Na esperança de encontrarem o
condutor do automóvel destruído com vida, os policiais saem da viatura para se
aproximarem do fogo. Bruno procura manter a calma diante da situação e lembra
que tem um lenço dentro de seu bolso.
-Calma, Bruno. O carro caiu
na ponte sozinho... Eles não podem te culpar porque você não fez nada... Não
sem provas- e percebe novamente o sangue deixado pela faca que usou contra
Abílio, e que carregava consigo no carro. Ele começa a limpar o volante e a
faca, para que não haja vestígios do funcionário do instituto.
Lentamente, ele desce no
carro, e uma multidão de curiosos se aproxima do local da explosão. A polícia
tenta conter as várias pessoas que filmam e fotografam ultrapassando os limites
que por ela foram impostos. Eis que Bruno encontra “uma luz no fim do túnel”:
vê que freou perto de uma galeria e, lentamente, abaixa-se para se livrar da
faca. Ao se levantar, ainda vagarosamente, ouve um tom forte direcionado a ele.
-Parado aí! Era você que
“tava” correndo atrás do carro!
Bruno levanta a cabeça e
procura manter o controle diante da acusação do policial.
|||||
Valentina volta do banheiro e
Leandro sorri ao rever a esposa.
-O que foi, Leandro?
-Você disse que... Que “tava”
se sentindo enjoada, e que foi de repente.
-É, vai ver foi alguma coisa
que eu comi. Se bem que faz dias que eu “tô” assim, pus tudo pra fora.
-Será que... Valentina, isso
pode ter sido um sintoma.
-Sintoma de quê, Leandro? Eu
não “tô” doente... Ou pelo menos não “tô” pior do que já ando.
-Não é isso, meu amor... Eu “tô”
falando do nosso filho. O filho que a gente tanto “tá” esperando.
-Por favor, não viaja,
Leandro.
-Mas...
-Sem condições de pensar
nesse tipo de coisa, ainda mais agora.
-Valentina, a gente “tá”
casado há dez anos, e você vinha falando desse assunto há um tempo...
-Acontece que eu não sei mais
se eu quero ser mãe, é isso- fica nervosa.
-O que foi que mudou?
-E você ainda pergunta,
Leandro? Eu “tô” no olho do furacão há uma semana, sem tempo pra nada, sem
condições de pensar direito... De repente, você me vem com esse assunto,
esperava que eu falasse o quê? “Vamos correndo pra maternidade”?
-Não. Que mesmo com essa
confusão toda da sua irmã, você não mudou de ideia.
-Que ideia, Leandro?
-Valentina, parece que a
gente não “tá” falando a mesma língua... Até um mês atrás, você conversou
comigo, disse que ia procurar um médico pra tentar engravidar.
-Olha, você vai me desculpar,
só que agora as minhas prioridades são outras. E eu espero que você entenda que
a única coisa que eu quero no momento é colocar aquele pilantra assassino atrás
das grades.
A moça é surpreendida quando
um dos agentes de Iago abre a porta da sala de Leandro e traz Bruno pelo braço.
-Você aqui?- o rapaz se desagrada
com a presença de Valentina.
|||||
William é posto para dormir
por Plínio, que fecha a porta do quarto em seguida. Noêmia o espera na porta.
-Senhor, o que está
acontecendo?
-Bruno dessa vez passou dos
limites!
-Mas o que ele fez?
Plínio percebe que está
aumentando o tom da voz e, junto a Noêmia, se afasta do quarto de William para
que ele possa dormir.
-Ele tentou matar o Abílio.
-Não... Isso só pode ser
mentira! Bruno nunca faria isso!
-O que, exatamente, o Bruno
não teria coragem de fazer, Noêmia? Eu desconfiava de que ele tinha algo a
esconder, mas não que chegaria ao ponto de atentar contra a vida de alguém.
-O senhor tem certeza de que
ele tentou matar o Seu Abílio?
-Tenho, eu liguei pro Abílio e
ele me disse que o Bruno tinha tentado acabar com ele, e ainda por cima o
perseguia no carro.
-Mas onde é que esse homem
está gora?
