27/02/2020

CATCH BACK/ EPISÓDIO 9


(ABERTURA)

CENA 1

(fundo musical: “Sentença (Voltech, Ethernal Soul and Deep motion remix)”- “só a minha ausência/ vai te fazer notar/ quem realmente sou”)
Sorumbático, Vlad está sentado num dos balanços do Colégio Providencial e relembra seu “romance” com Letícia.
LETÍCIA: E aí, curumim? Quer namorar comigo?
VLAD: Oi?
LETÍCIA: Tô falando sério. Quer ou não?
VLAD: O que é que você viu em mim?
LETÍCIA: Você tem cara de ser galã de filme internacional (pensa) Que mentira, uma tartaruga ninja dessas...
VLAD: Tá bom, eu aceito.
Em seguida, sua mente retoma a revelação que Amanda lhe fez sobre Letícia.
AMANDA: A Letícia, ela... Ela tá te usando.
VLAD: Peraí, Amanda. Que história é essa?
AMANDA: Ela namora outro carinha, o Jean. Ele é do terceiro ano.
Por fim, o término com a adolescente mentirosa.
VLAD: E o que foi aquilo que você me falou tem dois dias?
LETÍCIA: Foi só pra que ele visse. Tá doido que eu vou querer um cara feito você, com o Jean perto de mim?
VLAD: Não precisa mentir mais, não. Agora vê se me faz um favor: até o dia que você quiser estudar em outro lugar, não olha na minha cara. Aproveita o Jean, já que ele deve ser melhor que eu.
Um dos meninos que está perto do balanço comenta com outro.
ESTUDANTE DO COLÉGIO PROVIDENCIAL: Deixa eu abaixar aqui pra me sentar...
Acontece que um dos bancos está sobre a estrutura de madeira, ao mesmo tempo que Vlad permanece distraído em cima do outro assento, este posicionado de maneira correta. Entretanto, ao tentar tirar o banco da alta posição em que estava, o estudante acaba acertando a cabeça da jovem versão de Vlaviano, levando-lhe ao desfalecimento e causando-lhe um galo na testa.
(fundo musical: “Se a gente pode sonhar (Zerky remix)”- parte instrumental)

CENA 2

Maria Clara toca a campainha da casa de Paloma inúmeras vezes. A jornalista chega perto da porta.
PALOMA: Mas o que é isso aí fora, hein? Vai tirar a mãe da forca? (abre a porta) Ah, me enganei: quem tá na forca é você. Maria Clara Anveres... Realmente eu não esperava que você viesse até mim. A que devo a desonra da sua visita? Já sei: deve estar tão desesperada a ponto de me pedir pra parar de fazer matérias contra você. Reportagens que, segundo a dona da Pharmanveres, são totalmente sensacionalistas. Mas tenho certeza de que ninguém pode impedir o trabalho da imprensa. Muito menos você, que nem sequer está no pedestal que sempre te colocaram. Portanto, acho bom você tomar muito cuidado, porque qualquer escuta ou câmera escondida pode revelar o que você veio exigir de mim, e eu não sou mulher disposta a concessões. Desculpe, queridinha, mas os meus princípios não permitem que eu troque palavras com pessoas criminosas. Dê meia volta e suma daqui.
MARIA CLARA: Olha, se eu fosse realmente a criminosa que você quer que eu pareça pra todo mundo, eu já teria te dado a lição que você merece. Mas você tem razão. Uma mulher digna como eu não tem nada pra fazer aqui. (fica de costas para Paloma) Só que uma criminosa tem. E eu vim pra corrigir o erro.
PALOMA: Exatamente do que você tá falando?
MARIA CLARA: Eu não sou uma delinquente, Paloma? Acertou. Mas meu crime não é nada relacionado ao que tanto propaga naquele programa mequetrefe que você apresenta. Sabia que eu vou ser indiciada, muito em breve, por lesão corporal?
PALOMA: O quê? A poderosa da indústria farmacêutica sentando a mão na cara dos outros? Essa história me interessa e muito. Fala aí: quem foi a vítima?
MARIA CLARA: “Quem foi” não. “Quem é”.
(fundo musical: “À francesa (Extended club mix)”- parte instrumental)
Paloma leva uma bofetada e põe a mão no rosto, assustada.

Estamos apresentando “Catch back”.
(fundo musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance mania”)

NARRADOR: Ele tem um futuro brilhante nas mãos, e o seu sucesso está lhe levando a lugares inimagináveis.
FLÁVIO: Qual é o nome do quadro mesmo?
ALAN: “Mano Liso”. Muito realista.
NARRADOR: Só que o desaparecimento de seu maior inimigo vai lhe colocar na mira da polícia.
ALAN: Mas eu não matei. Jamais matar-lhe-ia.
ERASMO: Por acaso alguém aqui falou em matar?
(fundo musical: “Aqueous”)
NARRADOR: “Confissões prolixas de um exíguo mesoclítico”. Neste domingo, depois do “Elástico”, no seu “Dormindo melhor”.

Voltamos a apresentar “Catch back”.
(fundo musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance mania”)

