06/02/2016

MENTIRAS ESCANCARADAS/ CAPÍTULO VI: TUDO O QUE É BONITO É PRA SE MOSTRAR!


-Isso é mentira! Seu marido não me deu dinheiro nenhum!
-Você sabia que ele ia fazer isso, sim. Porque ele não consegue te tirar da cabeça.
-Eu não tenho culpa se aquele cachorro do Coelho cumpriu a palavra! Eu mesma não levei a sério.
-Cachorro do Coelho? Quando foi que essa conversa partiu para o mundo animal, querida?
-O que eu vou partir é a sua cara se você não sumir da minha frente!
-Dara, você está mais do que avisada! Não chega perto do meu homem!
-Grande coisa pela qual você tá lutando! Muito cômodo pra você jogar a culpa do fracasso do seu casamento em mim. Só não percebeu que ele poderia ter feito essa proposta absurda pra qualquer mulher!
-Mas não fez! E eu não entendo o que tanto ele vê em você. Sim, porque querendo ou não, eu, Thaynara Thais, sou gostosa...
-Os espelhos da sua casa são sinceros, ao contrário daquele dejeto de homem!
-Ah, obrigada!
-Por nada. E a propósito... – Dara devolve a bofetada que recebeu- Cortesia da casa. Só quem pode tocar nesses fios artificialmente dourados é Antonio, aquele rapaz escultural de cueca na minha cama.
-Ele deve ser cego, pra não perceber a sua vulgaridade, em querer tomar o marido das outras. Além do dinheiro!
-Thaynara, melhor você sair da minha porta agora, ou eu vou maquiar esse rosto com bisturi! Fora daqui!
-Melhor devolver cada centavo que Coelho desembolsou. A sua máscara caiu!
-Mas seus chifres continuam de pé! Vaza!
Enfurecida e dolorida, Thaynara volta para o carro. Antonio, a par de parte da história, corre para o quarto, e volta a se deitar na cama. Com medo de seu amado ter escutado a discussão, Dara sobe às escadas e volta para o quarto, onde o encontra fingindo que dorme. Sim, sobre aquela cama melada de leite.
-Zzzzzz...
-Antonio perdeu o café, e eu a pá pra recolher essa bagunça- vai para cozinha- Onde foi que eu deixei a...
O engenheiro estrategista (nossa, que pleonasmo!) levanta e começa a planejar alguma coisa...
-Se o que aquela doida falou for verdade, eu vou descobrir. Mas ninguém vai saber que eu sei.

/////

Thaynara volta pra casa, furiosa como que aconteceu entre ela e Dara. Seu marido está ao telefone.
-Sim, ela desapareceu ontem à noite. Não, eu não faço ideia de onde ela possa... – Thaynara abre a porta- Deixa, ela acabou de chegar. Obrigado. Tenha um bom dia- desliga o telefone- Mas o que deu em você? Onde é que você estava?- Coelho recebe um tapa na cara- Que é isso?
-Estou devolvendo aquilo que a sua amante me deu. Vou tomar um banho.
Coelho fica sem entender nada, mas eu queria uma cena dramática pra não fazê-los rir o tempo todo.

/////

Um jantar delicioso é preparado pela juíza mais amada da literatura mundial. Enquanto isso, Antonio fica com aquela cara de nada.
-Já provei e está muito bom- traz um prato quente. Abre a boca.
-Não quero nada. Tô sem fome.
-O que é que te deu?
-Nada? Por quê?
-Sua rispidez. Aconteceu alguma coisa?
-Já disse que não tenho nada.
-Antonio, eu vou arranjar uma vaga no trabalho e vou marcar uma consulta com o oftalmologista. Essa sua cegueira temporária está demorando demais pra passar.
-Te incomoda ter que cuidar de mim, ou me ver aqui dentro de casa? Porque se for isso, eu faço as minhas malas e volto pra casa da minha família.
-Deixa de drama, homem. Até parece que você quer se separar de mim. Ainda mais depois de ontem.
-Bons tempos aqueles de ontem. Eu era feliz e não sabia...
-Pode ser mais claro? Porque eu não entendi.
-Esquece. E amanhã? O que você vai fazer?
-Vou dar uma passada no banco, não lembrei que anteontem foi dia de pagamento.
-Quer que eu vá com você?
-Não precisa, amor. É coisa rápida. E aí? Vai querer comer ou não?
-OK. Me dá a sopa.
-Antonio, como você sabe que eu fiz sopa?
-Oi?
-Eu não te disse o que tinha cozinhado.
-Pelo cheiro- dissimula- E também porque você só sabe fazer lasanha, e isso você já fez ontem.
-Tá explicado.

