CENA 1
MARIA
CLARA: Joga a escada!
IVAN:
Não dá pra te ouvir direito!
MARIA
CLARA: Joga a escada pro Vlaviano, eu vou aproximar o helicóptero da lancha!
VLAVIANO:
(conversa com Vlad) Você vai me tirar daqui. Me desamarra antes que a bomba
exploda.
PALOMA:
Nunca! Eu não vou ficar viva pra mofar na cadeia, nem vou deixar a única
testemunha da Maria Clara escapar!
VLAVIANO:
Telesé? Tô falando contigo, não!
NARRADOR:
“TELESÉ”: o mesmo que “tu és lesa, é?”.
PALOMA:
(ouve o barulho do helicóptero) Será que é a polícia? (olha para o alto) Menos
mal, é só a manauara dos infernos!
Entretanto,
duas lanchas da polícia marítima aparecem ao lado do veículo comandado pela
jornalista.
VLAD:
Como é que eu vim parar aqui?
VLAVIANO:
Só desata os nós da minha corda, e de boca fechada!
PALOMA:
Ah, sim, porque eu tô muito disposta a te soltar. Vô mermo me entregar de
bandeja pra justiça!
NARRADOR:
“VÔ MERMO”: resposta irônica sobre algo que não se pretende fazer.
VLAD:
Eu vou tentar!
VLAVIANO:
Rápido, só falta um minuto pra bomba ser detonada!
PALOMA:
O minuto mais longo da minha vida, mas vai valer a pena. Nunca que essa
desgraçada vai conseguir provar a inocência dela. Nem que isso custe a minha própria
vida!
VLAVIANO:
Que não vale grande coisa, pode ter certeza. Agora, sim, eu tô falando com
você.
MARIA
CLARA: O que o Vlaviano tá fazendo?
IVAN:
Parece que ele tá conseguindo se desamarrar!
VLAD:
Pronto, te soltei! Agora como é que a gente foge daqui? Eu não sei nadar!
VLAVIANO:
A escada! Vamos subir, e você me segue!
Vlaviano
sobe à escada de cordas que Ivan arremessou, e Vlad vem atrás do escritor.
VLAD:
Vai logo, só falta meio minuto!
Paloma
agarra a perna de Vlaviano, mas este pensa que a vilã está impedindo o resgate
do adolescente.
PALOMA:
Não!
VLAD:
Me solta!
PALOMA:
Acabou pra você, Vlaviano!
MARIA
CLARA: Puxa a escada pra cima, Ivan!
IVAN:
Não dá, Clara! A Paloma tá segurando o Vlaviano!
VLAVIANO:
(grita) Rápido com isso, a lesa quer manter o Vlad de refém!
MARIA
CLARA E IVAN: (trocam olhares) Vlad?
PALOMA:
Ela não vai me vencer, entendeu? Ninguém vai!
IVAN:
Larga o Vlaviano agora, Paloma!
PALOMA:
Você que me pede isso, Ivan? Logo você, que fez o meu amor virar brinquedo pra
ti?
MARIA
CLARA: A mulher tá tão desequilibrada que tá citando até música paraense pra
justificar a loucura!
VLAD:
Parece o Diego possuído pelo ritmo Ragatanga! Me larga!
Vlad
chuta o ombro da jornalista, que bate a cabeça no piso da lancha e cai praticamente
desacordada.
VLAVIANO:
Faz de conta que eu fui submetido à harmonização facial e me puxa logo!
(fundo
musical: “À francesa (Extended club mix)”- “passeando pelo mundo afora/ na
cidade que não tem mais fim”)
Maria
Clara afasta o helicóptero da lancha alugada por Paloma. A bomba-relógio mostra
os seus últimos três segundos, detonando-se e destruindo a máquina marítima. A
empresária, junto a Ivan, Vlaviano e Vlad, assiste à apavorante cena.
(ABERTURA)
CENA 2
Maria
Clara está em terra firme, conversando com Ivan sob o céu que mostra que o dia
já amanheceu.
MARIA
CLARA: Já começaram as buscas.
IVAN:
Você acha que ela sobreviveu?
MARIA
CLARA: Tomara. Tô torcendo pra isso, pra que essa maldita seja encontrada e
presa o mais rápido possível.
