05/10/2013

SOBRE PRÓDIGOS E PRODÍGIOS/ CAPÍTULO 5

-Não vai falar meu nome pra ela, Otaviano?
-Rosane: Ana Maria.  Ana Maria: Rosane.
-Muito prazer- Ana Maria estende a mão e espera ela apertar, mas ela faz uma expressão de repulsa.
-Desculpe, eu não quero atrapalhar vocês dois.
-Não está nos atrapalhando, Rosane.
-A gente está assim porque acabou de acordar- responde Ana Maria.
-Ah, sim...
-E a sua mãe? Está melhor?- desconversa Otaviano.
-Na mesma. Tenho que ver a hora do remédio que ela toma, não posso perder. Vocês me dão licença?
-Fique à vontade.
-Muito prazer, Ana Maria.
-Prazer.
Rosane vai embora da casa de Otaviano, que fecha a janela.
-Sua vizinha?
-É. Minha vizinha. Há muitos anos que ela mora nessa rua.
-Parece que ela ficou bem constrangida de me ver aqui, na sua casa.
-É porque esse povo olha a vida de todo mundo. Deve ter estranhado, porque não trago ninguém em casa, não é.
-Só pode ser isso mesmo. Bom, você se importa se eu tomar um banho antes de ir embora?
-Me importo se você for embora- abraça-lhe.
-Você tem que me deixar sair. Ser livre.
-O que te prende é você mesma. Eu estou te ajudando a encontrar a felicidade.
-Tudo bem. Posso usar o seu banheiro?
-Pode, mas não demora. Dr. Dalton deve estar achando que eu te raptei e vou ligar pedindo resgate.
-Se assim o fosse, pode ter certeza de que eu não voltaria por conta própria- beijam-se de forma calorosa.

XXXXX

Um mecânico que trabalha na oficina de Jandir vai comprar algumas coisas no supermercado da mesma rua que moram Rosane e Otaviano.  A moça vai até o carro da acionista, segurando um martelo. Quase dobrando a rua, ele olha algumas vezes para trás e vê que, na rua quase vazia, Rosane permanece parada. Seus olhos, vermelhos de tanto chorar, estão fixados no carro de sua rival.
Ela bate com o martelo no capô do automóvel, e percebe o amasso que causou. Olha para a porta da casa de Otaviano. Contrariada por não ter chegado ninguém da casa para que pudesse contar a verdade sobre o relacionamento que mantém às escondidas, não hesita em quebrar o vidro frontal e a janela que está do lado da condutora. Por medo de contrariá-la, o mecânico não ousa se aproximar e oferecer ajuda.
Suada, ela enxuga o rosto com o braço, mas não se esquece de jogar a ferramenta sobre o carro, saindo de lá com bastante ódio.
Percebendo o descontrole de Rosane, o homem decide não oferecer ajuda, indo embora.

XXXXX

Dalton chega à mesa para tomar seu café da manhã. Uma das empregadas serve seu suco. Já Sônia, a que deveria ter localizado Ana Maria no dia anterior, cumprimenta o patrão, trazendo-lhe um jornal.
-Bom dia, senhor.
-Alguém da empresa ligou?
-Não, tudo em ordem até agora.
O telefone toca. Sônia vai atender.
-Residência da família Bittencourt, bom dia. Claro. Tudo bem, daqui a pouco, ele entrará em contato com o senhor. Por nada, até logo- coloca-o na base.
-Quem era?- pergunta após beber o suco.
-Era o Dr. Marcelo. Disse que estava indisposto e que não poderia se deslocar até a empresa hoje. Pediu pra avisar que o senhor não saísse tão cedo, não havia necessidade.
-Sendo assim, eu vou organizar umas planilhas que não pude organizar ontem. E por falar em ontem, conseguiu descobrir onde Ana Maria estava?
-Não, senhor.
-Anda com mistérios agora? Pois muito bem, eu vou ao quarto dela tirar essa estória a limpo.
-Ana Maria não está em casa.
-Hum... Foi bom ver que ela saiu de casa mais cedo. Talvez ela traga para a próxima reunião alguma ideia que preste- sobe à escada.
-Não, ela não foi pra empresa. Quer dizer... Não que eu saiba.
-Por que está divagando tanto? O que é, Sônia? Qual é o problema? Fala de uma vez!
-Sua filha... Não dormiu em casa.
-Onde ela está? Diz de uma vez onde ela se meteu se não quiser perder o seu emprego. Fala!- ameaça-lhe segurando os seus braços.

XXXXX

Otaviano abre o portão de sua casa e Ana Maria sai sem perceber o estrago que Rosane havia feito em seu carro.
-Obrigada.
-Por que me agradece?
-Pela noite maravilhosa que você me deu, por me fazer sentir mulher. Nunca eu tive essa sensação. Você foi o único que conseguiu me dar a certeza, mesmo que por um instante, de que eu sou uma mulher especial.
-Só não quero que isso se restrinja ao instante de ontem.
Ao se virar, depara-se com o veículo destruído.
-O que houve? Acabaram com meu carro!
-Não é possível! A gente tem que chamar a polícia!
-Olha aqui, Otaviano: deixaram minha bolsa- abre-a- Não levaram nada. Ninguém roubou nada... Destruíram meu carro de propósito!
-Gente, que coisa horrível!- Rosane chega ao casal e finge estar chocada com a situação- Quem foi capaz de fazer uma coisa dessas?

Otaviano fica com cada vez mais raiva da amante e procura se conter para não partir em cima dela, já que percebeu que ela é a autora do vandalismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário