CENA 1
NICK:
Senta aí e me explica essa história direito, por favor.
VLAVIANO:
Eu, hein? Tão nova e com problemas de entendimento? Sempre achei que a cognição
das pessoas da tua faixa etária era chibata.
NARRADOR:
“CHIBATA”: muito boa.
NICK:
Desculpe, é que eu tô um pouco confusa... Você disse que só tomou uma dose do
Semancol que a Maria Clara pediu que eu te aplicasse.
VLAVIANO:
Não é motivo pra se estranhar? Primeiro um adolescente estranhamente otimista
vira meu cão de guarda. Depois eu vejo na TV que todo mundo tá tendo alucinação
depois de ter vindo aqui. Agora esse bacuri some misteriosamente. Se não é
efeito do remédio, eu não sei o que é.
NICK:
Claro... Só me explica o seguinte: por que você só tomou uma dose do
medicamento?
VLAVIANO:
Porque você tinha pago o cachê de cem reais e eu achei que não ia me acontecer
nada demais. Além disso, eu lembrei que tinha que entregar um currículo no
consultório do meu psicólogo, o Douglas.
NICK:
Não pode ser... É um pesadelo, só pode ser isso.
VLAVIANO:
Então, trata de acordar e me diz onde é que a Maria Clara se enfiou. (olha para
Nick, catatônica) Ei! Comeu abiu, foi? Eu lá sou o Mascarado da “Viagem” pra me
comunicar por mímica? Cadê a dona dessa empresa?
NARRADOR:
“COMER ABIU”: abiu é uma fruta amazônica que cola os lábios de quem a
come. com este intuito, a expressão indica uma pessoa que é calada.
NICK:
Vamos fazer o seguinte: eu tenho que resolver um problema pessoal, mas... Eu
queria que você me esperasse aqui.
VLAVIANO:
Tá me enrolando, é?
NICK:
É que eu vou... Tentar localizar a Maria Clara pra você. Só tem que me esperar
aqui. O que é que você acha?
VLAVIANO:
E encontrar tua chefe é problema pessoal desde quando?
NICK:
Desculpe, foi só uma forma de dizer.
VLAVIANO:
Sinto ter que cortar a curica, mas se tu pensas que vou ser feito de idiota,
estás muito é da errada!
NARRADOR:
“CORTAR A CURICA”: estragar um momento.
NICK:
Olha só, Senhor...
VLAVIANO:
Vlaviano.
NICK:
Muito bem, Vlaviano. Eu não me arriscaria a tanto. Se essa mulher cai em
desgraça, o meu emprego vai pro espaço.
VLAVIANO:
Se a Maria Clara tiver culpa do que tá me acontecendo, pode ter certeza que ele
vai mesmo.
NICK:
Fica aqui, que eu vou tentar localizar a Maria Clara pra você. Mas não sai
daqui enquanto eu não trouxer ela de volta.
VLAVIANO:
Como é que eu posso ter certeza de que você não tá me enganando?
NICK:
Você vai viver à sombra dessa dúvida, se quiser esclarecer a verdade. Me
espera.
(fundo
musical: “Meu bem (Gabe Pereira remix)”- parte instrumental)
Vlaviano
vê Nick deixando o prédio da empresa, lançando para a moça um olhar de
desconfiança.
NICK:
Atende, Paloma. Atende.
(fundo
musical: “Jack Soul Brasileiro (Jørd and Mojjo remix)”- parte instrumental)
PALOMA:
Tá demorando pra seguir com o plano, hein, garota? Tás metida onde?
NICK:
Aconteceu um imprevisto com relação à...
PALOMA:
Quer me dizer onde você se enfiou?
NICK:
Ainda tô aqui na empresa. Em frente a ela, pra ser mais exata.
PALOMA:
Comprou a peruca loira?
NICK:
Botei dentro da minha bolsa, mas...
PALOMA:
Então, não se atrase, cunhatã. Ivan está cantando a plenos pulmões no karaokê
há meia hora. Não deu nem tempo de tomar uma bebidinha.
NARRADOR:
“CUNHATÔ: gíria indígena que significa “menina”.