IVAN:
Parece que o Vlaviano não tá nada bem depois desse sequestro. Não para de
falar, e ainda por cima não diz coisa com coisa.
MARIA
CLARA: Ele não tá falando sozinho. Tá com o Vlad.
IVAN:
Mas ele não tá sob o efeito do Semancol... Ou será que tá?
MARIA
CLARA: Deixa, Ivan. Essa situação toda, o Vlaviano quase morto, a polícia
marítima caçando a Paloma... Isso mexe com todos nós.
VLAD:
Nossa! Isso tudo aconteceu só porque eu apareci na tua vida? Tô besta!
VLAVIANO:
Agora você entende a agonia que foi quando eu não sabia quem era o Vlad que me
perseguia tanto.
VLAD:
Você falou, falou e não tirou a minha dúvida maior.
VLAVIANO:
Qual que é?
VLAD:
Quando eu crescer eu vou ficar... Assim?
VLAVIANO:
Assim como?
VLAD:
Como você, ué!
VLAVIANO:
Ah, já entendi: um adulto chato, né?
VLAD:
Transmissão de pensamento. Tirou as palavras da minha boca. Mas esse é meu medo
mesmo.
VLAVIANO:
Olha só, você não precisa ter medo. Eu te entendo porque também queria ser bem
diferente do que sou hoje. Sabe quais eram os meus sonhos? Casar cedo, ter uma
casa em meu nome, fazer faculdade de medicina, atender como cardiologista...
VLAD:
E não é mais?
VLAVIANO:
Bem, é... Algumas vezes, a gente começar a mudar de sonhos; outras, a realidade
nos obriga a parar de sonhar. É difícil ficar o resto da vida com a mentalidade
que você tem hoje, Vlad.
VLAD:
De que tudo é possível? Mas é. Se nada do que você esperava aconteceu, é porque
o ruim era possível de acontecer. Como o bom também é, e vai ser pra sempre.
VLAVIANO:
Concordo com você. Melhor dizendo: voltei a concordar comigo mesmo. Por isso eu
vou te pedir pra ter um pouquinho de paciência comigo. Eu preciso e quero
voltar a ser quem eu era. Obrigado por aparecer na minha vida e me dar o
significado que eu precisava.
VLAD:
O que é que você aprendeu comigo, Vlaviano? Tu estás na idade é de me ensinar.
VLAVIANO:
Tá enganado, cara. Eu descobri que preciso ser mais você e me desprender de
mim.
VLAD:
Que lindo isso que você falou. Mas eu vou ficar contente mesmo quando eu voltar
pro meu mundo. Será que a gente se encontra de novo?
VLAVIANO:
Tomara que não. Mas acho que sei como fazer você retornar.
VLAD:
De que jeito? A pancada que eu levei me fez vir parar aqui sem que você tivesse
tomado o Semancol. Agora eu volto como?
VLAVIANO:
Eu lembro que quando aquele menino abaixou o banco do balanço, eu desmaiei e
fiquei com um galo enorme na cabeça.
VLAD:
E quando é que eu acordo?
VLAVIANO:
Assim que o ortopedista de plantão diz: “o raio-X não deu nada”.
O
corpo de Vlad passa a sofrer o efeito do “scanner”,
que lhe trouxe ao cenário marítimo.
VLAD:
Vlaviano!
VLAVIANO:
Vai ser feliz, garoto! Deve ter muita coisa boa te esperando!
Vlad
abre os olhos na máquina de radiografias. O médico nota o despertar do
adolescente.
MÉDICO:
O raio-X não deu nada. O curumim está a salvo.
CENA 3
(fundo
musical: “Jack Soul Brasileiro (Jørd and Mojjo remix)”- “já que sou brasileiro/
e o som do pandeiro/ é certeiro e tem direção/ já que subi nesse ringue/ o país
do suingue/ é o país da contradição”)
LETREIRO:
algum tempo depois...
Nick
está com as mãos apoiadas nas grades de sua cela, lamentando a prisão.
NICK:
Mais um dia nesse inferno. Parece até que eu tô cumprindo pena há dez anos.
PALOMA:
(sob a penumbra) Já disse pra ficar de bubuia, Nick. Logo, logo o meu plano pra
deixarmos esse lugar será colocado em prática.
