03/02/2019

COMO NASCEM OS ATOR(DOADOS)/ CENA 1


Based on a true story
(baseado em uma história real)

CENA 1

Um apresentador coberto por uma penumbra está de frente para Thiago, comandando o programa.
APRESENTADOR: Nascido na pacata província de Drowneds, o nosso entrevistado de hoje vai contar para o público como administra sua carreira de altos e baixos, com muito mais baixos do que altos.
THIAGO: Que Drowneds o quê? Eu sou natural de Jaboatão!
(fundo musical: “Achados e perdidos”- “vou procurar/ vou encontrar/ por tudo que procuro, com certeza vou achar/ vou procurar/ vou encontrar/ alguém no meu caminho, minha vida, meu lugar/ mil vezes eu vaguei pela cidade/ mil vezes eu perdi a identidade/ mil vezes eu perdi a condução/ da estrada que vai dar no coração/ mil vezes procurei pelos amigos/ mil vezes fui achado, fui perdido/ mil vezes tantas portas fui bater/ minha vida inteira procurando por você/ minha vida inteira procurando por você”)
É iniciada a abertura do média-metragem, servindo também como a abertura do programa homônimo, com os seguintes créditos.

Joga Fora No Lixo Produções presents
a Felipe Lipstein film
HOW STUNNED ARE BORN
(Como nascem os ator(doados))
with Thiago Barros
screenplay by Gabriel Arenas
directed by Felipe Lipstein

Há o retorno da atração, na qual Thiago aceita responder às perguntas do entrevistador.
APRESENTADOR: Quando se iniciou essa sua carreira nada vitoriosa?
THIAGO: Quando eu tinha dez anos. Minha professora de educação artística resolveu fazer uma peça para explicar qual é o sentido de se comemorar a páscoa, e escalou um aluno novato pra fazer o papel principal da “Paixão de Cristo”.
Rapidamente, o protagonista é transportado para o ano de 2002, até a escola na qual estudava da infância até os primeiros anos da sua adolescência, o Colégio Olímpico. Em sala, o garoto ouve as instruções.
PROFESSORA: Nós vamos fazer a encenação na quarta que vem, depois do intervalo. Quem eu escolhi pro elenco tem que trazer um lençol de casa, porque ele vai servir pra compor o figurino da peça.
APRESENTADOR: Você estava no elenco?
THIAGO: Não, mas levei o lençol. Não me pergunte por quê, mas acreditei que eu ia precisar dele na semana seguinte.
APRESENTADOR: E precisou?
THIAGO: Aham. Júlio César simplesmente sumiu do mapa e a professora me viu passando pelo corredor na hora do recreio...
PROFESSORA: Sabe qual é o papel que você vai fazer na “Paixão”?
THIAGO: Qual?
PROFESSORA: O papel de Jesus.
THIAGO: A primeira providência que tomei foi me enrolar no lençol branco que eu trouxe.
APRESENTADOR: Imagino que deva ter sido muito difícil arcar com toda a carga dramática que a interpretação pedia... Ainda mais com todo o texto próprio da encenação.
THIAGO: Que texto?
APRESENTADOR: Como assim? Você não falou nada a peça inteira?
PROFESSORA: Já que vocês foram escalados hoje e não vai dar tempo de decorar, eu vou ler todo o texto da peça e vocês vão ter de interpretar. A única coisa que vocês vão ter que dizer é “aleluia” quando ele sair do sepulcro.
APRESENTADOR: Foi bom pra vocês, então?
THIAGO: Foi ótimo. Mas considerando a face séria que vejo nos quadros, fiquei o tempo todo enrolado no lençol e sério.
APRESENTADOR: Mais nada?
THIAGO: Abri os braços na hora da ressurreição... Com a cara mais séria do mundo. A experiência foi muito boa.
APRESENTADOR: Sei... No entanto, não é nada que te fez enveredar pelas artes cênicas.
THIAGO: Pelo contrário, fui chamado pra participar de novo no outro ano.
APRESENTADOR: Como Jesus?
PROFESSORA: Eu decidi que nós vamos fazer a “Paixão de Cristo” nesse ano também. E já escolhi quem vai fazer o papel principal.
APRESENTADOR: Você ficou mudo pelo segundo ano seguido?
THIAGO: Não, dessa vez ela me escalou pra ser João, e deu o papel de Jesus a Daniel, um dos mais inteligentes da sala. Mas eu ganhei uma fala, pra marcar meu regresso em grande estilo.
APRESENTADOR: E que frase você tinha de dizer?
THIAGO: “Mulher, por que choras?”.
APRESENTADOR: Essa frase não é de João.
THIAGO: Pois é. Minha professora deve ter notado isso quando eu tava comemorando minha fala pro segundo papel. Terceiro, né? Porque o primeiro sempre será de trouxa.
(fundo musical: “O portão (Felipe Venâncio house mix”- “eu voltei/ agora pra ficar”)
Novamente, a fachada do Colégio Olímpico é mostrada ao público.
PROFESSORA: Tivemos uma mudança no roteiro. Esqueçam tudo que vocês decoraram.
THIAGO: Mas eu passei quase quinze dias com “mulher, por que choras?” na cabeça!
PROFESSORA: Finjam vocês dois que estão conversando.
APRESENTADOR: E quem você e o outro aluno estavam representando na passagem bíblica?
THIAGO: No começo, eu pensei que Hernando e eu estávamos fazendo os guardas do sepulcro, mas eles não estavam conversando naquela hora.
APRESENTADOR: Sua experiência com dramaturgia bíblica, na qual você entrou mudo e saiu calado, não te impediu de ser figurante num roteiro de sua autoria anos depois.
THIAGO: Bom, aí vamos ser obrigados a trocar de cenário...

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