26/05/2018

VALENTE VALENÇA/ CAPÍTULO 4


-O que a senhora tenta insinuar a meu respeito?
-O que quero é que esclareças o que está acontecendo entre tu e aquele tal de Michel.
-Somos amigos, não há o que se estranhar nisto.
-Voltaram a se encontrar após aquela noite?
-Mas que tom inquisidor é este agora? Nunca te vi tão preocupada com as minhas amizades como desta forma.
-Às vezes, Otávio, é necessário que pais assumam esta postura. Não é minha intenção recriminar-te por qualquer coisa que seja. No entanto, eu não me sinto confortável de imaginar que tu estás a esconder-me alguma cousa.
-Está bem. Voltamos a nos ver algumas vezes no hotel, conversamos bastante e descobrimos que temos muito em comum, como todos os bons amigos. O que há demais nisso?
-Somente o fato de que parecem ter se conhecido há pouco, uma vez que tu nunca nos mencionaste a existência desse rapaz.
-E por algum acaso eu conheço todas as tuas amigas, ou as pessoas que se relacionam com o Papai? O fato de Michel estar hospedado no mesmo hotel que nós foi mera casualidade, não há motivos para celeumas.
-Otávio, quero que me escutes atentamente.
-Digas.
-Seja o que for, podes sentir-te à vontade comigo para falar sobre qualquer cousa. Eu não quero passar de novo pela sensação de que não posso te ajudar sem que tu reveles o que te aflige. Em suma: detesto imaginar que temos liberdade para tratar de qualquer tema e optas por retrair-se.
-Afinal de contas, por que razão pensas isto de mim?
-Perguntes a si mesmo, meu querido. Ninguém melhor para sanar as tuas dúvidas do que tu mesmo. O que vou pedir-te é muito simples, meu filho: não mintas para nós, e muito menos para ti.
A felicidade de Tato foi se dissipando aos poucos durante aquele café da manhã consideravelmente indigesto. Mesa farta era algo de que Cissa não poderia reclamar, mas o fato é que nada estava arrumado, uma vez que ela ainda dormia, após uma longa madrugada na qual curtia uma rave com Beatriz, a mesma que a desperta neste momento, por intermédio de uma ligação ao celular.
-Alô?
-Amiga, tu nem imaginas o que consegui para esta noite: dois convites para irmos ao aniversário de Fernando.
-Ligaste-me só pra dizer isto? E a esta hora?
-Não entendeste o espírito da cousa? Se tu quiseres mesmo fazer a fila andar, a melhor forma é colocar novas pessoas em seu círculo de amizades, que não precisa ser nada restrito. E mesmo sabendo que estás mais ébria do que sóbria, liguei para combinarmos de passar no shopping e comprarmos os looks da noite.
-Não sei, Beatriz... Deixa-me pensar.
-Tudo bem. Penses, para depois dizeres que sim. A comemoração começa às dez e quarenta e cinco. Espero-te lá. Beijos, amiga.
Assim que Beatriz desliga o telefone, Olívia chega à sala de estar, parando em frente ao espelho para arrumar o cabelo. Está prestes a ir à faculdade, mas observa:
-Outra festa? Vocês não cansam dessa rotina de casa/ festa, não?
-Creio eu que deve ser menos desgastante do que essa peregrinação de casa/ faculdade/ igreja a qual te submetes, querida.
-Quando você quer ser desagradável, consegue ser com louvor, hein? Deixa-me ir, que já estou atrasadíssima. Quer que eu passe um café?
-Daqui a pouco eu me reergo, Olívia. Minha preocupação no momento é a Cissa.
-Não será como num passe de mágica que ela vai seguir a vida dela sem o Ricardo.
-Mas terá que aprender. Mesmo com a minha ajuda, volta e meia ela toca no nome do cafajeste. A verdade é que precisa acontecer algo radical na vida da Clarissa para ela prosseguir.
-Nisso, eu estou plenamente de acordo contigo. Vou orar para que ela ponha a cabeça no lugar o quanto antes.
-Como se isto funcionasse, minha querida carola...
-Beatriz, podes me fazer um favor?
-O que é?
-Limpes o canto da tua boca, porque deixar o veneno escorrer também não pode ajudar muito. Bem, deixa-me ir, pois tenho aula daqui a quinze minutos. Até mais tarde... Se eu te vir por aqui, não é?
A virada esperada para a vida de Cissa aconteceria mais cedo do que supunham Olívia e Beatriz. Valente poderia não ser o responsável, mas é parte importante nessa guinada que seria à moça oferecida. Enquanto as vidas dos jovens não se cruzavam, o saxofonista apresentava uma nova canção aos transeuntes da praça onde tocava: “Quero mudar”. As pessoas já estavam começando a se acostumar com a presença do rapaz diariamente naquele lugar. Inclusive Fabiano, que dessa vez não passa no centro da cidade para comprar artigos para a igreja que comandava, e sim para um convite especial.