PALOMA: Você ficou lesa de vez, foi? Como é que você tem coragem de vir até...
MARIA CLARA: A Nicole confessou tudo, imbecil. Todos nós sabemos que você e ela estiveram juntas esse tempo todo pra me incriminar. Que a culpa da intoxicação das minhas cobaias é dela, orientada por você.
PALOMA: Que fanfic pai d’égua que você inventou, hein, Maria Clara? Será que você tá inspirada depois de se envolver com o escritorzinho de nota de rodapé?
NARRADOR: “PAI D'ÉGUA”: algo ou alguém muito bom.
MARIA CLARA: Olha só que curioso, Paloma: se essa história fosse verdade mesmo, seriam dois homens maravilhosos atrás de mim: o Vlaviano e o Ivan. Logo o que te interessa.
PALOMA: Tava demorando pra começar com a pavulagem de sempre.
NARRADOR: “PAVULAGEM”: exibir-se, engrandecer a si próprio;
MARIA CLARA: Mas você não tem motivo pra se preocupar, Paloma. Quem me interessa não está tentando me conquistar, já está comigo. Ivan e eu estamos juntos.
PALOMA: Isso é mentira.
MARIA CLARA: E tem mais: maior do que a vontade do Ivan em ficar comigo é a de te colocar na cadeia.
PALOMA: Você não contou essa mentira do meu envolvimento com a Nicole pra ele, contou?
MARIA CLARA: Deixa de ser idiota! O Ivan é praticamente o mentor do plano pra te desmascarar! Porque ele, tanto quanto eu, tá louco pra te ver pegar o beco. De preferência pra penitenciária!
NARRADOR: “PEGAR O BECO”: sair de algum lugar.
PALOMA: Acontece que vocês não têm provas da minha ligação com essa mulher. O que te garante que a Nicole não te odiava a ponto de fazer tudo isso pra te jogar na cadeia? Hein? Vai ver o que ela sente é uma paixão mal resolvida.
MARIA CLARA: Vai tentar virar o jogo contra mim de novo?
PALOMA: Não, eu só tô trabalhando com as possibilidades, faz parte da minha orientação profissional.
MARIA CLARA: Qual seria? Teoria do recalque ou bacharelado em mitomania?
PALOMA: Clarinha, pensa há quanto tempo que essa moça trabalha como sua secretária particular. Ela sabe tudo o que acontece com a sua empresa. O que não garante que ela não saiba mais ainda sobre a empresária. Se você fosse tão esperta quanto se julga, deveria pensar que a Nicole realmente se apaixonou por você e fez tudo isso pelo simples fato de que você jamais foi além com ela.
MARIA CLARA: (fala baixo) Não fala mais nada. Pelo bem da sua linda cara de pau: cala essa boca, Paloma.
PALOMA: A verdade dói, minha querida, mas eu pretendo ir mais além. Quem sabe se, ao invés da frustração de a Nicole de não ter conseguido te conquistar, o que moveu esse plano foi o fato de ela já ter sido seduzida por você e desprezada em seguida? O que garante ao coitado do Ivan que ele é o único a conhecer os lindos lençóis importados da sua cama?
MARIA CLARA: Como você é baixa! Mas eu sou subterrânea (novamente esbofeteia Paloma, que ri após ser agredida)!
PALOMA: Quem diria? O poço de elegância se rebaixando a discutir com uma “reles” jornalista.
MARIA CLARA: Poço de elegância? Eu sou praticamente a bacia amazônica da finesse, minha filha! Acontece que eu não vou gastar as dicas de etiqueta que aprendi com Glória Kalil com uma mulher feito você! E o pior é você acreditar que o Ivan um dia poderia querer ficar contigo! Se olha no espelho, infeliz! Você não só não é páreo pra mim como também não é pra nenhuma mulher que preste!
PALOMA: Agora você tocou no ponto certo! Já que eu não posso ser a mulher da vida do Ivan, eu vou acabar com a mulher da vida do Ivan! Esse amor nunca se concretizou e não vai acontecer enquanto vida eu tiver!
MARIA CLARA: Não me dê a chance de resolver isso pessoalmente, Paloma!
PALOMA: Por que você não compra a Nicole, hein? Vai que ela em depoimento diz as mentiras que você quer ouvir! Mas nada vai provar que eu tenho envolvimento nesse crime!
MARIA CLARA: Nesse crime e na falsa noite que você passou com o Ivan, não é? Porque isso também foi armação sua!
PALOMA: Foi isso que o Ivan te disse, que não aconteceu nada entre nós? Nada que preste, só se for!
MARIA CLARA: A Nicole colocou o sonífero que você mandou, sua ameba! E você ainda fez com que ela te dopasse pra parecer tão vítima da situação quanto o Ivan! Mas só dormindo mesmo que ele iria pra cama com você!
PALOMA: Eu já disse que você não tem prova nenhuma das acusações que tá me fazendo!
MARIA CLARA: Eu não. Mas a polícia vai ter!
PALOMA: Como? Interrogando a mentirosa da Nick? Ou mandando uma intimação pra que ela compareça à delegacia?
MARIA CLARA: Ela já está na delegacia, Paloma. Presa.
(fundo musical: “Perigo (Dallass remix)”- parte instrumental)
PALOMA: A Nick... A Nicole foi detida?
MARIA CLARA: Foi. E tudo graças ao homem que você, há anos, tenta chamar pra fazer a dança do acasalamento ao som de “Fêmea”, do Fábio Júnior. E a polícia autorizou a quebra de sigilo telefônico do celular da Nick, além de vasculhar os depósitos que ela recebeu na conta do banco. Só uma questão de tempo até você ser reduzida a pó.
PALOMA: Você não vai me destruir...
MARIA CLARA: Você já nasceu destruída, Paloma! E em breve vai ser varrida pra debaixo do tapete. Não tinha dito que eu era criminosa? Pois então... Vamos dividir a mesma cela. Te vejo na cadeia (Maria Clara deixa a casa de Paloma).
PALOMA: Não, eu não vou deixar essa manauara dos infernos me vencer. Ela e o Ivan que me aguardem. Isso não vai ficar assim! Não vai!

