LETREIRO: Baseado
em coisa alguma.
O datashow exibe os slides preparados para
a apresentação de Alan e Igor. Flávio acompanha a exposição de ideias
atentamente.
IGOR: Os estudos
feitos recentemente em Harvard demonstram que existe uma ampliação nas vendas
de Ômega 3 comercializado pela Top Therm, a partir das inúmeras inserções de
Aracy Wolf em programas da RedeTV! e do SBT.
ALAN: Uma das
maiores preocupações dos espectadores que acompanham as propagandas...
IGOR: É se a voz
dos compradores vai se equiparar à da garota-propaganda.
ALAN: Bem, como
eu dir-vos-ia, a venda do pacote de cápsulas é feita sob a alegação de que o
produto é...
IGOR: Bom para o
cérebro, bom para o coração. E ainda por cima extraído dos peixes de águas
frias e profundas da Noruega.
ALAN: Para
contatar a empresa, a fim de adquirir o produto, tudo que o cliente precisa
fazer...
IGOR: É ligar
para 0800 770 7900. E tem promoção para aposentados e maiores de sessenta anos:
cinquenta por cento de desconto.
ALAN: Escuta, a que
horas você pretende parar de me interromper?
IGOR: Até onde eu
sei, o trabalho é em dupla.
ALAN: Não parece
que você tenha se lembrado disso o tempo todo, já que não me permite falar.
IGOR: Se você
tivesse competência, coisa que eu duvido muito que exista, não se deixaria
interromper.
ALAN: Mas, ao que
me consta, eu não preciso demonstrar minha insegurança, não preciso dizer que
sou competente.
IGOR: Porque não
é, exatamente o contrário do que eu sou.
ALAN: Ouça-me
bem, seu boçal...
PROFESSORA: Muito
bem, creio que já é suficiente para que eu possa atribuir uma nota ao grupo.
Daqui a quarenta e oito horas vocês terão as notas disponibilizadas no sistema.
(fundo musical:
“As quatro estações (Boss In Drama remix)”- “o outono é sempre igual/ as folhas
caem no quintal/ só não cai o meu amor pois não tem jeito, é imortal”)
A fachada da
Concha Acústica, reduto de festas da universidade, é mostrada ao público. À
noite, Flávio e Alan frequentam o espaço, que mostra um cartaz anunciando um
show do cantor Leonardo Manjericão.
FLÁVIO:
Finalmente um momento pra desestressar.
ALAN: Do jeito
que ando, acho difícil de conseguir.
FLÁVIO: Não se
esqueça de que você tem uma turnê pra começar amanhã.
ALAN: Nem fale.
Olha, essa vida de conciliar faculdade com carreira enlouquecer-me-á.
FLÁVIO: Oi?
ALAN: Esquece.
Qual é a primeira cidade?
FLÁVIO: Paris.
Mas antes vamos passar no Museu do Louvre. Não vou sair com o celular a
tiracolo sem tirar uma foto lá.
No dia seguinte,
já na casa de Alan, Flávio toca a campainha. O cantor abre a porta.
ALAN: Eu te dei a
cópia da chave daqui, por que você não abriu?
FLÁVIO: Quando
dei por mim, vi que tinha esquecido em casa. Tá pronto pra embarcar?
ALAN: É... Quase.
Preciso apenas trocar de roupa, as quatro malas já estão prontas.
FLÁVIO: Quatro? O
que você tá levando além da roupa?
ALAN: Meus gibis
do Cebolinha e umas cartelas de Dorflex (ouve-se, pela primeira vez, uma caixa
registradora).
FLÁVIO: Cara, o
que foi? Você parece meio tenso...
ALAN: Impressão
sua. Fica à vontade, eu vou ao quarto pegar a bagagem.
FLÁVIO: Isso na
sua camisa é sangue?
(fundo musical:
“Purgação”)
ALAN: Não diz
besteira, Flávio. Eu já volto.
O empresário do
cantor mostra desconfiança em relação ao artista.
(fundo musical: “The look of love”)
Após a realização
da turnê, Flávio e Alan dão um passeio e visitam o Museu do Louvre, como o
segundo havia sugerido.
ALAN: Nada como
uma locação internacional depois de cenas em estúdio.
FLÁVIO: Só não entendi
por que colocaram Diana Krall pra embalar a cena.
ALAN: Estamos no
Louvre, as pessoas devem achar que estamos no topo da pirâmide social.
FLÁVIO: Grandes
coisas. Os vocalistas dos grupos de pagode que você gosta também estão.
ALAN: Que bela
obra de arte, não? É o quadro de que mais gosto.
FLÁVIO:
Engraçado... Eu já vim ao Louvre várias vezes e não me lembro desse.
ALAN: Como não,
Flávio? A maioria das pessoas vem aqui pra apreciá-lo. E eu me identifico
demais com ele. Parece ter sido feito em minha homenagem.
FLÁVIO: Qual é o
nome do quadro mesmo?
ALAN: “Mano
liso”. Muito realista.
(fundo musical:
“É preciso dar um jeito, meu amigo”- “eu cheguei de muito longe/ e a viagem foi
tão longa”)
O público pode
ver um avião aterrissando no Aeroporto Internacional do Recife, trazendo Alan e
Flávio numa manhã chuvosa. Os rapazes caminham com suas respectivas malas pelo
saguão do local.
ALAN: Finalmente
de volta à minha terra.
FLÁVIO: Qual é,
Alan? Isso daqui é um filme, não um quadro do “Domingo Legal”.
ALAN: O melhor de
tudo é poder voltar pra casa sem ter de me preocupar com a faculdade.
FLÁVIO: Já deu
uma olhada no seu Sig@ hoje?
ALAN: Olharia,
caso fosse eu masoquista. Mas não pretendo que nada estrague a minha
felicidade.
ERASMO:
(aproxima-se de Flávio e de Alan, pronunciando o nome do protagonista como
“Álan”) Alan Godoy?
ALAN: (corrige
Erasmo) Alan. Mal cheguei e já me abordam para autógrafos?
FLÁVIO: Achei que
isso acontecesse só na Europa, já que por aqui você é amplamente desconhecido.
ERASMO: O senhor
poderia me acompanhar até a vigésima sétima DP?
ALAN: Flávio!
FLÁVIO: O que
foi?
ALAN: É um dos
homens de preto.
FLÁVIO: Nossa,
nunca imaginei que Tommy Lee Jones estivesse tão jovem.
ERASMO: Mais uma
piada sem graça como essa e eu prendo os dois por desacato.
FLÁVIO: Com quem
o senhor pensa que tá falando?
ERASMO: (mostra o
distintivo policial) Erasmo Nogueira, delegado. Homem o bastante pra achar que
deveria ser eu a fazer essa pergunta. Aliás, eu não preciso da formalidade pra
perguntar se você pode me acompanhar. É uma intimação.
ALAN: Poder-me-ia
explicar a causa?
ERASMO: Sim,
Pasquale paraguaio. O senhor deve prestar esclarecimentos sobre o
desaparecimento de Igor Zimmermann, seu colega de faculdade e, por que não
dizer, desafeto declarado?
ALAN: Espera um
pouco. O senhor está dizendo que... Que eu sou um dos suspeitos do sumiço do
Igor?
ERASMO: Não. Você
é o único. Como chegou o meu momento de começar a brilhar nesse filme, exijo
uma música de suspense enquanto a câmera dá um fade in em mim e no Alan.
ALAN: É “Alan”.
(fundo musical:
“Como vês”- “ele quer me destruir”)
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