-O
que você pretende contando essa estória? Me irritar como, aliás, sempre tem
feito?
-Sônia,
coloca a sua mala lá dentro. Você não vai mais sair dessa casa.
-Como
se atreve a contrariar minhas ordens, Ana Maria?
-Entra,
Sônia. Eu preciso ter uma conversa com o meu pai.
-Com
licença... – Sônia abre a porta e vai para o seu quarto.
-O
que de tão grave a Sônia não pode escutar?
-A
nossa conversa vai ser civilizada.
-Não
há maneira de ser civilizado com você: uma mulher que me peita, que me provoca,
que faz de tudo pra passar por cima do que eu mando fazer.
-Acontece
que o senhor está acostumado a ver todos fazendo o que o senhor exige. E eu
estou cansada de ter que abrir mão das minhas opiniões para satisfazer a sua
vontade. Não só eu, mas o Otaviano também.
-Você
acha mesmo que ele está tão apaixonado, a ponto de arriscar um emprego na minha
gravadora? Seja racional, Ana Maria. Está nítido que o Otaviano é um golpista.
E você não só sabe disso, como quer ser enganada para se dar ao desfrute de
ouvir que alguém te ama.
-Não
é nada disso. Ele gosta de mim.
-E
você descobriu isso numa única noite? Por que será que ele se omitiu todo o
tempo em que trabalhava ao seu lado?
-Por
timidez, por achar que sendo eu sua filha, nunca conseguiria se aproximar de
mim.
-Ingênua,
você foi procurá-lo. Com certeza ele deve ter dito algo que fez você se chocar
mais do que todos que estavam na sala de reunião. É um golpista que usa de um
truque velho.
-Tão
velho que você usou pra casar com a minha mãe, não foi?
-O
que está dizendo?
-No
leito de morte, ela me revelou que se casou com o senhor porque realmente o
amava. Mas nunca foi a mesma coisa com o senhor... Aos poucos, ela percebeu que
o casamento de vocês continuava porque o senhor teve que assumir a gravadora.
-Foi
por minha causa que essa empresa prosperou. Ou você acredita que sua mãe,
debilitada do jeito que estava, tinha condições de presidi-la? Nem mesmo quando
ela tinha saúde foi capaz de fazê-la prosperar.
-Será
que não foi muito proveitoso pro senhor a morte dela? O senhor pôde
representá-la legalmente quando ela não podia mais sair de casa. Convenhamos
que a morte foi fundamental para o seu sucesso?
-O
que você quer? Morrer para passar o controle absoluto de tudo o que é seu para
ele?
-O
Otaviano vai me representar, e se o senhor não vai precisar me suportar na
empresa, fique sabendo que eu vou deixar um inimigo à altura.
-Está
muito equivocada se pensa que eu vou permitir esse casamento.
-Já
não tem mais que permitir nada. A vida é minha.
-Mas
a empresa é minha. A casa é minha! Então, se eu quiser tirá-lo de lá e você
daqui...
-Não
vai poder. Imaginou o escândalo se os advogados revelam à imprensa o que o
senhor está tentando fazer conosco? São os meus direitos e eu vou usufruir
deles, que o senhor queira, quer não!- entra na mansão, deixando Dalton
irritado. Mas ainda haverá tempo de planejar alguma coisa...
XXXXX
Jandir
está trabalhando na oficina com o mecânico que presenciou o ataque de fúria de
Rosane.
-Pronto.
Liga pro cara e diz pra ele que já pode vir pegar o carro.
-Vou
pegar o telefone agora- repara que Jandir olha a rua- O que foi, Jandir?
-A
Rosane, todo dia ela passa por essa rua, vai comprar o remédio da mãe... Hoje
não deu nem notícia.
-Era
até dela que eu queria falar.
-O
que foi?
-Quando
eu estava vindo pra cá, eu vi ela quebrando um carro. Não sei de quem era, mas
estava na porta da casa de Otaviano.
-Aquele
que trabalha na empresa que faz disco?
-Esse
mesmo, que mora no fim da rua. O carro não era dele, não. Tinha uma bolsa de
mulher lá dentro, só pode ser da dona. Só sei que Rosane pegou o martelo e
acabou com o carro.
-Por
que isso?
-Deve
ser ciúme dele.
-Que
é isso? A Rosane não tem namorado nenhum.
