Usando um macacão
vermelho, Caroline deixa o manicômio judiciário, e se depara com Luiz Carlos
esperando por ela dentro de seu carro.
(Fundo musical:
“Você vai ver”- “eu vou ficar guardado no seu coração, na noite fria, solidão/
saudade vai chamar teu nome”)
CAROLINE: Esse
homem, não. O que é que você tá fazendo aqui?
LUIZ CARLOS: Não
imaginei que viesse uma legião de fãs pra te esperar sair do manicômio
judiciário, então despistei a imprensa pra vir te buscar. Entra. Mas você tá
linda, hein?
CAROLINE: O look de um dia comum.
LUIZ CARLOS: Imagina
o que você deve usar quando a ocasião é de gala.
CAROLINE: Dependendo
da ocasião, nada. Mas me conta uma coisa: como é que você fez pra enganar os
repórteres?
LUIZ CARLOS: Disse
que a situação que você viveu te abalou profundamente e que vamos marcar uma
coletiva de imprensa pra contar o que aconteceu quando você se sentisse
devidamente preparada.
CAROLINE: Arrasou!
Agora vamos pra casa. Eu quero colocar uma roupa preta e fazer uma visita.
LUIZ CARLOS: Pra
quem, Caroline?
CAROLINE: Pra minha
querida Thaís. Acho que eu merecia me despedir dela com mais dignidade.
LUIZ CARLOS: Caroline,
você enfrentou um processo por causa dela. Não é possível que você seja tão
sádica a ponto de...
CAROLINE: Fomos
amigas, Luiz Carlos. Muito difícil ter que me despedir dela, mas é necessário.
LUIZ CARLOS: Então,
vai ter que fazer isso longe do cemitério.
CAROLINE: Quer
dizer o quê?
LUIZ CARLOS: A
Thaís não morreu.
CAROLINE: Não?
LUIZ CARLOS: Se a
gente puder chamar isso de sequela, o único problema que ela teve decorrente
daquela queda de escada que você provocou foi uma unha do pé quebrada.
CAROLINE: Mesmo?
Ah, então, me dá o endereço de onde aquela garota tá, que eu vou terminar
aquilo que eu comecei!
LUIZ CARLOS: Você
não vai chegar nem perto dela.
CAROLINE: Mas ela
comeu a minha lasanha, não pode ficar assim!
LUIZ CARLOS: Caroline,
escuta! Eu falei com o advogado que eu contratei pra você e descobri que a
justiça só te liberou de maneira condicional, já que o laudo da psiquiatra foi
inconclusivo.
CAROLINE: Também,
né? Aquela louca...
LUIZ CARLOS: E isso
também implica em alguns planos traçados pra você antes do incidente. Como a
sua viagem pra Paris.
CAROLINE: O que tem
ela? Tá de pé ainda, não tá?
LUIZ CARLOS: Enquanto
você for processada, nem sonhe. Mas os editores da revista não abriram mão de
você e resolveram fazer o ensaio assim mesmo. Só que a gente vai ter que
improvisar.
CAROLINE: Já sei: vou
posar num estúdio em chroma key, e o
cenário de Paris vai ser reproduzido em computação gráfica, né?
LUIZ CARLOS: Um
ponto turístico novo: Lixão da Muribeca.
CAROLINE: Mas o
cachê continua o mesmo?
LUIZ CARLOS: Tanto
ele quanto eu. Não vou te largar.
CAROLINE: Fazer o
quê, né?
LUIZ CARLOS: O
mesmo te pergunto eu: fazer o quê se você gosta de ser uma incógnita? Se nem a
psiquiatra conseguiu, quem sou eu?
CAROLINE: Psicopata,
sociopata, doida, escalafobética... A ciência não conseguiu me definir ainda. E
o pior é que eu gosto. Agora, sai do volante e deixa que eu dirijo.
LUIZ CARLOS: E eu
posso saber aonde você vai me levar?
CAROLINE: À
loucura! (Fundo musical: “Riscos do amor”- “a gata agora alisa, arranha o sofá,
afia as unhas pra atacar”) Quer ir?
LUIZ CARLOS: A
ciência não conseguiu descobrir, mas você sabe muito bem. Quem é você de
verdade?
CAROLINE: Sinceramente?
LUIZ CARLOS: Claro.
CAROLINE: Eu gosto
de tomar conta do coração dos outros com a sutileza de um furacão, atacar o
amor com o sangue frio de um torturador, chegar perto do seu corpo acariciando
um punhal, entre outras coisas. E se eu demorei a me envolver com você foi
porque, mesmo com a boca seca num deserto sem fim, achei que você era só
miragem pra mim.
LUIZ CARLOS: Verdade?
CAROLINE: Não. É
tudo uma música da Rita Lee e do Roberto de Carvalho.
LUIZ CARLOS: Caroline,
você percebeu?
CAROLINE: O quê?
LUIZ CARLOS: Desde
que o filme começou, as nossas falas estavam sendo legendadas.
CAROLINE: É, eu
reparei. Não sei pra quê, a gente não tava falando em outra língua mesmo, pelo
menos não o tempo todo.
LUIZ CARLOS: Que
estranho! O que foi que aconteceu com o cara das legendas?
CAROLINE: (mostra
uma adaga ensanguentada) Não fui com a cara dele.
(Fundo musical:
“Perigosa”- “reveja a beleza, o olhar e o coração/ legítimo caso de amor, uma
paixão (...) Elegância e ação, secreta ambição. Perigosa, perigosa! Custe o
preço que custar, nada a fará resistir! Perigosa, perigosa! Custe o preço que
custar, nada a fará resistir!”)