Otaviano
chega à empresa e é recebido na recepção por Dalton.
-E
como foi com Ana Maria?
-Tenho
uma carta na manga. Aposto que depois da reunião de hoje, ela não vai mais
interferir nas decisões que a empresa tomar.
-Do
que se trata, Otaviano?
-Não
se preocupe. O senhor ainda vai se surpreender comigo, mais até do que já tem
se surpreendido. E muito.
-Espero,
sinceramente, que saiba o que está fazendo. Apesar de minha filha não ter o
pulso para os negócios, prefiro que ela saia da empresa por conta própria.
-Isso,
eu não posso garantir. Ela pode até se afastar da empresa, mas continuará
acionista daqui. O senhor não pode simplesmente tirar o poderio que ela detém.
-Uma
questão de tempo.
-Mas
nada precisa ser feito ilegalmente. As ações de Ana Maria vão parar em suas
mãos, não se preocupe mais com isso. Com licença.
-Veja
bem o que pretende, rapaz. Eu posso me revelar um homem perigoso.
-Acho
uma perda de tempo. Em pouco tempo, eu já mostrei ser bem mais do que o senhor.
Com licença- toma o elevador.
XXXXX
Saída
de uma padaria, Rosane tropeça e deixa cair os pães que carregava numa sacola
de papelão.
-Não
acredito nisso, não- abaixa-se para recolhê-los.
-Eu
pago outro- um homem fala.
-Precisa,
não, Jandir. Dinheiro eu tenho aqui, a minha mãe já deu.
-Eu
faço questão. Pra mim não é nada.
-Jandir,
por favor. Não precisa se preocupar com isso, eu me viro sozinha.
-Você
andou chorando de novo, não foi? O rosto está até inchado. O que foi que o
safado disse pra você ficar desse jeito?
-Da
minha vida cuido eu, tá bem? Não preciso de homem pra me perguntar o que está acontecendo,
não devo satisfação da minha vida. Tem que entender isso de uma vez. Do que vai
adiantar eu mentir, dizendo que a gente vai ficar junto um dia? Te machucar?
-Pode
ter certeza que me desprezar já é o suficiente. Mas eu não vou desistir de
você. Eu te amo demais pra pensar nisso, eu estou pronto. Quero me casar com você,
constituir uma família. Só não fiz isso até agora porque você não deixou.
-E
nem vou deixar. Eu amo outra pessoa, Jandir.
-Diz
isso porque sofre por não ter quem você quer do lado, como se eu não passasse
pela mesma coisa quando te vejo se acabando por causa de outro homem.
-Essa
ladainha de novo, não. Não!
-Rosane,
a hora em que você decidir viver comigo, eu vou estar te esperando. Já não é
mais uma coisa que eu vou escolher. É sua vez de resolver se vai ser feliz ou
não. Deixa eu ir embora, tenho que pegar cedo no trabalho hoje.
XXXXX
Dalton,
Ana Maria e Otaviano estão na sala de reuniões da empresa, junto com outros
executivos.
-Bom,
o que vem à tona nessa reunião é que cada vez mais o uso do CD é frequente,
embora a nossa gravadora continue
vendendo o long play com bastante
sucesso. A pergunta que eu quero fazer para os senhores é: continuamos a
investir nesse formato para a nossa gravadora, abolimos o LP de vez ou
trabalhamos com ambos simultaneamente? Ana Maria, eu quero ouvir a sua opinião.
-O
senhor querendo saber o que eu penso primeiro?
-Você
não lança mão do seu direito como uma das acionistas da empresa? Fale, então.
-Bom,
eu tenho pra mim que não se deveria mexer nesse terreno por enquanto.
-As
vendas do LP poderiam cair vertiginosamente. É minha preocupação, no caso.
-Se
considerarmos que em pleno 94, o maior artista de nossa gravadora conseguiu
vender mais de quinhentas mil cópias, o que já é um número equivalente aos anos
anteriores, é um lucro importante que não podemos nos dar ao luxo de descartar.
-Pode
expor a sua visão, Otaviano.
O
rapaz fica calado, despertando a curiosidade dos presentes à mesa.
-Fala,
Otaviano. Depois do meu pai, você é que mais fala em nossas reuniões.
-Dr.
Dalton, desculpe ter que te dizer isso dessa maneira, mas...
-Imagino,
então, que vai acontecer a mesma coisa de sempre: não chegaremos ao consenso
porque você concordará comigo antes mesmo que eu dê minha opinião. E, mais uma
vez, você contrastará com outros que estão aqui, sobretudo a Ana Maria.
-Não.
Eu quero dizer que não posso opinar porque, neste momento, estou pedindo o
afastamento oficial desta empresa- Ana Maria fica abalada com a frase dita.
-Quê?
Você só pode estar fazendo uma brincadeira de muito mal gosto, Otaviano.
-Não
iria brincar com essa situação, senhor.
-Por
que isso agora, Otaviano? O que é que está acontecendo nessa sala?
-Eu...
– olha para a filha do patrão- Eu não posso ter mais um debate com a sua filha,
só isso.
-Otaviano,
você sabe que é meu homem de confiança. Sabe que pode falar o que quiser,
independentemente da posição que Ana Maria tome. Não seja imaturo.
-Senhor,
eu não quero mais continuar nessa postura tão perigosa para o futuro da
empresa.
-A
empresa, meu querido, é minha.
-Não.
A empresa é de que a faz. E não se trata do senhor ou dos que estão nessa
reunião, mas de muitos homens de família que estão trabalhando pra que os
produtos dessa gravadora sejam vendidos. E se for para causar algum
desentendimento, eu prefiro sair dela- pega a maleta- Com licença.
-Otaviano,
se você sair dessa sala, não precisa mais voltar. Estou avisando para o seu
bem.
-E
para o bem da empresa, é melhor que o senhor não me ameaçar. Arranha a sua
imagem e a minha também- abre a porta e sai, deixando Dalton irritado e Ana
Maria completamente transtornada, pois vê que o rapaz realmente conseguiu
surpreendê-la.
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