CENA 3

Vlaviano volta ao seu apartamento à noite, após entregar um novo currículo. O jovem tira o seu molho do bolso e tenta abrir a porta do apartamento, mas o deixa cair. O celular do desempregado toca.
(fundo musical: “Luz que me traz paz (Astronauts & Deep Motion remix)”- “eu vou cantar pra ela/ que sem ela não existo mais/ eu vou cantar pra ela/ que eu sempre a quero mais”)
VLAVIANO: Alô?
IVAN: (ao lado de Maria Clara, na casa da farmacêutica) A gente pode falar, Vlaviano?
VLAVIANO: Dá pra ser depois, Ivan? Eu vim de uma entrevista de emprego, peguei metrô e ônibus e tô morrendo de fome. Eu já não tenho muito peso, daqui a pouco eu fico só o cuí.
NARRADOR: “SÓ O CUÍ”: indicação de que alguém é muito magro.
IVAN: Eu não vou demorar. O delegado esteve conversando com a Nick e autorizou o vasculhamento de contas pessoais que pertencem a ela. E descobriu que houve transferências feitas pela Paloma.
VLAVIANO: Quem iria dizer que a mulher, com uma carreira respeitável de fofoqueira na televisão, era bandida, né? Mas foi só por isso que você me ligou?
IVAN: O delegado esteve aí no seu apartamento pra te intimar a comparecer lá amanhã.
VLAVIANO: Pra alguma acareação com a Nick?
IVAN: Não, isso ele vai fazer entre a Paloma e ela. Quer que você dê um depoimento. Essa pode ser a chance de inocentar a Maria Clara.
VLAVIANO: Espera, deixa eu apanhar as chaves que eu derrubei. Me fala: a que horas eu tenho que chegar lá? (quando Vlaviano olha pra baixo, percebe que há um par de sapatos vermelhos de salto alto atrás do molho) O que é isso?
Paloma pressiona o nariz de Vlaviano com uma flanela molhada com clorofórmio. O rapaz deixa o celular cair ao chão, junto às chaves.
IVAN: Você ouviu o que eu falei, Vlaviano? Vlaviano, você ainda tá aí? Vlaviano?
PALOMA: Oi, queridinho.
IVAN: Paloma?
MARIA CLARA: Ela tá com o Vlaviano?
IVAN: O que você tá fazendo aí?
PALOMA: Já viu aqueles comerciais sobre ômega 3, extraído dos peixes e que é ótimo pra saúde? Pois então: chegou a hora do Vlaviano retribuir as proteínas que os bichinhos fornecem... Virando comida do cardume.
IVAN: Não se comporta feito uma menina barriguda, Paloma, pra não se arrepender depois. Eu sei onde o Vlaviano tá, você não tem saída.
NARRADOR: “MENINA BARRIGUDA”: alguém que só faz besteira.
PALOMA: Mas não sabe pra onde eu vou levar esse escritor de meia pataca. Só vou te dar uma dica, Ivan: quando vocês encontrarem o Vlaviano, vocês vão sentir duas coisas: uma é o pitiú. A outra é sentimento de culpa. Porque foram vocês que assinaram a sentença de morte dele!
NARRADOR: “PITIÚ”: cheiro, geralmente associado ao odor de peixe.
MARIA CLARA: O que foi, Ivan?
IVAN: Ela tá fazendo o Vlaviano de refém.
PALOMA: Ah, já estás refestelado na cama da cretina, Ivan? Você não perde tempo mesmo! Eu prometi pra mim mesma que ia me vingar de vocês. Por isso, podem dar adeus à esperança de salvar a Maria Clara da cadeia.
IVAN: A polícia vai atrás de você também, deixa de ser idiota! Você não vai conseguir mais nada além de se complicar com a lei!
PALOMA: Sim, eu vou ser caçada pela Interpol provavelmente, mas o inquérito sobre a culpa pela intoxicação contra a Maria Clara vai continuar. Ou vocês acham que a Nick vai falar alguma coisa? Acorda, que o idiota aqui é você! Nem se a polícia oferecer uma delação premiada ela diz que eu estou por trás disso!
IVAN: O delegado já pediu pra grampear seu celular.
PALOMA: Me admira muito que você tenha terminado o ensino fundamental, quanto mais uma pós-graduação. Porque inteligência não é o seu forte!
IVAN: Como é que você acha que não vai ser presa se nessa conversa você tá me confessando tudo?
PALOMA: Mais uma prova do quanto você é burro. Eu tô falando do celular do Vlaviano, palerma! E não pretendo levá-lo comigo pra que o delegado me rastreie!
IVAN: Devolve o Vlaviano, Paloma!
PALOMA: Nem com nojo! (desliga o telefone móvel)
NARRADOR: “NEM COM NOJO”: negação veemente de que algo irá acontecer.
IVAN: Paloma? Paloma, fala comigo! Droga!
MARIA CLARA: A cretina sequestrou o Vlaviano?
IVAN: E não é só isso. A voz dela tava muito diferente do que eu tô acostumado a ouvir. Paloma não vai parar por aí. Ela vai matar o Vlaviano.
MARIA CLARA: Não... Não, Ivan, a gente não pode deixar isso acontecer!
IVAN: Ela tá com ódio da gente, Maria Clara, por causa da prisão da Nick. E a Paloma não tá preocupada só em escapar da justiça, não. O Vlaviano representa a tua absolvição, e por isso ela quer dar um fim nele.
MARIA CLARA: Como é que a gente vai descobrir onde essa desgraçada quer se meter com ele?
IVAN: Ela disse que o Vlaviano vai virar comida de cardume.
MARIA CLARA: O mar... Ela vai tentar escapar pelo mar. Claro, a Paloma não pode usar o passaporte pra escapar!
IVAN: Mas ela pode ter falsificado um, Maria Clara...
MARIA CLARA: Impossível, Ivan. Eu confrontei aquela megera há alguns minutos, não daria tempo de ela mandar confeccionar um. Paloma não tinha como imaginar que a Nicole abriria a boca... Fui eu que lhe alertei.
IVAN: E agora?
MARIA CLARA: A gente não pode deixar que ela mate o Vlaviano!
IVAN: E como a gente impede isso? Me fala!
MARIA CLARA: Já sei: você vai ligar pra todos os portos do Amazonas daqui a alguns minutos.
IVAN: E você?
MARIA CLARA: Duas atitudes: a primeira é ligar pra polícia e avisar do sequestro. A outra é caçar a Paloma.
IVAN: Como você vai fazer isso?
MARIA CLARA: Descobre se ela tomou alguma lancha e em que porto foi. Quanto ao resgate... Deixa comigo.

CENA 4

Vlaviano acorda amarrado numa lancha que Paloma dirige, à noite. Atordoado, ele a olha, mas a imagem da jornalista está embaçada para o jovem.
VLAVIANO: Onde é que eu fui parar?
PALOMA: Por enquanto, em lugar nenhum. Mas daqui a pouco nós dois vamos. Juntos. Até o fim.
VLAVIANO: Você me sequestrou?
PALOMA: Não, querido, resolvi te levar pra dar uma voltinha pela Ilha de Marajó... É lógico, sequelado!
VLAVIANO: Isso tudo é pra que eu não fosse à delegacia? Vai me prender até quando?
PALOMA: Fica tranquilo, Vlaviano. Você não vai ficar preso por muito tempo.
VLAVIANO: Quer dizer o quê? Que vai me enviar pra Terra dos Pés Juntos?
PALOMA: Eu não. A vida. E vamos os dois.
VLAVIANO: Mas que leseira é essa?
PALOMA: Pensa bem, Vlaviano. Você deixando de existir é tudo que a justiça precisa pra trancar a Maria Clara numa cela e jogar a chave no lixo. E eu indo pelos ares impede a polícia de me prender.
VLAVIANO: Sim, mas pra fugir tem que me raptar e me matar?
PALOMA: Óbvio que não. Mas se eu não fosse cruel, que graça Paloma Oliveira teria?
VLAVIANO: Ainda tá em tempo de pensar, Paloma. Você pode me largar em qualquer beco sujo, sem precisar manchar as mãos de sangue.
PALOMA: Comovente você, mas manter o meu rastro de destruição é mais excitante.
VLAVIANO: O que tá pensando em fazer? Me jogar amarrado no mar e depois jogar essa lancha contra um píer qualquer?
PALOMA: Foi minha primeira ideia, mas achei uma solução mais prática que me permite nos extinguir dessa terra plana.
VLAVIANO: Você ficou maluca de vez...
PALOMA: Mas isso é evidente. Voltando ao assunto: eu estava naqueles sites de venda de produtos seminovos e comprei um material destrutivo, que vem com manual de instruções. Aprendi como acionar, mas não como desativar, já que joguei o manual fora.
(fundo musical: “Meu bem (Gabe Pereira remix)”- “mas eu não vejo graça e nem de graça eu quero ela sem você/ pois não há cor”)
Vlaviano olha para o lado e vê uma bomba-relógio no piso da lancha.
VLAVIANO: Por que você fez isso?
PALOMA: Detesto textos injuntivos. Minha maldade, minhas regras.