-O senhor?- Valente o reconheceu da ocasião em que Fabiano estava acompanhado de sua esposa.
-A paz do Senhor, amado.
-Amém.
-Eu não quero atrapalhar seu show...
-Imagines.
-Vim aqui unicamente para falar contigo.
-Se eu puder ajudar...
-A ajuda não é para mim, e sim para ti.
-Do que se trata?
-Acho que não fomos apresentados um ao outro. Meu nome é Fabiano, e eu sou pastor da Igreja Comportas do Céu. Queria te convidar para ir a um dos nossos cultos.
-Tem todos os dias?
-Menos nos sábados, pois é ensaio dos corais. Se tu quiseres dar uma passada, serás muito bem vindo.
-Desculpa-me, nem te disse o meu nome: Valente.
-Bem apropriado, varão valoroso.
-Por que o senhor chama-me assim?
-Depois daquele dia, não há como se referir a ti sem ser por esse termo. Mais do que eu ou a minha esposa, o Senhor se agradou de ti, e recompensará aquilo que tu fizestes pelos desabrigados.
-Não sei que noite eu posso ir. Ultimamente tenho dormido num lugar bem longe.
-Se quiseres, eu posso te pegar de carro, e depois te deixo na tua casa.
-Melhor ires por mim: não se atreveria a pisar onde eu fico. Mas não precisas ficar preocupado. Algumas pessoas que vivem aqui na praça falaram muito bem do senhor e do trabalho de sua igreja. Até perguntei onde é que ela fica, pois estava mesmo com vontade de fazer uma visita quando a minha vida se estabilizasse mais.
-Não pareces um menino de rua. Teu jeito de falar é tão cordato.
-Passei a trabalhar aqui há poucos dias. Mas isso é uma longa história, Pastor. Qualquer dia desses, eu conto. E mesmo que minha vida demore a entrar nos eixos, eu farei uma visita.
-Sendo assim... – cumprimenta o jovem com um aperto de mão- Fique na paz, amado.
-Que o menino Jesus te acompanhe.
-Amém- Fabiano volta para o carro e segue em direção a sua casa.
-“Varão valoroso”: se esta alcunha pega...
E espalhar-se-á. Principalmente quando as pessoas perceberem como Valente se comporta diante do seu melhor amigo e que, em sua concepção, deveria assumir o mesmo papel na vida de todos. A oportunidade para que todos se encantem com o saxofonista acontece ao anoitecer, uma vez que o convite feito por Fabiano é aceito e o músico, a despeito do quão tarde chegará ao Lisboa Noite para dormir, decide fazer uma visita à Igreja Comportas do Céu. Como não havia maneira de passar no estabelecimento para deixar o saxofone, uma vez que era muito longe dali, e o jovem sequer tomava um coletivo para não faltar o dinheiro de sua estadia e café da manhã, a solução foi sair da praça em que se apresentava e dirigir-se imediatamente ao templo religioso.
Não foi informado ao rapaz que, naquela noite, ocorreria a apresentação de um coral oriundo da cidade de Loures, intitulado como “Confiança Portuguesa”. Por motivos desconhecidos para Fabiano e Nete, as mulheres do coral demoravam para chegar à igreja. Não sabiam que uma chuva torrencial havia atingido a cidade logo quando partiram, sendo que saíram cedo do templo depois de um último ensaio para não chegarem atrasadas. Lisboa, de clima ameno, estava sequíssima. Mas não menos que a expressão de Nete, que demonstra acreditar que a principal apresentação do templo daquela noite está arruinada.
-Por onde andam aquelas benditas gajas? Acaso foram tragadas pelo Mar Vermelho?
-Acalma-te, Nete. Deve haver algum contratempo para que não tenham chegado ainda.
-Falando nisto, onde foste tu mais cedo sem mim?
-Sabes daquele gajo que nos ajudou no dia em que distribuímos a sopa para os desabrigados?
-Hum?
-Fui à praça onde ele toca para chamá-lo ao nosso culto especial... Quer dizer, ao nosso culto, pois todos são especiais.
-E ele aceitou?
-Disse-me que faria uma visita, mas não me confirmou se o dia será hoje.
-Provavelmente só te falou isto com o intuito de ser educado. Creio eu que deva ser algum incrédulo que, se descobrir o endereço daqui, moverá céus e terra para sequer pisar neste logradouro.
-Ednete!
-Mas não é verdade, meu amor?
-Graças a Deus, não é- afirma Fabiano ao ver Valente chegando e acompanhado do quase inseparável saxofone- A paz do Senhor, meu amado.
-A paz do Senhor, Pastor.
-Ih... Não respondeu com “amém”, já vi que não é boa pessoa... – pensa Nete, com o rosto mais expressivo do mundo.
-Sejas bem-vindo, querido. Podes entrar.