-Não sei, Noêmia! Não sei!
Liguei oito vezes desde que cheguei aqui e o celular só dá fora de área!
-Ele disse, pelo menos, pra
onde estava indo?
-Não! E eu falei que ia
chamar a polícia, mas não quis assustar o William.
-Não faça isso, o senhor pode
se arrepender. Nós não temos certeza do que está acontecendo, pode ser um
engano, o Seu Abílio pode estar sendo ameaçado por outra pessoa e forçado a
falar isso.
-Bruno está envolvido em um
esquema de corrupção dentro do Mentes e Abílio conseguiu provas. E ele
aproveitou que eu tinha levado William pro hospital pra aterrorizar o Abílio.
Sabe-se lá o que aquele demente pode fazer pro Abílio não contar nada, nem pra
mim nem pra polícia?
-Me recuso a acreditar que o
senhor dê mais razão ao seu amigo do que ao Bruno, que é seu sangue.
-Chega de ser emocional,
Noêmia! Você pode muito bem vê-lo como um filho, mas ele me vê como o pior dos inimigos,
e eu não posso passar a mão na cabeça dele se ele tiver alguma culpa.
-O que o senhor tem são
suspeitas. Apenas suspeitas.
-Que serão sanadas daqui a
pouco. Porque se o Abílio sofrer alguma coisa, eu vou ter certeza de que Bruno
é muito mais perigoso do que aparenta.
|||||
-Bruno? O que você veio fazer
aqui? Pensei que você já tinha prestado depoimento!
-Prestei, sim, meu querido.
Só que agora, o motivo é outro.
-Outro? O que você fez agora?
-Doutor, por favor, peça pra
sua mulher se acalmar, porque até onde eu sei, ela não trabalha aqui.
-Por que trouxeram ele aqui?
-Não te avisaram que era dele
um dos carros em alta velocidade na Avenida Herculano Bandeira?
-E de quem era o outro?
-Ah, isso eu também quero
saber. Mas ele diz que só fala na presença do advogado dele.
-Bruno, você estava
embriagado?
-Uma taça de vinho. Aliás,
uma safra deliciosa. Mas foi uma só.
-Não está cansado de saber
que não é pra misturar bebida e direção?
-Mas o que você queria que eu
fizesse? O homem estava desesperado, fugindo a não sei quantos quilômetros por
hora! Queria que eu deixasse ele bater num poste?
-O que aconteceu com o
condutor do outro carro, Novaes?
-Caiu de uma ponte. O veículo
explodiu no mar.
-Explodiu?- Iago aparece na
delegacia.
-Iago, o que você “tá” fazendo
aqui?
-Esqueci a minha careteira
aqui quando fui pra casa. Foi isso mesmo que eu ouvi? Um motorista morreu
enquanto você “tava” atrás dele?
-Quer ser mais claro ou vai
continuar fazendo insinuações, sub-delegado?
-Claro? Mas eu acho que ele
já foi claríssimo! Mais do quer isso, impossível. Depois de se livrar da Virna,
agora você acabou com outra pessoa.
-Meu querido, por favor, peça
à sua esposa para ela parar de pôr palavras na minha boca...
-Mas é um cínico mesmo! Um
canalha!
-Valentina, quer se controlar,
por gentileza?- Iago é firme diante da situação- Bom, pelo visto a noite vai
ser longa pra mim. Quer ter a bondade de sentar, Bruno?Acho que temos muito a
esclarecer.
-Já falei demais. Só falo
agora quando o meu pai chamar um advogado, é um direito que eu tenho.
-Está bem, então. Fique à
vontade pra ligar.
|||||
Toca a campainha da mansão.
Noêmia vai atender e se depara com Giovanna.
-Minha querida, o que faz
aqui a essa hora?
-Vim saber se vocês têm
alguma notícia do Bruno.
-É... – Noêmia olha para
Plínio, que orienta discretamente a não contar nada- Não, minha filha, só
aquilo que eu já havia falado pelo telefone.
-Liguei pro porteiro do meu
prédio assim que eu cheguei aqui, e ele me garantiu que por lá ele ainda não
apareceu.