NICK:
A tua última ideia foi sequestrar o Vlaviano pra se vingar do Ivan e da Maria
Clara. Qual foi o resultado? Tu toda arrebentada e presa.
PALOMA:
Por enquanto. Dei um jeito de seduzir um dos carcereiros. Ele vai me levar pra
conhecer a sala do diretor do presídio. Fiquei sabendo que ele é um homem mais
velho.
NICK:
Mais velho quanto?
PALOMA:
Noventa e cinco. Viúvo, sem filhos... Vai ser fácil passar a perna. Tanto
literal quanto figurativamente.
NICK:
Desiste, Paloma. Esse presídio é de segurança máxima. Você não vai sair nem
fugida nem absolvida.
PALOMA:
Isso é o que você pensa. Já arrumei, inclusive, uma forma de deixar a cadeia
caso não dê resultado minha sedução para com o diretor. E você vai me ajudar.
NICK:
Tá, cheirosa. Fui tua cúmplice e olha aonde eu vim parar.
NARRADOR:
“TÁ, CHEIROSA”: quando se nega algo.
PALOMA:
Você vai me ajudar se não quiser permanecer aqui nesse chiqueiro. Não tem
escolha, Nicole.
NICK:
Qual é o plano?
PALOMA:
Já me ofereci pra ser técnica de enfermagem no centro médico da penitenciária.
Você vai fingir que está à beira da morte, assim que eu for efetivada. E eu vou
dizer que você foi para o beleléu, o que vai te obrigar a ser levada para o
IML. Eu me escondo no veículo e depois eu vou imitar a Paolla Oliveira em “Cama
de gato”.
NICK:
E o que foi que ela fez nessa novela?
PALOMA:
(revela-se com hematomas no rosto, o pescoço imobilizado e o braço engessado numa
tipoia) Chegou ao aeroporto, tirou os óculos do rosto e disse: “bye, bye,
Brasil”.
(fundo
musical: “Meu bem (Gabe Pereira remix)”- parte instrumental)
NICK:
(pensa) Coitada. Se tivesse boa memória, saberia que a personagem terminou a
novela presa.
Estamos
apresentando “Catch back”.
(fundo
musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance
mania”)
NARRADOR:
Tudo o que esse cara queria era um encontro com os seus amigos.
VITINHO:
Botei todo mundo no grupo. Vai ser num dia e na hora que eu sei que todo mundo
pode ir. Não tem erro.
NARRADOR:
O obstáculo? Seus próprios amigos.
VITINHO:
Vocês mentem tanto com essa história de saudades que até o caipiroto tá
procurando vocês pra saber se oferecem workshop!
NARRADOR:
“Vamos marcar?”. Nesta sexta, depois da reapresentação do último episódio de “Catch
back”, na sessão “Treta máxima”.
Voltamos
a apresentar “Catch back”.
(fundo
musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance
mania”)
CENA
4
Maria
Clara está no meio da Floresta Amazônica, trajando um vestido amarelo cheio de
penas, fazendo o anúncio do seu grandioso (e problemático) lançamento, cantando
uma canção conhecida da região desde os anos 2000.
MARIA
CLARA: “Não vem me paquerar, não vem me engabelar! Você não tem guariba, sou do
signo de libra! Escorpião, chega pra lá!
Não vem me paquerar, não vem me engabelar! Janeiro, fevereiro, março,
abril, maio, junho... Até dezembro vai cansar, cansar de esperar porque não vai
rolar. É melhor você tomar chá de Semancol!”
NARRADOR:
(fala enquanto a caixa do medicamento está sobre o galho de uma árvore) Testado
e aprovado pela Anvisa, o maior revigorante de todos os tempos nas farmácias e
drogarias de todo o Brasil. Semancol: um medicamento Pharmanveres.
O
letreiro azul anuncia ao fim: “ao persistirem os sintomas, o médico deverá ser
consultado”. O comercial é exibido num telão, produzido especialmente para a
coletiva de imprensa de lançamento do Semancol, para a qual são convidados
Ivan, Vlaviano e Douglas, que aplaudem Maria Clara após a exibição da peça
publicitária.
(fundo
musical: “Adrenalizou (Gabe Pereira remix)”- “no último dia da novela/ onda boa
que me leva/ olha você vindo me provocar/ dona de grandes feitos/ acelera os
batimentos/ não sei como vou controlar”)
DOUGLAS:
(conversa com Vlaviano) Ainda bem que tudo se resolveu e aquelas duas loucas
estão presas.