-Obrigado. Nossa, este lugar é lindo. Muito lindo mesmo.
-A igreja está bastante ornamentada hoje para o Congresso de Mulheres das Comportas do Céu- Nete explica ao visitante.
-Que maravilha. E quantas igrejas vocês têm?
-Pra falar a verdade, apenas essa. Mas temos fé que um dia nosso ministério expandirá.
-Não me digas que tu tocarás esta noite em nossa casa de adoração?
-Ah, não, senhora, é que... Não fui pra casa deixar meu sax lá, é muito longe para ainda vir até aqui.
-Lembra-te do que te falei; caso queiras uma carona, eu posso te levar após o término do congresso.
-Por favor, eu não quero atrapalhar. Já sei o caminho, dá para ir andando até lá. Obrigado mais uma vez.
-Fiques à vontade. Senta-te em qualquer um de nossos bancos.
-Obrigado, Pastora- Valente toma à beira de um dos últimos assentos do templo, encostando o instrumento musical ao objeto.
-Menos este!
-Nete!
-Desculpes, querido, é que havia reservado cinco para a igreja de Loures. Tentes ficar um pouco mais atrás. Se sobrar vaga, irei te remanejar para um assento melhor.
-Sem problemas, senhora- Valente se põe de pé novamente e senta mais uma vez, carregando o saxofone.
Fabiano e sua esposa notam que a tempestade agora está sobre Lisboa, e ficam à porta do templo para receber visitantes e fiéis. Valente fecha os olhos e começa a orar para que Joana fique bem, por entender o quanto ela deveria sofrer naquela ocasião sem saber notícias suas. Em meio à oração do músico jovem, o ônibus que traz as mulheres lourenses estaciona do outro lado da fachada da Comportas. Com dificuldade, a esposa do pastor reconhece-as ao vê-las com uma saia longa jeans e uma blusa rosa, sem qualquer tipo de inscrição.
-A rua está praticamente alagada, Fabiano. Como elas descerão do coletivo?
-Já sei, Nete: corras até o depósito e pegues aquele guarda-chuva grande para ir buscá-las no ônibus.
-Certo.
Desanimada, Cissa recorreu ao visual básico para ir à festa do tal Fernando, mencionado pela animada Beatriz. Só que o carro quebra misteriosamente atrás do ônibus.
-Não, isso não está a acontecer. Mas justamente agora?- a moça liga para a companheira de festas- Beatriz?
-Cissa? O que foi? Não estás vindo para cá?
-O meu carro quebrou-se. E eu estou sem dinheiro para tomar um táxi.
-Cissa? Não consigo escutar-te! Onde tu estás?
-Beatriz, ouça-me… Alô?
-Alô, Cissa!- a ligação é interrompida- Deve ser o sinal- Beatriz retorna o telefonema de sua amiga, mas não obtém sucesso- Agora diz que está na caixa postal.
-Esqueci-me de trazer um guarda-chuva, não vim com dinheiro, a conexão está horrível... Pelo visto, tratarei eu mesma de consertar o carro.
Assim que Cissa desce, fecha a porta do automóvel, enquanto é aberta a porta do ônibus das protestantes lourenses. Dotada de extrema agilidade e cuidado, Nete corre com o guarda-chuva e busca de três em três mulheres para que entrem na igreja sem serem molhadas. Ao fazer isso oito vezes, o motorista do coletivo fecha a porta, até que Cissa é surpreendida por uma pergunta.
-Como pude esquecer-me de ti, irmã?
Rapidamente, Cissa é bruscamente puxada para o interior do guarda-chuva aberto e posta dentro da Comportas. O motivo é o comportado visual adotado, praticamente idêntico ao das mulheres que cantariam naquela ocasião.
-Mas o que é isto, minha senhora?
-Já não há mais lugares para as lourenses. Vais ter de ficar aqui mesmo. Senta-te aqui- Nete põe a jovem junto ao saxofonista, que abre os olhos e fica extasiado com a beleza de Cissa. Por sua vez, ela não desvia o seu olhar da direção de Valente.

19/05/2018

VALENTE VALENÇA/ CAPÍTULO 3


-Pai, esse é o Michel. Eu o conheci...
-Em Lisboa. Como vai o senhor, Doutor Kleber?
-Muito prazer, Michel.
-Aposto que essa bela senhora, com todo o respeito, é tua mãe. Acertei?
-Isadora Goulart, muito prazer.
-O prazer é todo meu, Dona Isadora.
-Fiques à vontade, pode chamar-me de Dora. Se és amigo de meu filho, não são necessárias tantas formalidades.
-Uma pena que nós já pedimos a conta, senão te convidaríamos para se juntar a nós nesse jantar, que foi magnífico.
-Que lástima, não é mesmo?- Tato busca interromper a conversa, mas é contido por uma declaração dada por Dora.
-Mas se quiserem conversar, o Tato pode subir ao quarto depois.
