Thaís está enrolada
sob as cobertas da sua cama e acaba se assustando com a presença de Caroline,
vestida com um macacão preto e com os cabelos amarrados por uma “presilha”
vermelha e prata.
THAÍS: Que susto!
Quanto tempo faz que você tá aí?
CAROLINE: O
suficiente, meu bem.
THAÍS: Menina, mas
que roupa é essa, hein? Vestida pra matar!
CAROLINE: Acertou
em cheio.
THAÍS: Algum
encontro em especial?
CAROLINE: Pra mim,
não. É o seu com a morte.
THAÍS: Como assim?
O que você quer dizer?
CAROLINE: Você não
sente nenhum remorso de ter traído minha amizade dessa forma, não, Thaís?
THAÍS: Mas o que
foi que eu fiz?
CAROLINE: Aproveita
que eu tô de ótimo humor e para de me testar. Quem sabe assim eu não te deixe
viva por mais tempo?
THAÍS: Caroline, o
que é que te deu? Por que é que você acha que eu...
CAROLINE: Cala a
boca!
O cenário se
alterna com Luiz Carlos na varanda da agência, chorando ao pensar em Caroline.
(Fundo musical:
“Deus me livre”- “te amo, mas vivo a fugir desse amor/ não dá pra ficar cara a
cara”)
THAÍS: Por que você
resolveu ficar agressiva comigo desse jeito?
CAROLINE: E ainda
pergunta?
THAÍS: Mas o que
foi que eu te fiz?
CAROLINE: Naquele
dia, na praia, eu te falei que eu cobro quem tentar tirar o que me pertence. E
você me ignorou mais do que áudio do WhatsApp!
THAÍS: Caroline,
você bebeu?
CAROLINE: Uísque, e
um pouco de sorvete pra me dar coragem de acabar com você, traíra!
THAÍS: Isso tudo
por quê? Porque eu comi a lasanha que você fez?
CAROLINE: Isso!
Admite, Thaís! Pelo menos vai pro além com um restinho de dignidade!
THAÍS: Você sabe
que eu sou louca por lasanha!
CAROLINE: Você é
louca por qualquer coisa que seja comestível! Mas daí a tocar na travessa que
eu recheei é demais!
THAÍS: Realmente,
você quer que eu acredite que você ia comer tudo sozinha?
CAROLINE: Ia! Mas a
questão não é essa, é que eu não posso confiar mais em você! E o que você fez
contra mim não vai ficar impune...
THAÍS: Ah, para de
palhaçada, Caroline! (levanta da cama) Na certa, você deixou aquela lasanha
pronta e não comeu imediatamente porque deve ter tido mais um encontro com Luiz
Carlos. Quem sabe o que foi que...
CAROLINE: Pode
parar! Pra você não interessa o que possivelmente aconteceu entre mim e ele.
Isso não é justificativa pro que você fez.
THAÍS: Do jeito que
você fala, parece até que eu cometi um crime.
CAROLINE: Trair a minha
confiança é inafiançável!
THAÍS: Vai me punir
por isso, amiga? Por causa de uma lasanha?
CAROLINE: Pode
apostar que vou!
THAÍS: Então, me
fala: como é que você vai se vingar de mim? Por acaso vai pegar uma faca pra me
matar?
CAROLINE: Lógico
que não. (Caroline desamarra os cabelos e revela a “presilha” que segurava seus
fios, apontando-a para Thaís) Prefiro adagas.
THAÍS: Abaixa isso,
Caroline.
CAROLINE: Me dá um
bom motivo.
THAÍS: Nós somos
praticamente amigas de infância, esqueceu?
CAROLINE: Eu te
pedi um bom motivo.
THAÍS: Pensa na tua
carreira, que tá só começando. Você não vai querer jogar tua trajetória no lixo
por minha causa!
CAROLINE: Será que
não vou?
THAÍS: Já te pedi;
abaixa essa adaga, Caroline!
CAROLINE: Se eu não
usar a adaga, você vai acabar voando pela janela desse andar, que é o último.
Qual é o menos doloroso pra você?
THAÍS: Quer parar
de se comportar feito uma psicopata?
CAROLINE: Não, eu
não vou rasgar sua cara com frieza. É com requintes de crueldade mesmo. Me
chama de sociopata, que é mais apropriado pra ocasião.
THAÍS: Tá ficando
doida?
CAROLINE: Bom, aí
já entramos em outra patologia, minha querida.
THAÍS: Socorro!
Alguém me ajuda, tem uma doida no meu quarto tentando me matar!
CAROLINE: Gritando
pra quê? Pra aumentar mais o meu ódio e eu te mandar pro inferno sem escalas?
Sabe que teve uma vez que eu quase matei uma amiga minha chamada Fernanda
porque ela tava gritando do meu lado? Odiar de graça é bom, mas quando alguém
dá motivo é fascinante.
THAÍS: Típico
comportamento de uma pessoa de aquário...
CAROLINE: Fala do
meu signo de novo que você vai fazer meu mapa astral do além!
THAÍS: Ah, vá! Quem
me garante que você ficou doida de vez e que vai me matar? Quem tem a raiva que
você supostamente tá sentindo não fica alardeando que vai matar. Mata e ponto!
Você não mata nem a barata da vizinha que tá na minha cama!
CAROLINE: Boa
ideia. Chega de perder tempo! (avança contra Thaís)
THAÍS: Socorro!
(Thaís joga o abajur do quarto contra Caroline antes de fugir do apartamento,
mas a modelo novata desvia e corre atrás da veterana. Thaís aperta várias vezes
o botão do elevador até que a nova rival chegue para atacá-la com a adaga,
sendo segurada pela antiga funcionária da Bacurinha’s Vintage)
CAROLINE: Aonde é
que você pensa que vai?
THAÍS: Me solta,
Caroline! Eu vou chamar a polícia! (Thaís se aproxima da escada de emergência)
CAROLINE: Esse
filme não tem nem figurante, quanto mais policial!
THAÍS: Comi! Comi
sua lasanha, sim, e daí? Vai me jogar daqui de cima, sua louca?
CAROLINE: E não é
isso que você merece?
THAÍS: Caroline, me
larga! (Thaís empurra Caroline para o chão, mas ela acaba se desequilibrando e
rolando a escadaria do prédio aos gritos)
(Fundo musical:
“Skyline pigeon”- “fly away! Skyline pigeon, fly! Toward the dreams you’ve left
so very far behind”)
Neste momento,
aparece Luiz Carlos jogado ao chão da agência enquanto aparece a legenda dos
versos, em paralelo com a queda de Thaís.
(legenda: “voe
longe! Pombo do horizonte, voe! Em direção aos sonhos que há muito tempo deixou
pra trás”)
A cena volta para o
prédio no qual as modelos moram. Caroline inclina a cabeça longe de onde está
Thaís para ver se a moça está desacordada.
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