NICK:
Presta atenção, Paloma: tem um rapaz aqui na empresa que pode colocar a perder
o plano da manipulação dos resultados.
PALOMA:
Primeiro, nós vamos resolver o problema do casal. Depois, a gente se encontra pra
discutir esse assunto.
NICK:
Você não tá entendendo a situação, Paloma...
PALOMA:
Quem não tá entendendo é você, Nicole. Já sabe: em meia hora, no bar. Ou eu
conto tudo pra polícia.
NICK:
Para de blefar, mulher!
PALOMA:
Não é blefe, é promessa. Eu sei bem como depor sobre aquilo que me interessa.
NICK:
Mas eu posso dizer que nós estamos juntas nesse plano sórdido de acabar com a
Maria Clara.
PALOMA:
Nós duas temos razões fortes pra destruir aquele atraso de vida, Nicole. E é exatamente
por essa razão que nos damos tão bem. Uma vingança não existe sem a outra.
Esquece esse rapaz e vem pro Kara-Karamba-Kara-Karaokê.
NICK:
Mas, Paloma...
PALOMA:
Agora! (desliga o celular) Que voz de colibri...
IVAN:
“A cada dia que passa, eu fico louco por ti”...
PLATEIA
DO KARAOKÊ: “Meu bem, eu fico louca também”...
IVAN:
“Com esse corpo lindo eu chego mais, vou além”...
PLATEIA
DO KARAOKÊ: “Vem! Chega mais perto, meu bem”...
IVAN:
“A cada dia que passa, eu fico louco por ti”...
PLATEIA
DO KARAOKÊ: “Meu bem, eu fico louca também”...
IVAN:
“Com esse corpo lindo eu chego mais, vou além”...
PLATEIA
DO KARAOKÊ: “Vem! Chega mais perto, meu bem”...
IVAN:
“Não faz assim comigo”...
PLATEIA
DO KARAOKÊ: “Não me diga ‘não’! Meu amor, vem pra mim”...
IVAN:
“Bole, rebole! Mexe esse corpo, vem comigo! Dance, que lance, nesse suingue vou
contigo”...
PLATEIA
DO KARAOKÊ: “Não me diga ‘não’! Meu amor, vem pra mim!
IVAN:
“Bole, rebole! Mexe esse corpo, vem comigo! Dance, que lance, nesse suingue vou
contigo”...
PLATEIA
DO KARAOKÊ: “Não me diga ‘não’! Meu amor, vem pra mim”!
MARIA
CLARA: A que horas os paraenses vão invadir esse prédio e impedir que o Ivan
cante feito uma gralha?
(ABERTURA)
CENA 2
Ivan
e Maria Clara voltam a conversar diante da mesa.
IVAN:
O que é que você achou da minha apresentação? Fui bem?
MARIA
CLARA: Ô... Kraftwerk ficaria orgulhoso de te ver cantar.
IVAN:
Quer beber alguma coisa?
MARIA
CLARA: O que você quiser beber.
IVAN:
Ledo engano. O que eu quero não servem por aqui.
MARIA
CLARA: A que você se refere?
IVAN:
Ao mel da sua boca.
MARIA
CLARA: Te orienta, curumim tarado!
NARRADOR:
“CURUMIM”: gíria indígena que significa “menino”.
IVAN:
Eu vou ao bar buscar e já venho.
PALOMA:
Ele está vindo. Hora do show.
IVAN:
Paloma!
PALOMA:
Como vai, querido?
IVAN:
Surpreso. Achei que você não viria até aqui.
PALOMA:
Queria vir com você, mas... Percebi que tinha outros planos.
IVAN:
Desculpa, Paloma, mas é que...
PALOMA:
Tudo bem, não precisa se justificar. Passo por cima disso... Também.
IVAN:
Como sempre, mostrando que é uma mulher compreensiva.
PALOMA:
Nem tanto, meu caro.
IVAN:
Não entendi.
PALOMA:
Já que estamos dividindo o mesmo espaço, por que não bebemos alguma coisa
juntos?
IVAN:
Paloma, não sei se é uma boa ideia.
PALOMA:
Acha que a manauara dos infernos... Digo, a Maria Clara vai ficar com ciúmes?