-Ter,
ela não tem. Mas pra uma mulher fazer isso, só pode ser por causa de homem. E
se eu fosse você, não chegava perto dela.
-Eu
vou saber direito dessa história. Assim que eu largar daqui, eu passo na casa
dela pra saber por que ela fez isso.
-Não
se mete nisso, cara. A mulher não quer nada contigo.
-Mas
se ela estiver precisando da minha ajuda, eu vou me encontrar com ela.
XXXXX
-Casar,
menina? Mas ainda é muito cedo pra isso, você nem conhece o rapaz.
-Sei
dele tudo o que eu quero saber, Sônia. Esperar pra quê? O Otaviano já conseguiu
me convencer que é totalmente apaixonado por mim.
-Posso
ser sincera?
-E
quando você não é?
-Além
dessa paixão que você descobriu ter por esse rapaz, essa ideia de se casar... É
para afrontar seu pai, não é?
-Eu
não posso negar que seja mesmo por isso também. Mas o Otaviano... Ele me tratou
de um jeito que eu...
-Não
se esqueça de que ele é o seu primeiro homem, seu primeiro amor. Você é jovem
ainda, Ana Maria. Pense bem no que está fazendo. Você vai dividir a sua vida
com um homem que é quase um desconhecido?
-Mas
eu gosto dele, Sônia. E gosto também da vida maravilhosa que nós vamos ter.
-Não
se iluda. Esse homem pode não ser o certo pra você.
-Chegou
a hora de tomar as rédeas da minha vida. E que melhor situação eu teria se não
fosse ao lado de um grande amor?
XXXXX
Rosane
está sozinha no quarto, chorando, sobre a cama. A cortina é aberta com cuidado:
Jandir vai visitá-la.
-O
que houve? Que feridas são essas no seu rosto?
-O
que você está fazendo aqui?
-Eu
sei que você não está bem.
-Bem
na cara que eu não estou. Pode ir embora, eu vou ficar melhor daqui a pouco.
-Quem
fez isso com você? Foi ele? O tal de Otaviano?
-Por
favor, Jandir! Eu não quero falar dele.
-Vou
na casa desse miserável arrebentar a cara dele.
-Pra
quê? Por acaso isso vai resolver o vazio que eu tenho dentro de mim? Não adianta
nada, melhor é esquecer que ele existe.
-Rosane,
eu não vou te dizer mais. Se você se sente sozinha, eu quero te ajudar. Eu sou
louco por você, e sou capaz de tudo pra que você seja feliz do meu lado.
-Tudo
mesmo? Então, me faz esquecer. Agora. Aqui.
-Se
você quiser mesmo, me pede de novo.
-Me
faz esquecer, Jandir... Sem nem pensar em mais nada. Eu sou somente sua agora.
Os
dois trocam um beijo, e enquanto ele a trata com carinho, o rosto do seu
ex-amante vem à mente de Rosane, o que a faz sentir ainda mais prazer, apesar
dos maus tratos por ela sofridos.
XXXXX
Otaviano
volta de um bar e se depara com o carro de Dalton em frente à sua casa.
Aproxima-se e somente vê o motorista, estranhando o motivo da visita.
-Não
pense que é mera visita de cortesia, Otaviano- Dalton caminha atrás do
ex-funcionário.
-O
que o senhor veio fazer aqui?
-Depois
de minha filha ter passado a noite com você, acho que tenho um milhão de
justificativas que me motivem a estar nesse pardieiro. Não acha?
-Dr.
Dalton, o que aconteceu entre mim e a Ana Maria...
-Vai
ficar no passado. Ou você acreditou que eu toleraria a ideia de vocês se
casarem?
-Casar?
Ela falou em casamento?
-Cala
essa boca, cínico maldito! Foi, como dizem, comendo pelas beiradas até
conseguir enganar alguém. Mas saiba que da minha família, só Ana Maria é uma
verdadeira idiota.
-Eu
não quero que o senhor fale assim dela.
-Tudo
bem. Vamos falar em termos mais brandos, sutis. Uma música para os seus
ouvidos... – sacode um talão de cheques.
-Eu
não quero seu dinheiro.
-Nem
um milhãozinho? Que pensa, estou disposto a colaborar para que você suma desse
buraco que você chama de bairro. Pago um milhão de dólares pra te ver afastado
da Ana Maria. Posso ou não assinar o cheque?
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