01/11/2013

FURO DECISÃO 2- A FORMATURA/ SEQUÊNCIA DE CENAS 1

ESSA ESTÓRIA É BASEADA EM PESSOAS E EM FATOS REAIS. O AVISO SERVE PARA QUE VOCÊ SE CONVENÇA, DE UMA VEZ POR TODAS, DE QUE AS PROPAGANDAS SÃO MESMO VERDADEIRAS E QUE EFETUE A COMPRA DESEJADA PARA QUE ELAS- TANTO AS INSERÇÕES COMERCIAIS QUANTO AS RIFAS- ACABEM O QUANTO ANTES.
A OBRA É ABERTA; OU SEJA, PERMITE MUDANÇAS NO ROTEIRO A PARTIR DA ACEITAÇÃO DO PÚBLICO. MUDE O FINAL DESSA TRAMA. MUDE O DESTINO DO PERSONAGEM PRINCIPAL.

CENA 1

Clara está num cenário todo em azul-claro, num pufe verde medonho.
-E aí, galera? Hoje, o nosso programa é ao vivo e vamos receber um dos maiores astros da nova geração. Com vocês: Guilherme Capim Santo.
O sonoplasta maluco decide colocar sons de aplausos, aplausos, aplausos enquanto o vilão entra.
-Olá, Clara. Oi, pessoal- diz, sorridente.
-Fica à vontade. Faça de conta que foi convidado.
Ba dum tss!
-Mas eu fui convidado.
-Brincaderinha. Ah, imagina se alguém aqui paga jabá pra aparecer.
O pessoal do estúdio procura disfarçar o constrangimento.
-Pode perguntar, então.
-Capim Santo, como é ser o campeão de downloads no iTunes neste mês?
-Vê só, é uma surpresa muito grande. Se eu disser que não esperava esse sucesso todinho, eu estaria mentindo, mas não pensei que ia ser tão rápido.
-E a quê você atribui esse sucesso todo?
-Ao meu talento, ao meu carisma e à admiração que a galera sente por mim. Você acredita que o pessoal deixou de comparecer à SuperCon Hero pra me prestigiar no teatro da Universidade?
-Posso bem avaliar. Afinal, você é um fenômeno de popularidade. Neymar, por exemplo, está pedindo uma consultoria ao seu hair stylist para ficar com esse cabelo de Zé Carioca, que tem feito um estrago nos salões de todo o Brasil.
-Salões e açougues. Meu cabelo é uma galinha depenada com estilo.
-E ditar moda é só mais uma prova dessa fama que você está experimentando. Conta pra gente o sucesso que você tem feito com o sertanejo universitário.
-Rock universitário! Não me rebaixe!
-Tanto faz, é tudo música mesmo!
-Não me comprometa. Bom, é um estilo que eu procuro criar raiz na UFPE, um lugar que até estudante de Letras é erudito. E tem sido bacana a aceitação. Claro que vai demorar cinco ou seis meses para eu levar o kikito pra casa, mas dá pra aguentar.
-Você quis dizer "Grammy", não?
-Esse aí. Sem contar que depois que o meu disco chegar às...
-Só um minutinho, Guilherme. Chegou uma informação aqui no meu ponto- coloca a mão na orelha e outra na cintura porque o movimento é sexy- Não acredito! Mentira! Tudo bem- sai do pufe- Vamos embora!
-Mas pra onde?
-Alô! 2014 não vai chegar enquanto não acontecer o evento mais badalado deste ano: o casamento do Manjericão!
-Espera aí! Você tá me dizendo que eu tô sendo trocado na minha primeira aparição em rede nacional por causa do Leonardo Manjericão?
-Tô. Mas eu não vou discutir isso com você. Em meia hora, o carro da emissora vai me levar até a capela. Se quiser uma carona para descer no Terminal do Xambá... - sai do estúdio.
-Sempre esse verme descabelado!- bufa!