-Ai, que bom. Queria mesmo trocar umas palavrinhas com teu filho.
-Tu não nos disseste que um amigo teu vinha às Bahamas, Tato...
-Michel é bem imprevisível, Pai. Por isso eu nem cogitei a possibilidade de ele aparecer por aqui.
-Confesso que sou meio andarilho, Doutor Kleber. Trata-se da minha natureza.
-Bom, a noite foi longa para nós todos. Minha esposa e eu vamos nos recolher. Boa noite, Otávio.
-A bênção, Pai- Tato estende a mão.
-Deus te abençoe, filho- após o gesto, Dora se aproxima do jovem.
-Durmas com os anjos, querido- beija a testa do filho- Boa noite, Michel.
-Boa noite.
Esperando que Kleber e Dora possam tomar o elevador, Tato volta-se contra Michel.
-Queres me explicar o que foi isto? Como sabia o nome do meu pai? Aliás, como tu sabias que eu me chamava Otávio?
-E acabei de saber também que teu apelido é Tato, segundo palavras de tua mãe. Procurei saber informações sobre tu na recepção do hotel. E acredite que não foi nada fácil dialogar em inglês pois, como vistes, praticamente engatinho.
-A troco de quê?
-Gostaria de me desculpar pela forma que me portei quando cheguei, as coisas que eu lhe disse... Certamente, não foi boa a primeira impressão que tu tiveste de mim.
-Não se trata de primeira impressão. É a transparência.
-Na maior parte das vezes, somos elogiados por isso.
-E ganhsa desafetos exatamente por isso. Olha, eu não sou de julgar a vida de ninguém, e nem tenho este direito.
-Mas eu não queria que tu ficasses com raiva de mim por conta do que eu penso. É como eu disse ao teu pai: é a minha natureza, eu não sei como mudar isto. Tudo indica que tu foste educado de uma maneira diferente, mas não funciona com todo mundo.
-Desculpa-me, eu me sinto feliz assim. E acredito piamente que quem desejar ficar do meu lado pense exatamente desta forma. Sinceramente, não consigo entender tanto empenho em mudar a minha opinião sobre ti.
-Não costumo colecionar inimigos por onde eu passo.
-Eu não sou teu inimigo.
-Claro que o meu modo de ser não é unanimidade, mas eu nasci exatamente pra isto: ser livre de qualquer amarra, de qualquer rótulo que queiram impor a mim. Se eu sei que sou capaz de sentir amor, posso muito bem dividir com quem realmente merece- cumprimenta o filho de Dora e Kleber- Será que agora podemos nos apresentar, formalmente, sem ouvir rumores sobre um ou outro?
-Meu nome é Otávio e... Continuo sem entender o que queres saber sobre mim.
-Como bons amigos que seremos, apenas aquilo que tu me quiseres confidenciar.
A tática funciona, e naquela mesma mesa Michel e Tato conversam tanto que parecem se conhecer há bastante tempo. Valente, por sua vez, não se sente tão à vontade para dialogar num refeitório composto por casais que utilizaram o Lisboa Noite na noite anterior. Seja pela expressão tímida, por aparentar ter menos de dezoito anos ou pelo simples fato de estar sozinho, consegue os olhares para si.
-Posso?- Paula pede um lugar na mesa ocupada pelo saxofonista.
-Claro, fique à vontade.
-Como foi a noite?
-Não consegui fechar os olhos. Tenho medo de sair daqui e descobrir que ainda é noite.
-Entendo- declara, depois de uma rápida risada- Deve ser bem difícil pra ti.
-O que sabes?
-Ao que parece, tu não tens muito conhecimento de mundo, não apresentas malícia... Estás aqui por mera obra do acaso.
-Não consegui me instalar em nenhuma pousada por conta do que arrecadei ontem. Isto vai mudar. A fé que eu tenho não consegue me demover da ideia.
-Pelo menos tu tiveste um lugar para dormir... Quer dizer, um teto sobre a própria cabeça. Estás aqui, tomando um café da manhã. Não podes reclamar. Já diz o conhecido ditado: “Deus escreve certo por linhas tortas”.
-Pior que terei de discordar de ti. Deus escreve certo por linhas tão certas quanto. Nós é que não sabemos interpretar o texto.
-Que bonito. Quem escreveu isto?
-Não sei, fluiu de mim. Mas deveriam grafitar isso por Lisboa inteira.
Depois da refeição, Valente volta ao quarto, pega as suas coisas e sai novamente à praça, onde interpreta novas canções para o público. Longe dali, Fabiano volta ao centro lisboeta acompanhado de Ednete, a sua esposa, comprando alguns ingredientes num supermercado para fazer uma sopa e, à noite, distribuir entre os moradores de rua.