IVAN:
Não é isso, é que fica chato. Eu a convidei pra sair comigo.
PALOMA:
Deu, na verdade, uma ideia minha. Me compensa.
IVAN:
Posso saber de que forma?
PALOMA:
Se não pode me beijar, enche a cara comigo por uns minutos. É mais seguro.
IVAN:
Tá bom, então.
PALOMA:
Vamos pedir. Barmaid!
Nick
aparece sem óculos e de peruca loura.
NICK:
Pois não?
IVAN:
Duas doses de Dry Martini.
PALOMA:
Que é isso? A bebida do momento é caipirosca.
IVAN:
Verdade? Então, duas caipiroscas.
NICK:
Sim, senhor. (Nick coloca um pó misterioso num dos copos e depois pensa) Se
soubesse que isso é tendência há anos...
IVAN:
Chibata essa bebida, hein? É feita de quê?
PALOMA:
(também alterada) A única coisa que eu sei é o que dá pra fazer depois que a
gente a bebe. Talvez a dança do acasalamento ao som de “Fêmea”, do Fábio Jr.
IVAN:
Vou te confessar uma coisa: eu tenho a impressão de que conheço essa mulher que
serviu esses copos.
PALOMA:
Claro, meu bem. Não viu que é aquela menina que protagonizou “Pérola Negra” no
SBT?
IVAN:
Ah, como esquecer? “Quando você ama alguém que não te quer”...
PALOMA:
Lema da minha vida. Agora vamos conferir se você tá no seu estado normal.
IVAN:
Borimbora.
PALOMA:
Depois da sexta, vem...
IVAN:
A sétima, claro.
PALOMA:
Não respondeu “sábado”, tá tão mamado quanto eu! Vem comigo, meu anjo.
IVAN:
Pra onde, Paloma? Nada de me conduzir até o mau caminho.
PALOMA:
Querido, eu sou o mau caminho, sou a Transamazônica da maldade! Me segue.
CENA 3
Vlaviano
espera tanto pelo retorno de Nick que cria uma longa barba dentro do prédio da
Pharmanveres.
VLAVIANO:
Já chega! (arranca todos os fios grisalhos) Chega de me fazer de palhaço!
Amanhã eu vou colar na entrada da empresa e vou esperar essa tal de Maria
Clara. Putz, já tá muito tarde pra pegar um ônibus num lugar esquisito desses.
Melhor chamar um Uber pra mim.
NARRADOR:
“UBER”: aplicativo que ganhou uma propaganda descarada nesse episódio.
O
escritor deixa o prédio da indústria e vê que o carro particular chegou. Depois
de alguns minutos, o veículo estaciona em frente ao karaokê.
VLAVIANO:
Parou por quê?
MOTORISTA
DE UBER: Problema no pneu. Me dá uns minutos e num instante e eu troco.
VLAVIANO:
Que jeito, né?
(fundo
musical: “À francesa (Extended club mix)”- parte instrumental)
Vlaviano
observa Maria Clara, com cara de preocupada, deixando o imóvel no qual se
localiza o karaokê.
VLAVIANO:
É ela.
Estamos
apresentando “Catch back”.
(fundo
musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance
mania”)
NARRADOR:
Você se considera uma pessoa feliz?
MATHEUS:
Sei lá... Vejo muita gente da minha idade progredindo. Parece até que só eu
fico pra trás, ao contrário de todo mundo.
THIAGO:
Você não é todo mundo.
MATHEUS:
Por que acha isso?
THIAGO:
Eu não acho, é o que todos os pais dizem.
NARRADOR:
Então, comece a se imaginar daqui a vinte anos.
TELESPECTADOR
2: Desde que minha namorada começou a ver esse programa, ela questiona as
minhas atitudes. Não estou escrevendo pra elogiar, e sim pra criticar. Você
deveria sair do ar.
DANILA:
Se a sua namorada percebeu que você é um boy lixo...
(fundo
musical: “Que queres tu de mim?”- “que culpa tenho eu?”)
NARRADOR:
Pela primeira vez na televisão, “Duas décadas”. Amanhã, onze e quinze da noite,
na “Tela de insucessos”.
Voltamos
a apresentar “Catch back”.
