Yuri está
numa piscina escura completamente mergulhado, com os olhos fechados. Assim que
se dá conta da profundidade em que está, trata de subir à superfície. Lá, ele
encontra Lana e o anjo da morte.
-Lana? Eu não
acredito... Eu te encontrei de novo. Pensei que nunca mais ia te ver.
-Claro que a
gente ia se ver, Yuri- responde friamente- Neste lugar escuro, frio, onde todos
que não se arrependem dos seus erros vão parar. Como eu.
-Por que você
está falando assim?
-Será que você
não percebeu que se destruiu com a minha ajuda? Claro que percebeu- aos poucos,
vai submergindo com o anjo- Mas ainda assim, fez questão de se matar aos
poucos. Tanto que foi embora mesmo depois de ter largado as drogas. É uma pena
que você não possa ir comigo.
-Não? Pra
onde você vai?
-Pra um lugar
onde só quem tem ódio no coração consegue entrar. Você é passional demais,
Yuri. Sai de cena querendo ficar, ter uma nova chance, mas carregando o mesmo
ódio no coração que eu. Infelizmente, muitos de fé pediram por sua vida e
conseguiram te salvar.
-Mas eu ainda
estou aqui.
-Pra você ver
como sua mãe te ama. Como o seu pai, o homem que você mais odeia, te ama... Até
aquele pirralho, o Igor, gosta de você. Graças a ele, todos se voltaram pra
pedir que você se salvasse. E você se salvou. Se você ainda não voltou, é
porque querem mostrar o quanto os milagres podem surpreender.
-Eu não quero
aquela vida de novo. Não quero.
-Sei que não.
Por isso eu vou estar te esperando. Esperando você fraquejar de novo. Está na
hora de você se voltar à luz. Só assim você vai se livrar do que pode te incomodar.
Adeus.
-Não me deixa
sozinho.
-Não. Você
não está sozinho. Muitos podem te acompanhar no sofrimento, mas outros mais vão
ver cada uma das suas vitórias- desaparece com o anjo, em meio às águas
escuras.
-O que vai
acontecer comigo agora?
XXXXX
-Pai! Pai!
Socorro! Ele está morrendo!
-Não! Ninguém
vai me vencer! Ninguém vai me vencer!- grita Otaviano, ainda carbonizando, sem
perceber que isso é consequência dos seus atos.
Igor chora,
crente de que perderá o pai biológico, mas põe os joelhos no chão, no qual estão
diversos objetos de decoração da igreja, despedaçados com o incêndio causado.
-Faz ele se
arrepender! Faz ele ser um homem melhor! Eu sempre confiei em Você quando
ninguém me dizia pra confiar! Devolve a vida ao meu pai. É o que eu te peço
agora, sabendo que Vai me dar. Já perdi minha mãe, já perdi meu irmão... Não
leva a minha família embora de novo. Faz o que ninguém pode fazer: Faz o
impossível...
Das telhas do
templo, começam a sair gotas transparentes, que se juntam no centro do teto e
vão caindo, aos poucos, sobre Otaviano, cujo rosto já não mais se pode ver por
conta do fogo. O fogo que consome a própria igreja fica mais brando, mas ainda
não se apaga. O empresário está com os olhos fechados, em meio à dor das
queimaduras que sofre. Ao abri-los, vê seu filho ajoelhado, pedindo para que
ele seja salvo.
As gotas
começam a cair cada vez mais depressa, não sobre a igreja, mas sobre o corpo de
Otaviano. Mas a roupa dele não fica molhada, sequer chamuscada. As faíscas
desaparecem e não deixam vestígios de que realmente existiram. Até que ele
escapa de ser carbonizado. Assim que se sente liberto do fogo, Otaviano
estranha a calma de seu filho em meio ao incêndio.
-Igor?- isso
lhe faz abrir os olhos.
-Pai? O
senhor... O senhor está bem...
-Não... Não
me chama de pai, garoto... Eu não sou seu pai, eu não me sinto seu pai...
Mas... O que aconteceu comigo? Eu peguei fogo... Eu estava pegando fogo, como é
que...
-Você não
acredita. Você nunca acreditou no poder da oração. Quando a gente é sincero pra
pedir.
-Eu pedi. E
perdi o meu filho. O que adiantou orar?
-Pedi por
você. Pra salvar sua vida. Só coloquei meus joelhos aqui- continua na mesma
posição- E me escutou. Você está vivo.
