04/03/2013

CAPPUCCINO/ CAPÍTULO 4: PATERNIDADE RECONHECIDA NO BARRO



-Não, mãe. Você só pode estar enganada. Não pode ter dado positivo esse exame.

-Mas deu, Isabela. E agora? Como é que a gente vai resolver essa situação? Eu nem falo mais pela criança, e sim da minha falta de confiança em você.

-Se eu pudesse voltar atrás, eu tomava chá com borracha pra apagar esse miserável da minha mente.

-Tudo aconteceu no dia da tal concha. Foi lá, não foi? Foi lá que você se perdeu!

-Para com esse vocabulário. Estamos em 2013.

-Não me conteste, Isabela!

-E lá pobre sabe o que é contestar?

-Olha aqui, esse desgraçado vai pagar pelo que fez. Ele vai assumir o seu filho, sim.

-Desiste disso, mãe. Você já conhece, sabe que ele não é de voltar atrás.

-Por quê? Ele deu a palavra de homem que não criaria esse bebê com você? E por acaso aquele moleque lá sabe o que é palavra? Mas eu vou obrigar esse cabra safado a vir aqui em casa e conversar contigo. Filha minha não pare antes de casar, nem que a gestação tenha que durar dezoito meses. Eu vou resolver o problema!

-Onde é que a senhora vai?

-Nem pense em vir atrás de mim, Isabela. Não sonhe com isso!

-Mãe, volta aqui! Mãe!- desiste ao perceber que dona Cris é irredutível.



XXXXX



-Que história é essa, pai? Não existe nada entre mim e a Isabela. A gente é apenas amigo.

-Caio, não precisa mentir pra mim. Na sua idade, é normal que certas coisas aconteçam. Isso é a puberdade, meu filho. Não precisa ficar constrangido.

-Constrangimento é esquecer que eu tenho dezoito anos.

-Dezoito? Certo... Nunca fui bom em Matemática... Eu descobri uma coisa grave sobre essa moça, mas você não pode comentar isso com ninguém. Muito menos com ela.

-Agora o senhor está me assustando.

-Isabela está grávida.

-Bella? Grávida? Não, só pode ser mentira. Ela não está grávida.

-Como é que você tem tanta certeza?

-Pai, somos amigos. Ela me contaria. Inclusive, conversei com ela hoje à tarde.

-Você conhece Isabela não tem mais de um mês. Ela pode ter escondido.

-Por quê?

-Porque talvez você seja o pai.

-O senhor está passando do limite.

-Caio...

-Eu não tenho nada com a Isabela. Já falei. Nada além da amizade e do carinho. Se o senhor quiser interpretar de outra maneira, não posso fazer nada.

-Pior que pode: se afastando dela.

-Mas é nunca!

-Se você não é o pai, não tem nada a temer.

-Por isso mesmo.

-Escuta o seu pai, Caio.

-Não. Eu sei que estou fazendo a coisa certa. Deixa a Isabela em paz.

-Quem tem que deixar essa garota é você. Já está avisado. Vou voltar pra padaria.



XXXXX



Thaís vai até a casa de Isabela. Taciana atende a porta.

-Onde é que ela está?

-Deve estar no quarto. Eu vou chamar.

-Ainda bem que você chegou- Isabela chega e faz um sinal para que a diarista a deixe com sua amiga.

-O que houve? Até fiquei preocupada.

-Você não vai acreditar. Uma bomba.

-Não me deixa nervosa, Bella. Me conta o que houve.

-Eu fiquei grávida do meu ex.

-Isso é sério?

-Como é que eu vou brincar com uma coisa dessas?- vê que a amiga está rindo- Qual é a graça, palhaça?

-Desculpa, Bella, mas você é muito azarada. Tanto que você sofreu pra terminar o namoro com aquele cachorro e você resolve engravidar logo dele? Seus romances só dão certo nos teus romances, porque a realidade é completamente diferente.

-Vai rindo. Queria ver você no meu lugar.

-Eu, na situação em que você está, não mudaria nada. Ele continua não prestando. O importante é o bebê. Agora, quando foi que isso aconteceu?

-Na calourada. Pelo visto, por causa daquela caneca que você me deu.

-Bem que você falou que era fraca pra bebida.

-Mas o meu caráter não! Thaís, eu nem cheguei a ver o resultado do teste quando fiz na hora. Minha mãe ficou sabendo. E agora, o que eu faço?

-Tem que procurar o cara pra contar sobre o filho. Ou vai por acaso cuidar dele sem ter a ajuda do pai?

-Não, claro que não.

Taciana encosta-se à porta do quarto de Isabela e passa a ouvir um pouco da conversa.

-Pois é. Você sabe onde ele estuda, é só procurar o cara na Federal. Assim, se você cercar o cara por todos os lados, não tem como ele escapar.

-E se ele não quiser assumir? Conhecendo esse cara do jeito que eu conheço, e pelo que eu venho percebendo, bem pouco...

-Vai por mim, amiga. Ele pode até não gostar de você, como naquela noite, mas vai ser pressionado pra ter responsabilidade.

-Responsabilidade... Gente, será que o filho do homem da padaria é mesmo o pai do bebê?- pensa Taciana consigo mesma.



XXXXX



Caio vê de longe o namorado de Isabela e o reconhece.



-Ele é o cara que namorou a Bella. Ela não trocou o status de relacionamento. Fiz bem em stalkear esse cara. Ele vai ter que me escutar.

Os dois sobem num ônibus cujo nome não importa no momento. O mocinho da estória observa o rapaz. Em vinte minutos, ambos chegam ao Terminal de Integração do Barro. Já imaginou a linha, não é? Quando descem, o musicista grita.

-Nicholas!

O ex de Bella está parado, junto a uma viatura policial que faz ronda.

-Quem é você?

-Eu sou Caio, amigo da Bella.

-E desde quando ela tem amigos? Ela diz que adora ser antissocial.

-Você ficou com ela na Calourada da Concha, não foi?

-Foi, meu irmão, e o que é que você tem a ver com isso? Ficou a fim dela, por acaso?

-Bicho... Você vai ser pai.

-Como é a história?

-A Isabela está grávida!

Começa um tumulto provocado por pessoas que protestam contra a superlotação e o aumento das passagens de ônibus. Um dos policiais atira para o alto, fazendo com que boa parte dos protestantes se disperse. Outros, entretanto, permanecem enfrentando os oficiais. Um batalhão de choque é obrigado a atirar neles com balas de borracha. Um deles- o mais exaltado- berra no ouvido de Nicholas, que vê o policial se preparando para atirar. Pensando que Caio sairia machucado, alerta:

-Cuidado!

Caio percebe e se joga ao chão. O policial atira no maluco protestante. Mas a bala de borracha acaba entrando pelo cano de escape da viatura, fazendo o carro, o rapaz e Nicholas irem para os ares.

-Nicholas! Nicholas!

-Você tá bem?- abaixa-se o policial.
-Claro que não. Passei o dia inteiro treinando meu fá sustenido e ainda tenho que me sujeitar a essa cena de suspense ridícula!

Nenhum comentário:

Postar um comentário