30/10/2014

MENTES/ CAPÍTULO 14: EU DARIA A MINHA VIDA PRA NÃO MAIS TE VER



-O que foi, Seu Bruno?
-Silvia, você lembra se essa moça... Enfim, se ela veio com alguma coisa na mão? Uma bolsa, uma sacola, algo do tipo?
-Se eu não me engano, ela apareceu aqui com uma mochila.
-E você não deu pela falta de nada?
-Só da caixa que eu organizei, com os pertences da Virna. Mais nada, senhor.
-Pelo menos, você a viu saindo com isso?
-Bom, quando eu trouxe o copo d’água pra ela, eu voltei e ela não estava mais aqui.
-Isso explica muita coisa.
-Continuo sem entender.
-Funcionário não entende, Silvia, executa o que a gente manda fazer. Mas tudo bem. Eu acho que já soube o suficiente.
-Espero não ter feito nada de errado.
-Pode ficar certa de que não fez. Eu só preciso saber como isso interferiu na... Deixa pra lá. Guarde esse levantamento que amanhã eu vou analisá-lo.
-Tenha uma boa tarde, doutor.
-Pra você também.

|||||

O bandido contratado por Valentina já está no apartamento de Bruno e Giovanna. Ele escuta quando a jovem chega ao local.
-Bruno? Bruno, você chegou?
A bailarina encontra um buquê com muitas rosas em sua casa. Lê o cartão que o acompanha.
-Que elas simbolizem um casamento regado a um amor que nunca se acaba, e que se multiplica através dessa criança. Bruno.
-Se eu conseguisse acreditar em você, a minha agonia acabava... – amassa-o, ressentida.
Giovanna suspira e joga o buquê sobre o sofá, subindo para tomar banho. O delinquente vê que a moça está prestes a entrar no quarto e se esconde atrás do guarda-roupa, afastando-o vagarosamente para que não seja percebido.
Ao entrar, Giovanna não sente o quão perto o móvel está de si e da entrada do quarto. Tira a roupa e vai para debaixo do chuveiro. O meliante sai do esconderijo ao ouvir Bruno chegar. Coloca o capuz e tranca a porta de maneira a não fazer a bailarina escutar.
-Giovanna?- pergunta Bruno, após ver o buquê jogado e o cartão amassado. É surpreendido com o ladrão descendo às escadas, vestido de preto, com a arma em punho.
-Quem é você?
-O que foi, irmão? Quer que eu mostre minha identidade também?
-Cadê a minha mulher? O que você fez com ela?
-O que eu vou fazer, “né”? Mas vai depender de você. Se fizer direitinho o que eu mandar, ninguém se machuca. Apaga a luz.
-Como é que é?
-Apaga a luz agora!- grita, fazendo Bruno obedecê-lo.

|||||

Na cozinha da mansão, Plínio se dirige à Noêmia.
-A que horas posso mandar servir o jantar, doutor?
-Acredito que umas sete e meia.
-Mas tão tarde?
-William foi fazer um trabalho da escola na casa de um amigo dele.
-Eu notei que ele estava um tanto triste hoje, quando saiu. Era impressão minha?
-Conversamos sobre a mãe dele. Contei como a conheci, como nos envolvemos.
-Mas por que o senhor resolver falar disso?
-Ele não me deu escolha, acabou fazendo muitas perguntas. Uma hora, a gente cansa de tanta mentira, de tanto segredo... Era direito dele de saber.
-Só que a verdade é muito dolorosa.
-O que na minha vida não é, Noêmia? A começar pelo meu primogênito.

|||||

No pequeno escritório do apartamento, estão Bruno e o bandido armado. O primeiro está diante do computador, na mira da arma do segundo.
-O que é que você quer? Por que me trouxe pra cá?
-Grana, imbecil! Pensou que era o quê? Uma visita? Você vai passar todo o dinheiro da sua conta pra essa daqui- entrega-lhe os números em um papel.
-Eu não posso fazer isso! Não todo o dinheiro!
-Quer que eu dê um fim na cadela que “tá” lá em cima? Ou quer que eu me livre do filho dela?
-Você não vai tocar no meu filho!- levanta-se.
-Não vou se tu “colaborar”- empurra-lhe, fazendo-o cair novamente na cadeira. Agora manda o dinheiro pra essa conta, rápido!
Bruno realiza a transferência após digitar os números.
-E agora? Vai embora daqui?
-Não, ainda não. Agora, apaga o histórico de senha.
-Pra que isso?
-Não banque o esperto comigo. Pensa que eu não sei que vai tentar descobrir a minha conta? Anda logo, apaga o histórico do dia.
O procedimento é realizado.
-Sai daqui! Deixa a minha mulher e a mim em paz- diz, em tom frio.
-Tudo bem. Mas vai me acompanhar pra ninguém desconfiar de nada. Até a porta da frente.
-“Tá”. Mas some daqui de uma vez.
O bandido põe a arma na calça, e sai lentamente do escritório, ao lado de Bruno. Quando ambos chegam à sala, o arqueólogo encontra uma arma ao lado do buquê e do cartão. Sem pensar, o rapaz segura o revólver e aponta para o meliante, de costas.
-Você vai sumir, sim... Mas antes... Vai devolver o meu dinheiro.
Buscando se defender da ameaça, o ladrão se vira e bate na arma, jogando-a longe. Começa, então, uma luta entre Bruno e o marginal, que consegue empurrá-lo contra um vaso da sala, correndo pelas escadas. Em determinado segundo, o arqueólogo perde a consciência, mas segue procurando a arma.
-Bruno?- indaga Giovanna em voz baixa, ao ouvir o barulho do vaso quebrando na sala, devido ao baque sofrido por Bruno. Neste momento, ela se enrola na toalha, ao passo que o ladrão destranca a porta do quarto sem que ela perceba. Ele entra em outro quarto do apartamento e foge pela janela do primeiro andar, entrando em outra casa.
Ao levantar-se, Bruno procura o revólver que encontrara há pouco tempo. A sala está escura, mas ele não se lembra de ativar o interruptor.


|||||

Noêmia sente uma palpitação.
-Noêmia? “Tá” tudo bem?
-Não, doutor. O Bruno!
-O que tem ele?
-Ele está correndo perigo. A gente tem que ajudar ele.
-Ajudar? Ajudar como, Noêmia? Do que você “tá” falando?
-Eu não sei, doutor, não sei! Mas alguma coisa diz no meu coração que ele está correndo um perigo muito grande!

|||||

Em silêncio, Giovanna desce às escadas. A vista de Bruno ainda está turva com a pancada que recebeu devido ao empurrão dado pelo ladrão. O que ele vê é apenas a sombra da moça, descendo lentamente por estar com medo do que se aproxima.
O jovem encontra o revólver, e aponta para a parede que exibe a sombra. Giovanna vê que o marido segura um revólver e abre a boca pra chamá-lo, mas ele dispara contra a parede. O susto faz a bailarina rolar às escadas, gritando. Ao chegar ao chão, está desacordada. Bruno, enfim, reconhece a voz da esposa.
-Giovanna? Giovanna, fala comigo! Meu amor, acorda! Acorda, Giovanna!- bate no rosto dela repetidas vezes- Giovanna, me responde! Por favor, Giovanna! Socorro! Socorro! Alguém ajuda a minha mulher, Socorro!

Nenhum comentário:

Postar um comentário