-Calma,
meu amor. Calma! A gente vai até a polícia dar queixa.
-Eu
não tenho inimigo nenhum, ninguém pra fazer isso contra mim.
-Mas
o vidro está quebrado. Deve ter sido pra roubar alguma coisa do carro.
-Não,
Rosane, não foi. Eu olhei a minha bolsa e os meus pertences estão lá dentro.
Fizeram isso de caso pensado.
-Não,
eu não acredito. Se bem que esse bairro vive cheio de vândalos, de gente
perigosa. O Otaviano não contou que na semana passada, um rapaz foi preso aqui
por tráfico de drogas?
-Eu
não acredito que seja algo relacionado à atividade ilícita. Pra mim, tem
motivação pessoal.
-Eu
posso chamar um táxi pra você.
-Isso.
Chama um táxi. Nós vamos pra delegacia.
-Não,
meu amor, eu não posso ir agora. Eu tenho que passar primeiro em casa e dar uma
satisfação ao meu pai, explicar por que não dormi em casa hoje.
-Melhor
ela ir, Otaviano. O pai dela deve estar muito preocupado. Morto de preocupação.
-Ela
tem razão. Depois, a gente vai até a polícia e denuncia esse vândalo. Como isso
foi possível? A gente estava lá dentro e não ouvimos nada.
-No
banho, esqueceu?- Otaviano provoca a amante.
-Os
vizinhos também não escutaram nada. Bom, qualquer coisa, é só me chamar. Eu
moro no final da rua. Otaviano sabe explicar melhor do que eu.
-Obrigada,
Rosane. Eu vou chamar um táxi- vira-se para Otaviano- Essa moça, ela... Ela tem
alguma coisa que não me agrada...
-Por
quê? Você acha que foi ela?
-Não,
mas acho que ela está sendo falsa comigo. Não entendo os motivos dela.
-Vai
ver porque ela viu seu carro, constatou que você tem dinheiro. Como ela mesma
disse, o pessoal dessa área é perigoso mesmo.
-Talvez.
Mas nada me tira da cabeça que ela quer me assustar.
-Ela
não vai conseguir, eu vou te proteger.
XXXXX
-Fala
onde foi que a Ana passou a noite! Fala!
Sônia
consegue se soltar de Dalton.
-A
Ana não é mais nenhuma criança pro senhor se comportar dessa maneira.
-Não
me importa a idade que ela tenha. Ela mora na minha casa e me deve satisfações.
Eu avisei que você deveria ter encontrado a minha filha, porque isso poderia
custar o seu emprego.
-O
que o senhor vai fazer? Vai me demitir? Me jogar na rua como fez com outros
empregados que nunca tiveram coragem de faltar ao senhor com respeito?
-Como
você ousa fazer comigo agora?
-Se
duvidar, o senhor nem o meu nome sabe. Nem de outros que moram nessa casa há
vinte e cinco anos.
-Você
não tem nada pra reclamar. Sua família nunca morreu de fome, porque eu nunca
atrasei um único dia.
-Mas
humilha a minha menina. Humilha a Ana Maria, que pra mim, é como se fosse minha
filha. Tão minha quanto os filhos que eu tive.
-Ela
e a minha falecida esposa te deram essa liberdade, não eu. Se você se sente da
minha família, vai ter que parar de se sentir agora. Isso, se quiser manter o
seu emprego.
-Se
for pra aguentar a ignorância do senhor, eu entrego a minha vaga. Mas não vou
deixar que o senhor maltrate sua própria filha só porque pensa que ela não pode
mandar numa empresa.
-Penso,
não. Não quero mesmo. Não admito. Quanto ao seu emprego, é melhor que você
arrume suas coisas antes de comprar uma briga comigo. Em duas horas, eu não
quero nada do que é seu aqui dentro. Tenha um excelente dia... Sônia.
XXXXX
Rosane
coloca sua mãe idosa sobre uma cama. Debaixo do móvel, havia um penico.
-Eu
já venho, viu?- beija-lhe e retira o objeto debaixo da cama, indo em seguida ao
banheiro. Despeja o líquido dentro do vaso sanitário e, em seguida, volta ao
quarto da mãe, passando novamente pela sala. Escuta alguém batendo na porta da
frente. Pela janela próxima à estante, vê que se trata de Otaviano e,
propositalmente, não atende.
Volta
para o quarto da mãe e liga um ventilador. Fecha a janela.
-Qualquer
coisa, eu estou na sala, viu?
-Obrigada,
minha filha- articula as palavras com bastante dificuldade.
