07/02/2018

GATA FATAL/ CENA 4

Transição de cenas da praia para o apartamento das modelos, também à noite.
(Fundo musical: “Natureza humana”- “e se eles dizem ‘why? Why?”, é a natureza humana. ‘Why? Why?’. É assim que ela me faz”)
Caroline tirou do micro-ondas uma lasanha que havia acabado de preparar, quando o celular tocou. Era Luiz Carlos.
CAROLINE: Fala.
LUIZ CARLOS: Caroline, tá ocupada?
CAROLINE: Tô, o que foi?
LUIZ CARLOS: Tem como você dar uma passadinha aqui? Eu preciso conversar com você.
CAROLINE: Não dá pra dizer o assunto por telefone ou uma mensagem de áudio no “Zap”?
LUIZ CARLOS: Não, tem que ser pessoalmente.
CAROLINE: Tudo bem, eu vou colocar a lasanha que eu fiz pra esfriar. Mas se não for importante, pode encomendar uma vala, porque hoje eu mato um! E esse “um” é você!
LUIZ CARLOS: Garanto que não vai se arrepender. (ouve a campainha tocando novamente) A essa hora, quem será? Eu só tô esperando por Caroline mesmo... (abre a porta) Como é que você...
CAROLINE: Antes que me pergunte que mágica eu fiz pra chegar tão rápido, só fiz trocar de cenário.
LUIZ CARLOS: Que bom que você veio.
CAROLINE: Espero que seja. O que de tão importante você tinha pra me falar?
LUIZ CARLOS: Uma publicação francesa te convidou pra estrelar um ensaio.
CAROLINE: Revista de beleza?
LUIZ CARLOS: Nudez.
CAROLINE: Ah, sei. Qual é a proposta?
LUIZ CARLOS: Um ensaio sensual em vários pontos de Paris. E o ápice, com direito a pôster, é você em frente à Torre Eiffel. Totalmente sem censura.
CAROLINE: O que te faz acreditar que eu vou posar pra uma revista erótica? Não tem dinheiro no mundo que me faça expor a intimidade.
LUIZ CARLOS: O cachê é de quinhentos mil.
CAROLINE: Dólares?
LUIZ CARLOS: Euros.
CAROLINE: Mostro! Mostro tudo, até a hipoderme!
Thais volta para o apartamento e chama pela amiga, pensando que ela está em casa.
THAIS: “Miga”? Você tá em casa? (senta-se no sofá) Tô morta de cansada! E o pior é que eu vou ter que cozinhar, já que não tem nada pronto aqui!
(Thaís olha para a lasanha que está sobre a mesa da cozinha/ fundo musical: “Perigo”- “perigo é ter você perto dos olhos”)
LUIZ CARLOS: Ao futuro, Caroline.
CAROLINE: Ao futuro. Embora eu tenha medo do futuro que me aguarda, já que o presente me faz brindar com água mineral.
LUIZ CARLOS: Confesso que essa temporada em Paris vai me fazer sentir saudade.
CAROLINE: Imagina... É só um trabalho artístico, não vou fixar residência lá. A não ser que você esteja me traficando, como na novela da Glória Perez.
LUIZ CARLOS: Duvido muito que os franceses queiram te deixar ir embora. Eu, no lugar deles, não deixaria.
CAROLINE: E por que tá deixando? É sinal de que não me quer por aqui.
LUIZ CARLOS: Acho que você merece uma oportunidade melhor do que a Bacurinha’s Vintage. Você mal começou a carreira e empresários do exterior já estão de olho em você.
CAROLINE: Você vai sentir minha falta mesmo?
LUIZ CARLOS: Vou. E você? Vai sentir saudades de mim quando estiver na França?
(Fundo musical: “Ne me quitte pas”- “ne me quitte pas/ il faut oublier/ tout peut s’oublier/ qui s’enfuit dejà/ oublier le temps/ des malentendus et le temps perdu”/ personagens em silêncio)
CAROLINE: Não, só perguntei mesmo porque sempre é bom ouvir um elogio.
LUIZ CARLOS: Mas não deixa de ser verdade. Dói muito cogitar a hipótese de te ter longe de mim.
CAROLINE: Vê se não viaja, Luiz Carlos. Nós nunca tivemos nada.
LUIZ CARLOS: Porque você não quis.
CAROLINE: Porque sou inteligente mesmo. Você não faz o meu tipo.
LUIZ CARLOS: Alguém faz, Caroline? Parece que você gosta de ser uma incógnita pra todo mundo. Por que você não se permite comigo?
CAROLINE: Deve ter coisa melhor no mercado externo.
LUIZ CARLOS: Duvido muito que você consiga encontrar alguém que tenha a mesma devoção que eu tenho por você. O que eu tô te pedindo não é nada do outro mundo. Já deu pra perceber o que você mais gosta de fazer.
CAROLINE: Comer e dormir, só pode.
LUIZ CARLOS: Não. Querer que todo mundo se apaixone por você.
CAROLINE: Não, não é que eu queira. É natural. Se todos os heterossexuais dessa galáxia me querem, eu vou fazer vista grossa pra isso?
LUIZ CARLOS: Beleza, mas não é de paixão que eu tô falando. É da vontade de proteger, de ter você por perto, de achar que ninguém pode te fazer mais feliz do que eu. Pensa que eu não tô pedindo uma chance pra mim, mas pra nós dois.
CAROLINE: Luiz Carlos...
LUIZ CARLOS: Diz...
CAROLINE: Minha lasanha vai esfriar. Fui! (sai da agencia) Ah, gente, desculpa se eu pareci delicada como um coice de mula, mas falei isso porque sei que ele vai sobreviver ao que eu disse.
Dentro da agência, Luiz Carlos segura a taça de água mineral e começa a verter lágrimas.
(Fundo musical: “É tarde demais”- “você jogou fora o amor que eu te dei, o sonho que sonhei/ isso não se faz”)
CAROLINE: Ah, finalmente em casa, doida pra devorar sozinha a minha obra de arte enquanto Thaís não volta do desfile... (Caroline olha para a travessa vazia sobre a mesa e fica possessa com a amiga) Parece que alguém vai se arrepender de ter nascido...

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