O casal retorna à noite para a praça, com duas panelas e duas mesas armadas, para colocar alguns pratos descartáveis e entregar aos desabrigados. O saxofonista também está na praça, mas longe dali, ainda que possa ver a movimentação. E logo Valente, que estava cansado e sem tocar nenhuma canção há um tempo, percebe a aflição no rosto de Ednete, em meio à quantidade de pessoas sem-teto que não para de crescer.
-O que houve, Nete?
-Será que não vês, Fabiano? Não tem como alimentar este povo todo. As pessoas não param de chegar.
-Não tinhas feito as contas para saber o quanto iríamos gastar?
-Sim, mas eu não imaginava que esse povo todo apareceria aqui.
Uma ideia permeou a cabeça de Valente: dirige-se ao centro da praça e voltar a interpretar as canções que conhecia, colocando novamente o boné de volta ao chão. A iniciativa traz os transeuntes para perto do saxofonista, e muitos depositam dinheiro dentro do acessório. Fabiano estava tão nervoso que não se deu conta de que era o mesmo rapaz a quem havia cumprimentado no dia anterior, e Nete pensou se tratar de mais um ambulante à procura de dinheiro.
Passadas cinco músicas e recebendo calorosos aplausos dos que passavam pela praça lisboeta, carregou o saxofone, a mala e o boné, indo em direção ao casal evangélico, tirando vinte euros para si. Nete o olhou com extrema desconfiança, acreditando se tratar de outra pessoa faminta.
-Sinto muito, a sopa acabou.
-Tu, gajo?- admira-se Fabiano.
-Tomes, senhora- entrega a maior parte do dinheiro arrecadado.
-Nós não estamos vendendo nada, garoto. E não há mais comida.
-Eu sei. Compres alguma coisa pra esse pessoal que está aqui.
-Desculpa-me, o que disseste?
-Já é tarde, daqui a pouco fecham as portas de tudo por aqui. Não vai dar tempo de fazer outra sopa, mas... Dá pra matar um pouco a fome do pessoal.
-Mas... Esta é a tua féria.
-Não tem problema, amanhã eu trabalho de novo e consigo mais.
-Se é assim, obrigada, então. Fabiano, eu vou ver o que dá para ser comprado no mercado, não demoro.
-Tudo bem- Fabiano nem chega a ver a esposa se afastando, de tão atônito com a atitude- Tu arrecadaste isto tudo e não quiseste ficar com nada?
-Tirei um poucochinho. Um dia sem comer não é nada perto do que eles vivem diariamente. Com certeza, vocês saberão usar este dinheiro melhor que eu. Terei que ir.
-Esperes. Eu estou de carro. Se quiseres, eu posso levar-te até a tua casa, logo depois que minha esposa voltar.
-Acredites, não é lugar para o senhor. Fiques na paz de Deus.
-Que ela te acompanhe, e que não te falte fé.
-Só por essas palavras eu já sei que ganhei o meu dia.
Irremediavelmente, Valente se vê de volta ao Lisboa Noite, mais feliz do que no dia anterior por ter conseguido extrair sorrisos dos outros, a despeito de si mesmo.
E a despeito da felicidade alheia, Tato permanece com um sorriso de orelha a orelha, desde que teve uma conversa mais amena com Michel, logo depois que os seus pais saíram do restaurante do hotel. Passados alguns dias, Dora vem observando o humor de seu filho único, ainda mais alegre do que antes da viagem.  Eis que, num momento em que Kleber sai cedo do quarto para dar um passeio sozinho, sua esposa toma café da manhã enquanto o jovem levanta-se da cama.
-A bênção, Mãe.
-Deus te abençoe, filho. Queres tomar café?
-Claro- senta-se à mesa, enquanto Dora prepara uma xícara de café.
-Como foi que passaste a noite?
-Dormi como um anjo. Há tempos que eu não dormia tão bem. Não é de se estranhar, haja vista o lugar onde estamos. E o meu pai?
-Saiu cedo para espairecer. A viagem realmente fez bem a ele. Isto seria impensável na cidade tumultuada em que moramos. Mas, ao que me parece, mudar de ares momentaneamente não é um benefício exclusivo para o Kleber.
-Poderia perfeitamente passar o resto da vida aqui, desfrutando da beleza deste lugar.
-Uma coisa que eu reparei: não vi mais o Michel.
-Michel?
-Aquele teu amigo, que nos foi apresentado em nossa primeira noite nas Bahamas.
-Ah, Michel é meio andarilho. Se duvidar, nem aqui ele está mais. É o tipo de pessoa que não para em lugar nenhum.
-Nem tu.
-O que quis dizer com isto?
-Não vivo no campo da suposição, das palavras que eu gostaria de falar e não posso dizê-las. Eu não quis dizer, Tato; eu disse.
-Ainda não entendi.
-Tu tens saído sucessivas vezes desde que nos hospedamos, muitas delas sem nós.
-Qual é o problema? É natural querer um pouco de privacidade, o Papai não está fora do hotel agora?