Assim
que sai do quarto da mãe, vai para o seu. Mas antes de puxar a cortina e
entrar, Rosane sente uma angústia. É um pressentimento de que algo ou alguém
lhe espera. Desiste de entrar e vai em direção à cozinha. Otaviano vem atrás
rapidamente e tampa a sua boca, levando-lhe para o quarto.
-Pensou
que não abrindo a porta iria fugir de mim?- tira a mão da boca de Rosane ao
jogá-la no chão.
-O
que foi? Ficou irritado porque eu quebrei o carro dela? Ela pode muito bem
comprar outro.
-Não
é essa a questão! Você sabe muito bem que ela pode te denunciar pra polícia!
-Qual
a sua preocupação? De ir junto com a vagabunda que você pôs na sua cama?
-Rosane,
não brinca comigo. Eu não estou pra brincadeira! Se você fizer mais alguma
coisa, eu não vou responder por mim!
-Por
que você não me mata? É, Otaviano, acho que tudo fica mais fácil assim.
-Você
pensa que é blefe meu, mas pode ter certeza que não é.
-Enquanto
eu tiver vida, você não vai ser feliz com nenhuma mulher que não seja eu.
-Não
me peça pra escolher, porque se esse dia chegar, eu vou escolher qualquer uma,
menos você.
-Pelo
dinheiro?
-O
que mais pode me atrair além disso?
-Atração
é uma coisa que nunca mais você vai ter na sua vida, se não for comigo.
-Será
que você não entende? A questão é simples: se nós tivermos um caso, eu posso
colocar a mão no dinheiro dessa mulher e te dar uma vida melhor. Qualquer coisa
é melhor do que essa pocilga que você mora com sua mãe.
-Pra
isso, eu tenho que te deixar.
-Me
dividir.
-Isso
eu não vou fazer nunca.
-Pois
então trate de seguir a sua vida. Eu não vou alterar nenhum plano meu pra
satisfazer suas vontades.
-Talvez
seja... – aproxima-se- A mesma que a sua- beija o pescoço de Otaviano.
-Eu
não quero você. Eu não quero ter você em meus braços e me esquecer do que eu
tracei pra mim.
-Diz
que não me ama.
-Eu
não te amo. Nunca te amei. A verdade é que eu sinto desejo por você. Um desejo
que eu não tive com ninguém mais, que só você me desperta.
-Sai
daqui. Sai da minha casa. Não entra mais pela janela do meu quarto! Eu não
quero que minha mãe te veja aqui. Só ela sabe o quanto que eu choro por culpa
sua. Fora daqui.
-Eu
só saio na hora que eu quiser.
-Otaviano,
saia daqui...
Ele
rasga a blusa de Rosane e a coloca contra a parede.
-Diz
que você não me quer. Diz com sinceridade que você não quer que eu fique.
-Sai
daqui. Sai daqui!- é interrompida por um beijo. Ele solta os seus braços e abre
o botão da bermuda que ela usava.
-Viu?
Eu soltei os seus braços e você não foi embora. Não adianta. Por mais que eu
despreze você, é comigo que você quer dormir. É o meu corpo que você quer
sentir- segura-a novamente.
-Me
larga! Me larga, cafajeste! Eu vou gritar pedindo socorro! Sai!- corre pelo
quarto, enquanto Otaviano fica parado. Ele tira a roupa e olha para a amante,
sempre com ar de quem tem o domínio da situação.
-Você
pode casar, dormir com os homens que você quiser... Cada vez que trouxer um
deles pra sua cama, é por mim que seu corpo vai ter anseio. Ninguém vai te
trazer mais desejo do que eu.
-Pra
mim, você é um nojento. Eu tenho nojo de saber que tantas vezes eu me entreguei
a você, pedindo pra ficar. E você me deixou por outra por causa de dinheiro.
Não, eu não quero saber de ser amante de homem assim. Eu não vendo o meu corpo
pelos trocados que você pode me dar tirando da conta dessa desgraçada. Eu não
sou prostituta. Não vou pra cama por dinheiro... Eu não sou... Eu não sou você!
Otaviano
se afasta com ódio da frase dita por Rosane e a olha, novamente, em silêncio.
Ela fica acuada pela coragem que teve em dizer aquilo que pensava. Só não
imaginava a reação que despertaria nele: ele a esbofeteia.
-Nunca
mais você vai dizer isso de mim! Ouviu bem? Da próxima, eu acabo com você! Eu
te mato, vagabunda miserável! Acabo com você!
-Doeu
a verdade, Otaviano? É isso mesmo que você é: um gigolô! Se duvidar, nem isso.