/////

Exuberante como sempre, Dara não parece cansada nem mesmo depois de um extenso dia de trabalho. A Musa do Judiciário vai ao banco e é recebida na porta pelo gerente.
-Como vai, madame?
-Madame? Que é isso? Pra quê toda essa cerimônia?
-Como não sabe o porquê, Meritíssima? A senhorita é nossa maior cliente VIP.
-Aham. Vejo Impropérios Proferidos... Por você. Desde quando o gerente vai me atender na porta do banco?
-Nós estranhamos a sua ausência no dia que geralmente costuma vir.
-É que estive ocupada com um hóspede na minha casa... Ai, que hóspede... Enfim!
-Veio sacar o seu maravilhoso dinheiro?
-Fazer o de sempre, não é? Não sei qual é a surpresa.
-Hoje é diferente, Madame Dara. Aconselhamos que tenha trazido uma bolsa maior, se for mesmo retirar todo o depósito da sua conta.
-A Vara de Família me paga muito bem, mas não precisa dessa parafernalha toda. Os ladrões não vão me assaltar porque eu fiz aulas de defesa corporal... Claro, depois do pole dance, que está em alta na Inglaterra!
-Estão pagando maravilhosamente bem. E olhe que a senhorita não têm julgado casos notórios para ganhar um milhão de salário.
-Você bebeu?- Dara se mostra incrédula.
-Olhe, eu nunca pensei que a Vara de Família pagasse tão bem.
-E paga mesmo, até porque o último caso que julguei não era exatamente relacionado à família... Mas que história é essa de um milhão?
-Madame, a senhorita recebeu um depósito milionário na semana passada. E o dinheiro veio da conta de um empresário famoso: Felipe Almeida Coelho. Não o conhece?
-Conheço, sim. Estarei presente na hora da morte dele, porque eu vou esganar aquela porcaria de homem!
-Quer dizer que não vai retirar a quantia?
-Toda! Sem um centavo qualquer que falte. Esse dinheiro já tem destino certo, pode acreditar. Bem que o Collor poderia confiscar minha conta, pra eu não ter que tocar na grana daquele desgraçado...