-Por quê? Por
que você orou por mim?
-Porque amor
é isso, seu Otaviano. É gostar de quem odeia a gente. Do mesmo jeito que o
senhor odiava a minha mãe, ela amava o senhor, passava não sei quantas noites
chamando o seu nome. Do mesmo jeito que eu gosto do senhor, mesmo me tratando
mal. Do mesmo jeito que o senhor gosta do Yuri, mesmo ele te tratando mal.
-Já não trata
mais. O Yuri está morto.
-Quando eu
conheci a dona Ana Maria, eu sabia que ela me apresentar o senhor. Eu não sabia
quem o senhor era, nem que era meu pai. Mas eu sabia que tinha que conhecer o
homem que nunca saiu do coração da minha mãe.
-Igor...
-O senhor me
acusou de ladrão, tentou me matar e me abandonou. E mesmo assim, eu gosto do
senhor. Sabe o que é isso? Amor. Mas o senhor tem e não sabe usar.
-O... O
pastor... O que foi que eu fiz?- corre para abrir a porta do cômodo- ele ainda
está desmaiado- Pastor? Pastor, acorda!
-Ele engoliu a
fumaça.
-A gente tem
que chamar uma ambulância, ele pode ter morrido por asfixia.
-O que
aconteceu... Otaviano? O que está fazendo aqui?
-Não se
lembra de nada? Eu estava transtornado, coloquei fogo na sua igreja! Ela ainda
está pegando fogo!
O pastor olha
para o lado de fora da porta e estranha o que lhe está sendo dito.
-Que fogo? Não
há fogo nenhum.
Otaviano se
levanta e vê que a igreja está na mais perfeita ordem.
-Mas como...
O que aconteceu?- as lágrimas vêm aos olhos- Eu destruí esse lugar! Eu ateei
fogo aqui! Por que tudo está normal?
-Porque aqui
é lugar de adoração. É lugar de cura, é lugar de milagre. Quando não acontece
aqui, acontece onde estiver aquele que acredita no milagre.
-Sim, Igor-
concorda o pastor- A igreja é um lugar sagrado. Mas mais sagrado do que ela, só
quem é adorado dentro dela.
-Meu filho...
Eu quero ver o meu filho pela última vez...
-Calma! Eu
vou com o senhor!
-Obrigado-
abaixa a cabeça.
-Por quê?
-Por ter
orado por mim, quando eu achava que não tinha mais jeito.
-Não duvida.
Vão acontecer mais milagres.
-Nada seria
melhor do que ter o meu filho de volta. Isso não vai acontecer.
-O que houve
com o seu filho?- o pastor continua sem se lembrar do que aconteceu.
-Depois eu
volto e conto.
-Sabe que
pode voltar pra essa casa quando quiser, meu irmão.
-Sim, sei
muito bem- Otaviano não entende absolutamente nada do que aconteceu- Obrigado,
pastor.
-Que a paz
esteja convosco.
-Vai estar.
Vamos pro hospital, seu Otaviano.
-Antes que...
Ele vá ao IML. Vamos, Igor?- chora ao caminhar pelas ruas, acompanhado do filho
bastardo.
-Seja qual
for a dor desse homem, ele vai se recuperar. Creio tão somente nos milagres que
serão operados nessa vida- diz o pastor, quanto observa Igor e Otaviano se
afastarem.
XXXXX
O médico está
segurando uma prancheta e conversando com uma das enfermeiras do hospital.
Atônito, Otaviano aparece ao lado do filho.
-Eu preciso
da sua ajuda, doutor.
-Dr.
Otaviano? O que houve?
-O meu
filho...
-Yuri
Bittencourt. O que quer saber a respeito agora?
-Quero saber
se... Se já levaram o corpo dele pro IML. Se não levaram, me deixe vê-lo.
Doutor, me permita tocar no meu filho pela última vez.
-Por favor, o
senhor pode me explicar o que significa isso? Como “pela última vez”? Por que
seria a última vez?
-Que pergunta
é essa, doutor?- dá um riso desconcertado e rápido- O senhor viu tudo o que
aconteceu, estava comigo, estava coma a Ana Maria quando o Yuri... Onde está o
meu filho?
-Recebendo
uma medicação no quarto. A mãe dele, a dona Ana Maria, entrou para alimentá-lo.
