução para com o diretor. E você vai me ajudar.
NICK: Tá, cheirosa. Fui tua cúmplice e olha aonde eu vim parar.
NARRADOR: “TÁ, CHEIROSA”: quando se nega algo.
PALOMA: Você vai me ajudar se não quiser permanecer aqui nesse chiqueiro. Não tem escolha, Nicole.
NICK: Qual é o plano?
PALOMA: Já me ofereci pra ser técnica de enfermagem no centro médico da penitenciária. Você vai fingir que está à beira da morte, assim que eu for efetivada. E eu vou dizer que você foi para o beleléu, o que vai te obrigar a ser levada para o IML. Eu me escondo no veículo e depois eu vou imitar a Paolla Oliveira em “Cama de gato”.
NICK: E o que foi que ela fez nessa novela?
PALOMA: (revela-se com hematomas no rosto, o pescoço imobilizado e o braço engessado numa tipoia) Chegou ao aeroporto, tirou os óculos do rosto e disse: “bye, bye, Brasil”.
(fundo musical: “Meu bem (Gabe Pereira remix)”- parte instrumental)
NICK: (pensa) Coitada. Se tivesse boa memória, saberia que a personagem terminou a novela presa.

Estamos apresentando “Catch back”.
(fundo musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance mania”)

NARRADOR: Tudo o que esse cara queria era um encontro com os seus amigos.
VITINHO: Botei todo mundo no grupo. Vai ser num dia e na hora que eu sei que todo mundo pode ir. Não tem erro.
NARRADOR: O obstáculo? Seus próprios amigos.
VITINHO: Vocês mentem tanto com essa história de saudades que até o caipiroto tá procurando vocês pra saber se oferecem workshop!
NARRADOR: “Vamos marcar?”. Nesta sexta, depois da reapresentação do último episódio de “Catch back”, na sessão “Treta máxima”.

Voltamos a apresentar “Catch back”.
(fundo musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance mania”)