(fundo
musical: “Linha de fogo (DJ Corello soul inside remix)”- “dance, dance, dance
mania”)
MARIA
CLARA: Onde é que esse homem se meteu, minha gente? Fiquei lá dentro abandonada,
feito uma cruzeta velha no guarda-roupa.
NARRADOR:
“CRUZETA”: cabide.
VLAVIANO:
Moço, toma. Pode ficar com o troco.
MOTORISTA
DE UBER: Espera aí, pra trocar o pneu é coisa rápida.
VLAVIANO:
Mas é uma emergência, eu tenho que ir embora. (Vlaviano corre para falar com a
empresária) Espera.
MARIA
CLARA: Quem é você?
VLAVIANO:
Faz dias que eu tô tentando te encontrar.
MARIA
CLARA: Desculpa, eu não tô me lembrando de você. A gente se conhece de onde?
VLAVIANO:
Não nos conhecemos, mas eu tenho muito a ver com você, com os seus negócios.
MARIA
CLARA: Como assim?
VLAVIANO:
Fui uma das cobaias do Semancol. E fiquei até agora esperando por você na
empresa.
MARIA
CLARA: Minha secretária ficou lá e não te disse que eu não voltaria mais hoje?
VLAVIANO:
Sua secretária tomou Doril e sumiu. Muito conveniente pras duas, não acha?
Olha
só, eu não tive culpa do que está acontecendo, e tenho certeza de que o
Semancol não causa esses efeitos que as pessoas alegam.
VLAVIANO:
Acontece que eu passei a ter alucinações com um adolescente em todos os
lugares, ao meu lado, depois que tomei a primeira dose do remédio.
MARIA
CLARA: Que história é essa, rapaz? Não existe mais de uma dose, uma é o
suficiente.
VLAVIANO:
Não foi nisso que sua secretária me fez acreditar.
MARIA
CLARA: Escuta aqui, você tá completamente...
O
celular de Maria Clara recebe uma mensagem.
MARIA
CLARA: Espera aí. Ué, de quem é esse número? “Estamos mantendo Ivan Lemgruber
de refém. Caso queira que a gente devolva seu namorado com vida, apareça daqui à
meia hora no quarto 301 do Hotel Manauara Palace para discutirmos o resgate. P.
S.: se esse celular ou essa mensagem cair nas mãos da polícia, o geógrafo terá
que renovar o passaporte e viajará para Terra dos Pés Juntos. Ass.: Meliante Anônimo”.
Ivan!
VLAVIANO:
Caramba, e agora?
MARIA
CLARA: Eu não posso dizer o que eu vou fazer, o bandido me pediu sigilo
absoluto...
VLAVIANO:
Tá louca, Maria Clara? Você leu a mensagem em voz alta, até o pessoal da Ilha
de Marajó, em Belém, tá sabendo desse rapto.
MARIA
CLARA: Tem razão. Eu vou pra casa tirar todo o dinheiro que eu tenho no cofre.
VLAVIANO:
Não. Você tem que ir pro local indicado. Ninguém sabe quanto vão pedir pelo
resgate do teu namorado, vai que a quantia do cofre não é suficiente?
MARIA
CLARA: Ivan não é meu namorado, ele é... Sei lá o que ele é de mim.
VLAVIANO:
Um catch back seu?
MARIA
CLARA: É, podemos dizer que sim. Me
deixa ir agora.
VLAVIANO:
Espera, eu vou com você.
MARIA
CLARA: Não, podem pensar que você é da polícia.
VLAVIANO:
Tá maluca se acha que vai negociar com sequestrador sozinha. Tem um motorista
de Uber trocando o pneu do carro, a gente vai nele.
MARIA
CLARA: Tudo bem. Mas eu tô de carro, a gente vai junto.
VLAVIANO:
Ótimo, já me economiza o dinheiro que eu não tenho. Vamos.
CENA 4
Ivan
abre os olhos, estando deitado sobre a cama de um hotel. Logo, fica assustado
ao ver Paloma ao seu lado, dormindo e tão enrolada nos lençóis como ele.
IVAN:
Mas o que é que... (leva a mão à cabeça, ainda tonto) Como é que eu vim pra cá,
ainda mais com... Paloma? Paloma, acorda!