Ele ainda está muito debilitado, mas a situação já foi controlada.
-Tenho que
entrar no quarto. Preciso vê-lo- corre ao encontro do filho.
-O que será
que deu nele?
-A noite não
teve fim pra ele, doutor. Só quem sabe o que é milagre explica a noite que ele
teve. Mas milagre a gente não explica, doutor- Igor justifica a reação do pai,
que entra no quarto.
-Otaviano?-
Ana Maria estranha a forma como o marido aparece no quarto.
-Meu filho...
Eu pensei que... Que... – abraça o adolescente, ainda deitado na cama- Me
perdoa, meu filho! Me desculpa por tudo, por todos esses anos, por todo o tempo
em que eu me afastei de você.
-Pai, está
tudo bem. Quem tem que me desculpar é o senhor.
-Eu? Mas eu
só te fiz mal. Pra você e sua mãe. O tempo todo. Eu te vi morrer. Aqui nessa
cama, com ódio de mim.
-Fui embora.
Vi o que eu fiz com você, com a minha mãe... Eu quero a minha vida de volta.
Não quero mais fazer o que eu fazia antes. Eu não quero morrer, pai, não quero!
-Você não vai
morrer! Você é meu menino, meu filho homem! Eu vou te proteger até quando você
ficar bem velho, já feito na vida. Eu não amo mais ninguém nesse mundo que não
seja você- o olhar do pai fica com pesar.
-O que foi,
pai?
-Me espera. Me
espera aqui, filho. Eu tenho que trazer uma pessoa aqui- abre a porta do
quarto, deixando Ana Maria curiosa. Ele vê o outro filho no corredor.
-Não entrou
no quarto pra ver o Yuri?
-Entrei. Mas
acho que eu senti falta de alguém que pode fazer o meu filho feliz. Que vai
ajudá-lo a começar uma vida nova. Um irmão. O irmão dele. O único irmão que ele
tem. Você.
-O senhor não
está falando sério...
-Depois dessa
noite, você acha que não, Igor? Vem comigo. Vem ver o seu irmão.
Receoso, ele
acompanha o pai e vai até o quarto. Yuri dá um pequeno sorriso, enquanto enxuga
as lágrimas.
-E aí, cara? Parece
que a gente vai se aguentar mais um tempo lá em casa. A minha mãe falou que você
rezou muito por mim.
-Orei. E vi
tudo dar certo.
-Não. Não
acabou ainda. Yuri, eu preciso contar a verdade. Igor é seu irmão.
-Sabia. Só
isso pra explicar por que você não ia com a cara dele.
-Você sabia
que ele é um garoto muito especial e que eu quero ver ao seu lado. Toda a minha
vida.
-Por que o senhor
está fazendo isso comigo?
-Porque eu
não ia cumprir a minha promessa de ser um homem melhor se você não me fizesse
acreditar na existência dos milagres. Agora vai. Faz o que você tem vontade de
fazer.
Igor olha
para Yuri, ainda um pouco confuso depois de tudo o que houve, e o abraça na
cama. Logo, as vestimentas dos garotos ficam úmidas de tantas lágrimas
emocionadas que são derramadas. Mas nenhum momento parece ser mais tocante do
que Otaviano abraçado aos filhos. Ana Maria se sente comovida com a atitude
mais nobre que já viu seu marido tendo.
-Só vocês pra
me ensinarem o que é amor de verdade. Eu amo vocês... Meus filhos.
XXXXX
Abandonada, a
empresa de discos de Otaviano está cheias de teias de aranha. Apenas um
funcionário varrendo tudo, e em seguida se senta para descansar.
-Bom dia- aparece
Otaviano, de uma forma mais humilde.
-Dr.
Otaviano, o senhor por aqui?- levanta-se, com receio de ser advertido- Eu ainda
não limpei a sua sala.
-Não precisa.
O senhor pode ir pra casa.
-Mas eu
cheguei não faz nem duas horas.
-Eu quero
ficar aqui, sozinho. Sozinho olhando para o lugar onde eu vivi os dias mais
felizes da minha vida.
-Vai saber se
o senhor não volta a ser feliz?
-Posso
conviver com os meus filhos. Isso vai me fazer recomeçar.
-Não,
Otaviano- Ana Maria o surpreende- A sua história vai muito além de um final
feliz reservado para os seus filhos.