CENA 4

Maria Clara está no meio da Floresta Amazônica, trajando um vestido amarelo cheio de penas, fazendo o anúncio do seu grandioso (e problemático) lançamento, cantando uma canção conhecida da região desde os anos 2000.
MARIA CLARA: “Não vem me paquerar, não vem me engabelar! Você não tem guariba, sou do signo de libra! Escorpião, chega pra lá!  Não vem me paquerar, não vem me engabelar! Janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho... Até dezembro vai cansar, cansar de esperar porque não vai rolar. É melhor você tomar chá de Semancol!”
NARRADOR: (fala enquanto a caixa do medicamento está sobre o galho de uma árvore) Testado e aprovado pela Anvisa, o maior revigorante de todos os tempos nas farmácias e drogarias de todo o Brasil. Semancol: um medicamento Pharmanveres.
O letreiro azul anuncia ao fim: “ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado”. O comercial é exibido num telão, produzido especialmente para a coletiva de imprensa de lançamento do Semancol, para a qual são convidados Ivan, Vlaviano e Douglas, que aplaudem Maria Clara após a exibição da peça publicitária.
(fundo musical: “Adrenalizou (Gabe Pereira remix)”- “no último dia da novela/ onda boa que me leva/ olha você vindo me provocar/ dona de grandes feitos/ acelera os batimentos/ não sei como vou controlar”)
DOUGLAS: (conversa com Vlaviano) Ainda bem que tudo se resolveu e aquelas duas loucas estão presas.
VLAVIANO: Melhor nem falar disso. Só de coisas boas.
DOUGLAS: O que é que tu tens pra me contar de novo?
VLAVIANO: Pouco antes de vir pra cá, eu recebi um e-mail de uma empresa chamada Joga Fora No Lixo Produções.
DOUGLAS: Enviou teu currículo pra lá?
VLAVIANO: E uma sinopse de uma série de ficção científica, envolvendo o mundo farmacêutico. A produtora disse que quer conversar comigo na próxima quinta pra gravar um piloto.
DOUGLAS: Parece que finalmente as coisas estão se ajeitando pra você.
VLAVIANO: Bom, tirando esse rapto que eu sofri, acho que sabe quem o Vlad era me animou mais. E me fez querer ficar mais parecido com ele... Ou melhor, com quem eu fui um dia. Mas acho que, pela sua cara, eu não sou o único que tem uma novidade boa pra contar.
DOUGLAS: Lembra que eu tava refletindo sobre a minha vida há uns dias? Pois é. Eu tomei uma decisão. Para muitos, insensata. Mas é evidente pra mim que vai me trazer felicidade. E olha que eu nem preciso do Semancol!
VLAVIANO: Se não me engano, essa sua atitude tinha a ver com o seu futuro profissional. Fala o que é. Vai virar advogado? Engenheiro? Médico? Revendedor Jequiti?
DOUGLAS: Não vou voltar atrás: vou me transformar em coach!
(fundo musical: “Farol (Kalozy, Nogue, vhenace remix)”- “e você é o meu/ e você é o meu”)
Vlaviano reage à declaração de Douglas com um rápido silêncio.
VLAVIANO: Cuidado, Douglas; como eu te falei, esse negócio vicia... Do jeito que tá proliferando por aí, o Aedes Aegypti transmite o espírito empreendedor do coach junto à dengue, à febre amarela, ao zika vírus e à chicungunha!
DOUGLAS: Sinceramente, eu nunca me vi fazendo outra coisa a não ser exercer a psicologia. Mas uma circunstância me levou a cogitar a mudança.
VLAVIANO: Identificação?
DOUGLAS: Dinheiro. Sempre tem um hoje em dia que paga pra ouvir os conselhos de um coach. Mas eu me sinto preparado pra isso. Afinal, sua alma, sua palma, seu coração, sua pindoba.
NARRADOR: “SUA ALMA, SUA PALMA, SEU CORAÇÃO, SUA PINDOBA”: quando se quer dizer que cada pessoa deve arcar com suas atitudes.
VLAVIANO: Acho que você não deveria trocar de função. Além de gostar daquilo que faz, você é bom. Ótimo, por sinal.