VLAVIANO:
Melhor nem falar disso. Só de coisas boas.
DOUGLAS:
O que é que tu tens pra me contar de novo?
VLAVIANO:
Pouco antes de vir pra cá, eu recebi um e-mail de uma empresa chamada Joga Fora
No Lixo Produções.
DOUGLAS:
Enviou teu currículo pra lá?
VLAVIANO:
E uma sinopse de uma série de ficção científica, envolvendo o mundo
farmacêutico. A produtora disse que quer conversar comigo na próxima quinta pra
gravar um piloto.
DOUGLAS:
Parece que finalmente as coisas estão se ajeitando pra você.
VLAVIANO:
Bom, tirando esse rapto que eu sofri, acho que sabe quem o Vlad era me animou
mais. E me fez querer ficar mais parecido com ele... Ou melhor, com quem eu fui
um dia. Mas acho que, pela sua cara, eu não sou o único que tem uma novidade
boa pra contar.
DOUGLAS:
Lembra que eu tava refletindo sobre a minha vida há uns dias? Pois é. Eu tomei
uma decisão. Para muitos, insensata. Mas é evidente pra mim que vai me trazer
felicidade. E olha que eu nem preciso do Semancol!
VLAVIANO:
Se não me engano, essa sua atitude tinha a ver com o seu futuro profissional.
Fala o que é. Vai virar advogado? Engenheiro? Médico? Revendedor Jequiti?
DOUGLAS:
Não vou voltar atrás: vou me transformar em coach!
(fundo
musical: “Farol (Kalozy, Nogue, vhenace remix)”- “e você é o meu/ e você é o
meu”)
Vlaviano
reage à declaração de Douglas com um rápido silêncio.
VLAVIANO:
Cuidado, Douglas; como eu te falei, esse negócio vicia... Do jeito que tá
proliferando por aí, o Aedes Aegypti
transmite o espírito empreendedor do coach
junto à dengue, à febre amarela, ao zika vírus e à chicungunha!
DOUGLAS:
Sinceramente, eu nunca me vi fazendo outra coisa a não ser exercer a
psicologia. Mas uma circunstância me levou a cogitar a mudança.
VLAVIANO:
Identificação?
DOUGLAS:
Dinheiro. Sempre tem um hoje em dia que paga pra ouvir os conselhos de um coach. Mas eu me sinto preparado pra
isso. Afinal, sua alma, sua palma, seu coração, sua pindoba.
NARRADOR:
“SUA ALMA, SUA PALMA, SEU CORAÇÃO, SUA PINDOBA”: quando se quer dizer que cada
pessoa deve arcar com suas atitudes.
VLAVIANO:
Acho que você não deveria trocar de função. Além de gostar daquilo que faz,
você é bom. Ótimo, por sinal.
DOUGLAS:
O mundo não está preparado para os psicólogos. O que mais tem nesse planeta é
gente precisando se abrir com um e negando, ao passo que respira, o quanto
precisa de ajuda profissional. Já pensou por esse ângulo?
VLAVIANO:
De qualquer forma, eu lamento muito. Vou sentir muita falta das nossas consultas.
E da sua paciência com o meu eterno mau humor.
DOUGLAS:
As sessões podem não continuar, mas nossa amizade permanece, Vlaviano.
VLAVIANO:
Que bom ouvir isso. Não sabia que era assim que você me considerava.
DOUGLAS:
Depois de muitas conversas que eu deixei que fossem tidas sem que você me
pagasse, não poderia ser de outra forma. Mas vou esperar que o piloto da série
progrida e você pague o que me deve.
VLAVIANO:
Foi rápido o meu momento de alívio, mas o baque foi grande. Teria evitado isso
se vivesse refletindo sobre aquele velho e conhecido ditado.
DOUGLAS:
E qual seria, Vlaviano?
VLAVIANO:
“Pobre quando descansa carrega pedra”!
No
palco, Maria Clara fala sobre duas presenças importantes na convenção de
lançamento do Semancol.
MARIA
CLARA: Eu gostaria de agradecer a todos os que estão aqui nessa tarde. E também
eu queria que vocês soubessem o quanto o dia de hoje é importante pra mim. Tanto
quanto vocês. A Pharmanveres inicia hoje uma era que dá continuidade à
prosperidade, à qualidade e ao talento de seus colaboradores. Mas hoje é muito
mais do que significativo. Depois de tantas lutas, mentiras, intrigas e
momentos em que eu me perguntava o que seria da minha empresa, eu posso
respirar fundo e dizer sem medo que eu venci. Ou melhor, que todos nós vencemos.
O lançamento do Semancol no mercado farmacêutico nacional possibilita que a
Pharmanveres não só continue na preferência dos consumidores brasileiros como
também possibilita que a nossa qualidade siga incontestável e como referência
dentre os maiores laboratórios do mundo. Mas eu queria chamar ao palco duas
pessoas que foram as responsáveis por celebrarmos esse lançamento na tarde de
hoje. A primeira é Vlaviano Barroso, cuja inquietude nos mostrou que o mal
precisava ser sanado na empresa.
VLAVIANO:
E jogado numa penitenciária feminina, sem direito à cópia da chave!
MARIA
CLARA: A segunda pessoa é aquele que, um dia, eu achei que seria o homem da
minha vida. Mas, depois de tudo o que eu vivi nos últimos tempos, a minha visão
sobre ele mudou... É a minha vida. A gente ficou muito tempo distante um do
outro... Por culpa minha, confesso. E eu só tenho a agradecer por ele ter sido
tão paciente comigo, por ter me esperado, por não ter desistido de mim. Quer
dizer, agradecer ainda é pouco. O que eu quero fazer, sem nenhum receio mesmo,
é te amar como eu nunca fui capaz de imaginar que amaria alguém. É retribuir
tudo aquilo que eu significo pra você... Ivan Lemgruber.
Ivan
fica de pé enquanto recebe aplausos da plateia.
IVAN:
Já que você pretende me “ressarcir” de todo o sentimento que eu te dou, eu acho
que encontrei a maneira mais correta de você fazer isso por nós. Maria Clara
Anveres, você quer casar comigo?
MARIA
CLARA: Como assim, Ivan? O que você quer dizer com isso?
VLAVIANO:
Vamos usar uma linguagem mais coloquial, uma coisa bem no olho mesmo. O Ivan
quer saber se você aceita fazer com ele a dança do acasalamento ao som de
“Fêmea”, do Fábio Jr.
NARRADOR:
“NO OLHO”: indicação de que alguém recebeu uma resposta certeira.
MARIA
CLARA: Por que não disse logo? É claro que eu aceito.
(fundo
musical: “Tempo perdido (Anicio, Danne &Vipp Code remix)”- “somos tão
jovens/ tão jovens/ tão jovens”)
Maria
Clara e Ivan se beijam sobre o palco e Vlaviano, ainda da plateia, tece um
comentário acerca da situação.
VLAVIANO:
Adoro finais felizes em eventos públicos. Principalmente quando servem os itens
do buffet.
CENA 5
De
volta ao Colégio Providencial, Vlad está sozinho num banco fazendo um trabalho
numa folha de papel 40 KG, usando um lápis de cera da cor verde. Ouve a voz de
uma criança se aproximando.
MARIA
CLARA: Moço, tu sabes quem é Nathália?
VLAVIANO:
(com o rosto abaixado) Sei, sim. É a representante da minha turma. Não é uma
bem alta, que hoje tá de minissaia?
MARIA
CLARA: É, uma que tá dizendo que assim que largar da aula vai pra uma casa lá
na Praia do Açutuba.
VLAVIANO:
Parece que ela foi falar com Abigail. A coordenadora, sabe quem é?
MARIA
CLARA: Sei. Então, eu vou lá na sala dela. (Vlaviano levanta o rosto) Obrigada.
(fundo
musical: “Sentença (Voltech, Ethernal Soul and Deep Motion remix)”- “em outro
momento/ em outro tempo/ faça sentido/ você me disse”)
VLAVIANO:
Espera aí...
MARIA
CLARA: O que foi?
VLAVIANO:
Não sei, tu estás me lembrando de alguém. Tem alguém da tua família que se
chame Maria Clara?
MARIA
CLARA: Tem. Eu. Mas como é que tu sabes meu nome?
VLAVIANO:
(mente) Sei lá, você tem cara de quem se chama Clara mesmo. Mas o que tu queres
com Nathália?