-Eu acho que vocês
têm que conversar. Vou deixar a chave com o senhor- entrega a Otaviano- Com
licença. Até amanhã.
-Até.
-Ana Maria? O
que está fazendo aqui?
-Essa pergunta
você fez muitas vezes quando eu vinha visitar a empresa de meu pai. E eu sempre
era expulsa, muitas vezes na frente dos acionistas.
-Já entendi.
Quer me humilhar?
-Não. Eu não
sou tão mesquinha quanto você é... Quanto você era no passado. Vim pra te
entregar isso- mostra um envelope.
-O que é
isso?
-Essa é uma
procuração que o Yuri pediu pra fazer. Ele quer que você use o dinheiro dele
para pagar a dívida que o Humberto Meirelles fez, e recontrate todos os
funcionários da gravadora. E eu também me comprometi a ajudar o Yuri dando todo
o meu patrimônio.
-Não, Ana, eu
não posso aceitar isso. Vai ser tirado do futuro dele.
-Quem te viu,
quem te vê... Mas o próprio Yuri me pediu isso. Ele quer que você recomece. Sabe
que você não vai dar tanta importância ao dinheiro, como fazia antigamente.
-Mas até a
empresa dar lucro, eu não tenho como sustentar vocês.
-Como a casa
é minha, eu decidi vender. A maior parte do dinheiro eu vou investir num apartamento.
O resto eu vou usar pra pagar o salário da Sônia e do Geraldo. São os que me
acompanham há mais tempo. Não vou me desfazer deles. Claro que vai ser menor o
pagamento, mas... Eles vão entender. Dá também pra sustentar o Igor, a Betina e
o nosso filho.
-E nós, Ana
Maria?
-“Nós” é
sofrimento, “nós” é decepção, “nós” é dor. Eu não tenho como te ver como homem.
Decidi abrir o leque de possibilidades que eu tenho. Também quero começar do
zero.
-Com o
Frederico.
-Não, comigo
mesma. Eu tenho um compromisso a honrar com você. Eu quero te ajudar a
reconstruir a “TimBRe” pelo nosso filho, pelos seus filhos. Se for pra ser com
o Frederico, eu vou esperar a dor dele passar. Mas não vou deixar de ser feliz
antes disso. Vendo o meu filho livre, limpo, desintoxicado, se tratando na ONG,
o que eu posso querer? Só agradecer, Otaviano. E agradecer a você também.
-A mim?
-Por ter me
feito uma mulher forte pelo sofrimento e por estar me fazendo uma mulher feliz.
O seu amor pelo Yuri vem fazendo ele pensar em mudar, em melhorar. Não tenho
que te criticar em nada.
-Deixou de me
amar, Ana Maria?
-Mais do que
isso: deixei de sofrer.
31 DE OUTUBRO
DE 2013
Betina entra
no ônibus com algumas amigas da escola. Ela fica surpresa que, lá no fundo do
veículo, esteja Igor, segurando várias canetas e com um boné. Corre pra abraçar
o irmão.
-Menino! O que
você está fazendo aqui?
-Esperando
encher de gente pra vender as canetas da ONG do Fred.
-Olha, e a
tia Ana. Está em casa?
-Não, hoje
ela está inaugurando uma casa de recuperação pra dependente. O dinheiro da
gravadora vai entrando e ela vai gastando mais com isso.
-Também, não
é? Ela não quer que as outras não passem o que ela passou.
-Mas ele está
liberto. E vai fazer um show hoje!
-Vai tocar?
Sabe que eu nunca vi o Yuri tocar?
-Nem vai ver.
Você é muita nova pra ir a essas coisas, Betina.
-Teu pai vai?
-Vai. Ele
nunca viu ele assim, profissional, sabe?
-Muito
orgulho do Yuri.
-Está bom de
gente no ônibus, não é?
-Vai lá,
maninho- Betina pega um celular e filma a ação.
Igor começa a
circular pelo coletivo com uma bolsa.
-A paz do Senhor
pra cada um dos irmãos que está aqui nesse ônibus. Meu nome é Igor e eu
trabalho na ONG “Luz Nova”. A nossa ONG ajuda meninos que são viciados em
drogas, e eu digo isso porque o meu irmão também já passou esse caminho. Mas
hoje ele acredita que o poder de restauração é presente na vida daquele que
querem aceitar o milagre da saúde restaurada. Hoje, eu estou vendendo essa
caneta por dois reais, por apenas dois reais. Esse valor vai ser levado pra
nossa instituição, que já ajuda muitos dependentes há dezenove anos. Não damos
o mesmo amor que as famílias dos usuários de drogas dão, mas temos a mesma fé
que elas têm. Eu vou deixar na mão de cada um e quando vocês segurarem, eu
quero que vocês lembrem de que tem muita vida sendo restaurada e que como o
poder do Pai não tem outro igual.