/////

Acontece uma reunião na sala de Coelho, que conta com a presença do Dr. Wilson e de todos os executivos da Play Pause.
-O faturamento que a revista apresentou no último bimestre foi bastante favorável. Mas eu estive pensando: onde podemos encontrar mulheres que povoem o imaginário feminino nesse tão aclamado ano de 1990?
-Elenco de "Pantanal"!- respondem os demais executivos, entusiasmados.
-Eu acho que não é uma boa ideia, Dr. Coelho...
-Caro Wilson, você já deveria saber que é mero coadjuvante. Tudo que você me aconselha a fazer, eu faço o contrário mesmo... Liguem para os empresários da Rede Manchete!
-Dr. Coelho- uma secretária entra no recinto- Tem uma moça querendo falar com o senhor.
-Dona Assunta, eu já disse que detesto ser incomodado durante minhas reuniões!
-Mas nem por mim?- dentro de uma indefectível toga, Dara aparece à porta da sala.
-Abrirei uma exceção.
-Ai, obrigada- a juíza entra com uma bolsa e sua toga, que deixa à mostra a meia-calça que está usando. A presença da moça hipnotiza os empresários e o advogado.
-E... – Coelho solta um pigarro- A que devemos a honra da sua visita?
-Vim por uma questão financeira gravíssima. Sabe, eu preciso financiar o meu show.
-Você é cantora?-pergunta Wilson.
-Não. Sou apenas uma sex symbol em busca de dinheiro. Quem estaria disposto a me ajudar?- uma simples pergunta, dita num tom atrevido, e todos os homens tiram notas dos bolsos.
-Mas como será o seu show?
-Boa pergunta, Dr. Coelho!
E Dara sobe na enorme mesa retangular de madeira para balançar o esqueleto e a juba indomável.
-Morena cintura de mola, seu jeitinho me faz relaxar, esquecer dessa coisa faceira. Desse jeito, não sei que será. Felizmente, morena, você na lambada me faz delirar. Dançando lambada, ê! Dançando lambada, lá! Dançando lambada, ê! Dançando lambada! Dançando lambada, ê! Dançando lambada, lá! Dançando lambada, ê! Dançando lambada!- e a vocalista do Kaoma tem sua voz surgida não sei da onde.
-Dançando lambada, ê! Dançando lambada, lá! Dançando lambada, ê! Dançando lambada! Dançando lambada, ê! Dançando lambada, lá! Dançando lambada, ê! Dançando lambada!- o coral de tarados engrossa enquanto Dara puxa a gravata de Wilson e ele põe o dinheiro no decote da juíza. Após o depósito, a jovem volta ao centro da mesa.
-Com jeitinho, neguinha, me diz bem juntinho: "escorregando dá". De tantos desejos aflitos, sua pele lisa meu corpo roçar! Dançando lambada, ê! Dançando lambada, lá! Dançando lambada, ê! Dançando lambada! Dançando lambada, ê! Dançando lambada, lá! Dançando lambada, ê! Dançando lambada!- Dara deixa cair metade da toga e continua a dançar.
-Dançando lambada, ê! Dançando lambada, lá! Dançando lambada, ê! Dançando lambada! Dançando lambada, ê! Dançando lambada, lá! Dançando lambada, ê! Dançando lambada!- Coelho é o mais empolgado da macharada e tenta tocar na pele da juíza, mas ela foge e se abaixa para que os demais coloquem suas notas no decote.

/////

Sozinho, Antonio está em frente ao espelho refletindo. Não, ele não está se refletindo, está refletindo... Bom, vocês me entenderam!
-Ela me disse que ia ao banco hoje. Será que ela sacou o dinheiro que o marido daquela maluca disse ter depositado? Não, minha Dara não ia fazer isso. Imagina, ela não deve nem ter chegado perto desse tal de Coelho.

/////

 -Preta, fala pra mim! Fala o que você sente por mim! Ioiô, ioioi! Preta, fala pra mim! Fala o que você sente por mim!- Beto Barbosa deve ser um dos executivos dessa sala, só pode. Mas mais estranho do que isso, só o fato de Dara dançar de lingerie, com a toga arremessada para um abajur, com a tal bolsa a tiracolo, com uma música chamada Preta (a juba loura de Dara é patrocinada pela Wellaton!).
-Será que vo... Será que você me quer? Será que você vai ser a minha mulher? Será que vo... Será que você me quer? Será que você vai ser a minha mulher?- Coelho tenta se aproximar novamente da bela, quase assinando o talão de cheques, enquanto a maluca do poder judiciário ganha as notas arrematadas nesse leilão visual-corporal!
-Preta, fala pra mim! Fala o que você sente por mim! Ioiô, ioioi! Diga o que será... Baracumbabumbebumbá!- a palavra incompreensível faz a juíza deslizar dançando lambada e descer para apanhar a toga, que põe no outro braço. Em seguida, usa seu belo dedinho indicador direito para chamar Coelho para perto da janela.
-Fala, meu bem. Diz uma coisa picante no meu ouvido.
Atendendo prontamente o pedido, Dara responde:
-Catchup vencido!
Podem acreditar: isso lhe fez sentir arrepios. Tipo o Cabeção da "Malhação", sabe?
-O que deseja de mim, Meritíssima?
-O que mais eu poderia querer de você, Felipe? Apenas isso daqui!

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