06/02/2018

GATA FATAL/ CENA 3

(Fundo musical: “Gata todo dia”- “a vida arranha e se eu faço rock, eu faço manha/ meu bem, me dê sua atenção”)
Thaís e Caroline fazem um ensaio e posam para a capa de algumas revistas. Depois disso, vão para a praia à noite e iniciam um diálogo.
THAÍS: O que é que você achou do ensaio, Carol?
CAROLINE: Fiz tanta pose que já tava vendo a hora de me atacar uma tendinite! Mas até que foi bom. Quem sabe eu gosto dessa carreira que aquele doido me apresentou?
THAÍS: Já reparou, não foi?
CAROLINE: No quê, Thaís?
THAÍS: Que ele é afim de você.
CAROLINE: Problema dele. Sabe aquele ser humano metódico, certinho, que não vive sem escapar de uma só regra?
THAÍS: Sei. Tipo o Darcy de “Orgulho e preconceito”.
CAROLINE: Você leu esse também, amiga?
THAÍS: Claro, sou doida por esse livro. Mas voltando ao assunto: ele não vai desistir de você tão fácil assim.
CAROLINE: Perda de tempo. Luiz Carlos é um cara muito padrãozinho. Só pelo nome a gente tem ideia. Agora me fala de você.
THAÍS: Ah, eu acho que não tenho tanta coisa interessante pra contar feito você.
CAROLINE: Que tanta coisa interessante que eu tenho pra dizer? Só que eu sou boa de cama!
THAÍS: Sério? Isso você nunca me contou!
CAROLINE: Pensei que tivesse percebido durante esse tempo que moramos juntas.
THAÍS: Como, se você nunca levou ninguém pro nosso apartamento?
CAROLINE: Não precisa, Thaís: basta eu ver uma cama pronta e eu durmo. Pra caramba!
MARY: OK, mas o que eu preciso saber é quando as coisas saíram do controle.
CAROLINE: Controle é uma coisa que eu não perco, Doutora.
MARY: Dá pra ver. Você enrolada numa camisa de força é a prova viva do quanto você é centrada.
CAROLINE: Mas a culpa foi dela. Nada teria acontecido se ela não tivesse colocado os olhos e todo o resto no que era meu.
MARY: Agora você está admitindo que tinha, sim, motivos pra eliminá-la.
CAROLINE: Tinha e tenho.
MARY: Você pretendia fazer o mesmo com o Luiz Carlos, não é?
CAROLINE: Eu? Por que acha isso?
MARY: Porque, mesmo que negue, ele foi fundamental pra sua ascensão. Mas quando ele não fosse mais necessário, poderia dar um jeito de se livrar dele.
CAROLINE: Não com o mesmo desejo de me livrar de você, tipo o que eu sinto agora.
MARY: Sabe do que eu desconfio? De que você é uma perfeita sociopata, capaz de cometer as maiores atrocidades.
CAROLINE: Ou uma psicopata.
MARY: Tá jogando comigo?
CAROLINE: Talvez.
MARY: Se está tentando me manipular, desista.
CAROLINE: A gente manipula quem é importante pra gente em um certo momento da vida. Com todo o respeito, eu tô pouco me lixando pra você.
MARY: Continua. Mostra a sua face, Caroline.
CAROLINE: Quando a gente tava na praia, ela me perguntou uma coisa...
THAÍS: Mas vem cá: não rola nenhuma chance com ele, nada?
CAROLINE: Luiz Carlos é ótimo, mas ele quer uma coisa que eu não posso dar.
THAÍS: O quê?
CAROLINE: Minha liberdade. Dela eu não abro mão, Thaís. E eu nunca vou deixar ninguém tomar aquilo que é meu. Porque se tentar...
THAÍS: “Se tentar”... O quê?

CAROLINE: Eu cobro. Do jeito que for, mas eu cobro.

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