XXXXX
À noite, Yuri
chega num skate na boate em que discotecará. Otaviano, Ana Maria e Frederico
estão esperando na porta.
-Filho- os
dois primeiros vão cumprimentá-lo.
-E aí, gente?
Cadê o Igor?
-Igor está chegando
já, já- explica Frederico- Foi resolver umas coisas na ONG.
-Falei com
ele pelo telefone. Ele disse que a senhora e o Fred tinham uma surpresa.
-Bom, o Fred
já vinha tentando algum tempo resolver o problema da infertilidade e... Mais
uma vez, não fomos desamparados. Você vai ter um irmão, Yuri.
-Outro? Mas o
Igor vai ficar com ciúmes desse jeito, hein?- brinca- Parabéns!- abraça ambos.
-O maior
sonho da minha vida vai se realizar. Mas eu já tenho muitos e muitos filhos,
essa é que a verdade.
-Parabéns,
Frederico. Agora você vai poder sentir a bênção que é ser pai.
-Obrigado,
Otaviano- enquanto eles conversam, Yuri se aproxima de uma moça que está
fumando um cigarro suspeito.
-Posso falar
contigo?
-O que é,
moço?
-Quer entrar também?
-Não, é festa
de crente. Não vão me deixar entrar.
-É festa de
bênção. Quem quer de verdade, recebe. Você quer e precisa. Vem comigo, mas
larga o cigarro, OK?
-Eu não
posso.
-Pode quando
a tua força vem do céu. Pega a minha mão.
Otaviano,
Frederico e Ana Maria estão aflitos que a proximidade de uma dependente possa
fazer Yuri cair em tentação. Mas ele a leva calmamente, ainda que ela olhe o
cigarro que deixou cair no chão.
-Pra onde é
que você vai?- pergunta a moça, após entrar e ser seguida de perto pelos três.
-Vai por mim.
Você vai curtir- Yuri sobe e um grande painel anunciar a sua chegada. Quase
todos glorificam o espetáculo que está para acontecer. O jovem de dezenove anos
pega o microfone.
-Quem entrou
aqui não vai sair do mesmo jeito. Hoje é dia de unção, galera!- ovações e
glorificações continuam sendo ouvidas. Igor chega acompanhado de Sônia e
Geraldo, que vieram prestigiar o garoto que morou com eles a sua vida inteira.
Yuri avista o irmão e o chama para subir no palco.
-Não, cara.
Eu não sei tocar.
-Você vem
cantar, porque eu vou botar essa galera pra pular e essa eu sei que você sabe.
Assim que o
primeiro toque característico daquele remix é ouvido, Igor reconhece a canção e
sorri para o irmão. Ana Maria e Frederico choram emocionados ao ver os irmãos
juntos lá em cima, assim como Geraldo e Sônia. Igor pega o microfone e começa a
entoá-lo.
-Quando tenho
medo de fracassar, quando tenho medo de não vencer, quando tenho medo de ser,
quando tenho medo de não tentar, quando tenho medo de não romper, quando tenho
medo de ser... O verdadeiro amor lança fora todo medo, o verdadeiro amor lança
fora todo medo, o verdadeiro amor que vem de Deus me ensina a não temer! O
verdadeiro amor lança fora todo medo, o verdadeiro amor lança fora todo medo, o
verdadeiro amor que vem de Deus me ensina a não temer!
Otaviano
revive por alguns segundos seu drama com o filho enquanto dependente e segura a
mão da moça que com ele entrou. Sem titubear, ele a leva ao chão. Ambos ficam
de joelhos e se sentem livres do mal.
Enquanto
todos dançam a canção, repetida por Igor, Yuri vai às lágrimas, emocionado com
o que o pai acaba de fazer. Olha para o irmão e reconhece a importância dele em
meio a toda essa estória.
Engana-se
aquele que pensa que os personagens presentes tiveram um maravilhoso desfecho.
O final só é feliz... Até o próximo milagre.
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