09/10/2013

SOBRE PRÓDIGOS E PRODÍGIOS/ CAPÍTULO 9

-Eu sabia!- Dalton bate na mesa do escritório- Aquele canalha miserável pensou que ia conseguir dar um golpe na minha filha, mas eu fui mais esperto do que ele. Quer dizer que ele tem outra mulher?

-Tinha, Dr. Dalton. Tinha. Ao que parece, o relacionamento entre ele e a tal Rosane terminou por conta da indiferença dele.

-Claro. Pra quê manter uma amante quando o lucro com a Ana Maria é maior? O que ele mais quer é contrair matrimônio, mas ele não sabe o que lhe espera.

-O senhor vai querer as cartas pra entregá-las à sua filha?

-Não. Elas vão ficar comigo. Se ela procurar pistas, é capaz do Otaviano forjar alguma coisa para continuá-la enganando.

-Qual o seu plano, então?

-Penso em fazer novamente uma proposta para o Otaviano. Só que agora, eu vou dizer que sei bem o que aconteceu entre ele e a tal de Rosane. Posso fazer a Ana Maria pensar que eles ainda mantêm um caso.

-Se eu fosse o senhor, eu tomaria cuidado com ele. Afinal, é um golpista. Pode ser capaz das piores atrocidades pra roubar parte da sua fortuna.

-Detetive, se eu fosse esse calhorda... Eu passaria a tomar muito cuidado... Comigo!



XXXXX



Sônia e Ana Maria estão no ginecologista, à espera da notícia sobre a gravidez.

-E então, doutor?- pergunta a moça, ansiosa.

-Pelos exames, a senhorita está em boas condições de saúde. E se tudo correr tranquilamente nos próximos nove meses, o seu bebê vai nascer forte e saudável.

-Quer dizer que...

-Eu não disse, menina? Você está esperando um filho!

-Ai, Sônia... – abraça-se com a empregada- Obrigada, doutor. Muito obrigada por essa notícia.

-O prazer é meu de dar essa notícia. Que você seja muito feliz com esse filho.

-Um filho com o Otaviano. É muita felicidade, Sônia. Ele não vai acreditar quando eu disser.

-Faça uma surpresa pra ele, Ana Maria. Deixe pra contar num momento especial de vocês dois.

-Tem razão. Eu vou preparar um jantar pra nós dois e contar essa novidade. Ou melhor... Nós três- as duas riem e se abraçam novamente.



XXXXX



Rosane também está em dúvida sobre sua gestação, e decide ir à farmácia para comprar um teste que lhe dê a certeza do filho que espera.

-Bom dia. Moço, tem teste de gravidez?

-Tem, sim. De qual marca você quer?

-Não sei. Qual é a melhor marca?

-Olha, é essa daqui- o farmacêutico vai buscar um pacote para Rosane- Sabe como usar?

-Sei... Quer dizer... Acho que sei. Quando muda de cor, é porque a gente está...

-Grávida?- Otaviano surpreende a moça- Quem está grávida? Você?

Rosane fica em completo silêncio, e o rapaz nada entende da reação. Tudo fica ainda mais sem sentido para ele a partir do momento em que Otaviano puxa Rosane pelo braço.

-Pra onde você está me levando? Me larga!

-Fica quieta, senão vai ser pior.

Os dois entram na casa de Otaviano quando o carro de Dalton entra naquela rua, encostando na calçada do ambicioso rapaz.

-Não quer que eu entre com o senhor?- pergunta o motorista.

-Não precisa. Eu vou resolver esse problema de uma vez por todas, e vai ser hoje!- alega, segurando um envelope com as cartas amorosas.

-Que história é essa de gravidez?- grita Otaviano.

-O Otaviano está gritando lá dentro.

-Calado! Eu não quero que ele me veja.

-Perdeu a língua, desgraçada? Você não disse que tomava pílula?- joga-lhe sobre o sofá.

-Parei de tomar!

-E você não me avisa nada? Continua dormindo comigo sem me dizer isso? Por que você acha que está grávida?

-Eu passei mal há uns dias, senti tontura, vontade de vomitar... Pensei que era por causa de uma gravidez...

-Ah, você pensou? Por quê? Deixou de pensar de repente, se é que você já pensou algum dia na sua vida?

-O que você tem a ver com isso? Por acaso, eu bati na porta da sua casa e te pedi dinheiro emprestado pra fazer um teste ou ir pro médico?

-Você sabe que eu não estou preocupado se o dinheiro é da aposentadoria da aleijada da tua mãe ou meu! O que me irrita é que em vez de você se cuidar pra isso não acontecer, você simplesmente me enrola!

-Para de gritar comigo! Eu não comprei o teste, não fiz o teste, nem sei se eu estou esperando um filho seu!

-Ou do mecânico, não é?

-Como é?

-Você pensa que eu não sei da sua vida? Que faz uns dias que você está dormindo com ele? Ele, que vive te cercando, e faz muito bem, pra ver se você larga do meu pé!

-Se ele pode ser o pai, por que você está preocupado comigo?

-Porque você não vai botar tudo a perder. Não agora!

-O filho pode ser do Jandir, se é que estou grávida mesmo...

-Não, não pode, meu anjo. Sabe por quê? Porque óvulos não são fecundados tão rápido assim. Como é que você dorme com esse cara e uma semana depois, sente os sintomas de gravidez?

-Eu dormi com ele no mesmo dia em que você fez aquilo comigo.

-O que é? Quer arrancar culpa de mim agora?

-Você me bateu e me forçou.

-Forcei você a fazer o que já estava bem acostumada. Ou você acha que eu tenho muito trabalho pra levar vagabunda pra cama?

