-Não
vai falar meu nome pra ela, Otaviano?
-Rosane:
Ana Maria. Ana Maria: Rosane.
-Muito
prazer- Ana Maria estende a mão e espera ela apertar, mas ela faz uma expressão
de repulsa.
-Desculpe,
eu não quero atrapalhar vocês dois.
-Não
está nos atrapalhando, Rosane.
-A
gente está assim porque acabou de acordar- responde Ana Maria.
-Ah,
sim...
-E
a sua mãe? Está melhor?- desconversa Otaviano.
-Na
mesma. Tenho que ver a hora do remédio que ela toma, não posso perder. Vocês me
dão licença?
-Fique
à vontade.
-Muito
prazer, Ana Maria.
-Prazer.
Rosane
vai embora da casa de Otaviano, que fecha a janela.
-Sua
vizinha?
-É.
Minha vizinha. Há muitos anos que ela mora nessa rua.
-Parece
que ela ficou bem constrangida de me ver aqui, na sua casa.
-É
porque esse povo olha a vida de todo mundo. Deve ter estranhado, porque não
trago ninguém em casa, não é.
-Só
pode ser isso mesmo. Bom, você se importa se eu tomar um banho antes de ir
embora?
-Me
importo se você for embora- abraça-lhe.
-Você
tem que me deixar sair. Ser livre.
-O
que te prende é você mesma. Eu estou te ajudando a encontrar a felicidade.
-Tudo
bem. Posso usar o seu banheiro?
-Pode,
mas não demora. Dr. Dalton deve estar achando que eu te raptei e vou ligar
pedindo resgate.
-Se
assim o fosse, pode ter certeza de que eu não voltaria por conta própria-
beijam-se de forma calorosa.
XXXXX
Um
mecânico que trabalha na oficina de Jandir vai comprar algumas coisas no
supermercado da mesma rua que moram Rosane e Otaviano. A moça vai até o carro da acionista, segurando
um martelo. Quase dobrando a rua, ele olha algumas vezes para trás e vê que, na
rua quase vazia, Rosane permanece parada. Seus olhos, vermelhos de tanto chorar,
estão fixados no carro de sua rival.
Ela
bate com o martelo no capô do automóvel, e percebe o amasso que causou. Olha
para a porta da casa de Otaviano. Contrariada por não ter chegado ninguém da
casa para que pudesse contar a verdade sobre o relacionamento que mantém às
escondidas, não hesita em quebrar o vidro frontal e a janela que está do lado
da condutora. Por medo de contrariá-la, o mecânico não ousa se aproximar e
oferecer ajuda.
Suada,
ela enxuga o rosto com o braço, mas não se esquece de jogar a ferramenta sobre
o carro, saindo de lá com bastante ódio.
Percebendo
o descontrole de Rosane, o homem decide não oferecer ajuda, indo embora.
XXXXX
Dalton
chega à mesa para tomar seu café da manhã. Uma das empregadas serve seu suco.
Já Sônia, a que deveria ter localizado Ana Maria no dia anterior, cumprimenta o
patrão, trazendo-lhe um jornal.
-Bom
dia, senhor.
-Alguém
da empresa ligou?
-Não,
tudo em ordem até agora.
O
telefone toca. Sônia vai atender.
-Residência
da família Bittencourt, bom dia. Claro. Tudo bem, daqui a pouco, ele entrará em
contato com o senhor. Por nada, até logo- coloca-o na base.
-Quem
era?- pergunta após beber o suco.
-Era
o Dr. Marcelo. Disse que estava indisposto e que não poderia se deslocar até a
empresa hoje. Pediu pra avisar que o senhor não saísse tão cedo, não havia
necessidade.
-Sendo
assim, eu vou organizar umas planilhas que não pude organizar ontem. E por
falar em ontem, conseguiu descobrir onde Ana Maria estava?
-Não,
senhor.
-Anda
com mistérios agora? Pois muito bem, eu vou ao quarto dela tirar essa estória a
limpo.
-Ana
Maria não está em casa.
-Hum...
Foi bom ver que ela saiu de casa mais cedo. Talvez ela traga para a próxima
reunião alguma ideia que preste- sobe à escada.
-Não,
ela não foi pra empresa. Quer dizer... Não que eu saiba.
-Por
que está divagando tanto? O que é, Sônia? Qual é o problema? Fala de uma vez!
-Sua
filha... Não dormiu em casa.
-Onde
ela está? Diz de uma vez onde ela se meteu se não quiser perder o seu emprego. Fala!-
ameaça-lhe segurando os seus braços.
XXXXX
Otaviano
abre o portão de sua casa e Ana Maria sai sem perceber o estrago que Rosane
havia feito em seu carro.
-Obrigada.
-Por
que me agradece?
-Pela
noite maravilhosa que você me deu, por me fazer sentir mulher. Nunca eu tive
essa sensação. Você foi o único que conseguiu me dar a certeza, mesmo que por
um instante, de que eu sou uma mulher especial.
-Só
não quero que isso se restrinja ao instante de ontem.
Ao
se virar, depara-se com o veículo destruído.
-O
que houve? Acabaram com meu carro!
-Não
é possível! A gente tem que chamar a polícia!
-Olha
aqui, Otaviano: deixaram minha bolsa- abre-a- Não levaram nada. Ninguém roubou
nada... Destruíram meu carro de propósito!
-Gente,
que coisa horrível!- Rosane chega ao casal e finge estar chocada com a
situação- Quem foi capaz de fazer uma coisa dessas?
Otaviano
fica com cada vez mais raiva da amante e procura se conter para não partir em
cima dela, já que percebeu que ela é a autora do vandalismo.
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