-Otávio, não te dês ao trabalho de fingir que não compreendeu aquilo que eu disse. Consigo ver o quanto tu estás mudado, mais feliz, com um sorriso permanente no rosto.
-Por acaso isto não é bom?
-Dize-me tu. Porque estás a comportar-te como se estivesses apaixonado por alguém.
-Mera impressão tua, Mamãe- Tato toma um gole do seu café, procurando levar o diálogo da forma mais natural e menos reveladora possível. Dora o observa de maneira perturbadora, ao menos para ele- O que queres tu que eu te fale?
-Se a sua súbita mudança de humor é decorrente dessas saídas frequentes que tu tens feito, Otávio.
-Por favor, queres ser mais clara?
-Perfeitamente, meu filho. O tal de Michel não é teu amigo como vocês dois alegam ser, não é?

12/05/2018

VALENTE VALENÇA/ CAPÍTULO 2


Comovido com o talento do rapaz, Fabiano não espera sequer que Valente termine de interpretar a canção e trata de colocar três moedas em um boné que o saxofonista colocou ao seu lado. Muitos dos que estão naquela praça lisboeta também desconhecem a beleza dos versos de “Nos amou”, que o jovem interpreta naquela ocasião. O fato é que ninguém foi capaz de perceber a aflição que atinge o músico, que tenta imaginar para onde vai, se o público gostará a ponto de lhe ajudar... Um turbilhão de dúvidas que se amontoam a cada segundo, ainda que ele não deixe transparecer qualquer tipo de preocupação.
Valente fica o tempo todo de olhos fechados, por medo de encarar o público, e também não pode contemplar aquele pastor que se aproxima. Ao fim daqueles sete minutos, assustou-se com todas aquelas pessoas ao seu redor, batendo palmas. Fabiano chega ainda mais perto, apertando sua mão um tanto trêmula.
-A paz do Senhor, meu filho.
-Amém, irmão. Que Deus te abençoe.
Fabiano se despede e vai até o seu carro, quando uma transeunte que havia parado para acompanhar a apresentação clama para Valente:
-Interpretes mais uma, por favor.
-Claro- responde o saxofonista, com leve timidez- O que queres tu que eu toque?
-Pode ser qualquer canção.
-Ainda bem- pensa Valente, por não conhecer muitos gêneros musicais, executando outra canção de cunho cristão: “És p’ra mim”.
A garota em questão é Olívia, a irmã mais velha de Beatriz, que por sua vez é a amiga que acompanha uma inconsolável Clarissa, inconformada pelo término de seu namoro. Ao menos, Olívia sabe como manter seus pés firmes no chão e numa fé em Deus que Valente também conhece muito bem. E seu boné foi ficando cheio, ao passo que o repertório de canções católicas do qual se lembra é transmitido ao público por meio do doce som do saxofone.
Depois de ouvir a segunda canção, Olívia faz questão de ajudar o desamparado e volta para casa, após um dia de muito estudo na faculdade de Medicina. Ao chegar, encontra Beatriz e Cissa, esta em um estado deplorável devido à ingestão alcoólica excessiva.
-Nossa... O que foi que houve contigo?
-Será que tu não imaginas, querida irmã?
-Já sei: o Ricardo certamente terminou tudo contigo mais uma vez, não é isto?
-Parece que eu sou a única idiota que não percebeu que este namoro só existia na minha cabeça.
-Olha, Cissa, eu sei que nessas horas não é muito recomendável dizer este tipo de cousa, mas...
-Eu avisei-te!
-Beatriz!- Olívia fica espantada com a franqueza da irmã.
-Avisamos inúmeras vezes, Olívia. O Ricardo deixou bem claro, desde o início do namoro, que não era boa cousa. Só que esta daí resolveu levar adiante.
-Mas eu achei que, com o tempo, conseguiria mudar a forma como ele age.
-Este é o teu mal, Cissa- opina Olívia- Tu acreditas que és capaz de mudar alguém. O problema reside justamente neste ponto, amiga: ninguém muda por amor, ele é quem transforma. Se não houve mudança, não houve amor.
-Tu sabes que eu não ligo muito pra este sentimentalismo que tu e a minha irmã entendeis como ninguém, mas hei de concordar com ela.
-Eu vou passar um café para nós três. Aliás, tu poderias dormir aqui, já que não tens condições de voltar para casa.
-Veio dirigindo até aqui, acreditas?
-Realmente é sério. Bom, eu vou ligar pro teu irmão, para que ele não fique preocupado.
-A última coisa que o Michel está neste momento é preocupado, ainda mais comigo.
-O gajo viajou de novo, acreditas?
-Mentira, Beatriz... De novo?
-Aquele ali não vai parar quieto nunca.
-Fiques com ela, enquanto eu apronto o nosso café. Já venho.
-Tudo bem, Clarissa. Levantes desse sofá agora mesmo.
-O que é, Beatriz?