MARIA
CLARA: A minha turma, que é da segunda série, gosta muito de conversar com a
gente. Fica contando dos namorados, dos ficantes, dos fins de semana que ela
passa com Rebeka e as outras meninas na casa de praia, dos meninos que ela quer
dar uns beijos também...
VLAVIANO:
Sei... Na certa, ela já deve ter te falado que quando crescer... Se e que isso
é possível, porque ela é a mais alta da sala... Vai ser advogada.
MARIA
CLARA: Disse, mas eu não gostei, não.
VLAVIANO:
Por quê?
MARIA
CLARA: Porque eu mesma vou fazer alguma coisa de saúde quando eu crescer.
VLAVIANO:
Médica?
MARIA
CLARA: Não, trabalhar fazendo remédio. Ou na farmácia mesmo, pedindo que o
pessoal compre meus remédios depois de botar crédito no celular... Ou depois de
se pesar. Será que isso dá dinheiro?
VLAVIANO:
Quem sabe? Mas eu sei que você vai ser muito feliz.
MARIA
CLARA: Sabe como?
VLAVIANO:
Um passarinho me contou. E disse que tu vais gostar de um carinha bem bacana.
MARIA
CLARA: E eu lá quero carinha, rapaz? Eu quero é ser rica, dá licença! (Maria
Clara deixa o banco, mas a sirene da escola toca) Ih, tá na minha hora de
voltar!
E
Maria Clara retorna à sala da segunda série do ensino fundamental, onde tem uma
aula de inglês com o Professor Marco. Vlaviano decide observar pela janela a
menina, que responde com seus colegas a cada pergunta feita na classe.
MARCO:
Agora, vamos relembrar aqueles títulos de filmes que não têm nada a ver com os
títulos originais. Primeiro de todos: “O poderoso chefão”, na verdade, se
chama...
MARIA
CLARA E ALUNOS: “The godfather”!
MARCO:
Que significa...
MARIA
CLARA E ALUNOS: “O padrinho”.
MARCO:
Muito bem. E o título verdadeiro de “O pestinha” é...
MARIA
CLARA E ALUNOS: “Problem child”!
MARCO:
Cuja tradução é...
MARIA
CLARA E ALUNOS: “Criança problema”!
MARCO:
Maravilha! E, pra terminar, “As panteras” são...
MARIA
CLARA E ALUNOS: “Charlie’s angels”!
MARCO:
Que quer dizer...
MARIA
CLARA E ALUNOS: “Anjos do Charlie”!
MARCO:
Olha, se tem uma certeza na vida é de que a maioria dos filmes termina com um
“the end”. Quem aí sabe o que significa?
MARIA
CLARA: (diz com empolgação) “O fim”!
(fundo musical: “Puro êxtase (Sax in the house
version)”)
O
último congelamento da série mostra a felicidade de Maria Clara por ter
respondido tudo da maneira correta.
(CRÉDITOS FINAIS)
(fundo
musical: “Dias melhores (KVSH & Flow remix)- parte instrumental)
(VINHETA DA JOGA FORA NO LIXO PRODUÇÕES)
(fundo
musical: “Dias e noites”- canção em versão integral)
NARRADOR:
Nesta quinta-feira, estaremos realizando a manutenção técnica de nossos
transmissores. Por isso, excepcionalmente nesta quinta-feira, não
apresentaremos a sessão “Corpo são”.
A
tela passa a anunciar slides com os
logotipos das próximas atrações da falsa grade, todas acompanhadas da home page SchoolaxoMusical.Blogspot.com.
NARRADOR:
Faremos agora uma pequena pausa em nossa programação, apenas o tempo necessário
para você despertar para um novo dia, uma nova vida. Logo estaremos juntos
novamente, apresentando às 5:33 “Vida louca”. 6:08: “Gata fatal”. 6:15:
“Sobrevida”. 6:22: “Duas décadas”. 6:26: “Valente Valença”. 7:01: “Como nascem
os ator(doados)”. 7:08: “Do naipe do Nipo”. 7:15: “Sete lendas universitárias”.
7:22: “Fan made”. 7:56: “Confissões
prolixas de um exíguo mesoclítico”. 8:02: “Catch
back- erros de dublagem”. 8:03: “Paródias internacionais”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário