24/10/2014

MENTES/ CAPÍTULO 10: E EU JÁ GRITEI, EU ME ARRISQUEI, EU ME QUEIMEI, EU FIZ DE TUDO

-Você não pode fazer isso com eles. São sua família!
-Minha família agora é a Giovanna. Aliás, nem isso, porque o pouco de confiança que ela tinha em mim foi pro ralo. E adivinha por causa de quem? Daquele...
-Não continue dizendo barbaridades contra o seu pai, Bruno!
-Eu não sou homem pra dizer! Eu sou homem pra fazer! Não vou ficar só na promessa de tirar os dois na minha casa! A partir de agora, eu vou lutar pra reconquistar aquilo que perdi, e vou começar tirando os dois da minha casa!
-Você não entende?
-O que eu tenho pra entender, Noêmia? Que eu dou teto pra dois inimigos? O filho que o meu pai teve com aquela piranha vive na mesma casa que por direito é minha! E dele eu nem comento!
-Bruno, você está agindo por impulso! Tente ser racional! O que você ganha fazendo tudo isso no calor da emoção?
-Há muito tempo que o meu pai não permite que eu sinta nenhum tipo de emoção por ele, Noêmia! Você se engana quando diz que ajo por impulso! Se isso fosse verdade, eu já teria me livrado dele há mais tempo, e sem precisar expulsá-lo daqui!
-Por favor, Bruno!
-Ele me tirou a minha mãe! É um covarde, um assassino! Todo castigo pra aquele salafrário é pouco, Noêmia! A sorte dele é que, infelizmente, o seu sangue corre dentro de mim! Porque senão...
-Chega...
-Senão eu o matava! Sem dó... Com a mesma crueldade que vive dentro de mim há doze anos. Já não ia mais me importar ser bem-sucedido, ser feliz no amor, construir uma família... Só isso ia me bastar. Uma pena eu ter nascido filho daquele verme! Mas um dia desses, eu juro que não vão me pesar as acusações pelas mortes do Abílio, da Virna... Juro que eu vou matá-lo!
Noêmia bate em seu rosto, deixando-lhe assustado.
-Nunca mais abra a boca pra dizer um impropério desses!
-Vou odiar esse miserável até o dia que eu morrer!
-Cala a boca! Presta atenção: se você tirar o William e o Dr. Plínio daqui, você vai assinar a sua confissão de culpa! Não basta pra você todas as tragédias que acontecem nessa casa, você ainda quer que todos te interpretem como assassino? Freie a sua língua enquanto é tempo! Eu vou... Eu vou desfazer as malas e recolocar tudo nos quartos. Enquanto isso, procure a sua mulher. Tenho certeza de que será mais proveitoso pra todos se você só ocupar o tempo com isso, em vez de tentar destruir a sua família. Sua, e de ninguém mais!- Noêmia recolhe umas das malas, enquanto Bruno chora, ao concordar com aquilo que a governanta diz.