CENA 5

Um helicóptero sobrevoa o mar do Amazonas. Vê-se uma luz acesa no veículo aéreo. Trata-se de Ivan, segurando uma lanterna.
IVAN: Tem certeza de que isso vai dar certo?
MARIA CLARA: (pilota a nave) Claro que sim, já confirmei com os funcionários da empresa que ela contatou pra alugar uma lancha. E avisei à polícia.
IVAN: Então, por que não deixamos os agentes cuidarem do caso, enquanto eu faço uma maratona de “Samantha” na Netflix?
MARIA CLARA: Porque faço questão de colocar a mão na salafrária.
IVAN: (aponta para a lancha) Ali!
VLAVIANO: Para com essa loucura, a polícia vai vir atrás da gente! Se entrega de uma vez, Paloma!
PALOMA: Nunca! O quebra-cabeça dos meus crimes tá montado. Mas o que a polícia vai encontrar são os pedaços que eu vou fornecer.
O cenário é trocado para um hospital. Vlad, ainda desacordado e com um galo na cabeça, é transferido numa maca.
MÉDICO: Rápido, leva o curumim pra sala de radiografia.
De volta ao mar, a cena exibe a bomba novamente, agora com seu cronômetro mostrando que faltam dois minutos para o automóvel explodir.
IVAN: (olha para a lancha através de um binóculo) Essa não.
MARIA CLARA: O que foi agora, Ivan?
IVAN: Ela vai explodir a lancha.
MARIA CLARA: Como assim?
IVAN: Parece que ela colocou uma bomba ao lado do Vlaviano.
O médico de Vlad o coloca na máquina de radiografias.
MÉDICO: Vira o paciente de lado pra ver a extensão do galo, mas já deu pra perceber que ele está grande no balde.
NARRADOR: “NO BALDE”: demais, em excesso.
Enquanto a luz da máquina ilumina todo o rosto, a consciência de Vlad parece ser submetida a um scanner, e o adolescente acaba aparecendo na lancha ao lado de Vlad.
VLAD: Caramba! A pancada foi forte mesmo, até alucinação eu tô tendo! Você de novo?
(fundo musical: “Puro êxtase (Sax in the house version)”)
O episódio é encerrado quando Vlaviano percebe a presença de Vlad.

(CRÉDITOS FINAIS)

(fundo musical: “Dias melhores (KVSH & Flow remix)- “dias melhores/ dias melhores”)

(VINHETA DA JOGA FORA NO LIXO PRODUÇÕES)

CHAMADA

(fundo musical: “Dias e noites”- “viver algo novo/ tocar no seu rosto/ viver”)
NARRADOR: Próxima quinta- uma eletrizante reta final te espera em “Catch back”. Maria Clara e Ivan numa caçada literalmente explosiva para colocar Paloma atrás das grades e salvar a vida de Vlaviano.
MARIA CLARA: Joga a escada!
IVAN: Não dá pra te ouvir direito!
MARIA CLARA: Joga a escada pro Vlaviano, eu vou aproximar o helicóptero da lancha!
VLAVIANO: Você vai me tirar daqui. Me desamarra antes que a bomba exploda.
PALOMA: Nunca! Eu não vou ficar viva pra mofar na cadeia, nem vou deixar a única testemunha da Maria Clara escapar!
VLAVIANO: Telesé? Tô falando contigo, não!
NARRADOR: Próxima quinta, depois do “Jornal Racional”- último episódio de “Catch back”. E no dia 20 estreia a nova série de vídeos humorísticos pra você acompanhar... Isso se não lamentar por eles: “Paródias internacionais”.

20/02/2020

CATCH BACK/ EPISÓDIO 8


CENA 1

Maria Clara está dirigindo calmamente seu carro, dirigindo-se para o trabalho na Pharmanveres. Liga o rádio do automóvel.
MARIA CLARA: Hoje vai ser um dia tranquilo, na santa paz... Eu acho, né? Vamos ver quais são as notícias do dia, desde que não mencionem meu nome.
RADIALISTA: Tu sintonizaste na Rádio Amantes Amazonenses. E para começar o nosso programa de hoje, “Flashback com remixes”, vamos recorrer a uma das mais belas canções lançadas nos anos 80.
(fundo musical: “Tempo perdido (Anicio, Danne & Vipp Code remix)”- “todos os dias quando acordo”)
A empresária aciona uma raquete elétrica, destruindo o aparelho.
MARIA CLARA: A música preferida do Ivan... Por que ele tinha que aparecer tanto nos meus pensamentos? Tinha tudo pra esquecer esse homem, mas não consigo. Como é que vou fazer pra tirar o Ivan da minha...
Maria Clara é interrompida por uma colisão de seu automóvel com outro carro, amassado pela empresária.
MARIA CLARA: Pronto! Era só o que me faltava! Acho que vou ter que aprender a nadar pra sobreviver a essa maré de azar!
IVAN: Mas quem foi o idiota que acabou com o meu... Tu?
MARIA CLARA: Eu devo merecer! Tanta rua pra andar no Amazonas e você tem que cruzar na que eu tô?
IVAN: Tá reclamando de quê? Foi você quem bateu no meu carro!
MARIA CLARA: Vai me processar também? Porque é só o que me falta!
IVAN: Se você pagar o conserto do meu carro, eu já me dou por satisfeito!
MARIA CLARA: Vai sonhando!
IVAN: Vai me deixar com o carro desse jeito?
MARIA CLARA: Bem que você merece um prejuízo por tudo que fez contra mim!
IVAN: Eu não fiz nada!
MARIA CLARA: Ah, vá! Não me tome como lesa! Esse discurso você usa com sua amante de tabloide!
NARRADOR: “LESA”: quem não percebe facilmente o que acontece à sua volta. Se a característica for contínua, diz-se que a pessoa sofre de “leseira baré”.
IVAN: Eu não tenho amante nenhuma, não tenho caso com a Paloma!
MARIA CLARA: Contra fatos não há argumentos, Ivan! Olha só, vamos encerrar essa conversa de uma vez! Deixa que eu ligo pra um mecânico e peço pra consertar teu carro!
IVAN: Deixa pra lá.
MARIA CLARA: Como assim? Você não queria que eu arcasse com os custos do conserto?
IVAN: Pensando bem, vindo de você eu não quero dinheiro nenhum.
MARIA CLARA: Por quê? Eu tô na pior, mas acho que a traseira de um carro eu posso reparar.
IVAN: Mudei de ideia. Não quero nada que venha de você.
MARIA CLARA: Sua dignidade me espanta.
IVAN: Não seja irônica, Maria Clara.
MARIA CLARA: Eu não posso? Depois de tudo o que eu vi?
IVAN: Se você acredita tanto naquilo que presenciou naquele quarto, por que se mostra tão machucada?
MARIA CLARA: Porque eu respeitava você.
IVAN: Isso, sim, é difícil de acreditar. Na primeira oportunidade que você teve, jogou na minha cara uma coisa que eu não fiz.
MARIA CLARA: Não é o que você e a Paloma fizeram naquele quarto que me tirou do eixo, foi saber que você não era quem eu pensava.
IVAN: Sabe que eu me arrependo de ter voltado ao Brasil por você?
MARIA CLARA: Se é que foi por mim mesmo... Porque o esforço que você parece ter feito foi em vão.
IVAN: Perda de tempo ficar discutindo contigo...
MARIA CLARA: Ótimo, vamos encerrar a conversa aqui! Eu vou fazer um cheque!
IVAN: De você eu não recebo nem um alfinete!
MARIA CLARA: (aproxima-se do geógrafo) Ivan, para com isso, que se tem alguém aqui que pode dizer que saiu lesada fui eu...
IVAN: (levanta a voz) Uma barbeira dessas e eu ainda levo a culpa de alguma coisa? Toma vergonha, Maria Clara!
MARIA CLARA: Pode ter certeza de que eu sei o significado dessa palavra, Ivan!
IVAN: Só não exerce o conceito, mas pra me acusar de tudo que existe de ruim nesse mundo você é uma velocista!
MARIA CLARA: Escuta bem, se você acha que eu vou permitir ser ofendida por você...
IVAN: Nem dê a si própria o trabalho de discutir comigo. Afinal de contas, eu não significo nada pra você.
MARIA CLARA: Nada mesmo!
IVAN: Neca de pitibiriba!
MARIA CLARA: Uma nulidade!
IVAN: Coisa alguma!
Os dois ficam algum tempo em silêncio, até que decidem beijar-se no meio do asfalto.
(fundo musical: “Jack Soul Brasileiro (Jørd & Mojjo remix)”- “me diz aí quem foi/ quem foi/ quem foi/ quem foi/ quem foi/ quem foi”)

(ABERTURA)

CENA 2

De mãos dadas, Maria Clara e Ivan estão temporariamente sozinhos na recepção da Pharmanveres.
IVAN: Ainda bem que viemos pra cá e fugimos do calor da avenida enquanto o reboque não chega.
MARIA CLARA: Aqui é Amazonas, querido. Pode nevar que vai continuar a quentura, seja na rua, seja em ambiente fechado.
IVAN: Gostou do orçamento que o meu mecânico fez pro meu carro?
MARIA CLARA: Se fosse mais salgado, eu teria uma crise hipertensiva. Mas vamos parar de falar de coisas sem importância. Acho melhor aproveitarmos que minha secretária ainda não chegou e usarmos melhor o tempo.
IVAN: Não vai me dizer que... Tu estás pensando em...
MARIA CLARA: Uhum. E se fôssemos ao depósito pra que você me desse aquelas aulas de geografia?
IVAN: Nas quais eu chego a conhecer todos os seus pontos extremos?
MARIA CLARA: Sim, meu lindo. Do Oiapoque ao Chuí.
IVAN: Passando, é claro, por São Gabriel da Cachoeira, Lábrea, Atalaia do Norte e Nhamundá...
MARIA CLARA: Exatamente de acordo com os pontos cardeais.
IVAN: Não sabia que você conhecia todos esses lugares daqui do Amazonas.
MARIA CLARA: E não conheço: olhei na Wikipédia só pra te dar uma cantada.
IVAN: Nós dois aqui, sozinhos... Parece até que esse dia não tá acontecendo.
VLAVIANO: Não tá mesmo!
MARIA CLARA: Mas você de novo?
IVAN: Posso saber o que é que tu estás fazendo aqui?
VLAVIANO: Não, ela pode. O assunto é com Maria Clara.
MARIA CLARA: Tô lembrada quem é você. Tava comigo no dia em que eu flagrei... Melhor esquecer.
VLAVIANO: Nós tínhamos um assunto pendente. Ao menos eu não disse tudo que tinha pra falar.
IVAN: Olha aqui, mano, não é por nada, não, mas é que a gente queria ficar por um momento sozinho aqui no escritório.
VLAVIANO: E eu lá sou chegado a você pra tu me chamares de “mano”? Que eu saiba a única vez que nos vimos foi quando ela te flagrou usando um pijama do Frajola!
NARRADOR: “MANO”: tratamento carinhoso entre conhecidos ou não.
IVAN: Maria Clara, de onde que você conhece esse cara?
MARIA CLARA: Também queria saber.
VLAVIANO: Ah, mas é claro que você sabe. Eu fui uma das cobaias do Semancol.
MARIA CLARA: Escuta, eu nem estava no dia dos testes; portanto, você e todos os outros foram recebidos pela minha secretária. Ou seja: não nos conhecíamos, até que veio aquele dia fatídico do karaokê.
VLAVIANO: Ótimo, chegou ao ponto que eu queria falar. Eu vim te dizer que não adianta usar tua funcionária contra mim.
MARIA CLARA: Do que você tá falando?
VLAVIANO: Eu não quero dinheiro, nem mesmo qualquer indenização da empresa. Porque eu entendi que o Semancol funciona.
MARIA CLARA: Nossa, até que enfim um homem sensato no Amazonas!
VLAVIANO: Eu andei conversando com o meu psicólogo e ele me fez entender que a felicidade é a memória que eu tenho de quando eu era mais novo. Essa memória é justamente a minha fase adolescente, quando eu era animado e me identificava como Vlad. Essa lembrança passou a me seguir em todos os lugares, tentando me fazer voltar ao comportamento que tinha aos treze anos de idade. Mas o Vlad desapareceu, e eu creio que isso se deve ao fato do efeito ter passado.
MARIA CLARA: Eu sabia! Eu sempre falei que o Semancol funciona, e o tal de Vlad é a prova disso! Como é que eu faço pra encontrá-lo?
IVAN: Basta submeter esse rapaz ao medicamento.
VLAVIANO: Por mim, tudo bem. Mas eu quero deixar claro que eu, ao contrário dos outros que injetaram o remédio, só pude ser contemplado com esse momento depois de passar pela primeira dose do Semancol.
MARIA CLARA: Que “primeira dose”, rapaz? O medicamento é pra ser injetado na veia uma vez só.
VLAVIANO: Não foi o que a tua secretária andou dizendo às cobaias no dia que eu estive aqui.
MARIA CLARA: Nicole falou isso? Mas ela sabe que o Semancol era pra ser administrado em dose única, dei ordens expressas pra isso.
VLAVIANO: Pois fique sabendo que ela mentiu. E andou ligando pra mim, marcando um encontro comigo lá na entrada do bodozal, pelas tantas da madrugada. Não se identificou, mas eu logo vi que era a voz dessa moça. E alegou que eu deveria ir porque ela explicaria como te destruir.
MARIA CLARA: Você tá enganado, a Nicole nunca faria isso.
VLAVIANO: A seu mando, talvez. Mas eu não quero acabar com você. Eu só queria que você me explicasse por que uma dose só foi o bastante pra retomar as lembranças que eu havia perdido, quando o acordado comigo e com os outros era que duas doses eram necessárias.
MARIA CLARA: Só que eu nunca mandei que ela aplicasse duas doses do Semancol! Por que você tomou uma só?
VLAVIANO: Porque fui embora, tinha que entregar um currículo. Peguei a grana e me mandei.
IVAN: Amor, será que não foi essa segunda dose que causou a alucinação nos outros pacientes?
MARIA CLARA: Ivan, isso é impossível. O Semancol não deixaria as pessoas agressivas contra mim nem mesmo em volume acima do que eu estipulei.
IVAN: Então, só tem uma explicação, Maria Clara: a Nicole te sabotou.
VLAVIANO: E quer acabar com você.
MARIA CLARA: Gente, vocês não estão entendendo. Além de secretária, a Nicole é minha amiga. Ela não pode ter feito isso comigo. E depois o Semancol, mesmo acima do recomendado, não causaria alucinações. Como isso se explica?
VLAVIANO: Só se ela ministrou o remédio com outra coisa, e eu escapei por pouco.
IVAN: Onde foi que você pediu que ela fizesse o experimento com as cobaias?
MARIA CLARA: Na sala de estoque da Pharmanveres, onde eu guardei todas as seringas de Semancol.
IVAN: E se déssemos uma verificada lá pra ver se encontramos alguma coisa que a comprometa?

CENA 3

Os personagens da cena anterior vão à sala de estoque.
MARIA CLARA: Olha aqui: todas as seringas de Semancol que eu produzi estão vazias. Isso quer dizer que ele foi usado em todos os pacientes.
IVAN: Logo, rejeita-se a ideia de overdose de Semancol.
VLAVIANO: Mas quer dizer também que eu escapei por pura sorte, e outra substância foi lançada na corrente sanguínea das cobaias.
MARIA CLARA: O que é isso aqui? Uma caixa com duas seringas, ampolas vazias de calmante, uma garrafa de caipirinha, outra de vodca e meio limão?
VLAVIANO: Seco, por sinal.
MARIA CLARA: Como é que essas coisas vieram parar aqui?
IVAN: Só pode ter sido a Nicole que trouxe isso pra cá.
VLAVIANO: Ela é alcoólatra? Porque ela deve ter feito uma caipirosca no trabalho!
IVAN: É isso! O calmante!
MARIA CLARA: O que é, Ivan?
IVAN: Caipirosca com calmante! Foi ela que deve ter me dopado no karaokê!
MARIA CLARA: Impossível, Ivan. Na noite do karaokê, ela ficou trabalhando aqui na empresa.
VLAVIANO: Espera, eu tô lembrando uma coisa: na noite em que eu te conheci, eu tinha falado com a Nicole. E ela me deixou sozinho na recepção, dizendo que ia tentar te localizar.
MARIA CLARA: À noite?
VLAVIANO: Sim. Depois, eu me cansei de esperar e fui embora de Uber. Foi, então, que eu te encontrei.
IVAN: Tá explicado, então. A Nicole saiu daqui e foi pro karaokê me dopar.
MARIA CLARA: Mas eu não a vi entrar naquele lugar.
IVAN: Só se... A garçonete loura da boca carnuda!
VLAVIANO: Ela se disfarçou? Galera, eu tô começando a ficar com medo dessa história.
MARIA CLARA: Ivan, essa teoria não faz sentido em lugar nenhum do mundo. Por que a Nicole te doparia, se ela não teria vantagem nenhuma nisso? A única que poderia se beneficiar dessa armação é a Paloma!
IVAN: Mas a Paloma bebeu comigo, e quando eu acordei ela estava tão atordoada quanto eu.
VLAVIANO: A explicação mais plausível é que elas sejam cúmplices. Tu sabes de alguma ligação entre as duas?
MARIA CLARA: Paloma, no dia seguinte, estava conversando com a Nicole. Mas ela me disse que a pilantra tinha ligado pra saber novidades a respeito do escândalo do Semancol.
VLAVIANO: Tá na cara, elas estão juntas pra te passar a perna.
IVAN: Desculpa, mano, mas fica difícil de acreditar que a Paloma armou tudo isso só pra me enganar.
VLAVIANO: Ou pra prejudicar a Maria Clara.
MARIA CLARA: Mais absurdo é envolver a Nicole nessa sujeira toda.
VLAVIANO: Bom, provar que a tal de Paloma é mentora desse plano, ou somente cúmplice, é uma coisa que eu não posso fazer. Mas tem como fazer vocês verem que a Nicole tá armando alguma coisa contra mim, e pelas costas da Maria Clara.
MARIA CLARA: De que jeito, Vlaviano?
VLAVIANO: Eu salvei aqui no celular o número que ela usou pra me ligar e marcar o encontro no bodozal. Dá uma olhada.
MARIA CLARA: Hum... Esse telefone não é o dela, eu sei decorado de tanto ligar.
VLAVIANO: Faz o teste da fidelidade da tua funcionária. Liga pra ver quem atende.
MARIA CLARA: Tudo bem, então. Eu vou ligar pra provar que vocês estão errados a respeito da Nicole...
IVAN: Espera, amor. Se a Nicole costuma receber ligações suas, ela deve ter decorado teu número também. O melhor é ligar do meu.
MARIA CLARA: Ótimo.
IVAN: Não precisa falar nada, só escuta a voz de quem atender.
MARIA CLARA: Tá chamando.
NICK: Alô?
(fundo musical: “À francesa (Extended club mix)”- parte instrumental)
Maria Clara derruba o celular de Ivan ao chão.
MARIA CLARA: É ela!
IVAN: Destruiu meu carro e agora meu celular?

Estamos apresentando “Catch back”.
(fundo musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance mania”)

NARRADOR: Passar no vestibular pode ter suas consequências.
JÚNIOR: Benedetto, eu tenho uma revelação muito grave a fazer.
BENEDETTO: Já sei: você não consegue decorar os números do “Criança Esperança”, não é?
JÚNIOR: Angélica deu aula hoje.
(fundo musical: “Iniciação”)
NARRADOR: E muitas delas parecem não ter explicação.
BENEDETTO (NARRADOR): Seria um dia normal se a população maia não tivesse previsto que o mundo acabaria no dia da festa: sexta, 21 de dezembro de 2012.
(fundo musical: “Vlad”)
BENEDETTO (NARRADOR): Mas é melhor o mundo acabando do que eu reprovando por falta, não é mesmo?
NARRADOR: “Sete lendas universitárias”. Hoje, depois de “Catch back”, em “Cinema espacial”.
BENEDETTO: A porta não quer abrir! Meu Deus! É a profecia maia se cumprindo! O fim chegou!
(fundo musical: “Iniciação”)

Voltamos a apresentar “Catch back”.
(fundo musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance mania”)

CENA 4

Maria Clara bebe um copo d’água oferecido por Ivan. Vlaviano conversa ao celular com seu psicólogo, Douglas.
DOUGLAS: Uma história impressionante, com certeza.
VLAVIANO: Ainda não temos como provar que essa Paloma tá envolvida com a Nicole, com o intuito de prejudicar a Maria Clara. Mas a culpa dessa secretária no plano de apagar o Ivan e no de manipular os resultados do Semancol é certa.
DOUGLAS: Onde é que tá a Maria Clara agora?
VLAVIANO: Aqui do meu lado, amparada pelo catch back dela. Parece que eles voltaram às boas.
IVAN: Só não estamos melhores porque você interrompeu o nosso “colóquio amoroso”.
MARIA CLARA: Nada de colocar nada em canto nenhum, temos um caso policial a resolver.
IVAN: Me desculpe, querida.
DOUGLAS: O que vocês pretendem fazer agora?
VLAVIANO: Não faço ideia. Denunciar é a primeira ideia, mas não há como provar aquilo que já sabemos. Por isso que eu te liguei. Você é mais inteligente que eu e pode nos dar uma ideia.
DOUGLAS: Só tem um jeito de provar que essa Nick é uma mulher perigosa.
VLAVIANO: E que forma é essa?
DOUGLAS: Usando a Maria Clara como isca. Se ela foi prejudicada por essa secretária, é a maior interessada em saber se ela mentiu e quando.
VLAVIANO: Então, me explica o que ela tem que fazer.
DOUGLAS: Presta atenção, Vlaviano, porque o meu plano é muito esquisito. Primeiro, a Maria Clara tem que verificar quais são os horários que essa Nicole trabalha aí. Daí, ela dispensa os funcionários...
(fundo musical: “Farol (Kalozy, Nogue, Vhenace remix)”- parte instrumental)
Maria Clara e Ivan olham para Vlaviano, bastante confiante com o que lhe é dito através da ligação telefônica.
MARIA CLARA: Faz tudo que esse psicólogo disser. A minha intuição diz que o que ele tá bolando vai dar certo.