PALOMA:
(com voz suave) Oi, Ivan. Que bom acordar e te ver.
IVAN:
Quer me explicar o que tá acontecendo aqui?
PALOMA:
Hum, nada. Já aconteceu. Ontem à noite. E foi muito lindo (coloca uma das mãos
sobre o rosto do geógrafo)...
IVAN:
Paloma... Isso é um pesadelo, não é? Fala que esse lugar, nós dois juntos, essa
situação toda... Que é tudo mentira! Fala, Paloma!
PALOMA:
Não acredito... Não acredito que você bebeu tanto a ponto de esquecer a noite
maravilhosa que tivemos.
IVAN:
Quer dizer que a gente...
PALOMA:
Ivan, fique de bubuia, meu lindo. Eu entendo que você se sinta um pouco
desnorteado... Aliás, nem deveria usar esse adjetivo no Amazonas. Mas uma
amnésia alcoólica, depois de horas de prazer, eu não admito.
NARRADOR:
“DE BUBUIA”: tranquilo, relaxado;
IVAN:
Como foi que você me trouxe pra cá?
PALOMA:
Você não lembra, meu amor?
IVAN:
(grita) Para! Para com esse sapateado de catita; não basta a minha cabeça
estourando de dor, não?
NARRADOR:
“SAPATEADO DE CATITA”: conhecido também como “dança de rato”, é protelar algo
ou enganar alguém;
PALOMA:
Tudo bem, não precisa ficar nervoso. Na verdade, eu não te trouxe aqui. Foi
você quem quis vir pra cá.
IVAN:
Como é a história?
PALOMA:
Não tá reconhecendo esse lugar? A sua casa tá em reforma, daí você se hospedou
aqui logo que voltou de La Toba.
IVAN:
Eu não trouxe ninguém até aqui, Paloma. Muito menos você.
PALOMA:
Aham... Você não consegue nem sair da cama, mas afirma que não me levou até
ela... Palhaçada, Ivan!
IVAN:
A última coisa que eu me lembro de ter vivido foi o karaokê, onde eu fui com a
Maria Clara.
PALOMA:
E depois disso? Mais nada?
IVAN:
Eu... Eu bebi... Eu bebi uma caipirosca, foi até você que me recomendou... No
bar do karaokê.
PALOMA:
E ficou até reticente, porque disse que Dry Martini era a melhor das pedidas.
Também lembra essa parte?
IVAN:
OK... Eu bebi, perdi o controle, vim pra cá e apaguei. Já entendi isso. E essas
roupas jogadas pelo chão, nós dois vestindo só esses lençóis? O que é que
significa isso?
PALOMA:
Como diria Ronnie Von: “significa”.
(fundo
musical: “Perigo (Dallass remix)”- “e ela gosta de tapas na cama”)
PALOMA:
Você consumiu umas taças a mais, disse que estava cansado daquele ambiente,
daquela manauara dos infernos e me convidou pra vir até aqui. Falou até que
tinha coisa melhor no hotel. Fiquei curiosa e vim bebericar mais um bocadinho,
mas você... Que apetite, Ivan! Com certeza, vai ser o telespectador número um
da transmissão das olimpíadas desse ano, porque promoveu uma verdadeira maratona
sexual nesse quarto.
IVAN:
Não pode ser... Eu não posso ter feito isso que você tá me contando... Com a
Maria Clara, eu não posso!
PALOMA:
Olha, Ivan, em outros tempos, se eu te ouvisse pronunciar o nome dessa mulher,
teria pedido pra você esquecê-la. Mas a noite passada serviu pra me provar que
isso você já fez por conta própria. Sabe-se lá o que foi que aquela pilantra
disse pra te irritar tanto a ponto de beber tanto, mas valeu a pena.
IVAN:
Não fala desse jeito da Maria Clara! Nem você nem ninguém tem o direito de
faltar com o respeito a ela.
PALOMA:
E quem é você pra exigir respeito a essa mulher? O homem que traiu seus
próprios sentimentos em favor de uma mulher irrecusável quanto eu?
IVAN:
Paloma, eu não sei como foi que você fez isso, mas... Só pode ser uma tramoia
sua. É isso. Sim, porque sóbrio eu não me atreveria a fazer tudo que você tá me
falando...
PALOMA:
Me respeita! Se você quiser, pode averiguar as câmeras de segurança do hotel.
Elas vão mostrar que eu cheguei aqui tão bêbada quanto você. Tanto que um carro
de aplicativo nos trouxe pra cá.
IVAN:
Como é que eu tive coragem de ser tão canalha? Eu nunca bebi pra ficar desse
jeito, sem me lembrar de nada. Foi você que me ofereceu a taça?
PALOMA:
A garçonete ofereceu, como todos os serviçais que se prestam a isso. Sente...
(Paloma abre a boca para que Ivan sinta seu hálito). Acha que eu, bêbada, ia
inventar tudo isso, e pra quê?
IVAN:
Você nunca escondeu que sempre me quis.
PALOMA:
Ivan, sua desconfiança tá me ofendendo.
IVAN:
Desculpa. Paloma. Desculpa; eu não quero machucar você de forma alguma, mas eu
não consigo lembrar o que houve comigo.
PALOMA:
Eu achava que te conhecia, Ivan. Mas o álcool transforma você em outro homem.
CENA 5
Maria
Clara chega com Vlaviano ao quarto em que Ivan está hospedado.
MARIA
CLARA: 301... É esse mesmo.
VLAVIANO:
Você não acha que é melhor chamar a polícia? O tal de Ivan tá correndo perigo,
se a gente entrar vai se arriscar também.
MARIA
CLARA: Eu não pedi pra você me acompanhar até aqui.
VLAVIANO:
Tem razão, vim porque quis. Eu tenho uma coisa muito importante pra falar.
MARIA
CLARA: Mas não vai! Não vai! Você não tá vendo que eu tô desesperada?
VLAVIANO:
Sim, mas infelizmente eu acho que meu problema é pior.
MARIA
CLARA: Do que um sequestro? Se os raptores do Ivan acham que eu vim com um
policial pro esconderijo deles, podem até... Eu não quero nem pensar.
VLAVIANO:
Toca logo essa campainha, vai. Eu vou te esperar aqui fora. Mas nem pense em
sair desse hotel sem falar comigo.
MARIA
CLARA: (toca a campainha) O que é tão importante pra você me seguir da empresa
até aqui?
VLAVIANO:
É sobre ela mesma que eu queria falar. Acontece que eu fui uma das cobaias do
seu novo medicamento, o Semancol.
MARIA
CLARA: Ah, não. Não vai me dizer que você também quer me processar por algo que
não tem nada a ver comigo?
VLAVIANO:
Maria Clara, você tá errada. O que eu tenho pra te contar é que eu tive umas...
Paloma
abre a porta do quarto, ainda seminua.
MARIA
CLARA: Paloma? O que você tá fazendo no cativeiro do Ivan?
PALOMA:
Cativeiro? É assim que você chama o nosso ninho de amor?
(fundo musical: “Puro êxtase (Sax in the house
version)”)
Maria
Clara e Vlaviano olham para o rosto de Ivan, apavorado com a presença da
empresária. É o rosto do geógrafo que faz o capítulo terminar com um congelamento.
(CRÉDITOS FINAIS)
(fundo
musical: “Dias melhores (KVSH & Flow remix)- “vivemos esperando/ o dia em
que seremos para sempre”)
(VINHETA DA JOGA FORA NO LIXO PRODUÇÕES)
CHAMADA
(fundo
musical: “Dias e noites”- “viver algo novo/ tocar no seu rosto/ viver”)
NARRADOR:
Próxima quinta- Ivan não vai ser o único a acreditar nessa noite de amor que
jamais existiu.
IVAN:
Você não pode colocar em dúvida o que eu sinto por você, não tem esse direito.
MARIA
CLARA: Não tenho direito de quê? De questionar? Ou de constatar que você é um
sem-vergonha?
NARRADOR:
E Vlad vai receber uma proposta inusitada.
LETÍCIA:
E aí, curumim? Quer namorar comigo?
VLAD:
Oi?
NARRADOR:
Próxima quinta- “Catch back”.
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