DOUGLAS: O mundo não está preparado para os psicólogos. O que mais tem nesse planeta é gente precisando se abrir com um e negando, ao passo que respira, o quanto precisa de ajuda profissional. Já pensou por esse ângulo?
VLAVIANO: De qualquer forma, eu lamento muito. Vou sentir muita falta das nossas consultas. E da sua paciência com o meu eterno mau humor.
DOUGLAS: As sessões podem não continuar, mas nossa amizade permanece, Vlaviano.
VLAVIANO: Que bom ouvir isso. Não sabia que era assim que você me considerava.
DOUGLAS: Depois de muitas conversas que eu deixei que fossem tidas sem que você me pagasse, não poderia ser de outra forma. Mas vou esperar que o piloto da série progrida e você pague o que me deve.
VLAVIANO: Foi rápido o meu momento de alívio, mas o baque foi grande. Teria evitado isso se vivesse refletindo sobre aquele velho e conhecido ditado.
DOUGLAS: E qual seria, Vlaviano?
VLAVIANO: “Pobre quando descansa carrega pedra”!
No palco, Maria Clara fala sobre duas presenças importantes na convenção de lançamento do Semancol.
MARIA CLARA: Eu gostaria de agradecer a todos os que estão aqui nessa tarde. E também eu queria que vocês soubessem o quanto o dia de hoje é importante pra mim. Tanto quanto vocês. A Pharmanveres inicia hoje uma era que dá continuidade à prosperidade, à qualidade e ao talento de seus colaboradores. Mas hoje é muito mais do que significativo. Depois de tantas lutas, mentiras, intrigas e momentos em que eu me perguntava o que seria da minha empresa, eu posso respirar fundo e dizer sem medo que eu venci. Ou melhor, que todos nós vencemos. O lançamento do Semancol no mercado farmacêutico nacional possibilita que a Pharmanveres não só continue na preferência dos consumidores brasileiros como também possibilita que a nossa qualidade siga incontestável e como referência dentre os maiores laboratórios do mundo. Mas eu queria chamar ao palco duas pessoas que foram as responsáveis por celebrarmos esse lançamento na tarde de hoje. A primeira é Vlaviano Barroso, cuja inquietude nos mostrou que o mal precisava ser sanado na empresa.
VLAVIANO: E jogado numa penitenciária feminina, sem direito à cópia da chave!
MARIA CLARA: A segunda pessoa é aquele que, um dia, eu achei que seria o homem da minha vida. Mas, depois de tudo o que eu vivi nos últimos tempos, a minha visão sobre ele mudou... É a minha vida. A gente ficou muito tempo distante um do outro... Por culpa minha, confesso. E eu só tenho a agradecer por ele ter sido tão paciente comigo, por ter me esperado, por não ter desistido de mim. Quer dizer, agradecer ainda é pouco. O que eu quero fazer, sem nenhum receio mesmo, é te amar como eu nunca fui capaz de imaginar que amaria alguém. É retribuir tudo aquilo que eu significo pra você... Ivan Lemgruber.
Ivan fica de pé enquanto recebe aplausos da plateia.
IVAN: Já que você pretende me “ressarcir” de todo o sentimento que eu te dou, eu acho que encontrei a maneira mais correta de você fazer isso por nós. Maria Clara Anveres, você quer casar comigo?
MARIA CLARA: Como assim, Ivan? O que você quer dizer com isso?
VLAVIANO: Vamos usar uma linguagem mais coloquial, uma coisa bem no olho mesmo. O Ivan quer saber se você aceita fazer com ele a dança do acasalamento ao som de “Fêmea”, do Fábio Jr.
NARRADOR: “NO OLHO”: indicação de que alguém recebeu uma resposta certeira.
MARIA CLARA: Por que não disse logo? É claro que eu aceito.
(fundo musical: “Tempo perdido (Anicio, Danne &Vipp Code remix)”- “somos tão jovens/ tão jovens/ tão jovens”)
Maria Clara e Ivan se beijam sobre o palco e Vlaviano, ainda da plateia, tece um comentário acerca da situação.
VLAVIANO: Adoro finais felizes em eventos públicos. Principalmente quando servem os itens do buffet.