CENA 5

(fundo musical: “Meu bem (Gabe Pereira remix)”- “tu me olhas e me invades/ na tua boca quero estar/ em teus braços vou fazer meu lar”)
Nick volta à empresa, mas, ao chegar à recepção, não encontra nenhum funcionário.
NICK: Tem alguém aí? Maria Clara?
MARIA CLARA: Estou aqui.
NICK: Aconteceu alguma coisa? Que cara é essa?
MARIA CLARA: Você sempre me conheceu tão bem, desde que começamos a trabalhar juntas. Pena que eu não possa dizer o mesmo de você.
NICK: É alguma indireta?
MARIA CLARA: Não perco meu tempo com isso. Digo na cara.
NICK: Então, fala. Qual é a razão desse tratamento comigo?
MARIA CLARA: Dê-se por feliz. Porque a minha vontade é de dar na sua cara uma surra de gato morto até o gato miar!
NICK: Quem te envenenou contra mim? A Paloma? Ela inventou alguma mentira contra mim ou tu estás com raiva ainda porque ela tem o número do meu celular?
MARIA CLARA: É, você tem propriedade pra falar do assunto. Uma cobra. Cobra que eu criei aqui na minha empresa.
NICK: Maria Clara, eu respeito muito você, mas eu não admito que você me trate dessa forma.
MARIA CLARA: Para de se esforçar pra parecer uma atriz convincente, porque estamos sozinhas nesse teatro que você montou. Eu sei que você alterou o efeito do Semancol nos meus pacientes, menos no Vlaviano. E descobri também que você dopou a Paloma e o Ivan pra que ele achasse que dormiu com ela. A única coisa que eu não entendi até agora foi desde quando você passou a me odiar tanto!
NICK: Você quer sinceridade, Clarinha? De mim? Sério que é isso que tu estás esperando?
MARIA CLARA: Conta de uma vez: desde quando você me odeia?
NICK: Desde que eu descobri que você existia.
MARIA CLARA: Como é que é?
NICK: Você se acha tão imponente, mas não sabe como foi fácil acabar contigo. Dia a dia. E é tão esnobe... Aposto que, apesar dos anos, nem o meu sobrenome você deve saber.
MARIA CLARA: Deveria? Achava que era “Sucuri”.
NICK: Nicole Cardoso. Ele te diz alguma coisa? Pois é. Eu sou a filha do homem que fundou a Car Dose Pra Leão. Não te diz nada também? Pois eu explico: essa era a maior empresa farmacêutica da Região Norte do país. Até que você e a sua maldita Pharmanveres entraram no mercado e nos jogaram no limbo.
MARIA CLARA: Plano de vingança frágil o seu, hein? Porque até onde eu sei, a empresa faliu após um monte de dívidas trabalhistas que o seu pai contraiu antes de morrer.
NICK: E que eu paguei, disposta a voltar pro mercado. Mas a sua competência foi responsável por transformar essa quitinete em referência internacional. Farmácias, universidades, postos de saúde, clínicas, hospitais... Todos atrás dos medicamentos produzidos pela mulher que abdicou dos melhores anos da vida pra ser a número um do ramo farmacêutico. E a minha empresa sequer recuperou a credibilidade que eu lutei tanto pra reaver.
MARIA CLARA: Parece até que foi ontem o dia em que eu vi você implorando por uma oportunidade. Um currículo nas mãos, atrás de um emprego como secretária. E tudo isso pra me apunhalar pelas costas, Nicole?
NICK: Eu tinha um objetivo, mas eu não sabia de que forma executar. Foi aí que a Paloma entrou na jogada. Porque ela tem mais ódio de você do que eu. Ela não te perdoa por ter desiludido tanto o Ivan a ponto de fazê-lo morar no exterior. Primeiro, eu dei uma dose de Semancol e outra de um calmante fortíssimo pra que as cobaias tivessem uma alergia ao teu medicamento. Depois, eu dopei o Ivan e a Paloma. A mando dela.
MARIA CLARA: Tem ideia do que você e aquela maluca fizeram? Vocês me fizeram duvidar do Ivan, da integridade dele! Agora, mesmo que eu conte que foi tudo uma armação de vocês, nunca mais ele vai querer olhar na minha cara!
NICK: Sem contar a prisão pra qual você vai, não é, Clara? Porque todos os que foram submetidos ao Semancol estão dispostos a te processar. Tanto é que você foi intimada. E com a ajuda do alcance que a Paloma tem na mídia vai ser fácil te trancar numa penitenciária. Mas não se preocupe, você logo vai se acostumar com a solitária e a conviver com as ratas feito você.
MARIA CLARA: Nicole, você não tem medo de nada do que está me contando?
NICK: Por que teria? Porque você vai procurar o Vlaviano e vai obrigar o rapaz a dizer que ele não foi drogado? Por quanto tempo você acha que ele vai permanecer em segurança? E depois, meu anjo, se o Vlaviano comer capim pela raiz de repente, a culpa vai ser atribuída única e exclusivamente a você. Minha confissão não é prova de nada. O máximo que você pode fazer é me demitir. Agora convenhamos: ser demitida por uma suspeita envolvida com drogas é um alento, não é? (suspira) Que lipoaspiração! Falei a verdade e parece que perdi dez quilos.
Entra um policial na empresa.
POLICIAL: A liberdade também.
NICK: O que é isso?
POLICIAL: Nicole Cardoso, você está presa por ferir o Artigo 273 do Decreto Lei de número 2.848, de 12 de dezembro de 1940, por alterar a substância Semancol atribuindo-lhe entorpecentes na corrente sanguínea dos pacientes da Pharmanveres. E também por aplicação do golpe “boa noite, Cinderela” contra Ivan Lemgruber.
NICK: Quem foi que chamou a polícia?
VLAVIANO: Você não adivinha?
NICK: (ri) Você? Então, estão juntos contra mim? O que eu falei pra ela eu repito pra você: não existem provas que me coloquem na cadeia.
IVAN: Na verdade, existe uma só, que é mais do que suficiente. (mostra um gravador) A confissão que você acabou de fazer.
MARIA CLARA: Foi um prazer trabalhar com você, Nick.
IVAN: E um prazer maior ainda foi te passar pra trás.
(fundo musical: “Puro êxtase (Sax in the house version)”)
O episódio congela na expressão de pavor vivida por Nick ao ser desmascarada por Maria Clara, Ivan e Vlaviano.

(CRÉDITOS FINAIS)

(fundo musical: “Livre pra viver (DJ Ippocratis ‘Grego’ Bournellis, DJ Silvio Müller, DJ Cabello e DJ Ricardo Guedes)”- “sou livre pra voar/ nem me importa London ou New York, ou Paris”)

(VINHETA DA JOGA FORA NO LIXO PRODUÇÕES)

CHAMADA

(fundo musical: “Dias e noites”- parte instrumental)
NARRADOR: Próxima quinta- depois de uma grande decepção amorosa, Vlad pode ficar entre a vida e a morte.
Ouve-se a pancada do brinquedo que atinge a cabeça do adolescente, fazendo-lhe desmaiar.
NARRADOR: E Paloma finalmente será confrontada pela mulher que mais odeia em sua vida.
MARIA CLARA: Poço de elegância? Eu sou praticamente a bacia amazônica da finesse, minha filha! Acontece que eu não vou gastar as dicas de etiqueta que aprendi com Glória Kalil com uma mulher feito você! E o pior é você acreditar que o Ivan um dia poderia querer ficar contigo! Se olha no espelho, infeliz! Você não só não é páreo pra mim como também não é pra nenhuma mulher que preste!
PALOMA: Agora você tocou no ponto certo! Já que eu não posso ser a mulher da vida do Ivan, eu vou acabar com a mulher da vida do Ivan!
(fundo musical: “Dias e noites”- “viver algo novo”)
NARRADOR: Próxima quinta- penúltimo episódio de “Catch back”.