Rosane revida a provocação com uma bofetada no rosto de Otaviano.

-Vagabunda é aquela que você dorme toda noite aqui, pra arrancar dinheiro do pai dela.

-Se é meu ou do mecânico, não me interessa. Eu só sei que eu vou levar você numa clínica pra você matar essa criança antes dela nascer.

-Você está louco?

-Não me testa, Rosane.

-Eu não vou abortar bebê nenhum. Se eu estiver grávida, eu quero o meu filho comigo. Eu vou criar essa criança. Nem pense em me afastar do meu filho por causa desse plano de roubar a fortuna do velho da gravadora. Eu não tenho nada a ver com isso, não quero um centavo do seu bolso.

-Centavo? Que centavo, sua desgraçada? Conheço bem gente da sua laia. Hoje você não quer dinheiro porque eu não tenho nada, mas quando eu botar as mãos na grana do calhorda do Dalton, é capaz de exigir que eu reconheça essa peste que você chama de filho!

-Isso se a filha do calhorda não souber a verdade- Dalton entra na casa de Otaviano e o deixa sem palavras- Tanto dinheiro gasto na contratação de um detetive particular, e a melhor prova eu consegui sem gastar absolutamente nada.

-Dr. Dalton, eu posso explicar o que aconteceu. Essa moça, a Rosane, ela é obcecada por mim desde que ela se mudou pra cá. Ela não consegue entender que Ana Maria e eu...

-Pode me poupar do seu latim, Otaviano. Sua carreira como golpista foi até promissora no início. Você soube bem convencer a Ana Maria, se bem que até uma criança conseguiria extorquir dinheiro dela. Deve ter sido um trabalho de difícil composição ter que me aturar durante todos esses anos. E pensar que eu cheguei a te incluir como principal herdeiro no meu testamento... - sente uma dor no peito, percebida por Otaviano- Eu ouvi tudo. E vou fazer justiça.

-Tudo é um erro, um engano da sua parte. O senhor me entendeu errado.

-Uma pena eu não ter trazido comigo um gravador para registrar a sua voz trêmula depois da sua derrocada. Também lamento por não ter gravado os melhores momentos da revelação do seu caráter, seria uma prova e tanto pra minha filha. Mas do jeito que ela é vulnerável, dará crédito ao pai. Adeus, Otaviano. Foi um prazer ter destruído você- abre a porta e entra no seu carro. Otaviano vai atrás.

-Otaviano... – Rosane o chama.

-Torce pra dar tudo certo. Senão, eu te mato. Fecha a porta quando sair- corre para pegar um táxi- Segue aquele carro preto, rápido!



XXXXX



As empregadas da mansão de Dalton colocam a mais cara louça sobre a mesa de jantar. Sônia e Ana Maria observam as serviçais, animadas.

-Será que ele vai gostar da decoração que eu mandei preparar pra ele?

-O Otaviano, eu não sei, minha filha. Mas o teu pai não está disposto a negociar com esse moço, não. Ele vai fazer frente a esse romance.

-Mesmo meu pai não concordando, eu sei que um neto vai ser capaz de amolecer o coração dele. Quem sabe o meu filho pode ser o sucessor que ele tanto quer?

-Cuide bem dele. Eu tenho medo.

-Medo de quê?

-De que o seu filho seja tão falho de caráter quanto o seu pai. E como era o Otaviano antes de namorar você.

-Que estória é essa, Sônia?

-Menina, eu sempre vou rezar e torcer por você, pra que você encontre a felicidade, mas tome cuidado com esse rapaz. Antes, você só via defeito nele. Agora, só vê o que ele tem de bom. Não fique cega por causa de um amor. Ele pode passar.



XXXXX



O carro de Dalton estaciona em frente ao portão da mansão.

-Desce e chama o porteiro para abrir isso logo.

O motorista obedece ao patrão e fala ao interfone. É o tempo em que Otaviano paga a corrida do táxi e corre para alcançar a janela do carro, que está aberta.

-Não fale nada, Dr. Dalton. O senhor está enganado ao meu respeito.

-Antes, eu estava, Otaviano. Mas agora não. Se você quiser entrar pra contar os pormenores, fique à vontade. Vai ser a última vez que você vai desfrutar do luxo da minha casa- abre a porta do carro e se levanta, mas passa mal novamente.

-Dalton?- Otaviano o segura.

-Chama uma ambulância. Rápido... Um aperto no meu peito.

-Alguém me ajuda? Socorro!- o motorista corre até os dois.

-O que é que ele tem?

-Um infarto, chama um médico.

-Eu vou avisar à Ana Maria- corre para a mansão.

-Você... Não vai conseguir... Otaviano...

Otaviano vê que Ana Maria e Sônia vêm com o motorista e simula desespero.

-Leva ele pro hospital, por favor!- ele chora, abaixa a cabeça e encosta no ouvido de Dalton- Quem não conseguiu foi você, velho idiota!

-Pai! Pai! O que está acontecendo, Otaviano? O que ele tem?

-Filha... Filha... – morre quando Ana Maria o toma em seus braços.

-Descanse em paz, Seu Dalton... – deseja Sônia.

-Meu pai, não. Não, meu pai, não! Volta, por favor! Você não pode morrer. Não me deixa agora, pai... Não, não, não, não! Volta, pai!

Todos ficam comovidos com a cena, menos Otaviano, que repara um rapaz vestido de preto.

-Vamos ver até quando, Otaviano. Por enquanto, parabéns. É a primeira morte das suas costas- envolto por sombras, o rapaz desaparece.

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