28/10/2014

MENTES/ CAPÍTULO 12: SEM TEU CALOR, SEM TEU AMOR, EU SOU CARENTE

-O que você pensa que vai fazer?
-Se a gente conseguir que o Bruno ponha em risco a vida da esposa dele, a polícia finalmente vai se convencer que ele é perigoso.
-Presta atenção: você vai acabar se rebaixando ao nível dele. Isso não tem como dar certo.
-Eu só preciso que você fale com um dos seus “amigos”. O resto fica por minha conta.
-E se o Bruno desconfiar?
-Desconfiar como? Bruno acha que todo mundo é inferior a ele, que ele é a única pessoa inteligente do planeta. Vai se ferrar na mão da polícia, e não vai nem saber que fui eu. Me arruma esse homem de confiança pra daqui a alguns dias.
-Mas pra quê isso?
-A Giovanna “tá” grávida. Quer apostar quanto que ela vai desistir de se separar agora que descobriu a novidade?
-Tem razão. O Bruno vai manipular essa mulher ainda mais depois que ele souber.
-Só que quando o Bruno colocar a vida dela e do bebê em risco, ela larga dele em três tempos.
-OK. Vou falar com um cara. Daqui a uns dias, ele vem te procurar.
-Vou esperar.

|||||

Giovanna está chegando à casa, quando encontra o apartamento às escuras. Acende a luz, e se depara com Bruno sentado no sofá.
-Que susto...
-Ultimamente, você acha que eu só tenho te trazido isso.
-Eu não vou discutir, já nem tenho força pra isso.
-Por que você demorou hoje?
-Cheguei no horário normal, Bruno.
-São sete da noite. Você “tá” atrasada duas horas.
-O trânsito “tava” horrível, o que você quer que eu faça?
-Olha, eu preparei um jantar porá nós dois. Troca de roupa, que eu ponho os pratos.
-Jantar? Nossa, como você é previsível...
-Disso você não pode me acusar. É a última coisa que eu sou.
-Ontem, eu tinha feito o mesmo. Você preferiu “jantar” com o Abílio.
-Não vamos falar disso, por favor.
-Em algum momento, nós vamos ter que falar desse assunto.
-Às vezes, penso que você só toca nesse tema pra me irritar.
-O que eu exijo é que você me dê explicações sobre essas mortes que sempre estão relacionadas a você.
-Giovanna, isso é uma armação. Eu não faço ideia de quem possa estar por trás disso, mas...
-A questão, Bruno, não é quem fez, e sim o que você seria capaz de fazer.
-Não... Você não pode pensar isso de mim.
-Me diz que, em nenhum momento, você chegou a contribuir com isso. Porque essa estória de que o Abílio “tava” com medo de contar o que sabia, sobre o golpe dado pelo instituto, é que você tentou acalmá-lo é mentira. “Tá” mais do que na cara!
-OK. Quer que eu fale? Pois muito bem. O Abílio encontrou provas que mostravam que alguém que trabalha no instituto desviava dinheiro das remessas que o Governo Federal nos mandava.
-Obviamente, o suspeito era você.
-Abílio não disse claramente que desconfiava de mim, mas ficou de segredinho com o Plínio. Claro que isso despertou a minha atenção. Imaginei que o Plínio teria pedido sigilo sobre o que o Abílio tinha descoberto, mas decidi ir atrás dele.
-Na noite do jantar? Da análise de relatórios?
-Foi, justamente ontem.
-Enquanto isso, o Plínio leva o filho caçula ao hospital. Ao invés de acompanhá-lo, você preferiu aterrorizar o Abílio.
-O que eu queria é que ele confiasse em mim e contasse o que sabia. Eu sou um funcionário como outro qualquer.
-Bruno... Tem uma coisa que você precisa saber. E eu espero, do fundo do meu coração, que o que vou dizer agora te impeça de continuar fazendo besteira.
-Giovanna, não me dê outra notícia ruim.
-Depende do ponto de vista.
-Tudo bem- respira fundo- Que forninho você quer que eu segure?- ironiza o tom dramático da esposa.
-Nós dois... Eu e você...
-Hum?
-Nós vamos ter um filho. Você não vai dizer nada, Bruno?

|||||

William está no quarto, sentado em frente ao computador, e Plínio o observa.
-Tudo bem, filho?
-Tudo. O que foi que houve? Passei no seu quarto de madrugada e o senhor não “tava”.
-Problemas com o seu irmão, como de costume.
-De novo?
-A coisa foi séria mesmo. Mas eu não quero falar disso.
-Pai, promete que não vai brigar comigo?
-O que você fez? Você nunca faz nada de mau, nem tem porque eu perguntar isso.
-Eu “tava” olhando os álbuns de fotos, do tempo que a mamãe “tava” viva, que eu era pequeno, sabe?
-Sei.
-Eu vi um diário. O diário dela.
-Você abriu?
-Abri.
-Certo... E o que foi que você leu?
-Só a parte que ela disse que a sua ex-mulher, a que era a mãe do Bruno, viu vocês dois juntos e saiu correndo. A minha mãe conhecia a mãe do Bruno?
-Por que essa pergunta?
-Porque ela disse que o senhor queria ser acertar com ela. Eu fiquei sem entender.
-William, eu tenho, durante todos esses anos, tentado evitar que a verdade aparecesse pra você. Mas já que você me indagou a respeito, eu acho melhor falar.
-Falar o quê, pai?
-Quando eu conheci a sua mãe, ela era solteira, e eu ainda era casado com a mãe do Bruno.
-Mas como vocês se conheceram?
-Uma vez, eu saí com uns amigos do trabalho e fomos pro bar. Foi aí que eu conheci a Letícia. Começamos a conversar e sempre, sem que eu marcasse, eu acabava esbarrando com ela no bar.
-E a mãe do Bruno? Quando ela conheceu a minha mãe?
-Conheceu no dia em que ela sofreu aquele acidente de helicóptero e faleceu.
-E vocês dois, o senhor e a minha mãe, “tavam” no seu quarto?
-Foi, William.

-Vocês eram amantes? É por isso que o Bruno não gosta de mim? Porque a minha mãe era sua amante? Foi por causa disso que a mãe dele morreu? Porque pegou vocês dois juntos?- as indagações do garoto vêm com lágrimas nos olhos, e Plínio sente vontade de desistir da conversa.

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