-Agora chega. Chega! Eu não vou deixar que tu fiques a sofrer por um desgraçado que está cansado de pisar naquilo que tu sentes por ele.
-Só quem sabe da minha dor sou eu, Beatriz! Tu não podes impedir-me de sofrer por isto.
-Escuta-me, Cissa! O que tu viveste com aquele cara foi mera ilusão. Precisas parar de sofrer, ou não vês que isto está acabando contigo aos poucos?
-Para tu, é muito fácil falar. Não estás na minha pele!
-Comeces de uma vez por todas uma nova história. Não dizem que um amor se cura com outro amor?
-Pensas mesmo que eu estou à procura de outro homem justamente agora? Por favor, Beatriz. De decepções eu já estou mais do que saturada!
-Até que eu não sofri tanto com os términos dos meus namoros. Cissa, chega uma hora em que nós cansamos de ser tratadas como lixo, mas acredite que isso passa. E vai passar.
-Nem tu, nem ninguém é capaz de me dizer quando esta tua suposição realmente vai se concretizar.
-Pois eu sei muito bem: no dia em que tu encontrares um homem e o fizeres sofrer.
-Esta sua teoria é a coisa mais estapafúrdia que eu já ouvi.
-Quando tu conheceres alguém que realmente esteja apaixonado por ti e não por si mesmo, saberás o que é ter a vida de um homem nas mãos. Daí em diante, manipularás ao teu bel-prazer.
-Quem passar pela minha vida não vai pagar pelos erros que o Ricardo cometeu comigo.
-Então, vinga-te do Ricardo. Não foi ele o responsável pelo teu sofrimento? Trates de ser feliz aos olhos dele. Certamente, não existe resposta à altura. Mas, de todo modo, dês um jeito de não demonstrar a tua infelicidade perante este canalha. Tomes uma atitude o quanto antes, porque enquanto tu estás cá às lágrimas, ele tripudia do teu sofrimento sobre uma cama, com outra mulher.
Ao fim daquele dia que parece não ter fim, a família de Kleber chega ao destino inesperado das suas férias: Bahamas. O patriarca dos Goulart vai à recepção e solicita que um camareiro leve a bagagem de Tato e de Dora para os quartos. Ele e sua esposa aparentam estar cansados, e se surpreendem quando o filho demonstra estar animado para conhecer as belezas do hotel imediatamente.
-Não vais entrar no teu quarto, filho?
-Agora, Mãe? Este lugar é lindo. Queria muito conhecê-lo agora mesmo. Queria, não: quero.
-Mais tarde nós vamos jantar e podemos passear um pouco. Por que tu não esperas até a noite, Otávio? Depois, não vais dizer que queres descansar, não é?
-Neste paraíso? Vou agora e posso garantir que mais tarde irei com vocês dois.
-Tu és quem sabe, filho. Mas eu vou ficar no quarto com tua mãe e dormiremos um pouco.
-Prometo que não demoro. Obrigado pelo presente, Pai- Tato beija a mão de Kleber e desce pelo elevador.
Saindo novamente, encontra uma tarde ensolarada e diversas pessoas conversando no saguão do hotel. O irmão de Cissa, o mais que inconstante Michel, dirige-se à recepção, onde tenta dialogar com um rapaz no balcão.
-Good afternoon... É, é... “An” bedroom…
-A bedroom?- o rapaz o corrige.
-Isto mesmo- a expressão de alívio de Michel atrai a atenção de Tato.
-Name?
-Michel Marques Barboza.
-Parece que temos outro português por aqui... – Tato se aproxima.
-Verdade... De onde tu és?
-Lisboa.
-Sabes que eu também? Prazer, meu nome é...
-Michel Marques Barboza. Desculpe, foi inevitável de ouvir. Percebi uma certa falta de...
-Traquejo.
-Pois é, gajo.
-De fato, eu não domino o idioma inglês. Mas confesso que me esforço bastante. Se bem que é mais interessante, ao menos pra mim, conhecer os lugares, não criar raízes, ter inúmeras histórias pra contar... E por que não dizer... Ter paixões para colecionar?
-Isto nem sempre dá certo.
-Como tu sabes?
-Uma pessoa que coleciona paixões mundo afora não pode fazer outra pessoa feliz senão ela mesma.
-Talvez o intento seja justamente este.
-Sei bem, mas não é justo. Se tu consegues construir a felicidade sobre a ruína das pessoas que te deram amor, o máximo que farás é exercer uma veia psicopata.
-Não é para tanto, meu caro. Eu já me apresentei... E tu? Não vais dizer o teu nome?
-Claro que eu vou falar... Para quem realmente merece ouvir. Com licença.
-Two-four-seven.
-Como disseste?
-Your bedroom: two-four-seven.
-Ah…
Interessado em ouvir as verdades que Tato tem para falar- mais em quem fala do que o que for dito por ele- Michel procura informações a respeito do garoto com o recepcionista. Quem também está à procura de informações, longe dali, é Valente. É a quarta pousada que ele entra naquela noite, procurando um lugar para dormir.
-Não é possível.
-Desculpa, mas com o que tu tens, não dá pra ficar nem uma noite aqui- constata a idosa, que é proprietária da pousada.
-Sabes onde tem alguma pensão ou pousada com um preço mais em conta? Pelo amor de Deus, já é a quarta vez que eu entro numa dessas!
-Querido, é o preço do mercado, não adianta discutir. Mais barato do que isso, só se tu passares a noite num motel.
-Oi?
-Aliás, tem um aqui na rua, o Lisboa Noite.
-Tu acreditas realmente que eu passarei a noite num motel?
-Quer ir acompanhado?
-A questão não é essa, minha senhora. Mas ir a um lugar desses? Prefiro dormir na rua!
-Em certos momentos, a integridade moral mais atrapalha do que ajuda.
-Que queres dizer?
-Gajo, dormirias na rua munido de um saxofone, de uma mala com teus pertences pessoais e um boné que contém o acumulado de tuas apresentações ao relento? De onde tu achas que vieste? De inseminação artificial?
Valente fica pensativo.
-Lisboa Noite é o nome do... Do... Do estabelecimento lá, não é?
-Motel! Logo aqui do lado. É bem mais em conta para as suas posses no momento. Confies.
-Obrigado, então- agradece, constrangido, e vai até o local- Boa noite.
-Boa noite- responde Paula, a recepcionista.
-Eu vou... Vou...
-Querer um quarto?
-Isto, eu quero um quarto.
-Certo. Documentos de identificação, por favor.
O saxofonista entrega o seu cartão de cidadão.
-Ainda tem quarto vago?
-Sim, temos dois. Deixa-me anotar aqui: Valente Valença... Parece até nome de artista- olha para a bagagem e o saxofone carregados pelo jovem- E pelo visto, é mesmo.
-Imagines...
-O quarto é para quantas pessoas?
-Como assim? Normalmente num motel só vão duas pessoas para um quarto, não?
-É que nós temos regras rígidas aqui. Temos que saber quantos se instalarão para, então, verificar quais são os espaços disponíveis. O mínimo de ocupantes é dois e o máximo é vinte.
-Vinte????
-Sabes como é.
-Não sei, não.
-São as peculiaridades da intimidade humana. Ponho-te no quarto de dois ou no aposento de vinte?
-Moça, é que eu vim só. E para passar uma noite.
-Sozinho num motel? Depois quando eu falo em peculiaridades, as pessoas tomam-me por louca. Escuta-me, tu realmente tens dezoito anos? Porque tens cara de quem sequer desmamou.
-Sim, completei hoje.
-Bela comemoração... Olha, o quarto pequeno disponível é o duzentos e sete.
-Até que horas eu posso ficar?
-Até as sete e meia da manhã, quando serviremos o café. Custa vinte a pernoite.
Valente começa a contar o dinheiro e entrega à recepcionista, sem querer encarar-lhe diante da embaraçosa situação.
-Está aqui.
-Subas às escadas, é no terceiro piso- entrega-lhe o molho de chaves.
-Obrigado. Tenhas uma boa noite.
-Igualmente... A propósito, tira-me uma dúvida: tens o sono pesado?
-A Madre Joana diz que eu tenho sono de passarinho, com qualquer barulho eu sou capaz de acordar.
-Neste caso, você precisará de uma ótima noite de sono.
Valente não entende a indireta, mas se dirige ao quarto. Encosta o saxofone e a bagagem à porta do duzentos e sete e se deita numa cama king size forrada por um lençol vermelho e algumas pétalas de rosas, mas não sem antes sacudi-la. De tão exausto que está, não demora muito para que ele alcance o sono...
Sono esse que dura cinco minutos, pois o casal do duzentos e oito, indiscreto como só ele sabe ser, recomeça o ato de... “conhecimento físico mútuo”, digamos assim. Tendo o saxofone como principal companheiro ao longo daquele dia, Valente coloca todos os travesseiros da king size sobre as orelhas. Uma tarefa que, aos olhos do par escandaloso e impactante, parece bastante inútil.
O dia amanheceu em Lisboa, bem menos nublado do que na ocasião da maioridade do saxofonista, mas ainda era uma quente madrugada nas Bahamas, onde Dora, Kleber e Tato têm se divertido com os ritmos latinos executados no restaurante. Cansados, voltam à mesa, onde o patriarca pede a conta.
-Acho que já está na hora de voltarmos para o quarto.
-Tem razão, meu amor. Vamos, Tato.
-Claro, Mãe.
-Quanto tempo, Otávio!- de surpresa, Michel aparece no restaurante- Como é que tu estás?
-Vocês dois se conhecem?- a indagação de Kleber deixa o filho sem saber o que responder.