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Leandro e Valentina ficam apreensivos com a possibilidade de haver algo que corrobore com o depoimento de Bruno para Iago. Novaes acessa a conta pessoal de Virna.
-Consegui abrir o e-mail dela.
-Tem alguma coisa relacionada ao Bruno?- Iago supervisiona o trabalho do colega.
-Muitos e-mails, endereçados à conta do Instituto Mentes... Deixa eu ver aqui na pasta de enviados.
-Checa isso pra mim, por favor.
-Qual foi o último que minha irmã mandou?
-Foi pro Bruno mesmo. E no dia da morte dela, que foi o dia do casamento também.
-Certo, mas o que é que diz?
-Sei que você pode ter visto o meu nome e ignorado o que estou escrevendo. Mas se ler, peço que preste atenção até a última palavra. Não se case sabendo que aquilo que você procura em sua noiva pode encontrar em mim: o amor por você. Se você prosseguisse sem saber do que sinto, entenderia suas razões. Mas você sabe, e muito bem.
Peço que não despreze esse e-mail como fez comigo ontem. Embora eu sinta sua falta, meu amor não diminuiu nem um pouco. Eu sei que não vai demorar pra você se cansar, e você vai se cansar... Pra me procurar. Fique tranquilo: eu vou esperar. Aprendi isso com você, quando está obstinando a conquistar alguma coisa. Ou alguém. Um beijo apaixonado. Virna.
-Não, a Virna não ia escrever isso.
-Escreveu, sim. E mais; mandou o e-mail pro Bruno e pra esposa dele.
-Então, esse é o motivo que fez o Bruno matar a minha irmã.
-Calma, Valentina. Bruno disse que leu esse e-mail junto com a mulher.
-Mas ele pode ter mentido, Iago- Leandro levanta a suspeita.
-O fato é que a Virna deu um bom motivo pra acabarem com ela.
-E se a gente falar com a esposa dele?
-Pra quê, Valentina?
-Pra confirmar se ela viu esse e-mail junto com ele. Pela hora, ela mandou de manhã. Se ele leu na mesma hora, pode ter dado um jeito de ela não atrapalhar o casamento.
-Mas se ele viu de madrugada, junto com a esposa, ela tem que depor também.
-Ainda hoje eu vou entrar em contato com essa moça. Se ela realmente leu o e-mail junto com Bruno, ele não pode ter feito nada contra Virna, pois uma mera briga ocorrida no dia anterior ao crime não seria capaz de enfurecê-lo tanto.
-Vamos ver o que essa moça vai dizer... Coitada, Leandro. Do jeito que eu vi ela saindo da delegacia, ainda vai sofrer muito por causa daquele homem... Sinto muita pena de quando ela for chamada, e do que ainda vai passar nas mãos daquele bandido... Bom, vocês vão me dar licença, mas eu vou ter que ir.
-Aonde, meu amor?
-O médico do postinho pediu pra pegar aquele remédio, o anti-inflamatório. Já vinha com dor nos quartos há mais de dias, mas “tava” em falta.
-Não quer que eu vá com você?
-Aproveite sua folga. Desculpem não ficar aqui…
-Não se preocupe, Valentina. O que queríamos saber já foi descoberto. Resta saber como podemos interpretar essa informação.

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Alguns minutos depois, Valentina chega até o posto de saúde e encontra uma garota chorando, muito nervosa. Trata-se de Jéssica, a adolescente que acompanhava Giovanna no momento em que ela perdeu os sentidos.
-Moça, “tá” tudo bem?
-Minha professora passou mal e até agora não acordou.
-Fica calma... Ela “tá” aqui?
-“Tá” lá com o médico do posto.
-Você “tá” com alguém, menina?
-Dois rapazes chegaram com a gente, eu pedi ajuda pra socorrer a Giovanna. Não sei o que ela tem.
-Giovanna... É pra assombrar mesmo... Olha, eu vou saber como ela “tá” e volto dizer pra te acalmar, certo?
-Vai, por favor.
-Fica tranquila, meu anjo. Eu já venho.
-Mas ela não foi pra sala do médico, “tá” na farmácia.
-Bem pra onde eu ia. Fica aqui.
O médico espera Giovanna acordar. A porta da farmácia do posto está entreaberta.
-O que eu “tô” fazendo aqui? Que lugar é esse?
-Você sofreu uma queda e uma moça trouxe você pra cá.
-Queda... Ah, foi lá na escola de dança.
-O que você teve?
-De repente, me bateu uma tontura. Deve ser porque não comi bem antes de sair de casa. Tive um problema com o meu marido.
-Parece que depois de hoje, os problemas com seu marido vão acabar.
-Do que o senhor “tá” falando?
-Com licença, por favor- Valentina tenta passar em meio às pessoas que esperam por atendimento.
-Eu fiz alguns exames, e tudo indica que você está grávida.

-Grávida, eu?- a surpresa de Giovanna coincide com a chegada de Valentina à farmácia, que não é percebida pela bailarina, tampouco pelo médico.

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