O telefone toca.
-Com licença, Giovanna.
-Não, Noêmia, deixa que eu
atendo. Serve um café pra Giovanna.
-Não quero nada, Plínio.
Obrigada.
-Alô?
-Localiza o Dr. Lombardi pra
mim, e já.
-Onde você está?
-Numa delegacia do Pina.
-Na delegacia? O Abílio está
com você?
-Não, o Abílio está num
churrasco. E virou prato principal do próprio banquete.
-Bruno, onde o Abílio está?
-É o Bruno?- pergunta
Giovanna. Noêmia contém a moça, para que Plínio possa escutar o filho.
-O Abílio sofreu um acidente
de carro. Caiu de uma ponte e o carro foi pelos ares. Explodiu!
-Foi você, não foi? Você
matou o Abílio, seu desgraçado!
-Chama o advogado pra ontem!
E nem pense em avisar à Giovanna sobre isso- desliga o telefone.
-Que estória é essa de
assassinato, Plínio?
-O Abílio morreu.
-Abílio não é aquele homem
que trabalha... Que trabalhava com vocês no instituto? Morreu de quê?
-Eu... Preciso ir à
delegacia!
-Cadê o Bruno? “Tá” lá? Se
“tiver”, eu quero ir.
-Giovanna, é melhor você
ficar aqui...
-Está ou não está lá?
-Sim, o Bruno está lá na
delegacia.
-Vamos agora mesmo pra lá-
pega a bolsa e é acompanhada por Plínio, deixando Noêmia mais aflita.
|||||
-Gente, que calor é esse? Lá
fora deve “tá” uns 31º C, mas aqui já é uma sucursal do inferno. Não tem
ar-condicionado aqui?
-Bruno, isso daqui não é um
hotel- revida Iago.
-Claro que não. Porque se
fosse, não seria nem meia estrela.
-Eu acredito que você já
poderia ter falado. Não adianta essa postura irredutível de nada falar,
esperando o advogado. Você está nos fazendo perder tempo, e um tempo precioso.
-Precioso pra quem, delegado?
Pra sua plateia?
-Valentina, Leandro...
-Já entendemos, Iago. Com
licença- Leandro se retira com a esposa, enquanto Plínio invade a delegacia.
-Mas o que significa isso?-
Iago se assusta com a presença do pai de Bruno.
-Tentei impedi-lo, mas não
deu, Iago- avisa Novaes.
-É o meu pai. Trouxe o
advogado?
-O que eu trouxe foi isso
aqui- e Plínio dá uma bofetada no filho- Como é que você teve coragem de fazer
uma coisa dessas? De acabar com a vida do Abílio?
-“Tá” falando do quê,
esclerosado?
-Da ligação que eu fiz pro
Abílio, e ele me disse que você tentou matá-lo.
-Eu?- Bruno simula inocência
em relação à agressão que cometeu contra Abílio.
-Agora eu entendi tudo...
Você se empenhou em me tirar de casa nessa noite pra que pudesse ir à casa do
Abílio e roubar o que ele ia me dar!
-Por favor, Plínio... Tirou o
passaporte pra viajar na maionese? Que é isso? O que é que o Abílio ia te dar e
que eu ia roubar?
-As provas que mostram que você
desviou os recursos mandados pelo Governo Federal, as provas do golpe que você
deu.
-Isso não é verdade...
-Não seja hipócrita! Você
disse pra Noêmia que terminaria de analisar os relatórios em sua casa, e não apareceu
lá. De repente, o Abílio morre na mesma noite em que ele me entregaria as
provas que incriminariam você, Bruno! Você é o responsável pela morte dele!
Você acabou com a vida do Abílio pra que ele não conseguisse te denunciar! Mas é
exatamente isso que eu vim fazer agora.
-Os dois, ou pelo menos um
dos dois, pode me explicar o que é que “tá” acontecendo nessa sala?
-O meu filho, delegado, é um golpista.
E além disso, é um assassino! Matou o meu melhor amigo pra que eu não soubesse
de nada! Mas eu sei, Bruno! Sei! E vou colocar você na cadeia!
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