CENA 2

Danila aparece na igreja com uma roupa que... Misericórdia... Mas calma: em vez de tentar agarrar alguém, ela vai se confessar.
-A sua bênção, seu padre.
-Sem pecado, concedida.
Ela estranha a voz do sacerdote, mas continua.
-Eu tenho muitos pecados na bagagem, mas tem um que me acompanha desde que eu virei a figurinista do primeiro clipe do Leonardo Manjericão: a luxúria. A coisa tá tão séria que eu ia trocar meu nome no Facebook. Ia botar “Gladys do Cabuçu”. Eu me apaixonei perdidamente pelo apresentador do programa que cobria os bastidores do clipe. Depois de tanto fugir de mim, ele ainda tentou se aproximar, mas eu resisti. Só que agora renovaram meu contrato para fazer esse novo filme e eu não sei como escapar da tentação.
-O banheiro está liberado, irmã!
-O quê?- grita Danila, ao perceber que o padre estava chegando.
-Já conseguiu desentupir o banheiro? Posso usar?- questiona a freira que estava no confessionário.
-Pode vir, Madre- avisa o padre.
-Minha filha, eu estava numa prisão de ventre tão grande que estava me retorcendo no confessionário. Acabei escutando tudo.
-Já que ele não estava aqui, melhor. É mais fácil conversar de mulher pra mulher...
-Não! De mulher... Para irmã...
-Tá certo. O que a senhora acha que eu devo fazer?
-É necessário frear todas as tentações carnais, Gladys do Cabuçu fake. E eu tenho a solução para isso.
-Matar o Matheus?
-Não, convertê-lo à extrema e puríssima santidade. Se você quiser ficar com esse “aborrescente”, trate de segurá-lo pelo lado espiritual.
-Acontece, minha irmã, que meu lado espiritual tá mais ou menos o seguinte... É, como é que eu posso explicar pra senhora... A senhora já viu uma garrafa de Veja?
-Já.
-E de Pinho Sol?
-Também.
-É por aí, irmã. Se usar os dois ao mesmo tempo, o meu lado espiritual vai continuar sujo.
-Querida, você precisa ser uma pessoa OLX, desapegada do material.
-E que material, aquele homem... Eu preciso esquecer que sou completamente apaixonada por ele. Como é que eu faço?
-Cala a boca e me escuta! O que você pensa de passar as férias num spa espiritual?
-Isso existe?
-Claro. Não existe melhor lugar para esquecermos as provações a que o planeta nos impõe. Deixe-me mostrar uma fotografia local. Apesar de não estar lá, você deve se sentir lá: bem-vinda à sua nova colônia de férias!
-Tá de onde com a minha cara, não tá, não... Quer dizer, tá de onda com a minha cara, não tá, não?
-Em absoluto. Faça um teste. Divirta-se o quanto puder na festa do casamento que o padre vai celebrar hoje. Verá o quanto as pessoas são vazias, capazes de liberar a própria honra por um gole de Coca-cola, coreografias de baixo calão, músicas que veneram o pâncreas da mulher...
-Vou pensar no seu caso. Eu nunca me vi no convento. Aliás... - vira-se para o público- Alguém já me viu fazendo algo santo?
-Pense bem, fidelíssima garota sensual. E eu tenho que pensar em não conversar tanto, com licença... – corre para o banheiro.

CENA 3

No altar, estão Matheus e Manjericão, este com o cabelo que chamamos carinhosamente de “capivara desenxabida” envolto num gel. O jovem pega um pente gigante é dá uma primeira passada para deitá-lo. O cabelo levanta, com um ruído estranho. Dá uma segunda passada, e novamente os fios ficam em pé.
-Como é que eu faço aqui, Thiago?- o amigo pede ajuda.
-O cabelo de Manjericão? Só na base da marreta. Nem que seja “You Planeta”.
-Gente, eu tô tão nervoso...
-Calma, rapaz. Eu sei que é normal isso. Afinal, você tá casando pela primeira vez.
-Primeira e única, né, Matheus? Mas não é por isso, não. Aluguei esse smoking e tem coisas em mim coçando.
-Onde você pegou a roupa?
-Numa loja chique da cidade. Procurei no Google e dei crédito: a “Bacurinha’s Vintage”.
-Com um nome desses, a gente entende por que coça...
-Mas eu também estou nervoso. É o primeiro casamento que eu vou pegando um Barro/ Macaxeira (Várzea) pra chegar à igreja.
-Falando em Barro, como é que tá a faculdade, Barros?
-Jogando os meus nervos no lixo, Manjericão. E ainda tem a formatura no próximo ano, mas a gente fala disso depois.
-Vem cá, e as madrinhas? E o padre?
-Tem certeza de que não esqueceu a cueca? Porque tá faltando muita coisa aqui- Matheus entende o sofrimento do noivo, mas tenta ser piadista. Tenta.
Gabriella vem da rua e Danila chega com o padre. A sensual adolescente fica do lado de Thiago, e Matheus estranha que ela não tenha tentado apalpá-lo, como faz todos os dias. Gabriella fica ao lado do adolescente.
-Desculpem o atraso. Mas é que pelas novas cotas eclesiásticas, o padre tem que abrir seu confessionário para aproveitar o tempo em que a noiva atrasa de propósito.
-Tudo bem, seu padre. Eu também vou tentar aproveitar o tempo enquanto a Mabi não chega. Vamos jogar “adedonha”, gente?
-O quê?- Matheus desconhece a palavra.
-“Nome, lugar, objeto”.
-Ah, sim. Adedooooonha!- Matheus abre as mãos e Manjericão põe três dedos.
-Letra M.
-Não, senhor! N de “nada, nada, nada, nada, eu não estou fazendo nada”- fala rapidamente.
-M, porque a regra de 2008 aceita o K no alfabeto português.
-Quem disse que eu sou português? Eu sou de Jardim São Paulo!
-Mas não é São Paulo!- retruca o roqueiro.
-Seu padre, é o seguinte: atropelei o meu gato. Pronto, confessei meu pecado. Agora será que dá pro senhor me passar uma penitência que não seja aguentar esses dois tabacudos?- Gabriella fica desesperada.
Clara chega à igreja e filma tudo.
-Novembro de 2013. Finalmente encontramos um casamento que é digno de estar nas páginas humorísticas sobre famosos, como o “Morri de Sunga Branca” e o “Morreu ou tá na Record?”. Morram de inveja, porque Manjericão é um noivo pra ninguém botar defeito. Até as defuntas do IML estão querendo casar com...
Um carro chega e quando a porta traseira é aberta, arremessa Clara para... Não sei. O câmera sai à procura da apresentadora enquanto Mabi vem com seu vestido que parece uma cortina da “Narciso Enxovais”. Breno, o advogado e quase tutor do noivo, a acompanha.
Dentro da igreja...
-Música com M.
-“Meu mel”, do Leonardo!
-Conheço essa música, não...
-Como não, Matheus? Tá na trilha sonora!
-Ah, tudo bem.
-Sua vez.
-Marcha Nupcial!- grita Thiago.
-Por que você deu dica pra ele e não pra mim?
-Não é dica, é pra tocar porque a Mabi chegou.
Todos se levantam para acompanhar os passos da noiva. Matheus liga a câmera. O sonoplasta liga a Marcha Nupcial.
-Olá, tudo bem? Hoje, numa igreja espetacularrrr, teremos o casamento de Manjericão e Mabi. O que você tem a dizer sobre isso... Thiago... Gabrieeeel?
-Que o meu nome não é Thiago Gabriel e eu não vou mentir dentro de uma igreja. Desliga a câmera. A gente grava o “Furo Decisão” na festa.
-Ah, tá... Por que o pai da noiva não veio com ela até o altar?
-Porque ele acha o Manjericão um cretino desocupado que faz rock. E que não vai sustentar a filha dele.
-Mas o Manjericão é rico.
-Só por isso ele está aqui, na última fila. Mas acha tudo isso uma palhaçada do mesmo jeito.
-Queridos fieis, estamos aqui reunidos para celebrar a união desses dois jovens: a Maria Beatriz Gutierrez e o Leonardo Mantoanelli Jensen Ribeiro Castro Oliveira. Logicamente, santificarei esta união por meio de apelidos. Não quero ficar afônico.
-Beleza- Manjericão não se contém de tanta felicidade.
-É de livre e espontânea vontade que os noivos estão aqui presentes?
-Sim.
-Talvez... – justifica Mabi.
-Se existe alguém que tenha algum motivo que possa impedir a união desses dois jovens... Que fale agora ou se cale para sempre.
-Eu!
Todos olham para a última fileira, de onde geralmente sai a pessoa que tenta vetar os casórios tradicionalmente impedidos. Mas nada.
-Quem falou isso?- pergunta Gabriella.
-Eu, Thiago- vai para o centro da igreja- Eles não poderão se casar antes que eu faça a propaganda da rifa que estou vendendo. Por cinco reais, vocês concorrem a um MacBook e um iPad, tudo da Apple, uma empresa que eu não sei dizer se ela se chama “épol” ou “ápol”. Não é mentira! Todo mundo deve estar pensando que só porque esse casamento é de ficção que a rifa também é. Não é, bando de besta! Tô divulgando no Google Plus, que eu chamo de “Mais”, no Facebook, no Twitter, no Blogger e no Orkut. Ajude um formando. Uma propaganda da Agência W9. Continuando...
-Leonardo Manjericão, você aceita Mabi como sua legítima esposa e promete amá-la e respeitá-la na saúde e da doença, na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza, no “Chevrolet Hall” ou no Teatro da UFPE até que a morte os separe?
-É pra já!
-Mabi, aceita Leonardo Manjericão como seu legítimo esposo, desconsiderando todos os outros que você possa vir a ter ao longo de sua juventude?
-Pega um adesivo e vai, Mabi!- Matheus começa a palhaçada de novo, constrangendo os padrinhos.
-Vai, Mabi! Vai, Mabi! Vai, Mabi!- os convidados e o próprio Manjericão engrossam o coro. Mabi se vira para o rapaz.
-Você, melhor do que ninguém, sabe o quanto eu te amo e quantos sacrifícios eu faria pra ficar do seu lado. Mas eu vou ter que mandar você de volta pra esteira.
-Não faz isso comigo... Hoje é meu aniversário, dia de todos os santos...
-Eu não posso... Eu não posso... – e sai correndo em câmera lenta da igreja. A Marcha Nupcial dá lugar a “Fim de Tarde”, do Fat Family.
-Hoje eu sinto tanto não ter você, e nem o tempo fez eu te esquecer. Pra quê chorar, se você não vem? Não vem?- Ela sai vestida de noiva pela cidade, e percebe que os outdoors têm o rosto dos padrinhos, dublando a música com uma cara de condenação desgraçada.
-Perdi você! Não tente entender. Ainda te amo! Perdi você! Não tente entender. Ainda te amo! Perdi você sem razão, sem querer!- joga o buquê para o alto, que cai acidentalmente na mão de uma senhora mendiga que luta até hoje para sustentar seus vinte e nove filhos.
-Todo fim de tarde é sempre assim e uma saudade vai nascendo em mim. Eu já nem sei mais porque te amei... Eu te amei!- As propagandas de ônibus também trazem os rostos de Thiago, Matheus, Gabriella e Danila, os quais atemorizam mais a fujona.
-Perdi você! Não tente entender. Ainda te amo! Perdi você! Não tente entender. Ainda te amo! Perdi você sem razão, sem querer!- Mabi, coitada... Coitada nada! Mabi cai no chão e rasga o vestido de noiva, e agora parece que usa um espartilho que lembra vagamente uma periguete dos anos 1830.

A música pula para o final. A quase nubente entra em um momento de reflexão: pensa o que vai fazer dentro do Terminal de Xambá.

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