Vai ver quem se prostitui tem mais dignidade do que você.
-Cala
essa boca imunda!- novamente a esbofeteia. Em decorrência, Rosane vai ao chão.
Ele olha o corpo seminu daquela mulher, que tenta se levantar, e a impede
colocando o seu sobre o dela.
-Tira
essa mão de mim! Desgraçado! Vendido!
-Eu
não mandei você calar essa boca? Não mandei calar? Quer dizer que eu sou
vendido? É?- bate em Rosane mais uma vez.
-Me
solta! Me larga, Otaviano! Socorro!- sua boca é tampada novamente pelo rapaz.
-Só
que sou eu quem tem você nos braços. Mais ninguém! Ninguém, ouviu?- arranca o
resto da roupa de Rosane e consome o ato de maneira violenta.
-Não,
Otaviano... Não!
-Sou
eu quem você vai desejar pra sempre. Em mim que você vai pensar! Todo o
tempo... – beija diversas vezes o pescoço dela- Diz que me quer o tempo
inteiro... Fala!- grita sufocando o pescoço de Rosane.
-Eu
quero você. Eu amo você. Só você, Otaviano...
Os
lábios de Otaviano se levam à boca de Rosane, e o conflito acaba por poucos
segundos. Ele passa a mão no rosto da mulher e se levanta. Apanha suas roupas e
se veste bem devagar. Rosane não para de chorar no chão. Ele passa a olhá-la
com desprezo.
-É
aí que você tem que ficar. Gente que não tem ambição nunca vai subir na vida-
abre a cortina e vai embora, deixando Rosane atormentada com a atitude.
XXXXX
Um
táxi deixa Ana Maria em sua casa. Antes de tocar a campainha, Sônia abre a
porta com suas malas.
-Onde
você vai, Sônia?
-Eu
vou... Vou ter que viajar, tem uma parente minha doente e...
-Você
não tem parente que mora longe pra viajar... Que mentira é essa? O que
aconteceu?
-Ai,
menina... – chora discretamente- O seu pai está muito nervoso comigo e me botou
pra fora de casa!
-Por
que ele fez isso?
-Porque
ontem ele mandou que eu descobrisse onde você passou o dia, e eu não achei
você. Ele se irritou e me pôs pra fora de casa.
-Calma,
Sônia. Eu vou resolver essa situação com ele.
-Eu
não quero ver você brigando com meu pai por minha culpa, Ana Maria. Já passou.
Eu estou velha, mas eu posso arrumar outro trabalho na casa desses homens que vêm
fazer negócio com seu Dalton...
-Para
de falar besteira. Já falei que daqui você não sai.
-Mas
ela vai sair- aparece Dalton na porta- E eu não vou ceder aos caprichos de uma
moça que se recusa a obedecer o pai. A não ser que você me dê um bom motivo pra
manter a Sônia aqui dentro.
-Pois
eu vou te dar dois. O primeiro é que o senhor conseguiu o que tanto queria: me
tirar da empresa.
-Do
que você está falando?
-Eu
acabei de decidir que a sua vontade vai ser feita. Mesmo sendo acionista, eu
não vou ser mais um peso em suas iniciativas. Pode ficar tranquilo.
-É
alguma brincadeira? Você está abdicando de uma posição confortável só para manter
a Sônia no emprego?
-Não.
Eu estou fazendo isso pelo segundo motivo que tenho.
-Que,
obviamente, é passar as suas ações para o meu nome.
-Está
enganado, papai. As minhas ações serão representadas em breve pelo meu futuro
marido.
-Futuro
marido? Que ideia estapafúrdia é...
-Me
casar? Eu não acho que seja. Qual o pai que não quer ver sua filha casada? Pois
é, papai. Eu vou pedir para que o meu futuro marido me represente na gravadora.
E aí, o senhor pode ficar despreocupado. Não vai ter que cruzar comigo na
empresa. Já em casa...
-E
eu posso ter a honra de conhecer esse felizardo?- ironiza.
-O
senhor acha que é mentira minha?
-Claro
que é. Um truque mal elaborado, que você usa pra me desestabilizar.
-Então,
vou te dar mais uma notícia: seu genro é muito estimado pelo senhor.
-Ana
Maria, eu não vou tolerar mais gracinhas suas.
-Nem
se eu disser que é o Otaviano? Com quem você acha que eu passei a noite?
-Você
não teria coragem...
-Paga
pra ver se eu não tenho. Não é jogar com o poder da empresa que o senhor quer?
Pois agora, vai lutar de igual pra igual. Com o Otaviano.
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