CENA 5

De volta ao Colégio Providencial, Vlad está sozinho num banco fazendo um trabalho numa folha de papel 40 KG, usando um lápis de cera da cor verde. Ouve a voz de uma criança se aproximando.
MARIA CLARA: Moço, tu sabes quem é Nathália?
VLAVIANO: (com o rosto abaixado) Sei, sim. É a representante da minha turma. Não é uma bem alta, que hoje tá de minissaia?
MARIA CLARA: É, uma que tá dizendo que assim que largar da aula vai pra uma casa lá na Praia do Açutuba.
VLAVIANO: Parece que ela foi falar com Abigail. A coordenadora, sabe quem é?
MARIA CLARA: Sei. Então, eu vou lá na sala dela. (Vlaviano levanta o rosto) Obrigada.
(fundo musical: “Sentença (Voltech, Ethernal Soul and Deep Motion remix)”- “em outro momento/ em outro tempo/ faça sentido/ você me disse”)
VLAVIANO: Espera aí...
MARIA CLARA: O que foi?
VLAVIANO: Não sei, tu estás me lembrando de alguém. Tem alguém da tua família que se chame Maria Clara?
MARIA CLARA: Tem. Eu. Mas como é que tu sabes meu nome?
VLAVIANO: (mente) Sei lá, você tem cara de quem se chama Clara mesmo. Mas o que tu queres com Nathália?
MARIA CLARA: A minha turma, que é da segunda série, gosta muito de conversar com a gente. Fica contando dos namorados, dos ficantes, dos fins de semana que ela passa com Rebeka e as outras meninas na casa de praia, dos meninos que ela quer dar uns beijos também...
VLAVIANO: Sei... Na certa, ela já deve ter te falado que quando crescer... Se e que isso é possível, porque ela é a mais alta da sala... Vai ser advogada.
MARIA CLARA: Disse, mas eu não gostei, não.
VLAVIANO: Por quê?
MARIA CLARA: Porque eu mesma vou fazer alguma coisa de saúde quando eu crescer.
VLAVIANO: Médica?
MARIA CLARA: Não, trabalhar fazendo remédio. Ou na farmácia mesmo, pedindo que o pessoal compre meus remédios depois de botar crédito no celular... Ou depois de se pesar. Será que isso dá dinheiro?
VLAVIANO: Quem sabe? Mas eu sei que você vai ser muito feliz.
MARIA CLARA: Sabe como?
VLAVIANO: Um passarinho me contou. E disse que tu vais gostar de um carinha bem bacana.
MARIA CLARA: E eu lá quero carinha, rapaz? Eu quero é ser rica, dá licença! (Maria Clara deixa o banco, mas a sirene da escola toca) Ih, tá na minha hora de voltar!
E Maria Clara retorna à sala da segunda série do ensino fundamental, onde tem uma aula de inglês com o Professor Marco. Vlaviano decide observar pela janela a menina, que responde com seus colegas a cada pergunta feita na classe.
MARCO: Agora, vamos relembrar aqueles títulos de filmes que não têm nada a ver com os títulos originais. Primeiro de todos: “O poderoso chefão”, na verdade, se chama...
MARIA CLARA E ALUNOS: “The godfather”!
MARCO: Que significa...
MARIA CLARA E ALUNOS: “O padrinho”.
MARCO: Muito bem. E o título verdadeiro de “O pestinha” é...
MARIA CLARA E ALUNOS: “Problem child”!
MARCO: Cuja tradução é...
MARIA CLARA E ALUNOS: “Criança problema”!
MARCO: Maravilha! E, pra terminar, “As panteras” são...
MARIA CLARA E ALUNOS: “Charlie’s angels”!
MARCO: Que quer dizer...
MARIA CLARA E ALUNOS: “Anjos do Charlie”!
MARCO: Olha, se tem uma certeza na vida é de que a maioria dos filmes termina com um “the end”. Quem aí sabe o que significa?
MARIA CLARA: (diz com empolgação) “O fim”!
(fundo musical: “Puro êxtase (Sax in the house version)”)
O último congelamento da série mostra a felicidade de Maria Clara por ter respondido tudo da maneira correta.

(CRÉDITOS FINAIS)

(fundo musical: “Dias melhores (KVSH & Flow remix)- parte instrumental)

(VINHETA DA JOGA FORA NO LIXO PRODUÇÕES)

(fundo musical: “Dias e noites”- canção em versão integral)
NARRADOR: Nesta quinta-feira, estaremos realizando a manutenção técnica de nossos transmissores. Por isso, excepcionalmente nesta quinta-feira, não apresentaremos a sessão “Corpo são”.
A tela passa a anunciar slides com os logotipos das próximas atrações da falsa grade, todas acompanhadas da home page SchoolaxoMusical.Blogspot.com.
NARRADOR: Faremos agora uma pequena pausa em nossa programação, apenas o tempo necessário para você despertar para um novo dia, uma nova vida. Logo estaremos juntos novamente, apresentando às 5:33 “Vida louca”. 6:08: “Gata fatal”. 6:15: “Sobrevida”. 6:22: “Duas décadas”. 6:26: “Valente Valença”. 7:01: “Como nascem os ator(doados)”. 7:08: “Do naipe do Nipo”. 7:15: “Sete lendas universitárias”. 7:22: “Fan made”. 7:56: “Confissões prolixas de um exíguo mesoclítico”. 8:02: “Catch back- erros de dublagem”. 8:03: “Paródias internacionais”.

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